domingo, 17 de abril de 2022

mulheres descalças: Ele traja calçados!

 mulheres descalças


Ele traja calçados!
Ensaio 127Bzzc – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



dona rosinha num pode e num qué mostrá vontade demasiada, sem controle, sem vergonha, ela sabe quias muié num tem soltura da escravidão disê muié, nunca vai tê carta pra alforria disê muié preta nesse tempo disê muié-viva, precisa sê muié preta meió quias branca, mais pureza, mais honesta, mais cuidadosa e atenciosa cuas vontade dusiô marido, silenciosa cuas desconfiança disê muié, prestativa sem alguma veiz esquecê qui foi comprada, tem dono, caprichosa cuos cuidado da limpeza da pele preta e da casa, primorosa no zelo da fia e da comida, precavida e sem pureza pra num perdê useu valô nas urgência e pressa dusiô marido, paciência pra socorrê suas precisão imprecisa, o barro qui junta as pedra da casa, Apesar dos seus caracteres físicos, dona Rosinha, essa casa está florescendo, estamos cavando e aplainando uma vida melhor para nossa filha. Isso tudo só comprova que escolhi certo quando lhe tirei da fila da senzala, dona rosinha sabe qui nehuma veiz vai caminhá cuô marido, lado a lado, nas rua da villa, sempre dois passo pra trás, faz muito que a Villa deixou de ser um povoado com meia dúzia de casas de aspecto pobre, espalhados aqui e ali. Exemplo disso, é o ancoradouro dos iates do comércio do interior e para as embarcações de dois mastros, que não demandam mais fundo do que 14 até 18 palmos, abastecendo os diversos comércios da nossa Villa risonha, dona rosinha teve vontade pra suspirá grande, num tinha interesse nas palavra da exibição dusiô augusto, mais anotô na memória qui precisava contá os 18 palmo, sabê é meió qui num sabê

Dona Rosinha não concorda que é preciso continuar derrubando a mataria?

O sinhô Augusto sabe que não tenho ido e vindo muito na Villa. Os cuidado com a menina e as preocupação com a casa carregam o tempo como se fosse uma ventania, ele num pareceu tê escutado e sê escutô num pareceu tê dado importância, mais ficô incomodado cuas coisa qui num combinava, num sabia bem uquê, É preciso continuar derrubando a mataria e limpando as ruas, seja da sujice ou dos criolos, verdadeiras taperas com mau aspecto. E a iluminação pública? Meu Deus, a iluminação existe só nas ruas principais, os lampiões de azeite de peixe são acessos somente quando não há luar. Depois, nossa gente se queixa das fugas nas noites de lua sem iluminação pública - aquié quando usiô augusto esquece quia dona rosinha tumbém podia fugí nas noite desluarada -. É preciso melhorar a iluminação pública da Villa!

dona rosinha tumbém num pode sê uma estátua de pedra, precisa sabê fingí qui num tá fingindo fingimento, tem munta serventia ela sabê caminhá pelo meio das mentira e abêrando as verdade

ela carrega o medo dos medo: num tê toda vontade e feição pelo gosto do marido, as mãos dela inté pode fingí uqui num é, mais a secura no lago do amô pode abrandá o ânimo e o zelo da rigidez apropriada, cabeça mole num afunda nem dança, se entreva em adormecimento e junta aborrecimento na sua volta, Ajuntamento bom só em sonho, antes de ter marido, os pensamento num fingi uqui num é pra dona rosinha, a caridade antes disê uma virtude é a sua política pra sobrevivê, prusiô augusto num existia virtude, só aceitava a gratidão submissa, ligada à obediência, docilidade e dedicação, maljeitosa pra rebeldia

virô costume fala cuas mão sem dizê nada, escondê as palavra quius pensamento solta pra avoá, Mandado ou não mandado, esse lá, é fortão, grandão e carnoso, e não usa bengala. Aposto que vive querendo dormir com as putas do Beco dos Pecados. Se esse aparecer por lá, aviso que não vou mais. Quase sinto pena do coitado, só sai nas ruas para caçar os fujão.

lá embaixo, na praça dos linchamento, o ajuntamento crescia com robustez

ali, no parapeito da janela paisagística, usdois mirava tudo como degustação pru recital quase viril dusiô augusto - sem poesia, canto e piano - sem gritaria

Veja isso, paizinho...

O quê, mãezinha?

num era apropriado dizê uqui queria e mudá o alvoroço qui tava pra despertá usdois

dona rosinha apontava o dedo fura-bolo na direção do theodoro - usiô augusto num pode evitá de repará na buniteza daquele dedo, sentiu uma vontade desavergonhada de bebê useu gosto -, voltô falá, comentando sem tê muntu cuidado, sem pensá no perigo das palavra solta desatenta, Ele traja calçados!

usiô augusto oiô na direção quiu fura-bolo apontava, tentô vê uqui o dedo tava vendo, a bagunça e a gritaria tava em tudo lá na praça

num conseguiu vê, Quem, mãezinha?

O tal Theodoro, paizinho!

pretu quiusa calçado nuspé avisa quié pretu liberto, uspé calçado é a marca desapagada da liberdade na villa

pretu escravizado num tem aprovação pra usá calçado nuspé churriado, fedido do fedô da lama, as unha alindada cua sujidade escura das rua, atraindo as mosca doce pru chorume apodrecido, vive e morri descalço, inté quando volta buscando pra senzala aconchego e alimento

a mistura dos ferimento e da lama nuspé dava um chêro desalmado qui denunciava uspé descalço escravizado, assim ficava mais sossegado sentí nojo da pretaria e anunciá prus fiu qui o futuro dos roçado de milho e feijão - e da carne salgada - dependia de continuá uqui sempre foi

É funcionário do sinhô Moringue e se calça sapatos é porque lhe foi permitido. Não arriscaria a influência do seu dono, muito menos, faria uso de qualquer regalia sem estar devidamente autorizado.

dona rosinha parecia tá solta, ela e os pensamento - pelo menos, os pensamento -, Ele é bonitinho, tem roupas limpas e inteiras. Vestido de maneira que não ofende a moral pública.

usiô augusto tumbém parecia tá perdido nele e nos pensamento, Aposto que dissipa quase tudo que ganha em roupas com tecidos de cores berrantes, cachaça braba e jogatina. Não parece, não?

O quê, paizinho?

usiô augusto se assustô qui deixô escapá os pensamento

É criolo correndo de todo lugar, mas esse calçado parece que ganha em roupas com tecidos de cores berrantes, cachaça braba e jogatina. A mãezinha não concorda?

Não sei, mas olhando melhor, com mais agudeza, parece ter prudência no trajado, sem excessos, mas com decência, fez uma parada, usiô augusto num se apercebeu do tremô das coxa da siá rosinha, talvez, pensô, faça uso das danças lasciva da arraia miúda, Será que o tal Moringue não aluga esse Theodoro?

usiô levô a mão inté a quêxada

Ele já é um negro de ganho para o sinhô Moringue. A mãezinha quer alugar o negro? Para qual necessidade?

Não, claro que não... para nada. Não teria serventia aqui em casa.



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é bão lê, tumbém... sequisé:


histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma
mulheres descalças: felicidade não existe
mulheres descalças: um gosto diódio
mulheres descalças: o café esfriou
mulheres descalças: é difícil ser dono
mulheres descalças: o pecúlio do Theodoro
mulheres descalças: ferindo a morte cua vida
mulheres descalças: Ele traja calçados!

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