quarta-feira, 21 de agosto de 2019

histórias de avoinha: Sinto-me tão só

mulheres descalças


Sinto-me tão só   
Ensaio 127Bp – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




ela é bem mais dura duqui ele qué qui a dona rosinha credite quié, mais num tá toda decidida num sê engolida como otra sofrente, o siô gonzaga pode num tê percebido, acho inté qui ele percebeu sê meió pra ele desentendê pruqui qué continuá a repetição do pai qui ensinô pru fiu o lugá de cadum na casa – o macho dá casa, comida e os cuidado, e a muié se oferece com a lealdade do corpo –, no modo de vê do siô gonzaga num tem pruqui mudá uqui deu certo inté aqui, um feitio de vivê simples, onde as coisa certa num pode destoá das coisa aprendida

dona rosinha tá cada veiz mais arisca e destemperada, num entendia direito pruqui tava menos satisfeita com a vida de casêra, descobria pôco a pôco qui num era uma natureza morta ou as água mansa do rio qui tava sempre lambendo as bota do siô gonzaga, num parecia tê otro feitio de vida, mais tava se aprontando pra subí a altura das água e mudá o desenho das borda da villa, traquinava desacalmá a vida deselegante de casêra e a mais afetuosa da casa

num queria se parecê com a brabeza qui morde mesmo sem tê boca, ainda tava no seu gosto de parecê cada veiz menos como a marida queridona ou a bendita mãe cuidadora, se tivesse qui sê as duas, ia sê, mais queria mudá uma ou otra coisinha, Ninguém vai chorar e se chorar que se dane, Deus me perdoe. O Gonzaga nem vai perceber e se perceber vai fazer chacota de mim. Tenho vontade de chorar, parece que a Villa toda vai rir. E o Senhor não vai me ajudar? Vai achar graça também? Quantos Pai Nosso e Ave Maria preciso rezar? Não quero esperar morrer para ser feliz, não quero carregar o mundo no meio das pernas. Eu olho para o céu todas as noites e dias, não sinto Suas mãos me abençoando. Acho que o Senhor espera que eu caia de joelhos... assim? E se eu morrer? As pessoas na Villa vão se modificar? Não, não é mesmo? Tenho tanta tristeza no coração. É errado não querer ser mulher? É errado querer ser mais que uma mulher? Ser gente, por exemplo. Gente que pensa e fala o que pensa. Para sempre... sinto-me tão só. Não posso correr para o Gonzaga, ele não iria entender. Meu Deus, ajude meu coração, está tão frio. Preciso de alguém para abraçar. Como eu faço para o Gonzaga me achar? Eu tenho escolha? Meu Deus, me ajude! Sinto-me tão só. Queria sorrir e sinto vontade de chorar. Estou aqui, mas é como se não estivesse, não tenho nem as palavras, só o meu coração. Não quero desistir do Senhor. Acho que o Senhor e o Gonzaga não devem achar que eu penso, não escutam uma palavra que eu digo. E o que eu fiz errado? Não tenho mesmo as palavras. Estou me repetindo, não é? Eu sou a minha repetição de antes e depois. Então, danem-se! Ninguém ouve mesmo. Preciso alguém para abraçar suavemente, sentir o calor me aquecer. Sentir o perfume do corpo de alguém, pode ser do Gonzaga... pode ser do Senhor, também. Fui muito atrevida? O Gonzaga não sabe que o começo da minha da minha alma é o abraço. Quem se importa comigo? Como é profunda minha solidão, parece que minha vida nunca começou. Nada me faz querer. Não estou chorando, não. A vida é tão cega. O Senhor não sabe o que é não ter coisa boa para recordar, nenhuma luz, é sempre a minha vez de nada. Olho para o amanhã com arrependimento, pra dona rosinha, é a mesma coisa se num tê como fazê o sol aparecê com as estrela ou num tê como mudá as coisa na villa e nem no gonzaga, é a mesma coisa pra sempre

uma muié danificada, desmoronando com lenteza, tem veiz qui tá desanimada, otras veiz tá decidida num sê engolida, Onde fica o coração do Gonzaga?

dona rosinha é muntas: a muié, a mãezona, a mestiça, a refém, a tristeza, a lágrima, a solidão, a vida calada, o arrependimento dum desenho qui a sua imaginação nunca pode controlá, muntu menos, as crueza e os abuso do siô gonzaga inté ela derramá o suco vermêio da padecente violada pelo corpo e pela alma

Nossa filha já não é uma menininha, tudo pode acontecer...

o siô gonzaga ficô desconfiado das palavra da dona rosinha, ao mesmo tempo, abriu as lembrança e à disposição pra enfrentá os perigo qui possa tá na volta da sua fia, queria destruí toda ameaça pra fia, imaginária ou verdadêra, sem rosto e sem nome , saboreava os gemido do vagabundo

O que Mãezinha quer dizer com isso?

a mãezona sentiu o calafrio do aviso qui chega antes do perigo, num é – e nem nunca foi – a culpada pela cara pálida e alucinada do marido, nem quando ele tá morto nem quando ele tá vivo, é uma testemunha de cera qui ficô mais cuidadosa

queria voltá no tempo e fechá a tornêra das palavra sem provocá aborrecimento descabido, sabia qui o destino da chiquinha dependia do seu bão jeito de dizê uqui precisava sê dito e fazê o marido entendê

É preciso prepará-la para o que está para acontecer...

num pode seguí dos próprio consêio pra fia: boca fechada num erra, agora ia inté o fim, fosse uqui fosse...





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