domingo, 9 de junho de 2019

Stendhal - O Vermelho e o Negro: Diálogo com um Mestre (XXI - 2)

Livro I 

A verdade, a áspera verdade. 
Danton 


Capítulo XXI

DIÁLOGO COM UM MESTRE




Alas, our frailty is the cause, not we: 
For such as we are made of, such we be. 

TWELFTH NIGHT



continuando...




Novos insultos a examinar, e sempre por causa de minha mulher! Ele esteve a ponto de lançar-lhe as injú​rias mais grosseiras, mas a perspectiva da herança de Besançon o deteve com grande dificuldade. Devorado pela necessidade de fazer alguma coisa, rasgou o papel dessa segunda carta anônima e saiu a andar a grandes passos: tinha necessidade de afastar-se da mulher. Alguns instantes depois, voltou para junto dela, mais tranquilo. 

– Trata-se de tomar uma decisão e de mandar Julien embora, ela disse-lhe em seguida; afinal, é apenas o filho de um trabalhador. Você o indenizará com alguns escudos, e ele é bastante esperto para encontrar facilmente um novo posto, por exemplo na casa do sr. Valenod ou na do subprefeito de Maugiron, que têm filhos. Assim, não irá prejudicá-lo... 

– Você diz isso como uma tola que é, bradou o sr. de Rênal com voz terrível. Que bom senso pode-se esperar de uma mulher? Jamais presta atenção no que é razoável; como saberia alguma coisa? Sua negligência, sua preguiça só lhe permitem caçar borboletas. Criaturas frágeis, e que é uma infelicidade ter em nossas famílias!... 

A sra. de Rênal deixava-o falar, e ele falou por longo tempo; despejava sua raiva, como dizem na região. 

– Senhor, ela respondeu por fim, falo como uma mulher ultrajada em sua honra, isto é, no que ela tem de mais precioso. 

A sra. de Rênal teve um sangue-frio inalterável durante toda essa penosa conversa, da qual dependia a possibilidade de viver ainda sob o mesmo teto com Julien. Ela buscava as ideias que julgava mais capazes de guiar a cólera cega do marido. Ficara insensível a todas as reflexões injuriosas que este lhe dirigira, não as escutava, pensava então em Julien. Ele estará contente comigo? 

– Esse camponesinho que cumulamos de atenções e mesmo de presentes pode ser inocente, disse ela enfim, mas não é a primeira afronta que recebo por causa dele... Senhor, quando li esse papel abominável, prometi a mim mesma que ele ou eu sairíamos desta casa. 

– Quer fazer um escândalo para desonrar-me e a você também? Em Verrières há muita gente que não espera outra coisa. 

– É verdade, as pessoas invejam o estado de prosperidade que a sabedoria de sua administração proporcio​nou a você, à sua família e à cidade... Pois bem! Direi a Julien que lhe peça uma dispensa para passar um mês na casa daquele negociante de madeira montanhês, digno amigo desse camponesinho. 

– Abstenha-se de agir, retomou o sr. de Rênal com bastante tranquilidade. O que exijo antes de tudo é que não diga nada a ele. Ele ficaria furioso e haveríamos de brigar, sabe o quanto esse rapazinho é irascível. 

– Esse rapaz não tem o menor tato, retomou a sra. de Rênal; pode ser instruído, disso você entende, mas no fundo não passa de um verdadeiro camponês. Nunca fiz uma boa ideia a respeito dele desde que recusou casar com Elisa, era uma fortuna garantida; e isso a pretexto de que, às vezes em segredo, ela faz visitas ao sr. Valenod. 

– O quê!, disse o sr. de Rênal, levantando as sobrancelhas de um modo exagerado, Julien disse isso a você? 

– Não precisamente; ele sempre me falou da vocação que o chama ao santo ministério; mas, acredite, a primeira vocação dessa gente miúda é ter pão. Ele deu-me a entender que não ignorava essas visitas secretas. 

– E eu que as ignorava! bradou o sr. de Rênal, retomando todo o seu furor e acentuando as palavras. Acontecem coisas em minha casa que ignoro... Como! existe algo entre Elisa e Valenod? 

