mulheres descalças
o silêncio no brejo dos pensamento
Ensaio 127Bx – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
chegô no piano e se pruguntô se podia sentá no banco da fia
num obedeceu o espasmo das perna, as duas tinha envelhecido o siô augusto antes da velhice quando ele se deu conta qui uma num crescia o tanto quia otra avançava empurrando o chão, num era munta diferença, mais vê assim as própria perna ficando diferente uma da otra, uma tão forte pra carregá tudo e a otra qui se vê tão mais fraca qui é preciso puxá, a caçula qui num suportava crescê junto e preferia se perdê de vista no espaço vazio do nada, um fiu mais novo qualqué sempre no limite de sê menos, caminhando passo a passo com o mais véio sem permissão pra sê mais
num sentô
suspeitô qui num tinha competência pra sentá naquele lugá de muntu estudo da sua amada fia pianística, o duelo silencioso entre nobreza e gratidão, caridade e solidariedade
Paizinho...
ele num pareceu querê escutá o chamado da dona rosinha, a fraqueza do chamado da muié num lhe fez mudá o destino qui tava dado pela sua vontade de dono de tudo – aquele qui arranca da verdade a sua conveniente verdade e sustenta tudo na sua volta –, continuô parado no lugá qui tava, em pé, ao lado do piano, apoiado com uma das mãos na cauda, É normal todas as mulheres da casa saberem o que devem e o que não devem fazer. Acho que o melhor mesmo é fazer uma pequena lista com os deveres de cada uma, abriu um sorriso silencioso e prazentêro do seu talento pra encontrá solução pra tudo, Isso, é isso, mesmo! Vamos ver, pense Augusto, pense. Já sei. Uma esposa deve ser resignada e perseverante, ser forte... hum... hum... hum... agradar o esposo, cuidar da saúde... hum... hum... imaculada nos pensamentos, casar virgem... – esse já não vale mais para dona rosinha –, estar sempre pronta para o que der e vier... hum... sem ironia, sem presunção, comportamento digno de elogio, crença e inspiração no marido, talento para o silêncio... muito bom... muito bom...
tava pasmo com ele mesmo, num tinha demorado muito pra achá solução pra essa falação toda, É isso! Uma pequena lista, nada muito grande, nada muito complexo, uma veis mais imaginava, As duas primitivas que tenho em casa precisam do meu socorro.
pronto, já num tava mais desorientado, aprumô a desordem da sua postura capenga, reencontrô a sua atitude de dono de tudo, asveis essa desordem durava dias, otraveis num alcançava à noite, um vai e vem desanimado, otro vaivém animado, Ninguém vive sem acreditar no que já existe.
dona rosinha levantô e foi inté a janela, repetiu o chamado com toda cerimônia qui sabia fazê, pra ela num ficá desesperada mais qui já vivia precisava acreditá qui ele ainda sabia uqui tinha qui fazê, Sinhô Augusto Gonzaga Cesar, meu esposo...
ele desviô usóio do nada e colocô eles na dona rosinha, dujeito qui usóio chegô ele ficô pasmoso com a possibilidade duma boa colheita, pensô silencioso com medo de enrolá a língua ou exagerá nos elogio, Dona Rosinha está carnuda e macia, solta em casa e roçando as florzinhas cor-de-rosa ficou tão aveludada nas curvas que parece não ter ossos. Será que ela caminha alegre pela casa? Já não é uma menina, mas continua obstinada e quieta como o abismo de um rochedo. Aos domingos quando montava nela me parecia ver claridades sombrias flutuando dos seus olhos entreabertos, impossível não ficar assustado. Nem mesmo aquela praça com seus sacos de carvão enforcados – e as crianças pobres brincando embaixo – me assustam como esse brilho sem clareza atrás do aguilhão dos olhos. Os olhos sombrios entreabertos da dona Rosinha é fome e imundação querendo sem querer. Abro as pernas da Rosinha, mas não abro seus olhos. Entro no matagal maciço e abundante, e lá está o aguilhão sombrio entreaberto, parece coberto de um luto bolorento e sem novidades. Não importa a confusão ou o caos naquela sombra úmida e fresca, é tudo cerimônia oca. Sem dúvida, continuô com os pensamento dele pra ele mesmo, essa lista normativa de comportamento na casa é prioridade, pressagiava qui ela tava se soltando da sua dominação, E isso não é bom para ninguém, nem para dona Rosinha nem para a tranquilidade dessa casa... por alguma razão, tudo é como é e não se mexe. A vida não é perfeita e a Villa não diz só não, como se fosse uma pedra no caminho. Tem hora que é preciso impedir a passagem dos maus pensamentos... É melhor ocultar e calar as coisas ruins da embriaguez... a busca das respostas é capenga, inútil e esbarra num barranco atrás do outro, tudo parece cada vez mais longe... Risada mesmo, solta e bem alta, só quando tem correria atrás de criolo fujão. É quando a Villa caçadora se liberta dos bons modos e costumes, ignora os silêncios contemplativos na descida do barranco da missa, nisso o siô augusto tem toda razão, a villa fica desfigurada numa criatura com pressa pra colocá o pretu amarrado na pedra fincada prus açoite, o barranco da dô esperando a villa igrejêra ficá esfomeada pra comê o bolo da carne e sedenta pra bebê o sangue do corp... E a dona Rosinha que levante as mãos para o céu porque foi comprada por mim, um homem compreensivo que não fez dela uma escrava. Eu fiz da dona Rosinha a minha esposa. E só espero da minha mulher que obedeça, fique sempre calma e não esconda a sua alegria nos panos da cama. Abra os olhos!
