mulheres descalças
a vaga de marido
Ensaio 127Bt – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
o relógio do tempo num inventa nem se desvia ou descansa, ele num dormi nem se distrai – e num tem medo da cara de brabeza do siô augusto ou dó dos contorno de sofrimento e abandono da dona rosinha –, atravessa os beco da vida de cadum sem embaraço ou aborrecimento – nem faz cara de arrependimento –, num bate na porta nem pede licença, só deixa pra tráis os pó qui se acumula do ossário das vida qui já foi vida, mais isso só inté o ventu chegá e se encarregá de debandá tudo
o ventu é o seladô qui faz o arremate do esquecimento: esparrama o pó amontoado nos buraco da terra; depois, é aveiz das água da chuva qui faz lavá e germiná tudo
num sobra nada dos aroma, dos colorido das cara – as caramunha, os trejeito, as máscara –, dos melindre, das emoção, o relógio do tempo num descansa nem se assusta, é comilão, devora tudo
quem diz, e diz, e repete, Eu quisera ter vivido com outro jeito, perdeu o tempo de vivê os folguedo da vida, hoje ou amanhã vai morrê, e depois, e depois, e sempre, o relógio num volta e só dá o aviso uma veiz: acabô e tudo continua sem o siô augusto e dona rosinha
num adianta os grito, Vamos! Vamos sua vaca!, esse rebuliço das palavra só prepara dona rosinha pra sê um corpo sem alegria e morto, antes mesmo de tê descido pru buraco da cova, antes da hora de tá afeita pra sê comida da terra
o siô augusto parece apreciá com gosto sê o covêro do buraco qui vai comê dona rosinha
pru qui essa fervura nervosa das gritaria e descortesia? foi o siô augusto qui procurô os serviço da dona rosinha de muié, dona de casa e mãinha... uqui ele vai perdê ou num perdê com isso? é muntu sacrifício exigido – qui num merece – pra quem vai continuá escondido nas cortina de faz-de-conta da figuração dele pra ele mesmo
gosta de vê no espêio o branco dono de tudo, mesmo qui esse convencimento num vai passá da porta pra fora, mais ali, naquela casa, ele é qui manda e desmanda, mama e desmama, num aprendeu – ou num quis aprendê – qui apalpá as intimidade da dona rosinha num é cura nem pecado, é a fervura de vivê os aroma e os colorido da vida, sabê se deliciá nas refeição do amô é sabê serví o alimento com o mesmo gosto qui aprende se a comida
mais o siô augusto vai continuá em jejum – escondido atráis da moita da vida –, sempre foi assim e vai continuá sendo: a miudeza do desaproveitamento
já escutô qui depois qui passô num adianta – uqui passô... passô –, num tem jeito de fazê voltá o relógio, Não tem importância, a cara feia de brabo resolve. Apareço de supetão e depois é só sumir. Um ou dois gritos coloca tudo no rumo. O medo faz a vida andar para frente.
num tem jeito, a vela acessa tá sempre derramando a chama no copo do vinho, mais é as lágrima da tristura qui faz o siô augusto respirá, a dormência sem limite é um desaproveitamento desembaraçado qui os dono de tudo aduba, ensina e conserva, A Mãezinha está diferente, Por quê, Paizinho?
Não sei...
Diferente em quê?
dona rosinha torce e retorce os dedo, mais num vai descruzá as perna
Não sei... não sei...
o aniversário do tempo num deixa pedra em cima da pedra, desliza determinado – num esquece ninguém –, ninguém fica pra tráis muntu tempu, Não adiantam os seus gritos: Vamos! Vamos, sua vaca!
esses seus gritos só querem me preparar para morrer, é o jeito de vosmecê me acostumar com a falta de ter vida longe das suas mãos azedas e grosseiras, vosmecê só quer os buracos do meu corpo e nem isso vosmecê sabe aproveitar com gosto
não sou o seu pedaço de carne, eu tenho uns formigamentos e nervuras que o sinhô meu marido nem chegou perto de ser agradável – é só desconforto assistir vosmecê desvivendo –, um animal faminto que não fica melhor com o tempo, deus é homem? deve ser
se tenho medo? tenho!
