segunda-feira, 23 de setembro de 2019

histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas

mulheres descalças


uma sombra sem corpo não cruza as pernas 
Ensaio 127Br – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




ele tá satisfeito com a muié qui tem nas mão – deixô escapá sem nehum cuidado o rouco das tripa, era puro contentamento – nada mais qui uma boa mercadoria comprada na hora certa, Muda e surda como uma porta, e na cama... uma lindosa bem-mandada. Eu gosto desta mulher... um mulherão... dá tudo certo.

nunca pruguntô dos interesse da dona rosinha, nunca viu necessidade de dizê, Te amo, num se importô com os gosto e as vontade dela e nem cogitô sabê, Em minhas mãos Dona Rosinha é uma massa de barro que com palmadas carinhosas e caridosas vira uma porcelana de encher os olhos. Não geme e não faz cara de assustada. Ela sabe quem manda e quem deve obedecer. Levou um tempinho para ensinar, mas eu estou satisfeito. Dona Rosinha está bem treinada e preparada para o que der e vier, não entra mais em pânico. Aprendeu de supetão algumas coisas e outras foi pouco a pouco, mas o que importa é que conseguiu. Ela é minha melhor invenção, sou o seu criador.

dona rosinha acomodô as duas mão no colo e fechô usóio, mais num fingia durumí como tanta otras veiz já fingiu, Pedir socorro para quem, o socorro sempre foi fingí, mais hoje num parecia se importa com mais nada, e naquela conversa mole cabia pru siô gonzaga dá o próximo passo das palavra, ela esperô, ia esperá o tempo qui fosse

O que está acontecendo, Mãezinha?

engraçado, foi o desfingimento do fingimento desavergonhado de durumí sentada qui fez o siô gonzaga pensá meió, ele nunca viu aquele jeito assanhado de atrevimento – se viu num reparô, se reparô num deu importância pra um qui otro oiá ansiado de dona rosinha , aquele oiá qui faz o oiado se sentí cobiçado pelo apetite da fome quando ele montava na cama, Seja bem-vindo, meu sinhô, nunca teve convite e nunca achô qui fosse preciso tê; mais agora, pensando meió, achô qui teria sido bão ganhá um oiá desse feitio

muntu menos, ganhô o sorriso maroto e desembaraçado quando ele desmontava da cama, Volte sempre, meu sinhô, nunca teve agradecimento, teve uma ou otra veiz qui achô munta ingratidão dela num agradecê o feito bem-feito, mais num pruguntava e nem achava qui precisava destampá as vontade da dona rosinha, os dono de tudo num pruguntá eles agarra uqui qué, e como sempre, ela fingia

mais essa num era toda explicação, o fingimento era o disfarce qui ela podia usá pra tê sua desforra, ele sempre se enfiô no seu corpo defunto, O gosto que sentia podia conseguir usando a mão na sua varinha sem graça, tudo por si mesmo, o cativêro dum pru otro custô caro pra dona rosinha, O Sinhô nos separou e nada irá nos reunir, talvez, os fingimentos, os dois vivia os pesadelo onde cadum tinha sonho de pedra

Logo, logo, o Paizinho vai querer atrair as moscas para o mel e agradar os candidatos...

as tripa do siô gonzaga deu uma duas trêis volta inté soltá mais um suspiro estragado e fedido, uma bravata dos despojo do dia qui caminhava queimando e indócil pelas tripa, nada romântica essas tripa do siôzinho

a dô pareceu fazê caminho inté as costa, ele passô e repassô uma das mão na barriga ansiada e barulhenta, comia uqui bem entendia de comê, depois se entediava esperando passá o tigre pela moenda inté chegá no cinzêro pra deixá as tripa vazia e em paz

Mãezinha, candidatos para o quê?

dona rosinha continuô com as mão onde já tava, no colo, sentiu vontade de cruzá as perna, mais num fez o cruzamento, num queria desfrutá de mais um desarranjo de juízo do siô gonzaga qui acusa e num prova nada duqui diz, tudo é só cisma, imaginação, palpite, suspeita, vontade de mandá e desmandá na casa e nas pessoa da casa, tudo é só falatório, aparência e convicção de merda – pru siô gonzaga o feitio das perna das mãe de família é um só: junta e jamais cruzada, Senhoras que cruzam as pernas querem mostrar mais do que podem e devem.

pru siô gonzaga o feitio das perna das mãe de família num era cruzada, e pronto, pra ele, esse jeito de sentá com as perna cruzada ou aberta é coisa do pecado, As pecadoras sim, essas têm a obrigação de mostrar a mercadoria!

sempre depois da denúncia ele soltava a recomendação, Quantas vezes já disse para vosmecê, quantas vezes mais preciso falar e recomendar? Já não cansou de escutar?

a cara enfurecida, a mão fechada, carregava no reparo da reprovação na voz, Elas carregam doenças e as chamas desenfreadas do inferno, Elas quem, Paizinho, As putas as putas que cruzam as pernas, Mãezinha! Elas consomem homens como gravetos secos no fogo, Como o Paizinho sabe, Eu cresci pagando, Mãezinha, E o Paizinho, pelo visto, ainda não parou de pagar – ele num reparô, se reparô num deu importância, deixô a dúvida da dona rosinha sem sabê uqui ele tava pensando –, No Beco dos Pecados, as moças começam a lida sorrindo, agradáveis e cheirando hortelã. Acabam carregando o incômodo ranço do tabaco no cangote, doenças nas virilhas, mas continuam sorrindo, agradáveis e respirando, isso é o que importa.

uma vida solitária e ocupada

Então, Paizinho... vai se fazer de desentendido mais uma vez?

dona rosinha num lembra de nehum pedaço importante da sua vida qui falô uqui quis dizê, lutô desde sempre pra tá viva, nunca sentiu ilusão qui podia lutá pra sê uqui era, num gosta de própria aparência, num gosta do cabelo duro e crespo, num gosta de vivê onde vive, mais é onde vive

a sensação do tudo pra nada, sabe quiô siô gonzaga num precisa convencê ela tirá as vestimenta do corpo, só precisa mandá, Sempre foi e vai ser assim, faz parte do jeito da Villa: mandar nas mulheres como sua possessão de carne e seiva. Queria ter coragem para fugir. Deixar essa casa e essa gente, para sempre, ter uma vida diferente. Nunca me senti livre para ser quem sou. Um dia, quem sabe, nosso Senhor olhe para mim, e eu possa me sentir livre.



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