Sinhô meu marido...
sabia qui precisava atendê aquele chamado solene da dona rosinha, num dava pra num respondê, num agora pelo menos, mais tava preocupado qui ela ia se soltando da dominação do macho dono de tudo, ainda num era munta perdição, mais sabia qui cada passo dado pra libertação – mesmo sem sabê qui pode tê libertação da caverna do medo – precisa de otro tanto maió pra fazê voltá sê uqui era
o dono de tudo num qué sê incomodado nem sentí intimidação, a lua sempre foi redonda e pura, assim como as estrela tá sempre no céu, gosta da umidade, do silêncio e do frio das madrugada, um lobo acanhado como se tivessa alguém no encalço, quanto mais longe caminha mais da villa se aproxima, É assim, na Villa o mundo dos homens e quem manda é o homem, e pronto, quanto mais o siô augusto enroscava e arredondava o lombo mais escuta a voz do painho, as lembrança tráis pra vida as palavra dentro da boca do morto como a gente qué escutá e prefere lembrá, Meu filho, homem que é homem de verdade não é mandado por mulher ou outro inferior!
essa é a villa qui o siô augusto foi ensinado vê e seguí – e qui ele escoiêu continuá mantendo –, um mundo qui só tem sentido quando as vontade do dono é obedecida sem munta prugunta ou confusão
acatá, cumprí e seguí em silêncio
A obediência é a fecundidade da ordem e do progresso. É importante sermos reativos à desordem das mudanças. Respeito e paciência, ou morte! A Família em primeiro lugar, a Villa acima de todos e Deus acima de tudo, esse é o lema do siô augusto, pau mandado da gente do bem, qui ele repete pra mostrá a sua força de macho, uma vida qui continua do pai qui veio duvô qui veio de antes, a raça do macho continua do macho pra contá as mesma história da família, da villa e deus macho
qui num inventô a villa, foi a villa qui inventô ele
a villa é invenção das gente qui escôieu vivê assim, tudo é como é pruqui é invencionice do dono de tudo: a família, a igreja e a justiça, inventô isso tudo pra própria regalia
num foi uma criança triste nem alegre de se vê, o paizinho era tudo pra ele, a voz dos otro era nada, No mundo dos homens quem manda é o homem, e pronto, esse é o mundo inventado pru siô augusto, Homem que é homem de verdade não é mandado por ninguém inferior, um mundo qui ele foi ensinado vê e repetí, e achô bão seguí mantendo, Viver nesta casa só tem sentido se a minha vontade é obedecida!
dona rosinha num precisava escutá pra sabê dos pensamento do véio boiadêro daquela casa, sabe qui fez paração contrariada do silêncio na casa com as suas palavra, fez ele ficá embuchado com nacos do embaraço na boca
ele num falava uqui pensava – e ela dava graças pra deus e recomendava, Se é para mentir, é melhor não soltar as palavras da mentira – e quando falava, num tinha jeito meió ou pió, cuspia as palavra qui vinha lá do pai inté o fiu, e otras tanta qui foi aprendendo entre uma risada e uma cusparada no chão das roda das conversa nos buteco
num tinha cuidado, num tinha carinho, O maior bem de um homem de família temente à Deus é ter o poder de mandar só com um assobio enquanto a bebida ainda está descendo. E quando a ordem não é cumprida o melhor corretivo é colocar de castigo sem comida, ajoelhada, duas horas pelo menos, no quarto escuro, sem poder cair, e depois, ainda amolecida, enfiar o tição. E se desobedecer de novo é porque gostou.
