Júlio Verne
A Volta ao Mundo em 80 Dias
Durante os últimos dias da travessia, o tempo foi bastante mau. O vento ficou mais forte. Tendo virado para noroeste, contrariava o marcha do paquete. O Rangoon, muito instável, balançou consideravelmente, e os passageiros tiveram direito de queixar-se das grandes vagas que o vento levantava ao largo e que os fatigavam.
Durante as jornadas de 3 e 4 de novembro, aconteceu uma espécie de tempestade. A borrasca agitou o mar com veemência. O Rangoon teve de pôr-se à capa durante metade do dia, conservando-se com dez voltas de hélice apenas, para não apanhar a vaga de frente. Todas as velas tinham sido colhidas, e o vendaval assoviava pela cordoalha.
A velocidade do vapor diminuiu, como bem se imagina, consideravelmente, e pôde-se calcular que chegaria a Hong Kong com vinte horas de atraso em relação ao tempo regulamentar, ou talvez mais, se a tempestade não cessasse. Phileas Fogg assistia ao espetáculo de um mar furioso, que parecia lutar diretamente contra ele, com sua habitual impassibilidade. Sua fronte não se lhe ensombrou por um instante sequer, e, contudo, uma demora de vinte horas poderia comprometer-lhe a viagem, fazendo-o perder o paquete para Yokohama. Mas este homem sem nervos não experimentava nem impaciência nem aborrecimento. Parecia até que a tempestade entrava no seu programa, que fora prevista. Mrs. Aouda, que conversou com o seu companheiro a respeito deste contratempo, achou-o tão sossegado como em outras ocasiões. Fix, este, não via as coisas do mesmo jeito. Pelo contrário. A tempestade o deixava contente. Sua satisfação chegaria mesmo a não conhecer limites, se o Rangoon fosse obrigado a fugir frente à tormenta. Todas estes atrasos lhe caíam bem, porque obrigariam o senhor Fogg a ficar alguns dias em Hong Kong. Em suma, o céu, com as suas rajadas e as suas borrascas, favorecia-lhe o jogo. Passava até um pouco mal, mas que importava? Não contava suas náuseas, e, quando o corpo se lhe estorcia com o enjoo, seu espírito exultava com imensa satisfação.
Quanto a Passepartout, podem adivinhar em que estado de cólera mal dissimulada passou este tempo de provação. Até ali tudo tinha ido tão bem! A terra e a água pareciam estar dedicadas a seu patrão. Paquetes e estradas de ferro obedeciam-lhe. O vento e o vapor uniam-se para favorecer sua viagem. A hora dos desenganos teria enfim soado? Passepartout, como se as vinte mil libras da aposta fossem sair de seu bolso, já não vivia. Esta tempestade o exasperava, este vendaval o deixava furioso, e teria de boa vontade fustigado aquele mar desobediente! Pobre rapaz! Fix ocultou-lhe com todo o cuidado sua satisfação pessoal, e fez bem, porque se Passepartout tivesse adivinhado o contentamento secreto de Fix, Fix teria passado um mau quarto de hora.
Passepartout, durante toda a duração da borrasca, permaneceu na coberta do Rangoon. Não teria podido conservar-se embaixo; subia na mastreação; causava assombro à tripulação, e ajudava em tudo com a ligeireza de um macaco. Cem vezes interrogava o capitão, os oficiais, os marinheiros, que não podiam deixar de rir ao verem o rapaz tão alterado. Passepartout queria porque queria saber quanto tempo duraria a tempestade. Mandavam-no para o barômetro, que não se resolvia a subir. Passepartout sacudia o barômetro, mas não acontecia nada, nem com as sacudidelas, nem com as injúrias com que cobria o irresponsável instrumento.
Afinal a tormenta se acalmou. O estado do mar se modificou na jornada de 4 de novembro. O vento saltou dois quartos para o sul e tornou-se favorável. Passepartout serenou com o tempo. Puderam-se largar as velas de gáveas e as velas grandes, e o Rangoon retomou sua rota com maravilhosa rapidez. Mas não era possível recuperar todo o tempo perdido. Não havia remédio senão resignar-se à sorte, e a terra só foi avistada no dia 6, às cinco da manhã. O roteiro de Phileas Fogg indicava para o dia 5 a chegada do vapor. Ora, chegava-se só no dia 6. Era um atraso de vinte e quatro horas, e a partida para Yokohama estava necessariamente perdida.
