quinta-feira, 15 de agosto de 2019

histórias de avoinha: coisa num se governa, tem dono

mulheres descalças


coisa não se governa, tem dono 
Ensaio 128D – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




as palavra pode trazê mais confusão qui aclaração das informação?

é verdade verdadêra, mais é meió quitê a boca com as mordaça do amendrontamento, a focinhêra dos pensamento quitem medo das palavra qui pensa, as palavra e a boca é coisa diferente - a boca num pensa -, as palavra é feita na cabeça inté qui nasce quando sai da boca, elas fica viva, num adianta escondê as palavra pruqui elas num acaba

Mais, Avoinha... as palavra da ruindade num devia tá solta, fazendo ruindade, grosseria e maldade.

E lá vem ôceis de novo, a tentação de proibí as coisa boa em nome de controlá as coisa ruim. É bão elas se mostrá, uqui num é bão é ôceis deixá elas mandá, tem muntu santo e muié santinha qui morre com as vontade mais secreta escondida. E adianta tê elas escondida prudentu? Num é meió fazê o maldoso se mostrá fingido de bondade quié?

os abicu oiava um protro sem respondê pra autoridade da avoinha, pensá ou dizê qui pensô as maldade num é bão, mais num é o mesmo qui fazê as maldade nem é bão tê a boca com as mordaça do medo pra num soltá as palavra  

Num é bão vivê angustiado pruqui osotro vigia e persegue as palavra entrevada nos pensamento qui num nasce?

Uqui ôceis acha?

Os muriquinhu num sabe, Avoinha...

penso dizê qui as palavra da confusão pode sê tão malvada e estragada como as palavra da ruindade – elas existe, num dá pra negá –, a garganta só pode soltá as palavra depois de feita na cabeça, elas vai escorrendo pelos vazinho inté desembocá no gargalo, é bão podê dizê as palavra bombeada pelas vontade, num é bão deixá elas guardada pruqui pode acumulá na cabeça inté sê chupada pelo corpo todo e provocá marca com cicatriz, já vi muntu amordaçado doecê

o silenciado precisa sê tratado, mais uqui fazê com as palavra ruim

o ajuntamento descabido das palavra guardada faz crescê a gordura nos pensamento, O gargalo da garganta pode soltá as palavra quiqué, anunciá qui o desamô tumbém pode sê amô, pode querê explicá a buniteza, mais a buniteza num é a mesma pru jeito de vê de cadum, a buniteza num precisa explicação; elas pode negá as vontade repetindo qui num é isso ou aquilo. Os muriquinhu entendeu?

os muriquinhu da roda se oiô e respondeu qui num tinha entendido muntu bem das palavra dessa avoinha

sorri sem mostrá as gengiva vermêia

Muntu bão, é isso mesmo, as palavra da confusão parece dizê uqui sabe e fazê ôceis achá qui entendeu, qui ôceis tumbém sabe, mais é só mais confusão.

escondê ou escoiê as palavra ajuda num se mostrá nesse tempo de escravidão insana e desmedida, é fácil sê julgado e amaldiçoado pelas palavra qui foi solta a deus dará, é preciso mais qui dizê, é preciso sê as palavra qui foi dita, é bão quando é assim; mais tem veiz, quase sempre, qui caluniá e desanimá osotro é a intenção, e isso num é bão, retirá as esperança da vida é como despintá o azul ducéu

E tem como sabê, Avoinha?

gosto das prugunta dos muriquinhu, eles reaviva os pensamento dessa avoinha, num tem coisa mais dura qui pensamento qui num muda, o abicu tinha acabado de subí da villa e havia de pruguntá muntu

Uqui ôce qué sabê?

o abicu recém-chegado continuô com a mão alevantada pra se explicá meió

E dá pra sabê das intenção das palavra dita?

levei o dedo esticado inté a boca e pedi prus muriquinhu guardá as palavra, Psiu, apontei as vista pra villa, os muriquinhu tudo merguiô os óio na praça e viu quando o barão deu os passo qui era preciso pra se mostrá, Sinhô Moringue, já vi que vosmecê fez uma boa caçada.

os dois tava sitiado pelo cortejo, eles reluzia brancura no centro da praça, os punho sem os babado e os rococó qui eles usava pra enfeitá os aviso qui anunciava: os dois era da nobreza qui fala bunito, e na villa, pra num perdê as regalia prus óio do imperadô, era bão ficá esperto com o feitio de aparentá as riqueza da boa linhagem e passá prus fiu as posição da sua classe de gente: dona de tudo da justiça, dos imposto, das arma e do sangue derramado

os dono de tudo manda em quem usa as arma

o barão com sangue nobre tinha desobrigação com as lei qui mandava nas gente da villa sem a boa linhagem, ele tumbém tinha dispensa dos imposto, mais num mandava no moringue qui obedecia o dono das arma

é preciso aprendê escutá, Os muriquinhu tá escutando e aprendendo...

A negrada não aprende, Barão, o moringue respondeu o cumprimento do siô barão com zombaria, ele é o pulícia da villa e a pulícia da villa só responde assim quando é os pretu, os mestiço e os branco minguado sem linhagem alguma qui eles agarra, as justiça só se mexe pra valê quando sai pra caçá os pretu, num gosta de sê metê com os branco acumulado das regalia da fortuna, faz vista grossa inté mesmo prus branco sem linhagem

mais gente branca com regalia é diferente do povo da villa

as palavra sozinha num ensina ninguém vivê com bondade, educação e hospitalidade se o costume e a prática é sê grossêro em nome da valentia, estúpido em nome das façanha, num existi valentia nem façanha quando a bondade, educação e hospitalidade vira a cara pru lado, faz qui num vê o sofrimento desafortunado dos pretu escravizado

Mas então, Moringue, o que fez o negrinho?

o moringue deu o seu sorriso tolerante mais maldoso antes de respondê, sabia uqui o cortejo queria vê, ele sabia uqui dizê pru rebanho qui babava ódio, O sinhô Barão está cansado de saber: negro e índio não é gente... é mercadoria. E coisa não se governa, tem dono!



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