o siô gonzaga tava com as tripa pinicando e um amargo qui num saia da boca nem cuspindo nem vomitando, é preciso paz pra podê sorrí
O que foi desta vez, Mãezinha?
a voz na prugunta-resposta saiu dura e seca, fria e distante, os dente esfarelando o hálito louco qui saia da boca e o nariz arreganhado no riso nervoso qui vinha dusóio e buscava a rendição da muié, ele aprendeu com o paizinho qui os hôme é mais forte – e as muié tem a natureza mais fraca, esperançada e recompensada com sua delicadeza e mansidão –, conserta tudo qui tá errado com a cara feia e fechada, e asveis, uma ou duas palmada na muié ajuda a casa ficá mais sossegada, assim eles fica mais fortalecido e sábio pra continuá a corrida do progresso e a sua luta contra os enfraquecimento da natureza fraca e degenerada das muié
respondeu pruguntando só pra num deixá de respondê e o silêncio num ficá pesado nos próprio ombro, fez aparecê sua voz de formiga solta da garganta sem os pensamento do travessêro – o seu meió aconselhadô – num se deu ao trabáio de escondê a falta do entusiasmo e a chumabada da monotonia puxando tudo nele pru raso do fundo, no fim das conta feita e desfeita, aquela encenação toda era pra avisá – sem precisá tê dito – qui num tava com interesse nas palavra qui num fosse as suas própria palavra
Venha até a janela, Paizinho...
num escondeu e respirô profundo, no seu modo de oiá pra vida solitária e automatista: Manda quem pode e obedece quem precisa, sentiu um formigamento quanto mais se interessava de colocá as mão nas parte da dona rosinha
Venha, repetiu o chamado, ele já tinha razão pra se arrastá inté aquela janela, mais ficá longe duqui oiava tava mais seguro qui tê nas mão mole uqui queria, vivia com ressaca de bêbado, Só mais um gole, só mais uma olhadinha, inté o tombo mole e zangado do fraco qui num sabe pruqui num pode levantá, mesmo querendo ficá muntu teso dum jeito qui num se dobra, Desgraça de vida e de mulher que não sabe ajudar!
quando num sabe uqui tem precisa achá um culpado pra mostrá, lá fora, na janela dava pra vê quia execução do pretu seguia discutida e num resolvida, Mais um negro bandido e desalmado, mas não quero ver, o siô augusto num queria vê aquele linchamento dos pé e das mão amarrada, a boca amordaçada, tudo sem a necessidade de gastá tempo e dinhêro com um julgamento feito pelo siô juiz do direito das lei
o siô augusto cesar num pareceu disposto nem animado depois de saí do lugá qui tava seguro – na cauda do piano –, mais oiô de novo, oiô meió na direção da cauda do chamado, lá tava sua muié – Isso mesmo, minha mulher! E se o dono não cuida sempre vai ter quem vai querer engordar o gado com o próprio olho – debruçada na maldosa janela, Uma máquina de fazer fofoca e farejar quem passa. No modo de ver da dona Rosinha, tudo que vai-volta e tudo que entra-sai.
a diabrura toma conta da sua vigilância quando num vê a volta duqui passô e ficô, sabe lá pra fazê uqui, É gente que foi para a rua dos Pecados, lá é o lugar do demônio que incendeia os ossos e deixa a ossada em cinza, ela fica o tempo qui conseguí ficá, esperando vê a revinda do passeadô desconjuntado da rua dos pecado
o siô augusto já pensô em lhe dizê da inutilidade dessa vigilância, mais pensô meió, e como de costume, num disse nada, É bom dona Rosinha ter uma razão para viver, é o seu jeito de enganar o tempo que se demora passando.