Às seis horas, o piloto subiu a bordo do Rangoon e tomou o seu lugar na ponte de comando, para dirigir o navio através dos escolhos até o porto de Hong Kong. Passepartout morria de vontade de interrogar este homem, de perguntar se o paquete para Yokohama tinha deixado Hong Kong. Mas não se atrevia, preferindo conservar até o fim um pouco de esperança. Tinha confiado suas inquietações a Fix, que — manhoso — procurava consolá-lo, dizendo-lhe que Mr. Fogg poderia tomar o próximo paquete. Isso deixava Passepartout ainda mais fulo.
Mas se Passepartout não se atrevia a interrogar o piloto, Mr. Fogg, depois de ter consultado o seu Bradshaw, perguntou-lhe com voz tranquila se sabia quando partia um vapor de Hong Kong para Yokohama.
— Amanhã, na maré da manhã, respondeu o piloto.
— Ah! exclamou Mr. Fogg, sem demostrar nenhuma admiração.
Passepartout, que estava presente, sentiu desejos de abraçar o piloto, ao qual Fix desejaria torcer o pescoço.
— Qual é o nome desse vapor? perguntou Mr. Fogg.
— O Carnatic, respondeu o piloto.
— Não era ontem que deveria partir?
— Sim, senhor, mas teve de reparar uma das caldeiras, e sua partida foi adiada para amanhã.
— Obrigado, respondeu Mr. Fogg, que no seu passo automático voltou a descer para o salão do Rangoon.
Quanto a Passepartout, agarrou a mão do piloto e apertou-a vigorosamente, dizendo:
— Piloto, o senhor, o senhor é ótimo!
O piloto nunca soube porque é que suas respostas lhe granjearam tão amigável expansão. A um apito da máquina voltou a subir para a ponte e dirigiu o paquete pelo meio da esquadrilha de juncos, tankas, barcos pesqueiros, navios de toda a espécie, que embaraçavam a entrada para Hong Kong.
À uma hora o Rangoon estava no cais, e os passageiros desembarcaram.
Nesta ocasião, convenhamos, o acaso favorecera Phileas Fogg de modo único.
Sem a necessidade de reparar suas caldeiras, o Carnatic teria partido na data de 5 de novembro, e os viajantes para o Japão teriam sido obrigados a esperar oito dias pelo paquete seguinte. Mr. Fogg ficava, é verdade, com um atraso de vinte e quatro horas, mas este atraso não poderia ter consequências funestas para o resto da viagem.
Com efeito, o paquete que faz de Yokohama a São Francisco a travessia do Pacífico estava em correspondência direta com o paquete para Hong Kong, e não poderia partir sem que este tivesse chegado. Evidentemente haveria vinte e quatro horas de demora em Yokohama; mas durante os vinte de dois dias que dura a travessia do Pacífico, seria fácil recuperá-las. Phileas Fogg achava-se pois, com a diferença de quase vinte quatro horas, nas condições de seu programa, trinta e cinco dias depois de ter partido de Londres.
Como o Carnatic só partia no dia seguinte às cinco horas da manhã, Mr. Fogg tinha pela frente dezesseis horas para tratar dos seus negócios, isto é, dos que diziam respeito a Mrs. Aouda. Ao desembarcar do vapor, ofereceu o braço à jovem e conduziu-a para um palanquim. Pediu aos carregadores que lhe indicassem um hotel, e eles sugeriram o Hotel do Club. O palanquim se pôs a caminho, seguido por Passepartout, e vinte minutos depois chegava ao seu destino.
Um apartamento foi reservado para a jovem, e Phileas Fogg cuidou para que não lhe faltasse nada. Depois disse a Mrs. Aouda que ia imediatamente à procura do parente aos cuidados do qual devia deixá-la entregue em Hong Kong. Ao mesmo tempo deu ordem a Passepartout para permanecer no hotel até sua volta, para que a jovem não ficasse só.
