mulheres descalças
o pecúlio do Theodoro
Ensaio 127Bzza – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
usiô augusto desembuchava o dito e num dito enquanto oiava ensimesmado pra praça, num censurava uqui tava acontecendo, comparava com os acontecido de mais tempo pra tráis, sempre tem uqui usá pra compará, é só tá atento na vida e num se dexá levá pelo canto da sereia nem pelo medo do fogo do dragão, cadum decidi a alça quiqué segurá, as história quiqué lembrá – ou esquecê –, Já foi mais fácil comprar a carga desembarcada direto dos negreiros. Logo, esses deputados de merda, vão ceder a pressão proibindo o atracamento do carregamento da negrada. Fazer riqueza vai ser um embaraço, comprar com preço justo vai virar um pesadelo. O desabastecimento já está vindo, não vê quem não quer, ainda nos salvam os nascimentos. Não tem jeito, a Villa vai ser atingida em cheio, quem tem vai se gabar, quem não tem vai ter que se contentar em lamber os beiços. Ficaremos mais na vontade e na contagem: Quantos negros você já perdeu? Quantos já achou? Para onde será que eles vão? O pior cego é aquele que não quer ver, usiô augusto num achava justo uspretu se rebelá, ficá animado pra abocanhá o contentamento faz-de-conta das rua e da fuga prus quilombo, É isso, dona Rosinha, falta o costume doméstico de render graça, fazer o sinal da cruz e agradecer à Deus. Na grande maioria das vezes, fogem por pura vagabundagem. Bestas bêbadas imundiciando as sarjetas da Villa, sem uso decente, entristecendo o que já foi mais alegre.
Não diga assim, sinhô Augusto.
sem se desviá do acontecido na praça, sem querê sê ameno ou comedido, inté pruqui o assunto lhe enchia a cabeça com mais preocupação dos aumento do custo de vivê na villa
A dona Rosinha consegue imaginar algum criolo entrando em nossas confeitarias, cafés e usando as economias que trás nos bolsos? Roubou de quem para apreciar cardápios com paladares de bolos e bolsos variados? Em terra de cego quem não tem um olho é porque perdeu o outro.
usiô augusto, qui num tinha pretu nas sua ordenança – tinha a antônia qui num ia sai correndo em fuga pra quilombo, num era falta de vontade, mais falta das perna pra corrê e saúde pra ficá escondida nus mato, tinha dona rosinha qui num ia fugí sem a fia, a muriquinha pianística do cabelo quase bão tinha vida de gente branca, num ia estragá isso, e no mais, já tava costumada com as cobertura amolecida dusiô augusto, cada veiz mais longe uma tentativa dotra –, num aceitava a desobediência do mandamento pra num fugí prus quilombo, E o direito de propriedade? Quem não tem criolo, tem negro, quem não tem negro, tem mulato, dá tudo no mesmo. Aqui, na Villa, se é escravo, cidadão ou mulher!
E os negros e negras alforriadas, sinhô Augusto?
E daí? O que tem isso de importância?
Eles são o quê?
Uma aberração! Onde já se viu criolo entrando para a política, juntando pecúclio para comprar alforrias? Bobagem! Na prática a criolada é escrava e isso não vai mudar! É uma questão de segurança, hierarquia e obediência. Alforriado é tudo macaquito resmungão que não quer o bem da Villa.
eles continuava na janela paisagística, oiava pra longe e pensava pra perto, a praça parecendo um alívio distrativo pra falta de assunto de estreiteza e chamego, um divertido novelo de lã qui rolava e se enrolava nas amargura das palavra, escoiceava o tanto faz prus respingo do suô e sangue pretu
usiô gonzaga tirô a mão do parapeito, desceu ela inté ficá com o braço todo reto, parecia procurá a bengala qui tava acamada no chão, dona rosinha teve o mesmo pensamento, desceu a mão do parapeito enquanto oiava o soldado – um negro gigante qui parecia tê nascido praquilo disê forte – das pulícia chimabata prus pretu, Esse daí é muito berrante, parece ter concentrado nele toda força corpulenta, se calô, achô qui já tinha dito além duqui era pra sê dito, tem veiz, quié meió ficá calada, deixá usiô pensá uqui quisé, duqui abrí a boca e num deixá nehuma dúvida, recôieu as palavra e dexô elas solta na cabeça, Um polícia nutritivo e robusto, mas parece uma ventania querendo ser vento.