– Ah! é uma história antiga, meu caro, disse a sra. de Rênal rindo, e talvez nada tenha havido de mal. Foi no tempo em que seu bom amigo Valenod não teria se incomodado que pensassem, em Verrières, que entre ele e mim houvesse um pequeno amor platônico. 

– Certa vez tive essa ideia, exclamou o sr. de Rênal, batendo na cabeça ao topar com essa nova descoberta; e você não me disse nada? 

– Convinha indispor dois amigos por causa de um pequeno impulso de vaidade de nosso caro diretor? Qual a mulher da sociedade que já não recebeu algumas cartas espirituosas e mesmo um pouco galantes? 

– Ele as escreveu a você? 

– Muitas. 

– Ordeno-lhe que me mostre essas cartas imediatamente!, e o sr. de Rênal pareceu agigantar-se. 

– Não farei isso, ela respondeu com uma doçura que beirava quase a negligência; mostrá-las-ei outro dia, quando estiver mais calmo. 

– Mostre-me já!, bradou o sr. de Rênal, furioso, e no entanto mais feliz do que estivera nas últimas doze horas. 

– Você jura, disse a sra. de Rênal muito gravemente, que não irá brigar com o diretor do asilo por causa dessas cartas? 

– Com briga ou sem briga, posso tirar-lhe as crianças enjeitadas; mas quero essas cartas já, ele continuou com furor; onde estão? 

– Numa gaveta de minha escrivaninha; mas certamente não lhe darei a chave. 

– Saberei arrombá-la, ele exclamou, dirigindo-se para o quarto da mulher. 

E, de fato, arrombou com uma barra de ferro uma preciosa escrivaninha de mogno vinda de Paris, que ele seguidamente esfregava com a manga do casaco quando nela julgava perceber alguma mancha. 

A sra. de Rênal subira correndo os cento e vinte degraus do pombal; numa das barras de ferro da janelinha, atou a ponta de um lenço branco. Era a mais feliz das mulheres. Com lágrimas nos olhos, olhava em direção aos bosques da montanha. Certamente, pensava, debaixo de uma daquelas faias frondosas, Julien avista este sinal favorável. Ficou a escutar um longo tempo, depois maldisse o ruído monótono das cigarras e o canto dos pássaros. Sem esse ruído, um grito de alegria, vindo dos altos rochedos, teria podido chegar até aqui. Seu ávido olhar percorria a imensa encosta verde, escura e cerrada como um prado, que a copa das árvores forma. Como não lhe ocorreu, ela pensou enternecida, inventar algum sinal para dizer-me que sua felicidade é igual à minha? Só desceu do pombal quando teve medo de que o marido viesse procurá-la ali. 

Ela o encontrou furioso, percorrendo as frases anódinas do sr. Valenod, pouco acostumadas a serem lidas com tanta emoção. 

Aproveitando um momento em que as exclamações do marido davam-lhe a possibilidade de fazer-se ouvir, a sra. de Rênal falou: 

– Insisto na minha ideia, convém que Julien faça uma viagem. Mesmo que tenha talento com o latim, não passa de um camponês seguidamente grosseiro e sem tato; todo dia, acreditando ser polido, dirige-me lisonjas exageradas e de mau gosto, aprendidas de cor em algum romance... 

– Ele nunca os lê, exclamou o sr. de Rênal; estou certo disso. Acha que sou um patrão cego e que ignora o que se passa em sua casa? 

– Bem, se não lê essas lisonjas ridículas em algum lugar, ele as inventa, o que é ainda pior. Ele terá falado de mim nesse tom em Verrières... e, sem ir muito longe, disse a sra. de Rênal como quem faz uma descoberta, terá falado assim diante de Elisa; é quase como se tivesse falado diante do sr. Valenod. 

– Ah!, bradou o sr. de Rênal esmurrando a mesa com tanta força que fez estremecer o aposento; a carta anônima e as cartas do Valenod são escritas no mesmo papel. 

Enfim!... pensou a sra. de Rênal; fingiu-se consternada com essa descoberta e, sem coragem de acrescentar uma só palavra, foi sentar-se longe, no divã ao fundo da sala. 

A batalha agora estava ganha; teve muito trabalho para impedir que o sr. de Rênal fosse falar com o suposto autor da carta anônima. 

