sábado, 9 de maio de 2020

Contos Africanos: A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar

A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar


autoria não foi identificada até o momento





A LUA TINHA UMA FILHA BRANCA e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe:

- Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela não sabe pilar...

O monhé respondeu:

- Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância, pois as minhas irmãs podem fazê-lo.

A lua, então, respondeu:

- Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.

O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar, mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.

Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar.

As irmãs censuraram-na:

- Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.

E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar.

Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse.

A rapariga começou a pilar, mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:

- Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar...

Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até desaparecer.

Ao verem aquele estranho fenômeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho.

Este, ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs, censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha.

A lua, muito irritada, disse:

- A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!

- Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?

A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse:

- Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a minha filha a voltar... Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e espera lá por mim.

O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando:

- Chama o javali, a pacala, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha.

O criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de alpista. Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse.

O porco, enquanto moia, cantou:

- Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!

Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia:

- Não te conheço!

O javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo. Aproximou-se em seguida a pacala e, enquanto moia, cantou:

- Eu sou a pacala e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!

Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia:

- Não te conheço!

A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta:

- Não te conheço!

Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou:

- Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!

A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa:

- Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!...

E, pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou silenciosa.

Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina.

Então, a lua disse:

- Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer.

Então o cágado levantou a voz dizendo:

- Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida.

E, dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua.

Da ligação do cágado com a filha da lua é que descendem todos os cágados do mundo...





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Contos Africanos

fui ao O incrível Zé para encontrar esses contos africanos

"Os contos africanos são mitos e contos lidos são história que são contados a nós como verdade.Este texto ressalta a importância dos contos, orais e escritos, para a cultura de um povo, que neste caso os povos africanos. No Brasil essa cultura teve e tem grande influencia pois inspira poetas, músicas, dançarinos, estudiosos mestres, e contadores de histórias."

Os contos não têm sua autoria identificada até o momento. Tratam-se de histórias em um documento com mais de 100 páginas. Muitas das narrativas não tem origem definida, enquanto outras relatam países africanos de língua portuguesa, como Guiné-Bissau e Angola.



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Leia também:

Contos Africanos: Estou voltando




A menina que não Falava






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