domingo, 23 de junho de 2019

Hannah Arendt e a banalidade do mal

Hannah Arendt e a banalidade do mal

Filme





Eichmann, 
alguém terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, por amor ao dever, sem considerações acerca do bem e do mal.


A manifestação do ato de pensar não é conhecimento, mas a habilidade de distinguir o bem do mal, o belo do feio. E eu tenho a esperança que o ato de pensar dê forças às pessoas para evitar as catástrofes nesses raros momentos, na hora da verdade.




um pequeno trecho de 7min do filme que se segue








Obs.: caso apareçam legendas fora da sequencia do filme clique em configurações e desabilite as legendas em Português (Brasil).





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Publicado por Rafael Tocantins Maltez


Essa obra de Hannah Arendt representa uma das mais impactantes e importantes da minha vida. Fez-me rever muitas ideias e pensar outras tantas. Eichmann foi sequestrado na Argentina e submetido a julgamento em Jerusalém. Esperava-se o show do século, com um monstro sanguinário no banco dos réus. Contudo, Arendt sentiu de forma diversa o “monstro”, o que causou revolta e indignação de muitos.

Segundo sua visão, Eichmann não se revelou um psicopata ávido em regozijar-se com o sofrimento alheio, mas sim um burocrata cumpridor de ordens num regime totalitário, um homem comum e medíocre, como todos nós. Eichmann se declarou inocente em sua autodefesa, sob o argumento de que não tinha nada contra ninguém, mas apenas cumpriu as leis vigentes e mais ainda, com esmero e perfeição, e por isso além de não merecer condenação, merecia elogios. Arguiu que não matou quem quer que fosse, mas apenas providenciou adequadamente o transporte para os campos de concentração. E mais: sustentou que se não fosse ele a cumprir as ordens, outro certamente faria seu papel, ou seja, seus atos existiriam de qualquer forma. E agora o pulo do gato de Arendt: Eichmann é culpado pelos seus atos, não por se tratar de um monstro, mas justamente por ser uma pessoa comum, que parou de pensar, que se alienou da realidade e passou não ter consciência dos seus atos. Por ser essa pessoa comum, existe um Eichmann em potencial em cada um nós.

Quando justificamos nossas pequenas maldades diárias com o argumento de que outra pessoa faria a mesma coisa, por exemplo, se estivesse no mesmo emprego ou de que se está meramente cumprindo ordens, o Eichmann em nós despertou. Recentemente vi o filme The Eichmann Show, tão medíocre quanto o próprio Eichmann. Fruto do ressentimento daqueles que não aceitam o pensamento de Arendt, sua missão foi pintar Eichmann como um monstro, com o claro intuito de esvaziar o pensamento da filósofa. Uma pena, pois a banalidade do mal é muito mais interessante do que a proposta desse filme.



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Hannah Arendt

Alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906 – 1975) formou-se em filosofia em Heidelberg, período em que foi aluna do filósofo Martin Heidegger. Trabalhou, entre outras atividades, como jornalista e professora universitária. Recusava-se ser classificada como “filósofa” e também se distanciava do termo “filosofia política”; preferia que suas publicações fossem classificadas sob o tema “teoria política”. Entretanto, ela continua sendo estudada como filósofa, em grande parte devido a suas discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Immanuel Kant e Martin Heidegger, além de representantes importantes da filosofia moderna como Maquiavel e Montesquieu. Devido aos seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos.

Suas obras mais conhecidas são: As origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958) e Eichmann em Jerusalém (1963). Este último reúne os cinco artigos que escreveu sobre o julgamento de Eichmann, que cobriu para o jornal The New Yorker. Nesse livro, Eichmann, não é retratado como um demônio (como o descreviam muitos ativistas judeus) mas alguém terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, por amor ao dever, sem considerações acerca do bem e do mal. No livro, Arendt aponta ainda a cumplicidade das lideranças judaicas com os nazistas. Esta perspectiva lhe renderia duras críticas das organizações judaicas, além da ameaça de ser excluída da universidade em que lecionava na época.



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Título em português: 
Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal

Titulo original (inglês): 
Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil

Autor: Hannah Arendt (1906-1975)
Ano da edição original: 1963/1964.
Ano da edição em português: 1999
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Companhia das Letras


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