– Como não percebe que fazer uma cena com o sr. Valenod, sem provas suficientes, é a mais insigne das inabilidades? Se é invejado, meu caro, de quem é a culpa? De seus talentos; sua sábia administração, seus empreendimentos de bom gosto, o dote que eu lhe trouxe, e sobretudo a herança considerável que podemos esperar de minha boa tia, herança cujo montante exageram muito, fizeram de você a principal figura de Verrières. 

– Está esquecendo o nascimento, disse o sr. de Rênal, sorrindo um pouco. 

– Você é um dos fidalgos mais distintos da província, retomou prontamente a sra. de Rênal; se o rei tivesse liberdade e pudesse fazer justiça ao nascimento, você certamente figuraria na câmara dos pares etc. E é nessa posição magnífica que quer dar à inveja um motivo de comentário? Falar ao sr. Valenod de sua carta anônima é proclamar a Verrières inteira, que digo?, a Besançon, à província inteira, que esse pequeno burguês, acolhido talvez imprudentemente na intimidade de um Rênal, encontrou um meio de ofendê-lo. Ainda que essas cartas que acaba de ler provassem que respondi ao amor do sr. Valenod, você deveria matar-me, eu o teria merecido cem vezes, mas jamais demonstrar-lhe cólera. Pense que todos os seus vizinhos só esperam um pretexto para vingarem-se de sua superioridade; pense que em 1816 contribuiu para certas detenções. Aquele homem refugiado sob seu teto... 

– Acho que você não tem nem consideração nem amizade por mim, exclamou o sr. de Rênal, com toda a amargura que tal lembrança despertava, e eu não fui par!... 

– Penso, meu amigo, retomou a sra. de Rênal sorrindo, que serei mais rica que você, que sou sua companheira há doze anos, e que por todos esses motivos tenho o direito de manifestar-me, sobretudo no assunto de hoje. Se em vez de mim prefere um sr. Julien, acrescentou com um despeito mal disfarçado, estou pronta a passar o inverno na casa de minha tia. 

Essa frase foi dita com felicidade. Tinha uma firme​za que busca cercar-se de polidez e persuadiu o sr. de Rênal. Mas, segundo o hábito da província, ele falou ainda por muito tempo, repassou todos os argumentos; sua mulher deixava-o falar, ainda havia cólera em sua voz. Finalmente, duas horas de palavreado inútil esgotaram as forças de um homem que tivera um acesso de cólera a noite inteira. Ele traçou a linha de conduta que seguiria em relação ao sr. Valenod, a Julien e mesmo a Elisa. 

Por uma ou duas vezes, durante essa longa cena, a sra. de Rênal esteve a ponto de sentir alguma simpatia pela infelicidade real desse homem, que durante doze anos fora seu amigo. Mas as verdadeiras paixões são egoístas. Aliás, ela esperava a todo instante a confissão da carta anônima que ele recebera na véspera, e essa confissão não veio. Para a segurança da sra. de Rênal, faltava conhecer as ideias que podiam ter insinuado ao homem do qual dependia sua sorte. Pois, na província, os maridos são senhores da opinião. Um marido que se queixa cobre-se de ridículo, coisa a cada dia menos perigosa na França; mas sua mulher, se ele não lhe dá dinheiro, é reduzida à condição de trabalhadora a quinze vinténs por dia, e ainda assim as boas almas têm escrúpulo de empregá-la. 

Uma odalisca do serralho pode apesar de tudo amar o sultão; ele é todo-poderoso, ela não tem a menor esperança de subtrair-lhe a autoridade por uma série de pequenas astúcias. A vingança do senhor é terrível, sangrenta, mas militar, generosa: uma punhalada põe fim a tudo. Mas é a golpes de despre​zo público que um marido mata sua mulher no século XIX, fechando-lhe as portas de todos os salões. 