O gentleman fez-se conduzir à Bolsa. Ali deveriam forçosamente conhecer um personagem como o respeitável Jejeeh, que figurava entre os mais ricos comerciantes da cidade.
O corretor a quem Mr. Fogg se dirigiu conhecia efetivamente o negociante parsi. Mas, há dois anos, já não residia na China. Depois de fazer fortuna, tinha se estabelecido na Europa — na Holanda, supunha — o que se explicava pelas muitas relações que tivera com este país durante a sua existência comercial.
Phileas Fogg voltou para o Hotel do Club. Em seguida mandou pedir licença a Mrs. Aouda para se apresentar a ela e, sem mais preâmbulos, participou-lhe que o respeitável Jejeeh não residia mais em Hong Kong, e que habitava provavelmente na Holanda.
A isto, Mrs. Aouda não respondeu de pronto. Passou a mão pela fronte, e ficou alguns momentos a refletir. Depois, com sua voz doce:
— Que devo fazer, senhor Fogg? disse.
— É muito simples, respondeu o gentleman. Voltar para a Europa.
— Mas não posso abusar...
— Não abusa, e sua presença não perturba em nada meu programa... Passepartout?
— Senhor? respondeu Passepartout.
— Vá ao Carnatic e reserve três cabinas. Passepartout, encantado em continuar a viagem em companhia da jovem, que era muito amável com ele, logo saiu do Hotel do Club.
Julio Verne - A Volta ao Mundo em 80 Dias, Capítulo XIX
Julio Verne - A Volta ao Mundo em 80 Dias, Capítulo XVII
A Volta ao Mundo em 80 Dias
CAPÍTULO XVIII
EM QUE PHILEAS FOGG, PASSEPARTOUT, FIX, CADA QUAL PARA
SEU LADO, VÃO TRATAR DOS SEUS NEGÓCIOS
Durante os últimos dias da travessia, o tempo foi bastante mau. O vento ficou mais forte. Tendo virado para noroeste, contrariava o marcha do paquete. O Rangoon, muito instável, balançou consideravelmente, e os passageiros tiveram direito de queixar-se das grandes vagas que o vento levantava ao largo e que os fatigavam.
Durante as jornadas de 3 e 4 de novembro, aconteceu uma espécie de tempestade. A borrasca agitou o mar com veemência. O Rangoon teve de pôr-se à capa durante metade do dia, conservando-se com dez voltas de hélice apenas, para não apanhar a vaga de frente. Todas as velas tinham sido colhidas, e o vendaval assoviava pela cordoalha.
A velocidade do vapor diminuiu, como bem se imagina, consideravelmente, e pôde-se calcular que chegaria a Hong Kong com vinte horas de atraso em relação ao tempo regulamentar, ou talvez mais, se a tempestade não cessasse. Phileas Fogg assistia ao espetáculo de um mar furioso, que parecia lutar diretamente contra ele, com sua habitual impassibilidade. Sua fronte não se lhe ensombrou por um instante sequer, e, contudo, uma demora de vinte horas poderia comprometer-lhe a viagem, fazendo-o perder o paquete para Yokohama. Mas este homem sem nervos não experimentava nem impaciência nem aborrecimento. Parecia até que a tempestade entrava no seu programa, que fora prevista. Mrs. Aouda, que conversou com o seu companheiro a respeito deste contratempo, achou-o tão sossegado como em outras ocasiões. Fix, este, não via as coisas do mesmo jeito. Pelo contrário. A tempestade o deixava contente. Sua satisfação chegaria mesmo a não conhecer limites, se o Rangoon fosse obrigado a fugir frente à tormenta. Todas estes atrasos lhe caíam bem, porque obrigariam o senhor Fogg a ficar alguns dias em Hong Kong. Em suma, o céu, com as suas rajadas e as suas borrascas, favorecia-lhe o jogo. Passava até um pouco mal, mas que importava? Não contava suas náuseas, e, quando o corpo se lhe estorcia com o enjoo, seu espírito exultava com imensa satisfação.