gosto de falar alto, ser engraçada, sentar e cruzar as pernas, queria andar pelo mundo fora da villa, mas não dá, tanto faz no anoitecer como no amanhecer é uma vida fúnebre, só os mortos sorriem
trocar as fraldas, cozinhar, aprender a lavar a louça – o que lavar primeiro e por último –, seguir um homem pelo resto da vida, vai à merda! decidi que serei o túmulo da sua carne mal-cheirosa e mole
mais vosmecê tem salvação, é só querer me aprender, sou um rio que flui úmida de muitos riachos, não sou as águas de um só lugar, invento palavras que não existem, invento línguas... invento vidas
quer me aprender?
basta me repetir repetir repetir e repetir até a profundeza mais escura e desconhecida, posso lhe dar o que vosmecê nem sonha receber, as intimidades não se comem sem se lambuzar todo, é preciso esparramá tudo com alegria, riso e diversão
e vosmecê precisa tirar as armaduras do medo e enraizar a mania da cortesia no coração
então, pode chegar o dia que vou tomar sua espada nas mãos com gosto e fazer brotar a festa da cantoria do sabiá, uma couraça imensa em sua seiva e vigor, e assim... apalpado, vosmecê talvez possa beber minhas águas, aprender minhas matas e tatear minhas colinas
eu sou bela e meus seios lhe esperam, mas vosmecê se apegou à raiva, ao ódio e aprisionou tudo nesse jogo inventado do esconde-esconde, não diz o que sente – nem eu, eu sei, mais vosmecê aguenta a verdade? –, eu não aguento mais vosmecê, marido num é dono
O Paizinho quer clareza? Então, vou ser bem explicada nas palavras, num parô uqui vinha dos pensamento do curação, sabia qui depois das palavra parada os movimento delas fica atado e com nó relutante pra desmanchá, foi assim qui continuô empurrando elas pra fora, no rumo do siô augusto
O sinhô meu marido vai querer agradar, mais dia menos dia, os candidatos escolhidos por vosmecê, para a vaga de marido da Chiquinha...
histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a lua na escuridão
a vaga de marido
Ensaio 127Bt – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
o relógio do tempo num inventa nem se desvia ou descansa, ele num dormi nem se distrai – e num tem medo da cara de brabeza do siô augusto ou dó dos contorno de sofrimento e abandono da dona rosinha –, atravessa os beco da vida de cadum sem embaraço ou aborrecimento – nem faz cara de arrependimento –, num bate na porta nem pede licença, só deixa pra tráis os pó qui se acumula do ossário das vida qui já foi vida, mais isso só inté o ventu chegá e se encarregá de debandá tudo
o ventu é o seladô qui faz o arremate do esquecimento: esparrama o pó amontoado nos buraco da terra; depois, é aveiz das água da chuva qui faz lavá e germiná tudo
num sobra nada dos aroma, dos colorido das cara – as caramunha, os trejeito, as máscara –, dos melindre, das emoção, o relógio do tempo num descansa nem se assusta, é comilão, devora tudo
quem diz, e diz, e repete, Eu quisera ter vivido com outro jeito, perdeu o tempo de vivê os folguedo da vida, hoje ou amanhã vai morrê, e depois, e depois, e sempre, o relógio num volta e só dá o aviso uma veiz: acabô e tudo continua sem o siô augusto e dona rosinha
num adianta os grito, Vamos! Vamos sua vaca!, esse rebuliço das palavra só prepara dona rosinha pra sê um corpo sem alegria e morto, antes mesmo de tê descido pru buraco da cova, antes da hora de tá afeita pra sê comida da terra
o siô augusto parece apreciá com gosto sê o covêro do buraco qui vai comê dona rosinha
pru qui essa fervura nervosa das gritaria e descortesia? foi o siô augusto qui procurô os serviço da dona rosinha de muié, dona de casa e mãinha... uqui ele vai perdê ou num perdê com isso? é muntu sacrifício exigido – qui num merece – pra quem vai continuá escondido nas cortina de faz-de-conta da figuração dele pra ele mesmo
gosta de vê no espêio o branco dono de tudo, mesmo qui esse convencimento num vai passá da porta pra fora, mais ali, naquela casa, ele é qui manda e desmanda, mama e desmama, num aprendeu – ou num quis aprendê – qui apalpá as intimidade da dona rosinha num é cura nem pecado, é a fervura de vivê os aroma e os colorido da vida, sabê se deliciá nas refeição do amô é sabê serví o alimento com o mesmo gosto qui aprende se a comida
mais o siô augusto vai continuá em jejum – escondido atráis da moita da vida –, sempre foi assim e vai continuá sendo: a miudeza do desaproveitamento
já escutô qui depois qui passô num adianta – uqui passô... passô –, num tem jeito de fazê voltá o relógio, Não tem importância, a cara feia de brabo resolve. Apareço de supetão e depois é só sumir. Um ou dois gritos coloca tudo no rumo. O medo faz a vida andar para frente.
