sexta-feira, 13 de setembro de 2019

parábolas de uma professora: amar para se deliciar junto

parábolas de uma professora


amar para se deliciar junto
Ensaio 005A – 3ª.ed



baitasar e paulus e marko e kamilá




eu aqui, na fórmica verde desconfortável – como imaginar e querer que passemos manhãs tardes noites, assim, aprendendo que o desconforto dessas cadeiras e mesas de fórmica são o melhor trono para meninos e meninas, jovens e adultos aprendizes –, calada e ouvindo a mim mesma, Como eu sou chata, quando se quer aprender mesmo isso não importa, as palavras conversam livres e desobedientes, Sem você não dá, meu amor, minto para mim mesma, tenho que dar – e eu dou, mas não é o mesmo jeito de dar, Ainda bem!... é melhor 

quero ouvir um desfecho romântico

sou o meu espelho, brigo comigo, brigo contigo, quero mais que tudo a salvação, mas não quero me salvar sozinha – e não quero me condenar –, adoro finais românticos, não gosto de tragédias, acredito no desenlace do tipo: ... e viveram felizes para sempre, Bobagem... olhe para os dias e noites envelhecendo, tento me convencer, Nunca vi um final romântico, mas a inflexão das minhas combinações acredita no desenlace poético, na virtude das palavras que revelam outras harmonias, novos arranjos com outras vontades que transformam lágrimas em risos, nos livram dos imbecis e nos oferecem outro dia, só que não para mim, Estou farta dos imbecis!

quase todas falamos o que pensamos? duvido.. nem eu; temos medo? provável... e quem escuta nossas vozes? não importa, falemos para nós mesmas... bem alto, por que temos medo de mostrar nossa raiva? não é feminino? foda-se, qual o antídoto – por enquanto, a intolerância me deixa espantada, mas preciso acreditar que a exigência, compreensão e amorosidade são palavras que nos fazem comum a todas; para mim, acreditar é sonhar, Confesso: é uma agonia – pareço escutar você dizer que me ama, sussurros benditos e bem-vindos, me vejo ao teu lado, te quero, sem teus beijos nunca mais, mas qual o antídoto  

preciso continuar apesar das minhas incoerências, mas como quero teus beijos molhados feitos com cuspe – duvidava que beijos pudessem ser feitos, como fui tola, como fui inocente  

E qual a utilidade da escola além das palavras poéticas?

logo agora, ofélia... logo agora, você volta com sua voz irritante e com perguntas que nem deus sabe a resposta, por toda minha vida não saberei por que você está aqui – e tantas mais –, pelas amizades tenho certeza que não é, a amizade já deveria bastar; pelo trabalho... também não; pelo dinheiro do salário, talvez, mas é tão pouco e com tantos atrasos

olho e encontro amizades que querem ser felizes; aqui, também, outras parecem dormir, queria ter a insistência atrevida, suave e decidida da camila paulo marko, resistentes ao ódio, a raiva das caras de cera e vozes aterradoras com sorrisos sem rosto, predatórias e indiferentes, qual o antídoto dela? e deles? fazem com amor e compartilham

vozes sem rosto não me assustam, sinto apenas uma profunda tristeza, Por que estão aqui se não querem estar, não acreditam – e não querem acreditar, não se deixam acreditar –, chegam querendo sair, e isso é terrível, levam anos capinando essa impaciência sem resultado além da própria indiferença, não estão em direção às pessoas e não sentem remorsos

queria poder dizer à ofélia, Amar pode dar certo, mas é preciso tentar – sei que eu posso, mas não quero mais, desisti delas 

não tenho medo do fim do meu corpo nem da indisciplina dele, nem da minha própria comédia – ou seria tragédia? meu deus, quantas ponderações, quantas fricções – me aguçam e alentam as poesias e os romances, necessito-os para suportar a minha tristeza com essa carência de um final feliz 

até quando serei a menininha sonhando com os contos de fadas, quase esqueço a dor, Amor! É só me chamar que eu vou, entre quotidianos, bares e beijos doces. Eu vou ofegante, cheia de confissões, ainda te quero, eu sei que vou assim para sempre como uma imbecil


