terça-feira, 7 de abril de 2020

Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XXII - Dos Secretários Que os Príncipes Têm Junto de Si

O PRÍNCIPE

Maquiavel


AO MAGNÍFICO LORENZO DE MEDICI NICOLÓ MACHIAVELLI






CAPÍTULO XXII



DOS SECRETÁRIOS QUE OS PRÍNCIPES TÊM JUNTO DE SI
(DE HIS QUOS A SECRETIS PRINCIPES HABENT)




Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons ou não, segundo a prudência daquele. E a primeira conjetura que se faz da inteligência de um senhor, resulta da observação dos homens que o cercam; quando são capazes e fiéis, sempre se pode reputá-lo sábio, porque soube reconhecê-los competentes e conservá-los. Mas, quando não são assim, sempre se pode fazer mau juízo do príncipe, porque o primeiro erro por ele cometido reside nessa escolha, Não houve ninguém que, conhecendo messer Antônio de Venafro como ministro de Pandolfo Petruci, príncipe de Siena, deixasse de julgar este senhor como extremamente valoroso pelo fato de ter aquele por ministro. E, porque são de três espécies as inteligências, uma que entende as coisas por si, a outra que discerne o que os outros entendem e a terceira que não entende nem por si nem por intermédio dos outros, a primeira excelente, a segunda muito boa e a terceira inútil, estavam todos acordes que se Pandolfo não se classificava no primeiro grau, estava, necessariamente, no segundo; porque, toda vez que alguém tem a capacidade de conhecer o bem e o mal que uma pessoa faça ou diga, mesmo que por si não tenha capacidade para solucionar os problemas, discerne as más e as boas obras do ministro, exalta estas e corrige aquelas, e o ministro não pode esperar enganá-lo, pelo que se conserva bom. 

Mas, para que um príncipe possa conhecer o ministro, existe um método que não falha. Quando vires o ministro pensar mais em si do que em ti, e que em todas as ações procura o seu interesse próprio, podes concluir que este jamais será um bom ministro e nele nunca poderás confiar; aquele que tem o Estado de outrem em suas mãos não deve pensar nunca em si, mas sim e sempre no príncipe, não lhe recordando nunca coisa que não seja da sua competência. Por outro lado, o príncipe, para conservá-lo bom ministro, deve pensar nele, honrando-o, fazendo-o rico, obrigando-se-lhe, fazendo-o participar das honrarias e cargos, a fim de que veja que não pode ficar sem sua proteção, e que as muitas honras não o façam desejar mais honras, as muitas riquezas não o façam desejar maiores riquezas e os muitos cargos o façam temer as mudanças. Quando, pois, os ministros, e os príncipes com relação àqueles, estão assim preparados, podem confiar um no outro; quando não for assim, o fim será sempre danoso ou para um ou para o outro.




______________________


Brevíssima biografia de Nicolau Maquiavel

Nicolau Maquiavel
Filósofo político e escritor italiano
Por Dilva Frazão



Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi um filósofo político, historiador, diplomata e escritor italiano, autor da obra-prima "O Príncipe". Foi profundo conhecedor da política da época, estudou-a em suas diferentes obras. Viveu durante o governo de Lourenço de Médici. Realista e patriota definiu os meios para erguer a Itália.

Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, Itália, no dia 3 de maio de 1469. Sua família de origem Toscana participou dos cargos públicos por mais de três séculos. Filho de Bernardo Maquiavel, jurista e tesoureiro da província de Marca de Ancona e de Bartolomea Nelli, que era ligada às mais ilustres família de Florença.

Interessado pelos problemas de seu tempo, Maquiavel participou ativamente da política de Florença. Com 29 anos, tornou-se secretário da Segunda Chancelaria durante o governo de Piero Soderim. Tinha a seu cargo questões militares de ordem interna como a redação de documentos oficiais. Ocasionalmente, realizou missões diplomáticas envolvendo a França, Alemanha, os Estados papais e diversas cidades italianas, como Milão, Pisa e Veneza...

... A obra “O Príncipe”, escrita por Maquiavel em 1513, e publicada postumamente em 1532, se transformou em sua obra-prima. O livro, um manual sobre a arte de governar, foi inspirado no estilo político de César Bórgia um dos mais ambiciosos comandantes italianos, que ficou conhecido por seu poder e atrocidades que cometeu para conseguir o que queria. Maquiavel viu nele o modelo para os demais governantes da época.

A obra revela a preocupação de Maquiavel com o momento histórico da Itália, fragilizada pela falta de unidade nacional e alvo de invasões e intrigas diplomáticas. Indignado com a decadência política e moral da Itália, o autor dirige conselhos a um príncipe imaginário, com o único objetivo de unificar a Itália e criar uma nação moderna e poderosa.

Para Maquiavel, o importante era realizar o desejo projetado, mesmo sob qualquer forma de governo – monarquia ou república, e por qualquer meio, inclusive a violência. Considerava os fatores morais, religiosos e econômicos, que operavam na sociedade como forças que um governante hábil poderia e deveria utilizar para construir um estado nacional forte. Assim, o príncipe com seu exército nacional que substituísse as precárias forças mercenárias, deveria ser capaz de estender seu domínio sobre todas as cidades italianas, acabando com a discórdia.


___________________

Leia também:

Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XXIII - Como se afastam os aduladores
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XXI - O Que Convém a um Príncipe Para Ser Estimado
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XX - Se as fortalezas e muitas outras coisas... são úteis ou não
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XIX - De como se deva evitar o ser desprezado e odiado
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XVIII - De que modo os príncipes devem manter a fé da palavra dada
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XVII - Da Crueldade e da Piedade
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XVI - Da Liberalidade e da Parcimônia
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XV - Daquelas coisas pelas quais os homens, e especialmente os príncipes, são louvados ou vituperados
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XIV - O Que Compete a Um Príncipe Acerca da Milícia (Tropa)
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XIII - Dos Soldados Auxiliares, Mistos e Próprios
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XII - De Quantas Espécies São as Milícias, e dos Soldados Mercenários
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos XI - Dos Principados Eclesiásticos
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos X - Como se deve medir as forças de todos os Principados
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos IX - Do Principado Civil
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos VIII - Dos que chegaram ao Principado por Meio de Crimes
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos VII - Dos Principados novos que se conquistam com as armas e fortuna...(2)
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos VII - Dos Principados novos que se conquistam com as armas e fortuna...
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos VI - Dos Principados novos que se conquistam com as armas...
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos V - De que modo se deve governar as cidades...
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos IV Por Que o Reino de Dario, Ocupado por Alexandre, Não se Rebelou...
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos III Dos Principados Mistos (conclusão)
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos II Dos Principados Mistos
Maquiavel - O Príncipe: Capítulos I e II e resenha crítica






Análise - O Príncipe





O pensamento político de Maquiavel





Nenhum comentário:

Postar um comentário