num tem jeito, a vela acessa tá sempre derramando a chama no copo do vinho, mais é as lágrima da tristura qui faz o siô augusto respirá, a dormência sem limite é um desaproveitamento desembaraçado qui os dono de tudo aduba, ensina e conserva, A Mãezinha está diferente, Por quê, Paizinho?
Não sei...
Diferente em quê?
dona rosinha torce e retorce os dedo, mais num vai descruzá as perna
Não sei... não sei...
o aniversário do tempo num deixa pedra em cima da pedra, desliza determinado – num esquece ninguém –, ninguém fica pra tráis muntu tempu, Não adiantam os seus gritos: Vamos! Vamos, sua vaca!
esses seus gritos só querem me preparar para morrer, é o jeito de vosmecê me acostumar com a falta de ter vida longe das suas mãos azedas e grosseiras, vosmecê só quer os buracos do meu corpo e nem isso vosmecê sabe aproveitar com gosto
não sou o seu pedaço de carne, eu tenho uns formigamentos e nervuras que o sinhô meu marido nem chegou perto de ser agradável – é só desconforto assistir vosmecê desvivendo –, um animal faminto que não fica melhor com o tempo, deus é homem? deve ser
se tenho medo? tenho!
gosto de falar alto, ser engraçada, sentar e cruzar as pernas, queria andar pelo mundo fora da villa, mas não dá, tanto faz no anoitecer como no amanhecer é uma vida fúnebre, só os mortos sorriem
trocar as fraldas, cozinhar, aprender a lavar a louça – o que lavar primeiro e por último –, seguir um homem pelo resto da vida, vai à merda! decidi que serei o túmulo da sua carne mal-cheirosa e mole
mais vosmecê tem salvação, é só querer me aprender, sou um rio que flui úmida de muitos riachos, não sou as águas de um só lugar, invento palavras que não existem, invento línguas... invento vidas
quer me aprender?
basta me repetir repetir repetir e repetir até a profundeza mais escura e desconhecida, posso lhe dar o que vosmecê nem sonha receber, as intimidades não se comem sem se lambuzar todo, é preciso esparramá tudo com alegria, riso e diversão
e vosmecê precisa tirar as armaduras do medo e enraizar a mania da cortesia no coração
então, pode chegar o dia que vou tomar sua espada nas mãos com gosto e fazer brotar a festa da cantoria do sabiá, uma couraça imensa em sua seiva e vigor, e assim... apalpado, vosmecê talvez possa beber minhas águas, aprender minhas matas e tatear minhas colinas
eu sou bela e meus seios lhe esperam, mas vosmecê se apegou à raiva, ao ódio e aprisionou tudo nesse jogo inventado do esconde-esconde, não diz o que sente – nem eu, eu sei, mais vosmecê aguenta a verdade? –, eu não aguento mais vosmecê, marido num é dono
O Paizinho quer clareza? Então, vou ser bem explicada nas palavras, num parô uqui vinha dos pensamento do curação, sabia qui depois das palavra parada os movimento delas fica atado e com nó relutante pra desmanchá, foi assim qui continuô empurrando elas pra fora, no rumo do siô augusto
O sinhô meu marido vai querer agradar, mais dia menos dia, os candidatos escolhidos por vosmecê, para a vaga de marido da Chiquinha...
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