assim, cuidá das ida e volta dosotro virô serventia pra calmaria qui o siô augusto tanto queria na sua casa, As macegas que invadem a cabeça debruçada na janela entorpecem e entrevam, oiá dona rosinha oiando um depois dotro, em silêncio, conversando prudentru do brejo dos pensamento, entre uma ave-maria e um pai-nosso, passô a sê a sua salvação
o sigilo mudo parece vê os defeito dosotro e rende mais prus pensamento qui as palavra solta nos baile de brejo ou nos palpite das rã e das garça nas água barrenta e fedida das rua
____________________
histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: borboleta preta
o silêncio no brejo dos pensamento
Ensaio 127Bx – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
chegô no piano e se pruguntô se podia sentá no banco da fia
num obedeceu o espasmo das perna, as duas tinha envelhecido o siô augusto antes da velhice quando ele se deu conta qui uma num crescia o tanto quia otra avançava empurrando o chão, num era munta diferença, mais vê assim as própria perna ficando diferente uma da otra, uma tão forte pra carregá tudo e a otra qui se vê tão mais fraca qui é preciso puxá, a caçula qui num suportava crescê junto e preferia se perdê de vista no espaço vazio do nada, um fiu mais novo qualqué sempre no limite de sê menos, caminhando passo a passo com o mais véio sem permissão pra sê mais
num sentô
suspeitô qui num tinha competência pra sentá naquele lugá de muntu estudo da sua amada fia pianística, o duelo silencioso entre nobreza e gratidão, caridade e solidariedade
Paizinho...
ele num pareceu querê escutá o chamado da dona rosinha, a fraqueza do chamado da muié num lhe fez mudá o destino qui tava dado pela sua vontade de dono de tudo – aquele qui arranca da verdade a sua conveniente verdade e sustenta tudo na sua volta –, continuô parado no lugá qui tava, em pé, ao lado do piano, apoiado com uma das mãos na cauda, É normal todas as mulheres da casa saberem o que devem e o que não devem fazer. Acho que o melhor mesmo é fazer uma pequena lista com os deveres de cada uma, abriu um sorriso silencioso e prazentêro do seu talento pra encontrá solução pra tudo, Isso, é isso, mesmo! Vamos ver, pense Augusto, pense. Já sei. Uma esposa deve ser resignada e perseverante, ser forte... hum... hum... hum... agradar o esposo, cuidar da saúde... hum... hum... imaculada nos pensamentos, casar virgem... – esse já não vale mais para dona rosinha –, estar sempre pronta para o que der e vier... hum... sem ironia, sem presunção, comportamento digno de elogio, crença e inspiração no marido, talento para o silêncio... muito bom... muito bom...
tava pasmo com ele mesmo, num tinha demorado muito pra achá solução pra essa falação toda, É isso! Uma pequena lista, nada muito grande, nada muito complexo, uma veis mais imaginava, As duas primitivas que tenho em casa precisam do meu socorro.
pronto, já num tava mais desorientado, aprumô a desordem da sua postura capenga, reencontrô a sua atitude de dono de tudo, asveis essa desordem durava dias, otraveis num alcançava à noite, um vai e vem desanimado, otro vaivém animado, Ninguém vive sem acreditar no que já existe.
dona rosinha levantô e foi inté a janela, repetiu o chamado com toda cerimônia qui sabia fazê, pra ela num ficá desesperada mais qui já vivia precisava acreditá qui ele ainda sabia uqui tinha qui fazê, Sinhô Augusto Gonzaga Cesar, meu esposo...
ele desviô usóio do nada e colocô eles na dona rosinha, dujeito qui usóio chegô ele ficô pasmoso com a possibilidade duma boa colheita, pensô silencioso com medo de enrolá a língua ou exagerá nos elogio, Dona Rosinha está carnuda e macia, solta em casa e roçando as florzinhas cor-de-rosa ficou tão aveludada nas curvas que parece não ter ossos. Será que ela caminha alegre pela casa? Já não é uma menina, mas continua obstinada e quieta como o abismo de um rochedo. Aos domingos quando montava nela me parecia ver claridades sombrias flutuando dos seus olhos entreabertos, impossível não ficar assustado. Nem mesmo aquela praça com seus sacos de carvão enforcados – e as crianças pobres brincando embaixo – me assustam como esse brilho sem clareza atrás do aguilhão dos olhos. Os olhos sombrios entreabertos da dona Rosinha é fome e imundação querendo sem querer. Abro as pernas da Rosinha, mas não abro seus olhos. Entro no matagal maciço e abundante, e lá está o aguilhão sombrio entreaberto, parece coberto de um luto bolorento e sem novidades. Não importa a confusão ou o caos naquela sombra úmida e fresca, é tudo cerimônia oca. Sem dúvida, continuô com os pensamento dele pra ele mesmo, essa lista normativa de comportamento na casa é prioridade, pressagiava qui ela tava se soltando da sua dominação, E isso não é bom para ninguém, nem para dona Rosinha nem para a tranquilidade dessa casa... por alguma razão, tudo é como é e não se mexe. A vida não é perfeita e a Villa não diz só não, como se fosse uma pedra no caminho. Tem hora que é preciso impedir a passagem dos maus pensamentos... É melhor ocultar e calar as coisas ruins da embriaguez... a busca das respostas é capenga, inútil e esbarra num barranco atrás do outro, tudo parece cada vez mais longe... Risada mesmo, solta e bem alta, só quando tem correria atrás de criolo fujão. É quando a Villa caçadora se liberta dos bons modos e costumes, ignora os silêncios contemplativos na descida do barranco da missa, nisso o siô augusto tem toda razão, a villa fica desfigurada numa criatura com pressa pra colocá o pretu amarrado na pedra fincada prus açoite, o barranco da dô esperando a villa igrejêra ficá esfomeada pra comê o bolo da carne e sedenta pra bebê o sangue do corp... E a dona Rosinha que levante as mãos para o céu porque foi comprada por mim, um homem compreensivo que não fez dela uma escrava. Eu fiz da dona Rosinha a minha esposa. E só espero da minha mulher que obedeça, fique sempre calma e não esconda a sua alegria nos panos da cama. Abra os olhos!
