uma deliciosa maldição
Ensaio 7jB – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
num tinha como sabê antes, num era astuta, num era traçôera, era uma muié regrada qui apoia o esposo pela vida ajustada e aprumada quié assanhada pra ela, num vê dilema nem mistério, Atrevimento? Alforria? Emancipação? Gritaria? Poupe-me das suas palavras de uma soltura que não existe. Posso até ter vontade de dar cambalhotas, mas não vou dar as tais cambalhotas e reviravoltas. Não preciso de mais quiproquós em minha vida nem quero minhas panelas destapadas. Eu fico à pé se o cavalo me desmonta e dispara. Não, eu não preciso desamarrotar o pescoço para ver quem ganha na cancha reta: o dono da melhor montaria com o melhor montador, essas conversa da siá casta nela mesma num era de pingo em pingo, mais tumbém num era munta em abundância, desmontada e à pé só vai me restar o entrevero do disse que não disse, a fofoca desmedida, a desarrumação das cabeçadas se juntando para os comentários alvoroçados, anotações verbais, apostilas imaginativas das coisas que fiz ou deixei de fazer, Corcoveou e berrou como uma montaria furiosa, mas no fim, e ao cabo de tudo, acabou a festa sem eira nem beira, Essa jogou tudo fora e ficou sem nada, uma mão à frente e a outra atrás, E olhando bem, sem muita coisa para tapar, A sinhá deveria ter sido mais leal e resmungado menos, desviado o nariz para o lado, homem é homem, Uma esposa paciente e trabalhadora sabe agradar o marido, Essa fez tudo certo para agarrar-se no osso e esqueceu de lamber as feridas, Bobinha, não fez o que deveria, Uma mulherzinha ressentida e amarga que mal disfarça o veneno.
a siá tinha convencimento quia casa grande era seu reduto pra fugí dotra vida mais trabalhosa, encurralada entre a mataria e algum reduto sem conforto, num era muié das maloca, Quem vai me condenar? Eu me resumo assim, me aquieto sim, caso contrário, não sirvo para a incumbência, e se fico à pé – desmontada, fora de lugar –, os detalhes do caso consumado descem as curvas daquela boiada do marido, as palavras repetidas e reforçadas até o cansaço, sem dó ou piedade. Um teatro de difamação que se replica e rediz e seduz e bloqueia, sitia, cerca, encurrala com insistência e pertinência, perseguição da manada. Nem bem longe – muito menos, por perto –, conseguiria arrumar a vida desarrumada. Não, não quero perder os privilégios da prosperidade nem as suas aparências, a siá da pintura descolorindo pendurada na parede num abre mão dos braço, suô e sangue pretu na casa grande, É muita tarefa suja, desqualificada e pesada no casarão. Não tenho preparamento físico, tampouco, quero essa desgraça toda para minha vida. Isso é serviço para essa selvageria, num dá importância prusufruto duma ou dotra miúda na conta dusiô clementi, sentiu vontade de soltá um grito aflautado de muié, Isso é serviço de mucama, cozinheira, jardineira e ama-de-leite, colocô as mão na cintura fina e tentô se jogá prum lado e otro, que vergonha ter o corpo ritmando com esses balanceios desavergonhados, e tentô mais duma veiz sem conseguí, esse gingado todo é coisa-do-demônio! Não mesmo! Esse gingado não é meu! Não é conveniente nem cogitar tal absurdo, uma serventia sem gosto apurado ou fineza. Não quero acabar escondida no fundo de uma maloca. Meu lugar é na primeira fileira na igreja, decidiu ficá calada e quieta dos movimento sem necessidade, sem futuro, resolvida em vivê a vida pra perdurá a espécie dusiô clementi, sem otro uso, sem muntu gosto ou desgosto, numa existência bonançosa, mansa e confiada, descolorando pelos canto do casario, sem susto, numa duração sem presença, um vaso desbotando na villa risonha das vigiação dusiô clementi, um feitio firme, fixo, seguro e mais duro quiu juízo religioso, E se existe um Deus, por certo, apesar de ser um Homem-Deus, vai me fazer viúva antes da viuvez do Clemente.
quanta coisa sem dizê, quanta palavraria sem sê dita, Sem vosmecê não dá, com vosmecê é esquisito a labareda dos desejos, sem levantar os olhos, sem necessidade de mostrar a polpa dos seios, a nascença das pernas, uma conversaria qui num ia tê, num sentia cobiça de chorá, ele num sentia vontade de apalpá, num foi o amô quiquis e guardô prudentru cuas palavra e as vontade, a vida toda longe dotra vida qui pensô tê
Mas que conversa mais sem proveito, sinhá Casta. Vosmecê não precisava se incomodar tanto, é só um divertimento com as aparências do sinhô padre, a voz parecia tê contentamento tramado, não precisava chegar no ponto de me imaginar viúvo. Cada vida tem sua importância que precisa e deve ser respeitada. Isso é assunto que não cabe adivinhação. Não quero me ver de um jeito ou de outro, não é acontecimento para se ficar comentando. É algo tão estranho pensar na casa sem vosmecê, se parô cuas vista na siá e proclamô sua sinceridade, Aqui, a sinhá Casta tem seu trono e a sua corte. Entre estas paredes, abriu abriu os braço e as mão, girando todo pela cafeteria, todas estão sob às suas ordens.
siá casta tava na vontade pra abreviá aquela conversa sem rumo sobre quem vai fingí chorá antes ou depois, sobre quem mandá muntu ou quase nada, usiô lhe oiô com feitio cansado, como se tê razão fosse uma trama enfadonha pra entendê e mostrá
Sinhá Casta, chamô e si parô na falação, pareceu pensá meió as palavra pra sê usada, gostava do uso desse costume manhoso nas coisa de dizê e num dizê, negá sem afiançá, mostrá e disfarçá, depois do propósito alcançado a língua dusiô clementi destravô mansa e astuta, tudo tem um valor de merecimento ou castigo.
