Josino: II - as contas da lua
um mundo encardido
Ensaio 1jB – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
os muxoxo do contentamento, as bobice do amô, os afago, as conversa derramada com gosto, É bão ficá amarrada feito um nó qui num desmancha. Gosto muntu ditu, meu pretu.
josino fechô usóio, pensô otra vida com milagres, a vida podia sê meió, precisava sê meió, tinha qui sê meió, É muntu bão ficá atado nesse nó, dormecê enfiado nas vista e nos braço, sentí o gosto das fôia qui as ventania do amô sonado derrubô.
milagres ajustô meiô as vista, o sangue crescendo e gemendo nas mão, ela inventando um riso forçado, provando do josino, brincando cuseu josino, Ocê abra usóio e me veja.
Tenho medo de abrí e ocê num tá.
Eu tô, siiiiiim.
E se fô só feitiço?
ela lhe garrô com mais força, E feitiço se atraca assim, pruguntô, e chega de ocê anunciando quiqué durumí. Vivê é meió qui sonando, num é?
voltô atenção pru nó desamarrando, Huuum... parece qui ocê tá sonando, É uqui tô oiando, E uqui tá oiando?
josino desvirô-se na rede de pedra encapada com pasto das fôia solta das ventania cuos gemido e suspiro
milagres lhe soltô das mão
josino aninhô a cabeça no colo perfumado do amô, escutava com atenção a baruiada doce do mato misturada com a falação doce e suave dusdois, o silêncio das estrela, Ocê tá cada veiz mais doce, Ocê despertô nimim a bisbilhotice das carne quiqué vivê, mostrá, vê, dizê... escuitá...
josino desviô as vista do gosto, virô e revirô e virô, procurava as vista da muié, ela num oiava, Ocê num vê nimim, parece qui tá em escapatória.
a boca da noite tava escancarada, a voz da muié avisando com o peito desacalmado, Josino, ocê num precisa pedí pra fazê uqui quero lhe dá, E se ocê num quisé, Ocê vai sabê, é só sabê oiá.
tinha medo das dô do dia qui havia de chegá trazendo o padecimento da cegêra desalmada
Levanta!
josino levô otro susto quando arregalô usóio, o primêro assombramento foi com o estalo do chicote
fez força pra saí daquele sono ruim, milagres lhe avisô pra num durumí, queria acordá e ficá animado ditá na pedra do amô, pediu ajuda pra milagres, queria abrí usóio e desdurumí daquele estorvo muntu ruim
Acorda, nêgo safado!
num era com ele, num podia sê com ele aquela fuzilaria
Sempre querendo dormí mais que a cantoria do galo-rei. Pula da rede, nêguinho preguiçoso!
o chicote estalando na volta dos pretu procurava as carne pra riscá, começá bem o dia, marcando com as força enfuriada das mão a dô qui ensina obedecê, num permite esquecê qui ele manda e desmanda
Negrada preguiçosa tem que dormí no chão frio e duro da pedra, só assim pra ficá sem delonga e frouxidão pra levantá.
o chicote fazendo chão gemê feito gente
josino se acordô – ou entrô diveiz naquele pesadelo –, precisava levantá e arrastá as corrente sem vida daquela trilha de suô e sangue, num tinha pra quem reclamá, esse mundo branco num ia lhe ajudá, um mundo encardido qui num queria só aproveitá, um mundo desavergonhado quiqué serví as carne preta pra sê comida, Onde ocê tá, minha preta, num era prugunta, seu pedido de ajuda num ia sê ajudado, milagres num tinha na senzala – um lugá pra depositá as carne preta escravizada
a siá branca das dô do alto num ia aparecê, ela ficava guardada na guarnização das pedra quius pretu levantava enquanto o chicote estalava
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é bão lê tumbém se quisé...
histórias davóinha: Josino (I01j - o beijo da terra)
histórias davóinha: Josino (I02j - a belezura na escuridão estrelada)
histórias davóinha: Josino (I03j - fada ruim)
histórias davóinha: Josino (I04j - quando vai mudá?)
histórias davóinha: Josino (I05j - o fogo nas gota do choro)
histórias davóinha: Josino (I06j - vai chegá das muié preta)
histórias davóinha: Josino (I07j - assopra a lua)
histórias davóinha: Josino (I08j - assopre as estrela, tumbém)
histórias davóinha: Josino (I09j - juro qui lhe mordo)
histórias davóinha: Josino (I10j - mel de Oxum)
histórias davóinha: Josino (I11j - o balanço da rede)
histórias davóinha: Josino (I12j - a lua se rindo)
histórias davóinha: Josino (I13j - Oxum chora)
histórias davóinha: Josino (I14j - uma fugição sem fim)
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