Quanto a Passepartout, podem adivinhar em que estado de cólera mal dissimulada passou este tempo de provação. Até ali tudo tinha ido tão bem! A terra e a água pareciam estar dedicadas a seu patrão. Paquetes e estradas de ferro obedeciam-lhe. O vento e o vapor uniam-se para favorecer sua viagem. A hora dos desenganos teria enfim soado? Passepartout, como se as vinte mil libras da aposta fossem sair de seu bolso, já não vivia. Esta tempestade o exasperava, este vendaval o deixava furioso, e teria de boa vontade fustigado aquele mar desobediente! Pobre rapaz! Fix ocultou-lhe com todo o cuidado sua satisfação pessoal, e fez bem, porque se Passepartout tivesse adivinhado o contentamento secreto de Fix, Fix teria passado um mau quarto de hora.
Passepartout, durante toda a duração da borrasca, permaneceu na coberta do Rangoon. Não teria podido conservar-se embaixo; subia na mastreação; causava assombro à tripulação, e ajudava em tudo com a ligeireza de um macaco. Cem vezes interrogava o capitão, os oficiais, os marinheiros, que não podiam deixar de rir ao verem o rapaz tão alterado. Passepartout queria porque queria saber quanto tempo duraria a tempestade. Mandavam-no para o barômetro, que não se resolvia a subir. Passepartout sacudia o barômetro, mas não acontecia nada, nem com as sacudidelas, nem com as injúrias com que cobria o irresponsável instrumento.
Afinal a tormenta se acalmou. O estado do mar se modificou na jornada de 4 de novembro. O vento saltou dois quartos para o sul e tornou-se favorável. Passepartout serenou com o tempo. Puderam-se largar as velas de gáveas e as velas grandes, e o Rangoon retomou sua rota com maravilhosa rapidez. Mas não era possível recuperar todo o tempo perdido. Não havia remédio senão resignar-se à sorte, e a terra só foi avistada no dia 6, às cinco da manhã. O roteiro de Phileas Fogg indicava para o dia 5 a chegada do vapor. Ora, chegava-se só no dia 6. Era um atraso de vinte e quatro horas, e a partida para Yokohama estava necessariamente perdida.
Às seis horas, o piloto subiu a bordo do Rangoon e tomou o seu lugar na ponte de comando, para dirigir o navio através dos escolhos até o porto de Hong Kong. Passepartout morria de vontade de interrogar este homem, de perguntar se o paquete para Yokohama tinha deixado Hong Kong. Mas não se atrevia, preferindo conservar até o fim um pouco de esperança. Tinha confiado suas inquietações a Fix, que — manhoso — procurava consolá-lo, dizendo-lhe que Mr. Fogg poderia tomar o próximo paquete. Isso deixava Passepartout ainda mais fulo.
Mas se Passepartout não se atrevia a interrogar o piloto, Mr. Fogg, depois de ter consultado o seu Bradshaw, perguntou-lhe com voz tranquila se sabia quando partia um vapor de Hong Kong para Yokohama.
— Amanhã, na maré da manhã, respondeu o piloto.
— Ah! exclamou Mr. Fogg, sem demostrar nenhuma admiração.
Passepartout, que estava presente, sentiu desejos de abraçar o piloto, ao qual Fix desejaria torcer o pescoço.
— Qual é o nome desse vapor? perguntou Mr. Fogg.
— O Carnatic, respondeu o piloto.
— Não era ontem que deveria partir?
— Sim, senhor, mas teve de reparar uma das caldeiras, e sua partida foi adiada para amanhã.
— Obrigado, respondeu Mr. Fogg, que no seu passo automático voltou a descer para o salão do Rangoon.
Quanto a Passepartout, agarrou a mão do piloto e apertou-a vigorosamente, dizendo:
— Piloto, o senhor, o senhor é ótimo!
O piloto nunca soube porque é que suas respostas lhe granjearam tão amigável expansão. A um apito da máquina voltou a subir para a ponte e dirigiu o paquete pelo meio da esquadrilha de juncos, tankas, barcos pesqueiros, navios de toda a espécie, que embaraçavam a entrada para Hong Kong.
