sexta-feira, 14 de junho de 2019

histórias de avoinha: a dança dos dedo

mulheres descalças


a dança dos dedo
Ensaio 127Bn – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar





a mão canhota destravada e assustada cortejava o topete estampado crespo e cerrado com as ponta curiosa, abusada e confusa dos dedo

tocava

rodeava

enroscava

na maió das veiz com gosto, otras veiz amedrontada apertava as vista fechada 

e rezava, Ave Maria que com graça vê me acuda nessa hora, me livra da tentação e me alivia um pouco alguma dessas coisas. Ave Maria da Graça me acuda dessa coceira insana, dessa vontade de tanta água fresca.

mexia e remexia o suco quente do seu corpo febrento entre o pecado e a absolvição, tudo tão estranho e secreto naquela escuridão de novidade e embaraço: a cama, o tambô, os dedo, a boca, o gosto, a cruiz qui arreganha os dente e ordena, Para com isso, estou enojada!

ela num parava, tava decidida qui só acabava no fim

roçava

torneava

apertava

suspirava afogada na mania educada do medo e do silêncio, resistia e se aprendia, Logo você termina a tarefa e dorme, o suco quente e grudento agarrado nos dedo tentando sobrevivê diz qualqué coisa

abria e fechava as perna pra escuridão do quarto, num queria nem precisava dusóio pra vê qui num cicatrizava, tava num alagamento só, parecia qui parando ia enlouquecê, num queria pará, num queria adoecê, num ia pará, nunca mais ia se deslembrá duqui aprendia pra sê ela mesma

num podia mais pará, tudo na pianística tava uma quentura qui parecia as brasa reavivando o fogo qui liberta a apreciação, a compaixão das mão, a delicadeza da pele, o sumiço das palavra

os dedo já num rastejava mais no tapete estampado, eles empurrava as carne e o milagre do atrevimento parecia qui num ia mais passá

nunca mais ia se contentá em ficá satisfeita do jeito de antes: parada, quieta, em silêncio e imaculada, acontecia do milagre crespo e cerrado da imaculada tá nas mão cheia da fartura dela mesma, o amô das mão é o primêro tocamento pra realçá o espritu do amô

no canto da escuridão pareceu vê um cão ardiloso, A mocinha está se libertando para dentro da prisão das cinzas, vai descobrir que depois do arrependimento sobra muito pouco da mocinha mutilada... parô pra dá um suspiro de encabulamento antes de prosseguí, E a outra mão, puruguntô o cão, O que tem a outra mão, retrucô a muriquinha, A destra não é tão boa, indagô o xereta, Sei lá... isso importa, Ela parece uma cadelinha mansa e obediente esperando de longe, Esperando o quê, A penitência da salvação em nome dos bons costumes e da família, Não mereço nenhum castigo, o cão moralista subiu nas duas pata trasêra, latindo pru alto, Levanta essa mão preguiçosa e repete: Em nome do Pai, do Filho e dos Espíritos Santos!

Parô de retrucá e continuô com as vista fechada pru quarto, o cão num virô manso, uivava no canto da escuridão, O Vênuto!

a lembrança do vênuto fez a muriquinha pianística levantá as costa da cama, foi com os pé descalço inté o quarto do assobiadô emplumado e desceu a cortina, Desculpe, meu amiguinho...

O negro fugiu!

o pretu fujão escapô das garra da manada e avançava na direção da muriquinha muié

a tocha acessa numa das mão, uma adaga podre e quebrada na cintura nua, o tambô de mina na outra mão

o fujão entrô pela escuridão, varando as parede, ela se desmanchando em transe no recinto sagrado e discreto das parede grossa e firme, dava volta e mais volta com os dedo da canhota

um pano branco na destra, pronta pra pedí trégua

o pretu tocando no tambô

o abatá se encarregava da obrigação

Bravo! Bravo!

os dedo e aquele folguedo todo de queimação, uma brincadêra séria com a água fresca

o corpo febrento e as vontade se cobiçando, a mão doida toda destravada, o pretu assobiando

Não, avisô, tava assustada, estou com dor na barriga, mexia nas palavra, sou uma virgem conjugal, ele parô os assobiu e estendeu a mão, Pegue, O que é isso, Manjerona e louro, Para quê, O perfume é um bálsamo, a lamurienta assustada estendeu a mão e pegô, Vosmecê é um negro tão educado e gentil, Oxosse e Ossãe receitam erva-tostão e quebra-pedra, ofereceu com as duas mão uma cabaça fumegando com um aroma arrebatadô, Para quê, oiava desconfiada, A cura das plantas corta o feitiço da doença. O modo de gente como vosmecê perdeu da memória que os males físicos e do espírito podem ficar enfraquecidos com as rezas, mandigas e defumações, Não acredito... isso é bruxaria, Não, não é, É sim, Essa bruxaria que vosmecê tem tanto medo foi a sua imaginação que criou, A boa saúde anda junto com o arrependimento e a penitência, as doenças são do pecado, É isso que a mocinha acredita, Sim

como creditá nas coisa do pensamento se as palavra da alucinação vem de lá

a moça muié encostada na porta, as perna doendo, as coxa ardendo, o perfume da manjerona, os braço na frente do corpo, as mão no estampado crespo, os peito subindo e descendo, a vegetação remexida, qué gritá um nome, mais num sabe o sentido daquilo tudo

inté qui o pretu toca com o punho da chibata o esconderijo quente da vegetação

a garganta queria mais água fresca




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