Sinhô meu marido...
sabia qui precisava atendê aquele chamado solene da dona rosinha, num dava pra num respondê, num agora pelo menos, mais tava preocupado qui ela ia se soltando da dominação do macho dono de tudo, ainda num era munta perdição, mais sabia qui cada passo dado pra libertação – mesmo sem sabê qui pode tê libertação da caverna do medo – precisa de otro tanto maió pra fazê voltá sê uqui era
o dono de tudo num qué sê incomodado nem sentí intimidação, a lua sempre foi redonda e pura, assim como as estrela tá sempre no céu, gosta da umidade, do silêncio e do frio das madrugada, um lobo acanhado como se tivessa alguém no encalço, quanto mais longe caminha mais da villa se aproxima, É assim, na Villa o mundo dos homens e quem manda é o homem, e pronto, quanto mais o siô augusto enroscava e arredondava o lombo mais escuta a voz do painho, as lembrança tráis pra vida as palavra dentro da boca do morto como a gente qué escutá e prefere lembrá, Meu filho, homem que é homem de verdade não é mandado por mulher ou outro inferior!
essa é a villa qui o siô augusto foi ensinado vê e seguí – e qui ele escoiêu continuá mantendo –, um mundo qui só tem sentido quando as vontade do dono é obedecida sem munta prugunta ou confusão
acatá, cumprí e seguí em silêncio
A obediência é a fecundidade da ordem e do progresso. É importante sermos reativos à desordem das mudanças. Respeito e paciência, ou morte! A Família em primeiro lugar, a Villa acima de todos e Deus acima de tudo, esse é o lema do siô augusto, pau mandado da gente do bem, qui ele repete pra mostrá a sua força de macho, uma vida qui continua do pai qui veio duvô qui veio de antes, a raça do macho continua do macho pra contá as mesma história da família, da villa e deus macho
qui num inventô a villa, foi a villa qui inventô ele
a villa é invenção das gente qui escôieu vivê assim, tudo é como é pruqui é invencionice do dono de tudo: a família, a igreja e a justiça, inventô isso tudo pra própria regalia
num foi uma criança triste nem alegre de se vê, o paizinho era tudo pra ele, a voz dos otro era nada, No mundo dos homens quem manda é o homem, e pronto, esse é o mundo inventado pru siô augusto, Homem que é homem de verdade não é mandado por ninguém inferior, um mundo qui ele foi ensinado vê e repetí, e achô bão seguí mantendo, Viver nesta casa só tem sentido se a minha vontade é obedecida!
dona rosinha num precisava escutá pra sabê dos pensamento do véio boiadêro daquela casa, sabe qui fez paração contrariada do silêncio na casa com as suas palavra, fez ele ficá embuchado com nacos do embaraço na boca
ele num falava uqui pensava – e ela dava graças pra deus e recomendava, Se é para mentir, é melhor não soltar as palavras da mentira – e quando falava, num tinha jeito meió ou pió, cuspia as palavra qui vinha lá do pai inté o fiu, e otras tanta qui foi aprendendo entre uma risada e uma cusparada no chão das roda das conversa nos buteco
num tinha cuidado, num tinha carinho, O maior bem de um homem de família temente à Deus é ter o poder de mandar só com um assobio enquanto a bebida ainda está descendo. E quando a ordem não é cumprida o melhor corretivo é colocar de castigo sem comida, ajoelhada, duas horas pelo menos, no quarto escuro, sem poder cair, e depois, ainda amolecida, enfiar o tição. E se desobedecer de novo é porque gostou.