À uma hora o Rangoon estava no cais, e os passageiros desembarcaram.
Nesta ocasião, convenhamos, o acaso favorecera Phileas Fogg de modo único.
Sem a necessidade de reparar suas caldeiras, o Carnatic teria partido na data de 5 de novembro, e os viajantes para o Japão teriam sido obrigados a esperar oito dias pelo paquete seguinte. Mr. Fogg ficava, é verdade, com um atraso de vinte e quatro horas, mas este atraso não poderia ter consequências funestas para o resto da viagem.
Com efeito, o paquete que faz de Yokohama a São Francisco a travessia do Pacífico estava em correspondência direta com o paquete para Hong Kong, e não poderia partir sem que este tivesse chegado. Evidentemente haveria vinte e quatro horas de demora em Yokohama; mas durante os vinte de dois dias que dura a travessia do Pacífico, seria fácil recuperá-las. Phileas Fogg achava-se pois, com a diferença de quase vinte quatro horas, nas condições de seu programa, trinta e cinco dias depois de ter partido de Londres.
Como o Carnatic só partia no dia seguinte às cinco horas da manhã, Mr. Fogg tinha pela frente dezesseis horas para tratar dos seus negócios, isto é, dos que diziam respeito a Mrs. Aouda. Ao desembarcar do vapor, ofereceu o braço à jovem e conduziu-a para um palanquim. Pediu aos carregadores que lhe indicassem um hotel, e eles sugeriram o Hotel do Club. O palanquim se pôs a caminho, seguido por Passepartout, e vinte minutos depois chegava ao seu destino.
Um apartamento foi reservado para a jovem, e Phileas Fogg cuidou para que não lhe faltasse nada. Depois disse a Mrs. Aouda que ia imediatamente à procura do parente aos cuidados do qual devia deixá-la entregue em Hong Kong. Ao mesmo tempo deu ordem a Passepartout para permanecer no hotel até sua volta, para que a jovem não ficasse só.
O gentleman fez-se conduzir à Bolsa. Ali deveriam forçosamente conhecer um personagem como o respeitável Jejeeh, que figurava entre os mais ricos comerciantes da cidade.
O corretor a quem Mr. Fogg se dirigiu conhecia efetivamente o negociante parsi. Mas, há dois anos, já não residia na China. Depois de fazer fortuna, tinha se estabelecido na Europa — na Holanda, supunha — o que se explicava pelas muitas relações que tivera com este país durante a sua existência comercial.
Phileas Fogg voltou para o Hotel do Club. Em seguida mandou pedir licença a Mrs. Aouda para se apresentar a ela e, sem mais preâmbulos, participou-lhe que o respeitável Jejeeh não residia mais em Hong Kong, e que habitava provavelmente na Holanda.
A isto, Mrs. Aouda não respondeu de pronto. Passou a mão pela fronte, e ficou alguns momentos a refletir. Depois, com sua voz doce:
— Que devo fazer, senhor Fogg? disse.
— É muito simples, respondeu o gentleman. Voltar para a Europa.
— Mas não posso abusar...
— Não abusa, e sua presença não perturba em nada meu programa... Passepartout?
— Senhor? respondeu Passepartout.
— Vá ao Carnatic e reserve três cabinas. Passepartout, encantado em continuar a viagem em companhia da jovem, que era muito amável com ele, logo saiu do Hotel do Club.
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Julio Verne nasceu em Nantes em 8 de fevereiro de 1828. Fugiu de casa com 11 anos para ser grumete e depois marinheiro. Localizado e recuperado, retornou ao lar paterno. Em um furioso ataque de vergonha por sua breve e efêmera aventura, jurou solenemente (para a sorte de seus milhões de leitores) não voltar a viajar senão em sua imaginação e através de sua fantasia.
Promessa que manteve em mais de oitenta livros.
Sua adolescência transcorreu entre contínuos choques com o pai, para quem as veleidades exploratórias e literárias de Júlio pareciam totalmente ridículas.