Tudo, meu marido?
a vida no casarão parô enquanto usiô aprumava as bombacha na cintura do umbigo, encumpridô a respiração, alargando pra frente as curva gordurenta da ponta das costela, depois se soltô da respiração presa, num só pareceu como tava medindo as intenção escondida no indagativo da siá
Tudo, respondeu cuseu feitio mais estranho das desconfiança, tudo tem seu valor de preço, sinhá Casta, reafirmô já parecendo se queixá da desafobação madorrenta do clareamento, inda qui sol e dia tá só abancando
Até o casamento, pruguntô a siá pru cima da gritaria daquele respiro folgado e grosso
usiô soltô sem susto as bombacha no alinhamento da saliência do umbigo rendido e acorrentô as mão nas costa, gostava ditê conversa cuas mão escondida, num colocô as vista na siá, cuos passo sem pressa e afobação fugiu das vista da siá, num queira sê oiado desalinhado da boca e dusóio
A vida, sinhá Casta, tem rua reta e curva, subidas e descidas com calçamento ou sem calçamento, casa bonita e maloca, barco à vapor, teatro, uqui falava num era uqui usóio contava, a voz adoçada num combinava cua frieza das vista, e tem, também, muita inveja que vem dos becos com suas ruazinhas estreitas, casas feias, senzalas, negros achatados de nariz torcido, metidos nos azeites desejando a brancura que nunca terão, dava volta e revirava as volta inté respondê sem respondê, espreitava cada palavra aprisionada na cabeça antes da soltura sem entusiasmo, ele se ressoava grave e potente com porte de dono de tudo, mas a despeito de tudo isso, a vida precisa ser tomada a força pelos homens de bem, cônscios de seus deveres e preocupação com a família, a villa risonha e amada, e Deus acima de tudo. E sim, é assim que as mulheres enchem nossas vidas com seu capricho esmerado, só mulheres recatadas e do lar sabem abençoar à vida com os filhos que os homens se preocupam em cuidar e manter, parô o próprio esvaziamento, achô qui se aborreceu de si tumbém, levantava o relho e batia, empinado oiava pra preta miúda descalça, vestindo uma gandola intêra, vendo por trás do pano grosso de algodão um corpo miúdo bunitu, a anca redonda abalando suas vontade, sitiava, cercava, encurralava cua insistência e pertinência, fazia da perseguição seu deleite, preparando festas, saraus, recitais de poesia, o que mais haveria de querer de vosmecê? Saraus com cantos e pianos? Não seriam novidade, prefiro seus doces e licores que são bem falados, verdade que não danço valsas e minuetos com muita graça e beleza, mas a sinhá também não sabe ter conversas sem importância e sem preocupação, soltô uma risada volumosa, mas não se preocupe, vosmecê está segura nas suas tarefas de maior importância. Não existe tarefa mais sublime que a mãe ensinar as filhas como serem esposas esforçadas, dedicadas e mães cuidadosas, parô desembestado com aquela soltura arrebatada, precisava respirá, voltá pruseu costume pausado e enrolado cheio de amargura, cobiça, olho gordo e frustramento
usdois inté podia parecê qui tava desacompanhado, apartados disê escutado, mais num tava, a porta inté podia parecê fechada, mais num tava, e pra modo de clareá esse assunto, ditê ou num tê bisbilhotice, usdois num dava importância quius pretu escutava atráis das porta, num ia fazê diferença sabê antes ou depois ou num sabê, pru siô clementi num tinha valô eles sabê ou num sabê, tanto podia tá atráis ou na frente da porta, cuos pé firme feito duas estaca fincada nas carne da terra, ele sabia qui tudo dito chegava na cozinha, falava pra sê escutado, entendido e passado pra diante
E sim, minha senhora, até o casamento tem seu valor de merecimento ou castigo. E claro, fez a parada do contentamento tramado, usava e desabusava desse costume manhoso nas coisa de dizê e num dizê, é preciso que seja vantajoso para não se tornar um castigo, uma tortura. No fim, e ao cabo de tudo, é o casamento que faz da mocinha a esposa e a mãe... pela vida afora. E do rapaz, parô a falação e colocô as vista na siá, cuos passo sem pressa, sem afobação, se espera do rapaz, sabia qui o eco das palavra se repetia na cabeça da siá, se espera do rapaz um homem que se encharca com os aborrecimentos e desapontamentos das responsabilidades pelo sustento da vida e do casamento. Ser dono de tudo é uma deliciosa e divina maldição para o bem de todos, achô qui se aborreceu de si tumbém, levantava o relho e batia, empinado oiava pra preta miúda descalça, vestindo uma gandola intêra, vendo por trás do pano grosso de algodão um corpo pretu miúdo bunitu, a anca redonda abalando suas vontade, sitiava, cercava, encurralava cua sua insistência e pertinência, fazia da perseguição seu deleite preparando festas
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é bão lê tumbém se quisé...
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