o siô gonzaga tava com as tripa pinicando e um amargo qui num saia da boca nem cuspindo nem vomitando, é preciso paz pra podê sorrí
O que foi desta vez, Mãezinha?
a voz na prugunta-resposta saiu dura e seca, fria e distante, os dente esfarelando o hálito louco qui saia da boca e o nariz arreganhado no riso nervoso qui vinha dusóio e buscava a rendição da muié, ele aprendeu com o paizinho qui os hôme é mais forte – e as muié tem a natureza mais fraca, esperançada e recompensada com sua delicadeza e mansidão –, conserta tudo qui tá errado com a cara feia e fechada, e asveis, uma ou duas palmada na muié ajuda a casa ficá mais sossegada, assim eles fica mais fortalecido e sábio pra continuá a corrida do progresso e a sua luta contra os enfraquecimento da natureza fraca e degenerada das muié
respondeu pruguntando só pra num deixá de respondê e o silêncio num ficá pesado nos próprio ombro, fez aparecê sua voz de formiga solta da garganta sem os pensamento do travessêro – o seu meió aconselhadô – num se deu ao trabáio de escondê a falta do entusiasmo e a chumabada da monotonia puxando tudo nele pru raso do fundo, no fim das conta feita e desfeita, aquela encenação toda era pra avisá – sem precisá tê dito – qui num tava com interesse nas palavra qui num fosse as suas própria palavra
Venha até a janela, Paizinho...
num escondeu e respirô profundo, no seu modo de oiá pra vida solitária e automatista: Manda quem pode e obedece quem precisa, sentiu um formigamento quanto mais se interessava de colocá as mão nas parte da dona rosinha
Venha, repetiu o chamado, ele já tinha razão pra se arrastá inté aquela janela, mais ficá longe duqui oiava tava mais seguro qui tê nas mão mole uqui queria, vivia com ressaca de bêbado, Só mais um gole, só mais uma olhadinha, inté o tombo mole e zangado do fraco qui num sabe pruqui num pode levantá, mesmo querendo ficá muntu teso dum jeito qui num se dobra, Desgraça de vida e de mulher que não sabe ajudar!
quando num sabe uqui tem precisa achá um culpado pra mostrá, lá fora, na janela dava pra vê quia execução do pretu seguia discutida e num resolvida, Mais um negro bandido e desalmado, mas não quero ver, o siô augusto num queria vê aquele linchamento dos pé e das mão amarrada, a boca amordaçada, tudo sem a necessidade de gastá tempo e dinhêro com um julgamento feito pelo siô juiz do direito das lei
o siô augusto cesar num pareceu disposto nem animado depois de saí do lugá qui tava seguro – na cauda do piano –, mais oiô de novo, oiô meió na direção da cauda do chamado, lá tava sua muié – Isso mesmo, minha mulher! E se o dono não cuida sempre vai ter quem vai querer engordar o gado com o próprio olho – debruçada na maldosa janela, Uma máquina de fazer fofoca e farejar quem passa. No modo de ver da dona Rosinha, tudo que vai-volta e tudo que entra-sai.
a diabrura toma conta da sua vigilância quando num vê a volta duqui passô e ficô, sabe lá pra fazê uqui, É gente que foi para a rua dos Pecados, lá é o lugar do demônio que incendeia os ossos e deixa a ossada em cinza, ela fica o tempo qui conseguí ficá, esperando vê a revinda do passeadô desconjuntado da rua dos pecado
o siô augusto já pensô em lhe dizê da inutilidade dessa vigilância, mais pensô meió, e como de costume, num disse nada, É bom dona Rosinha ter uma razão para viver, é o seu jeito de enganar o tempo que se demora passando.
assim, cuidá das ida e volta dosotro virô serventia pra calmaria qui o siô augusto tanto queria na sua casa, As macegas que invadem a cabeça debruçada na janela entorpecem e entrevam, oiá dona rosinha oiando um depois dotro, em silêncio, conversando prudentru do brejo dos pensamento, entre uma ave-maria e um pai-nosso, passô a sê a sua salvação
o sigilo mudo parece vê os defeito dosotro e rende mais prus pensamento qui as palavra solta nos baile de brejo ou nos palpite das rã e das garça nas água barrenta e fedida das rua
Leia também:
histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: borboleta preta
Nenhum comentário:
Postar um comentário