segunda-feira, 7 de março de 2022

Edgar Allan Poe - Contos: Aventuras de Arthur Gordon Pym: 26 — Conjeturas

Edgar Allan Poe - Contos





Aventuras de Arthur Gordon Pym 
Título original: Narrative of A. G. Pym 
Publicado em 1837





26 — Conjeturas



As circunstâncias relativas à morte do senhor Pym, tão súbita e lamentável, são já bem conhecidas do público, graças à imprensa diária. É de recear que os restantes capítulos que deviam completar o seu relato e que tinha guardado para rever, enquanto os precedentes estavam na tipografia, se tenham perdido irremediavelmente, em consequência da catástrofe em que ele próprio pereceu. No entanto, pode ser que tal não tenha acontecido e, se o manuscrito vier a ser encontrado, será publicado.

Tentaram-se todos os meios para remediar esta falta. O senhor, cujo nome é citado no prefácio e que, segundo o que se diz dele, talvez fosse capaz de preencher esta lacuna, declinou essa tarefa, alegando que os pormenores que lhe tinham sido comunicados não eram exatos, e por incredulidade relativamente à verdade das últimas partes do relato. Peters, que ainda é vivo e reside no Illinois, poderia dar algumas informações, mas não conseguimos contatá-lo. No entanto, poderemos vê-lo mais tarde e certamente não deixará de nos fornecer os documentos necessários para completar a história do senhor Pym.

A perda dos dois ou três últimos capítulos (pois só havia dois ou três) é tanto mais lamentável quanto deviam conter matéria relativa ao próprio Polo, ou pelo menos às regiões situadas nas suas proximidades, podendo as afirmações do autor, relativamente a estas regiões, ser em breve confirmadas ou desmentidas pela expedição ao Oceano Antártico que o governo está, neste momento, a preparar.

Há um ponto desta narrativa sobre o qual será bom fazer algumas observações; o autor deste apêndice sentirá um grande prazer, se as suas reflexões tiverem como resultado dar um certo crédito às estranhas páginas que compõem este livro. Referimo-nos aos fossos descobertos na ilha Tsalal e ao conjunto de figuras incluídas no capítulo 23.

O senhor Pym apresentou os desenhos dos abismos sem fazer comentários e estava convencido de que os entalhes encontrados na extremidade do fosso situado mais a Este não eram caracteres alfabéticos, embora tivessem com eles uma semelhança fantástica. Esta afirmação é feita de uma maneira tão simples e sustentada por uma prova tão evidente (ou seja a adaptação dos fragmentos encontrados na poeira aos entalhes da parede) que somos forçados a acreditar no autor e nenhum leitor sensato suporá outra coisa. Mas como os factos relativos a todas as figuras são muito estranhos (sobretudo quando se comparam com certos pormenores do texto em geral) talvez seja conveniente dizer algumas palavras sobre esses factos, tanto mais que há coisas que, sem dúvida, escaparam à atenção do senhor Poe.

Assim, as figuras 1, 2, 3, 4, e 5 quando se juntam umas às outras pela ordem em que se encontram as próprias cavernas e quando se abstrai das ramificações laterais ou galerias abobadadas (as quais, segundo se lembram, apenas serviam de meios de comunicação entre as galerias principais e eram de aspecto totalmente diferente) constituem a raiz etíope
— raiz




ou ser tenebroso — donde derivam todas as palavras relativas à sombra e às trevas.

Quanto ao entalhe, situado à esquerda e mais ao Norte, na figura 5, é mais provável que Peters tivesse razão e que o seu aspecto hieroglífico fosse realmente uma obra de arte e uma representação intencional da forma humana. O leitor pode observar o desenho e poderá ou não ver a semelhança referida, mas as outras incisões parecem confirmar a ideia de Peters. É evidente que a fila superior é a raiz árabe.







ou ser branco, donde derivam todas as palavras relacionadas com o brilho e a brancura. A fila inferior não é tão nítida nem fácil de perceber. Os caracteres estão um pouco partidos e separados, mas não há dúvida que no seu perfeito estado, formariam a palavra egípcia




ou região sul. Notarão que estas interpretações confirmam a opinião de Peters relativamente à figura situada mais ao Norte. O braço está estendido em direção ao Sul.

Tais conclusões abrem um vasto campo às mais excitantes conjeturas. Talvez exista alguma relação entre vários incidentes pouco pormenorizados da narrativa; embora a cadeia de relações não salte à vista é perfeitamente completa. Tekeli-li! era o grito dos naturais de Tsalal, apavorados ao verem o cadáver do animal branco apanhado no mar. Tekeli-li! era também a exclamação de terror do prisioneiro tsalaliano ao contatar com objetos brancos pertencentes ao senhor Pym. Era também o grito das gigantescas aves brancas que, voando rapidamente, saíam da cortina branca de vapor existente ao Sul. Em Tsalal não havia nada branco, enquanto essa cor predominava na viagem que se seguiu. Não é impossível que Tsalal, o nome da ilha dos abismos, sujeita a uma minuciosa análise filológica, tivesse qualquer ligação com as cavernas alfabéticas ou com os caracteres etíopes tão misteriosamente gravados nas suas paredes.

Gravei isto na montanha e a minha vingança está escrita na poeira do rochedo.





continua na página 283...



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Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, Massachusetts, Estados Unidos, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, Maryland, Estados Unidos, 7 de Outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico estadunidense. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é geralmente considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.

Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, Massachusetts; quando jovem, ficou órfão de mãe, que morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, Virginia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).

Poe mudou seu foco para a prosa e passou os próximos anos trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu próprio estilo de crítica literária. Seu trabalho o obrigou a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema The Raven, foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi por diversas vezes atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose entre outros agentes.

Poe e suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.



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Edgar Allan Poe

CONTOS

Originalmente publicados entre 1831 e 1849


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