quinta-feira, 9 de abril de 2020

Contos Africanos: Estou voltando

Estou voltando...


autoria não foi identificada até o momento



Um jovem angolano caminhava solitário pela praia. Parou por alguns instantes para agradecer aos deuses por aquele momento milagroso: o deslumbramento de sua terra natal. 

O silêncio o fez adormecer em seu âmago, despertando inesperadamente com o bater das ondas sobre as pedras. De repente, surgiram das matas homens estranhos e pálidos que o agarraram e o acorrentaram. Sua coragem e o medo travaram naquele momento uma longa batalha... Ele chamou pelos seus pais e clamou pelo seu Deus. Mas ninguém o ouviu. Subitamente mais e mais rostos estranhos e pálidos se uniram para rirem de sua humilhação. Vendo que não havia saída, o jovem angolano atacou um deles, mas foi impedido por um golpe. Tudo se transformou em trevas.

Um balanço interminável o fez despertar dentro do estômago de uma criatura. Ainda zonzo, ele notou a presença de guerreiros de outras tribos. Todos se demonstraram incrédulos sobre o que estava acontecendo. Seus olhos cheios de medo indagavam. Passos e risos de seus algozes foram ouvidos acima.

Durante a viagem muitos guerreiros morreram, sendo seus corpos lançados ao mar. Dias depois, já em terra firme, ele é tratado e vendido como um animal. Com o coração cheio de “banzo” ele e outros negros foram levados para um engenho bem longe dali. Foram recebidos pelo proprietário e pelo feitor que, com o estalar do seu chicote não precisou expressar uma só palavra.

Um dia, em meio ao trabalho, o jovem angolano fugiu. Mas não foi muito longe; foi capturado por um capitão do mato. Como castigo foi levado ao tronco onde recebeu não duas, mas cinquenta chibatadas. Seu sangue se uniu ao solo bastardo que não o viu nascer.

Os anos se passaram, mas a sua sede por liberdade era insaciável. Várias vezes foi testemunha dos maus tratos que o senhor aplicava sobre as negras, obrigando-as a se entregarem. Quando uma recusava era imediatamente açoitada pelo seu atrevimento. A Sinhá, desonrada, vingava-se sobre uma delas, mandando que lhe cortassem os mamilos para que não pudesse aleitar.

O jovem angolano não suportando mais aquilo fugiu novamente. No meio do caminho encontrou outros negros fugidos que o conduziram ao topo de uma colina onde uma aldeia fortificada – um quilombo – estava sendo mantida e protegida por escravos.

Ali ele aprendeu a manejar armas e, principalmente a ensinar as crianças o valor da cultura africana. Também foi ali que conheceu a sua esposa, a mãe de seu filho. Com o menino nos braços, ele o ergue diante as estrelas mostrando-o a Olorum, o deus supremo...

Surgem novos rostos, estranhos e pálidos, mas de coração puro, os abolicionistas. Eram pessoas que há anos vinham lutando pelo fim do cativeiro. Suas pressões surtiram efeito. Leis começaram a vigorar, embora lentamente, para o fim da escravatura: A Lei Eusébio Queiroz; a do Ventre-Livre, a do Sexagenário e, finalmente, a Lei Áurea. A juventude se foi.

O velho angolano agora observa seus netos correndo livremente pelos campos.

Aprenderam com o pai a zelarem pelas velhas tradições e andarem de cabeça erguida.

Um dia o velho ouviu o clamor do seu coração: com dificuldade caminhou solitário até a praia. Olhou compenetrado para o horizonte. Agora podia ouvir as vozes de seus pais sendo trazidas pelas ondas do mar.

A noite caiu cobrindo o velho angolano com o seu manto... Os tambores se calaram... No coração do silêncio suas palavras lentamente ecoaram:

“Estou voltando... Estou voltando...”


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Contos Africanos

fui ao O incrível Zé para encontrar esses contos africanos

"Os contos africanos são mitos e contos lidos são história que são contados a nós como verdade.Este texto ressalta a importância dos contos, orais e escritos, para a cultura de um povo, que neste caso os povos africanos. No Brasil essa cultura teve e tem grande influencia pois inspira poetas, músicas, dançarinos, estudiosos mestres, e contadores de histórias."

Os contos não têm sua autoria identificada até o momento. Tratam-se de histórias em um documento com mais de 100 páginas. Muitas das narrativas não tem origem definida, enquanto outras relatam países africanos de língua portuguesa, como Guiné-Bissau e Angola.



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Leia também:

Contos Africanos: A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar


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