Não diga assim, sinhô Augusto.
sem se desviá do acontecido na praça, sem querê sê ameno ou comedido, inté pruqui o assunto lhe enchia a cabeça com mais preocupação dos aumento do custo de vivê na villa
A dona Rosinha consegue imaginar algum criolo entrando em nossas confeitarias, cafés e usando as economias que trás nos bolsos? Roubou de quem para apreciar cardápios com paladares de bolos e bolsos variados? Em terra de cego quem não tem um olho é porque perdeu o outro.
usiô augusto, qui num tinha pretu nas sua ordenança – tinha a antônia qui num ia sai correndo em fuga pra quilombo, num era falta de vontade, mais falta das perna pra corrê e saúde pra ficá escondida nus mato, tinha dona rosinha qui num ia fugí sem a fia, a muriquinha pianística do cabelo quase bão tinha vida de gente branca, num ia estragá isso, e no mais, já tava costumada com as cobertura amolecida dusiô augusto, cada veiz mais longe uma tentativa dotra –, num aceitava a desobediência do mandamento pra num fugí prus quilombo, E o direito de propriedade? Quem não tem criolo, tem negro, quem não tem negro, tem mulato, dá tudo no mesmo. Aqui, na Villa, se é escravo, cidadão ou mulher!
E os negros e negras alforriadas, sinhô Augusto?
E daí? O que tem isso de importância?
Eles são o quê?
Uma aberração! Onde já se viu criolo entrando para a política, juntando pecúclio para comprar alforrias? Bobagem! Na prática a criolada é escrava e isso não vai mudar! É uma questão de segurança, hierarquia e obediência. Alforriado é tudo macaquito resmungão que não quer o bem da Villa.
eles continuava na janela paisagística, oiava pra longe e pensava pra perto, a praça parecendo um alívio distrativo pra falta de assunto de estreiteza e chamego, um divertido novelo de lã qui rolava e se enrolava nas amargura das palavra, escoiceava o tanto faz prus respingo do suô e sangue pretu
usiô gonzaga tirô a mão do parapeito, desceu ela inté ficá com o braço todo reto, parecia procurá a bengala qui tava acamada no chão, dona rosinha teve o mesmo pensamento, desceu a mão do parapeito enquanto oiava o soldado – um negro gigante qui parecia tê nascido praquilo disê forte – das pulícia chimabata prus pretu, Esse daí é muito berrante, parece ter concentrado nele toda força corpulenta, se calô, achô qui já tinha dito além duqui era pra sê dito, tem veiz, quié meió ficá calada, deixá usiô pensá uqui quisé, duqui abrí a boca e num deixá nehuma dúvida, recôieu as palavra e dexô elas solta na cabeça, Um polícia nutritivo e robusto, mas parece uma ventania querendo ser vento.
Se for necessário meter a mão em algum criolo, não tem problema, ele mesmo faz o serviço. O Moringue gosta de fazer uso das mãos do seu melhor capitão-do-mato. A nossa milícia pública está bem servida com o negro Theodoro. Dizem que toca uma gaita de boca como nenhum outro. Faz estremecer o coração mais duro.
tudo qui respirava na villa sabia dusiô moringue e do tidoro, usdois fazia cumprí seu devê de segurança na villa e num mostrava arrependimento, colocava medo em quaqué debandada duspretu, Esses dois nasceram para esse serviço: milícia dos criolos que envergonham os negros com a desobediência das fuga e vagabundagem do corpo mole.
Sinhô meu marido, não me sinto segura com esse negro enorme andando livre e armado de polícia.
num falava uqui escondia, nuqui as coxa dizia, tava viva e envergonhada daquele calorão qui subia e se escorria, num tinha escapatória, oiava prum negro com serviço diverso, num adiantava despachá usóio pru horizonte, os pensamento tava acesso na praça, dolorida do ataque com avanço e recuo do negro enorme, recusava saí do medo qui crescia
Concordo com dona Rosinha, ele é muito grande e forte, também sinto arrepio só de olhar tanta robustez e feitiço. É o tipo que não precisa andar armado. Dizem que nas folgas do serviço de busca e prisão o sinhô Moringue lhe manda duas ou três negras bem fortes. Quando descansa do serviço de caçador ele faz o serviço de cobertura das escravas sem feridas ou canseiras. Um bom arranjo do sinhô Moringue com alguns fazendeiros. E o Theodoro não parece incomodado com isso, dizem que sua prole se espalha pelo continente do pampa. Escravo nascido na Villa fortalece o comércio interno e diminui o endividamento com o comércio negreiro. Nestes tempos bicudos é uma alternativa inteligente. Os fazendeiros ganham, o sinhô Moringue ganha e o Theodoro vai juntando um pecúlio para cada cria que vinga.
as mão dusdois se tocô de manso, quase sem querê, quase sem tê vontade, quase sem lembrança, quase creditando qui podia fingí sê uqui num era mais, quase vazio ditudo e cheio pra nada, quase com medo, o mesmo medo dos faminto qui dormi pra tê uqui comê: o pesadelo com a fortuna da comida dos resto
é tanta cautela e receio qui chega sê um espasmo do espanto qui usdois vive junto, na mesma casa, com tanto medo e com tanto tempo passado sem gosto e sem atrativo prus ajuntamento dum notro
oiando assim, aqui da praça, pra janela paisagística, o medo num foi bão com eles, o medo num é bão com ninguém, a cisma e o acanhamento fez crescê a recompensa do medo: usdois sivê uqui num é, ninguém sai vivo da vida
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