Estás vendo, Senhor, estou cansada
da vida, da morte e da ressurreição.
Leva tudo de mim, mas desta rosa escarlate
deixa que, uma vez mais, eu sinta o frescor.


o marko, o paulo, a camila, e tantas mais, não buscam desacreditar qualquer reflexão como um ato reflexo da negação pela negação, apenas para desacreditar, mas repetem até a exaustão que precisamos olhar de frente à cruz da caridade sem nenhuma intenção de libertar-nos, uma cruz que não busca justiça, apenas a reparação das lágrimas fabricadas pelo sorriso têxtil e elogio hipócrita

é preciso afrontar de maneira radical essa humanidade que se desculpa remendando os sujeitos históricos como se não fossem homens e mulheres, só ajudamos gente se tornar gente se nos tornamos gente, eu não educo se não educo a mim mesma com a outra de mim, é preciso amar para se deliciar junto, e mesmo assim, seremos estranhas a nós mesmas, Você está um gato, sinto uma lambança tão grande quando estamos perto


Há três épocas para a lembrança.
A primeira é como o dia que passou.
A alma, sob essa cúpula, sente-se abençoada
e o corpo em sua sombra se compaz.
O riso ainda não cessou, as lágrimas escorrem,
a mancha de tinta na mesa ainda não se apagou –
e, como um selo no coração, repousa o beijo
de despedida, único, inesquecível...
Mas isso não dura muito...
Já não há mais cúpula no alto; apenas, em algum lugar,
num subúrbio distante, uma casinha solitária
onde, no inverno, faz frio e, no coração, calor,
onde há aranhas e o pó recobre tudo,
onde caem em pedaços as cartas inflamadas
e os retratos vão imperceptivelmente mudando;
ali, os outros vêm como se ao cemitério
e, ao voltar para casa, lavam-se com sabão,
expulsam uma fugidia lágrima
das pálpebras cansadas – e se dão um pesado suspiro...
Mas o relógio ainda bate, as primaveras se sucedem
uma depois da outra, o céu rosado fica,
as cidades mudam de nome,
e já não há mais testemunhas do passado,
já não há mais com quem chorar, com quem lembrar.
Devagarzinho, abandonam-nos as sombras,
que já não invocamos mais
pois o seu retorno poderia assustar-nos.
E um dia, ao despertar, descobrimos ter esquecido
o caminho para ir a essa casinha solitária.
Sufocando de raiva e de vergonha,
corremos para lá, mas (como acontece nos sonhos)
tudo está mudado: os homens, as coisas, as paredes,
e ninguém mais nos reconhece – somos estranhos,
nem a nós mesmos encontramos lá... Meu Deus!
E é aí que cresce a amargura:
sabemos que já não há mais lugar
para esse passado nas fronteiras de nossa vida;
que, para nós, ele já é quase indiferente,
quanto para o nosso vizinho de apartamento;
que os mortos, já nem os teríamos reconhecido;
que aqueles de quem Deus nos separou
passaram muitíssimo bem sem nós – e que, até mesmo,
do jeito que está, está tudo bem...

Anna Akhmátova


e mesmo assim, não me parece que está tudo bem, mas já me basta um desfecho feliz de vez em quando, necessito muita disposição para as lutas do quotidiano, há que acabarmos com esse homem cruel, religioso e dono de tudo – corpo pensamento alegria tristeza, tudo amarrado no medo, em nome da cruz, o meu corpo é o meu corpo; e a palavra não... é uma frase completa, adoro essa frase, não é minha, mas adotei  

não sei que outro novo homem haverá de nascer, mas haveremos de cuidar disso também, Homens! Não resistam e se entreguem, é como fazer xixi sentado no vaso, não dói nada e vocês não errariam o alvo, seria legal fazer xixi e não molhar o assento, não seria? 

kkkkkkkkkk





parábolas: ensaio 005A / amar para se deliciar junto
parábolas: ensaio 006A / civismo cínico


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