domingo, 3 de abril de 2022

mulheres descalças: ferindo a morte cua vida

mulheres descalças


ferindo a morte de vida
Ensaio 127Bzzb – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


é bem verdade verdadêra, quisse medo todo num matô gente – eles num sabe inté onde eles sabe qui num sabe simatô ou num matô, complicô, né?, vô tentá dotro jeito, usdois se decidiu num sabê muntu: sinum sabe, num matô; sinum matô, é uma preocupação qui num existi, num tem uqui fazê, é meió creditá qui existi otras coisa, qui pode ou num pode existí, pra botá no lugá duqui num siqué sabê, é bem meió vivê assim, sem as preocupação disabê, a vida fica mais florida e cherosa, a paz da mentira acomodá meió o faz-de-conta –, Que Deus abençoe e proteja nossa noite, dona Rosinha, Jesus lhe ama, sinhô Augusto, A dona Rosinha é uma benção de Deus nesta casa, que a nossa noite seja toda abençoada, Só Jesus salva, eles já num sabe dizê notícia nova um dotro, oiá com conforto e confiança, usdois costumô tá falso e com miudeza de tempo junto

já num sabe – pra bem da verdade verdadêra, usdois sabe – como sucedeu deles tê encontrado um e otro, eles vive tão costumado de num existí usdois junto qui um num lembra mais dos sonho dotro – coisa qui prusiô augusto num muda muntu, sonho bão é sonho dele –, sobrô desalento embuçado pru dentro e palavra solta pru fora, a fome da vida num é só comida, é vontade ditê sonho, mais num sê comida num faz a vida sê mais abençoada e acertada, só faz ela sê mais penosa e sombria, vida assim precisa sê ajudada com comida, depois do feijão, das hortaliça, da carne e do pão, vem o alento disê apreciá

a vida dusiô augusto e dona rosinha tem fartura de comida, tem pra sobrá e colocá fora mais chora embuçada, aquartelada, perdendo pedaço pelos caminho, minguando, mastigando sem sentí o gosto, engolindo pedaço maciço, Dona Rosinha tem fome?

a muié desconfiô da prugunta, mais respondeu, Gosto de comer com gosto.

E agora, dona Rosinha tem fome?

Huuummm... agora que vosmecê tocou no assunto...

Às vezes, sinto uma fome que não passa, preciso comer e repetir, esvaziar-me, comer e repetir e repetir... uma vontade de comer que não passa sozinha.

Entendo, vosmecê... já tive essa fome que não passa.

Não tem mais? E como dona Rosinha resolveu essa fome?

Acostumei com o descampado das noites.

Então, dona Rosinha... vosmecê já acordou, por volta das madrugadas do amanhecer, com a fome de comer com gosto?

ela já tava se alarmando e alvoroçando, tudo junto, tanta prugunta qui num foi feita a vida toda, num tinha certeza onde essa conversa toda ia dá, mais respondia, Sim, tem vez que aqui dói, e colocô a mão espalmada nas entranha

No meu caso, hoje, me sinto embriagado e esbanjando fome.

as mão tocando sem tocá uma notra, fingindo num tá tocando, disfarçando o susto daquele apetite às clara, dona rosinha voltô as vista pra praça, O Theodoro tem um nariz grandão, nariz de Sansão.

Provavelmente, usou aquele nariz achatado para descobrir o esconderijo do fujão. O que não muito difícil, o rastro ruim de criolo apavorado dá para sentir de longe, o pelame das mão arrepiando, mas, dona Rosinha, não se preocupe, o Moringue tem o miliciano dele com as rédeas curtas. O negro só cumpre o que é ordenado. Disciplina e hierarquia é tudo.

as mão continuava ajuntando com levedura, o jogo de combate ao marasmo e froxidão tinha começado, tudo muntu lento e manso, nenhum dusois queria assustá o perdão em nome da fome, as parte dicadum precisa saí da miséria e da miudeza diuso

respírando e resmungando um quiotro gemido

sem teimosia, se esquecendo ditudo, a cabeça de porongo despovoada, sem complicação, desinventada, os capricho do descaso um notro se desmanchando

as mão se misturando

as cabeça dura ferida, curação de pedra nas mão, corpo a corpo com cautela e boa vontade, desamarrando o querê escondido, furtivo, descido do parapeito, apenas nas coxa sem a pressa do mal-feito

o mundo do casarão ao avesso das vontade

as boca querendo comê, as coxa com vontade didá

as palavra escondida na prisão da cabeça, o salvamento se pruguntando pru qui usdois num se servia cumais gosto um dotro, as vontade e o suco aboiando nas bêrada, as parte se moiando, os chêro e as frescura ferindo a morte cua vida



_____________________



é bão lê, tumbém... sequisé:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma
mulheres descalças: felicidade não existe
mulheres descalças: um gosto diódio
mulheres descalças: o café esfriou
mulheres descalças: é difícil ser dono
mulheres descalças: o pecúlio do Theodoro
mulheres descalças: ferindo a morte cua vida
mulheres descalças: Ele traja calçados!


Nenhum comentário:

Postar um comentário