Cruz e Sousa
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
ESCRAVOCRATAS
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
O basta gigantesco, imenso, extraordinário –
Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
DA SENZALA...
De dentro da senzala escura e lamacenta
A alma que ele tinha, ovante, imaculada
De dentro da senzala
Não pode sair, não,
DILEMA
Vai-se acentuando,
Raiar o grande dia
Quando a escravatura
Quando um poder novo
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'João da Cruz e Sousa (1861 - 1898), conhecido como o "Cisne Negro" de nosso Simbolismo, seu "esteta sofredor", foi o poeta que por excelência procurou na arte a transfiguração da dor de viver e de enfrentar os duros contrastes provocados pelas discriminações sociais.
Era negro e filho de escravos. como escritor, permaneceu incompreendido pela crítica, não chegando a conhecer a glória. Morreu aos 37 anos, devido à doença que lhe marcou a vida - a tuberculose. Com o passar do tempo tornou-se conhecido como o grande mestre do Simbolismo brasileiro.
A dimensão cósmica de sua obra, a presença nela dos pobres e deserdados e a grandeza da visão transcendental com que busca poeticamente redimir as limitações da condição humana constituem alguns dos traços estéticos que o tornam inconfundível. O impalpável, o raro o inexprimível: em exxência, o sentido profundo de todo fazer poético.'
"No Brasil, é disto que, principalmente, precisamos: de que o estrangeiro nos venha dizer, surpreso, que em nós encontrou algo de surpreendente e admirável. Sem o que não acreditaremos nunca." Tasso da Silveira
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Sousa, João da Cruz e, 1861-1898
Poesias completas: broquéis, faróis, últimos sonetos / Cruz e sousa; introdução de Tasso da Silveira. - Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997.
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Sousa, Cruz e, 1861-1898 Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008. v. 1 (612 p.)
Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.
O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta.
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Leia também:
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes I
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes II
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes III
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos
Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos
CAMBIANTES
ESCRAVOCRATAS
Oh! trânsfugas do bem que sob o manto régio
Manhosos, agachados – bem como um crocodilo,
Viveis sensualmente à luz dum privilégio
Na pose bestial dum cágado tranquilo.
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
Ardentes do olhar – formando uma vergasta
Dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
E vibro-vos à espinha – enquanto o grande basta
O basta gigantesco, imenso, extraordinário –
Da branca consciência – o rútilo sacrário
No tímpano do ouvido – audaz me não soar.
Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
Vermelho, colossal, d’estrépito, gongórico,
Castrar-vos como um touro – ouvindo-vos urrar!
DA SENZALA...
De dentro da senzala escura e lamacenta
Aonde o infeliz
De lágrimas em fel, de ódio se alimenta
Tornando meretriz
A alma que ele tinha, ovante, imaculada
Alegre e sem rancor,
Porém que foi aos poucos sendo transformada
Aos vivos do estertor...
De dentro da senzala
Aonde o crime é rei, e a dor — crânios abala
Em ímpeto ferino;
Não pode sair, não,
Um homem de trabalho, um senso, uma razão...
e sim um assassino!
DILEMA
Ao Cons. Luís Álvares dos Santos
Vai-se acentuando,
Senhores da justiça – heróis da humanidade,
O verbo tricolor da confraternidade...
E quando, em breve, quando
Raiar o grande dia
Dos largos arrebóis – batendo o preconceito...
O dia da razão, da luz e do direito
– solene trilogia –
Quando a escravatura
Surgir da negra treva – em ondas singulares
De luz serena e pura;
Quando um poder novo
Nas almas derramar os místicos luares,
Então seremos povo!
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'João da Cruz e Sousa (1861 - 1898), conhecido como o "Cisne Negro" de nosso Simbolismo, seu "esteta sofredor", foi o poeta que por excelência procurou na arte a transfiguração da dor de viver e de enfrentar os duros contrastes provocados pelas discriminações sociais.
Era negro e filho de escravos. como escritor, permaneceu incompreendido pela crítica, não chegando a conhecer a glória. Morreu aos 37 anos, devido à doença que lhe marcou a vida - a tuberculose. Com o passar do tempo tornou-se conhecido como o grande mestre do Simbolismo brasileiro.
A dimensão cósmica de sua obra, a presença nela dos pobres e deserdados e a grandeza da visão transcendental com que busca poeticamente redimir as limitações da condição humana constituem alguns dos traços estéticos que o tornam inconfundível. O impalpável, o raro o inexprimível: em exxência, o sentido profundo de todo fazer poético.'
"No Brasil, é disto que, principalmente, precisamos: de que o estrangeiro nos venha dizer, surpreso, que em nós encontrou algo de surpreendente e admirável. Sem o que não acreditaremos nunca." Tasso da Silveira
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Sousa, João da Cruz e, 1861-1898
Poesias completas: broquéis, faróis, últimos sonetos / Cruz e sousa; introdução de Tasso da Silveira. - Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997.
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Sousa, Cruz e, 1861-1898 Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008. v. 1 (612 p.)
Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.
O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta.
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Leia também:
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes I
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes II
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes III
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