sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Poesia Africana: Olinda Beja (São Tomé e Príncipe)

Poesia Africana - 10





Por ti espero
na calma do poente
entre a ânsia
e o amor que me consome







QUEM SOMOS?

O mar chama por nós, somos ilhéus!
Trazemos nas mãos sal e espuma
cantamos nas canoas
dançamos na bruma


somos pescadores-marinheiros
de marés vivas onde se escondeu
a nossa alma ignota
o nosso povo ilhéu


a nossa ilha balouça ao sabor das vagas
e traz a espraiar-se no areal da História
a voz do gandu
na nossa memória...


Somos a mestiçagem de um deus que quis mostrar
ao universo a nossa cor tisnada
resistimos à voragem do tempo
aos apelos do nada


continuaremos a plantar café cacau
e a comer por gosto fruta-pão
filhos do sol e do mato
arrancados à dor da escravidão





POR TI

Por ti espero naquela roça grande
no perfume do izaquente
no sopro do vento irrequieto
no riso da montanha misteriosa.


Por ti espero junto ao secador
que meu avô ajudou a construir
e o cheiro do cacau
invade o corpo
que acalenta a esperança
de rever-te.


Espero sentada
no caminho que vai até à Grota
e serpenteio
a estrada de Belém onde as fruteiras
espreitam o sol
e o vianteiro.


Por ti espero
na calma do poente
entre a ânsia
e o amor que me consome.


A tarde vai caindo e nostalgicamente
arrastando o meu dilúvio de ternura.


Por ti espero ainda
no breu da noite imensa
na raiva que a paixão derrama e sangra
e é o tam-tam da madrugada que me obriga
a apagar da memória
a tua imagem





RAÍZES

Há rumores de mil cores enfeitando o espaço
de gorjeios infantis
transportando aquele abraço de anãs juvenis
árias que perduram na mensagem
da nossa voz e da nossa imagem.


São rumores de tambores
repercutindo a esperança de olhares inquietos
toada de lembranças
liturgia de afectos.


São rumores maternais
presos à terra que nos diz
que só o maior dos vendavais
arranca da árvore a raiz.






Sessão com a escritora e contadora de histórias Olinda Beja,
na Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos dos Louros








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