O sentimento de perigo apossou-se fortemente da sra. de Rênal ao voltar a seus aposentos; ela ficou chocada com a desordem em que encontrou seu quarto. As fechaduras de todos os seus belos cofrinhos haviam sido arrombadas, várias tábuas do soalho estavam removidas. Ele teria sido impiedoso comigo, ela pensou! Estragar desse modo um soalho de madeira que ele aprecia tanto; quando um de seus filhos entra aqui com sapatos molhados, ele fica rubro de cólera. E ei-lo danificado para sempre! A visão dessa violência afastou prontamente as últimas recriminações que ela se fazia por sua vitória demasiado rápida. 

Um pouco antes da hora do jantar, Julien chegou com as crianças. Durante a sobremesa, quando os criados retiraram-se, a sra. de Rênal disse-lhe bastante secamente: 

– Você disse-me ter vontade de passar uns quinze dias em Verrières, o sr. de Rênal consente em dar-lhe uma dispensa. Pode partir quando quiser. Mas, para que as crianças não sejam prejudicadas, diariamente lhe enviaremos seus temas, que você corrigirá. 

– Certamente, acrescentou o sr. de Rênal num tom bastante áspero, não lhe concederei mais de uma semana. 

Julien viu em sua fisionomia a inquietude de um homem profundamente atormentado. 

– Ele ainda não tomou uma resolução, disse ele à amiga, durante um instante em que ficaram a sós no salão. 

A sra. de Rênal contou-lhe rapidamente tudo o que fizera desde a manhã. 

– Deixo os detalhes para esta noite, ela acrescentou, rindo. 

Perversidade de mulher!, pensou Julien. Que prazer, que instinto as levam a nos enganar? 

– Vejo que está ao mesmo tempo iluminada e cega por seu amor, ele disse com alguma frieza; sua conduta de hoje é admirável; mas será prudente tentar nos encontrarmos esta noite? Esta casa está repleta de inimigos; pense no ódio apaixonado que Elisa tem por mim. 

– Esse ódio assemelha-se muito à indiferença apaixonada que você teria por mim.

– Mesmo indiferente, devo salvá-la de um perigo no qual a mergulhei. Se eventualmente o sr. de Rênal falar com Elisa, ela pode revelar-lhe tudo com uma palavra. Por que ele não se ocultaria perto de meu quarto, bem armado?... 

– Quê! Nem mesmo coragem!, disse a sra. de Rênal, com toda a altivez de uma mulher nobre. 

– Nunca me rebaixarei a falar de minha coragem, disse friamente Julien, é uma baixeza. Que o mundo julgue a partir dos fatos! Mas, acrescentou tomando-lhe a mão, você não imagina o quanto lhe quero bem e como me alegro em poder despedir-me antes desta cruel ausência.





_____________________




ADVERTÊNCIA DO EDITOR

Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho [de 1830] vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação. Temos motivos para acreditar que as páginas seguintes foram escritas em 1827.


_______________________




Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal (Grenoble, 23 de janeiro de 1783 — Paris, 23 de março de 1842) foi um escritor francês reputado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.


Órfão de mãe desde 1789, criou-se entre seu pai e sua tia. Rejeitou as virtudes monárquicas e religiosas que lhe inculcaram e expressou cedo a vontade de fugir de sua cidade natal. Abertamente republicano, acolheu com entusiasmo a execução do rei e celebrou inclusive a breve detenção de seu pai. A partir de 1796 foi aluno da Escola central de Grenoble e em 1799 conseguiu o primeiro prêmio de matemática. Viajou a Paris para ingressar na Escola Politécnica, mas adoeceu e não pôde se apresentar à prova de acesso. Graças a Pierre Daru, um parente longínquo que se converteria em seu protetor, começou a trabalhar no ministério de Guerra.

Enviado pelo exército como ajudante do general Michaud, em 1800 descobriu a Itália, país que tomou como sua pátria de escolha. Desenganado da vida militar, abandonou o exército em 1801. Entre os salões e teatros parisienses, sempre apaixonado de uma mulher diferente, começou (sem sucesso) a cultivar ambições literárias. Em precária situação econômica, Daru lhe conseguiu um novo posto como intendente militar em Brunswick, destino em que permaneceu entre 1806 e 1808. Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais. Em 1814, após queda do corso, se exilou na Itália, fixou sua residência em Milão e efetuou várias viagens pela península italiana. Publicou seus primeiros livros de crítica de arte sob o pseudônimo de L. A. C. Bombet, e em 1817 apareceu Roma, Nápoles e Florença, um ensaio mais original, onde mistura a crítica com recordações pessoais, no que utilizou por primeira vez o pseudônimo de Stendhal. O governo austríaco lhe acusou de apoiar o movimento independentista italiano, pelo que abandonou Milão em 1821, passou por Londres e se instalou de novo em Paris, quando terminou a perseguição aos aliados de Napoleão.