Finalmente conseguiu mudar-se para Paris onde entrou em contato com os mais prestigiados literatos da época. Em 1850 concluiu seus estudos jurídicos e, apesar insistência do pai para que voltasse a Nantes, resistiu, firme na decisão de tornar-se um profissional das letras.
Foi por esta época que Verne, influenciado pelas conquistas científicas e técnicas da época, decide criar uma literatura adaptada à idade científica, vertendo todos estes conhecimentos em relatos épicos, enaltecendo o gênio e a fortaleza do homem em sua luta por dominar e transformar a natureza.
Em 1856 conheceu Honorine de Vyane, com quem casou em 1857.
Por essa época, era um insatisfeito corretor na Bolsa, e resolveu seguir o conselho de um amigo, o editor P. J. Hetzel, que será seu editor in eternum, e converteu um relato descritivo da África no Cinco Semanas em Balão (1863). Obteve êxito imediato. Firmou um contrato de vinte anos com Hetzel, no qual, por 20.000 francos anuais, teria de escrever duas novelas de novo estilo por ano. O contrato foi renovado por Hetzel e, mais tarde, por seu filho. E assim, por mais de quarenta anos, as Voyages Extraordinaires apareceram em capítulos mensais na revista Magasin D'éducation et de Récréation.
Em A Volta ao Mundo em 80 Dias, encontramos, ao mesmo tempo, muito da breve experiência de Verne como marinheiro e como corretor de Bolsa. Nada mais justo, também, que o novo estilo literário inaugurado por Júlio Verne, fosse utilizado por uma nova arte que surgia: o cinema. Da Terra à Lua (Georges Mélies, 1902), La Voyage a travers l'impossible (Georges Mélies, 1904), 20.000 lieus sous les mers (Georges Mélies, 1907), Michael Strogof (J. Searle Dawley, 1910), La Conquête du pôle (Georges Mélies, 1912) foram alguns dos primeiros filmes baseados em suas obras. Foram inúmeros.
A Volta ao Mundo em 80 dias foi filmado em 1956, com enredo milionário, dirigido por Michael Anderson, música de Victor Young, direção de fotografia de Lionel Lindon. David Niven fez Phileas Fogg, Cantinflas, Passepartout, Shirley MacLaine, Aouda. Em 1989, foi aproveitado para uma série de TV, com a participação da BBC, dirigida por Roger Mills. No mesmo ano, outra série de TV, agora nos EE.UU., dirigida por Buzz Kulik, com Pierce Brosnan (Phileas Fogg), Eric Idle (Passepartout), Julia Nickson-Soul (Aouda), Peter Ustinov (Fix).
Apesar de tudo, a vida de Verne não foi fácil. Por um lado sua dedicação ao trabalho minou a tal ponto sua saúde que durante toda a vida sofreu ataques de paralisia. Como se fosse pouco, era diabético e acabou por perder vista e ouvido. Seu filho Michael lhe deu os mesmos problemas que dera ao pai e, desgraça das desgraças, um de seus sobrinhos lhe disparou um tiro à queima-roupa deixando-o coxo. Sua vida efetiva também não foi das mais tranquilas e todos os seus biógrafos admitem ter tido uma amante, um relacionamento que só terminou com a morte da misteriosa dama.
Verne também se interessou pela política, tendo sido eleito para o Conselho de Amiens em 1888 na chapa radical, reeleito em 1892, 1896 e 1900.
Morreu em 24 de Março de 1905
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Leia também:
Julio Verne - A Volta ao Mundo em 80 Dias, Capítulo XIX
Julio Verne - A Volta ao Mundo em 80 Dias, Capítulo XVII
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A Volta ao Mundo em 80 Dias é um romance de aventura escrito pelo francês Júlio Verne e lançado em 1873. A obra retrata a tentativa do cavalheiro inglês Phileas Fogg e seu valete, Passepartout, de circum-navegar o mundo em 80 dias.
Data da primeira publicação: 30 de janeiro de 1873
Autor: Júlio Verne
Editora: Pierre-Jules Hetzel
País: França
Personagens: Phileas Fogg, Passepartout, Princesa Aouda, Inspetor Fix, James Forster
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A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne - Resenha
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