"Dandy" afamado, frequentava os salões de maneira assídua, enquanto sobrevivia com os rendimentos obtidos com as suas colaborações em algumas revistas literárias inglesas. Em 1822 publicou Sobre o amor, ensaio baseado em boa parte nas suas próprias experiências e no qual exprimia ideias bastante avançadas; destaca a sua teoria da cristalização, processo pelo que o espírito, adaptando a realidade aos seus desejos, cobre de perfeições o objeto do desejo.

Estabeleceu o seu renome de escritor graças à Vida de Rossini e às duas partes de seu Racine e Shakespeare, autêntico manifesto do romantismo. Depois de uma relação sentimental com a atriz Clémentine Curial, que durou até 1826, empreendeu novas viagens ao Reino Unido e Itália e redigiu a sua primeira novela, Armance. Em 1828, sem dinheiro nem sucesso literário, solicitou um posto na Biblioteca Real, que não lhe foi concedido; afundado numa péssima situação económica, a morte do conde de Daru, no ano seguinte, afetou-o particularmente. Superou este período difícil graças aos cargos de cônsul que obteve primeiro em Trieste e mais tarde em Civitavecchia, enquanto se entregava sem reservas à literatura.

Em 1830 aparece sua primeira obra-prima: O Vermelho e o Negro, uma crónica analítica da sociedade francesa na época da Restauração, na qual Stendhal representou as ambições da sua época e as contradições da emergente sociedade de classes, destacando sobretudo a análise psicológica das personagens e o estilo direto e objetivo da narração. Em 1839 publicou A Cartuxa de Parma, muito mais novelesca do que a sua obra anterior, que escreveu em apenas dois meses e que por sua espontaneidade constitui uma confissão poética extraordinariamente sincera, ainda que só tivesse recebido o elogio de Honoré de Balzac.

Ambas são novelas de aprendizagem e partilham rasgos românticos e realistas; nelas aparece um novo tipo de herói, tipicamente moderno, caracterizado pelo seu isolamento da sociedade e o seu confronto com as suas convenções e ideais, no que muito possivelmente se reflete em parte a personalidade do próprio Stendhal.

Outra importante obra de Stendhal é Napoleão, na qual o escritor narra momentos importantes da vida do grande general Bonaparte. Como o próprio Stendhal descreve no início deste livro, havia na época (1837) uma carência de registos referentes ao período da carreira militar de Napoleão, sobretudo a sua atuação nas várias batalhas na Itália. Dessa forma, e também porque Stendhal era um admirador incondicional do corso, a obra prioriza a emergência de Bonaparte no cenário militar, entre os anos de 1796 e 1797 nas batalhas italianas. Declarou, certa vez, que não considerava morrer na rua algo indigno e, curiosamente, faleceu de um ataque de apoplexia, na rua, sem concluir a sua última obra, Lamiel, que foi publicada muito depois da sua morte.

O reconhecimento da obra de Stendhal, como ele mesmo previu, só se iniciou cerca de cinquenta anos após sua morte, ocorrida em 1842, na cidade de Paris.



_______________________

Leia também:

Stendhal - O Vermelho e o Negro: O Primeiro Adjunto (XVII)
Stendhal - O Vermelho e o Negro: Um Rei em Verrières (XVIII)
Stendhal - O Vermelho e o Negro: Pensar faz sofrer (XIX)
Stendhal - O Vermelho e o Negro: As Cartas Anônimas (XX)
Stendhal - O Vermelho e o Negro: Diálogo com um Mestre (XXI - 1)
Stendhal - O Vermelho e o Negro: Diálogo com um Mestre (XXI - 2)
Stendhal - O Vermelho e o Negro: Maneiras de Agir em 1830 (XXII - 1)


Nenhum comentário:

Postar um comentário