sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Cruz e Sousa - Poesias Completas: Dispersas LXV - [Deixai]

Cruz e Sousa


Obra Completa
Volume 1
POESIA


O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos

Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos


DISPERSAS 



[DEIXAI]

Deixai que a minh’alma escassa
De luz – aos astros emigre
Como gaivota que passa
Deixai que a minh’alma escassa
De amor – na plúmbea desgraça
De atrozes garras de tigre,
Deixai que a minh’alma escassa
De luz – aos astros emigre.
[Zot.]



[QUANDO ELA]

Quando ela está de colete,
Espartilhada, irradiante
Vestida de azul-ferrete,
Quando ela está de colete
Em mim cruzando o florete
Do seu olhar – que elegante
Quando ela está de colete,
Espartilhada, irradiante.
[Zut.]



[Ó CINTILANTE QUIQUIA]

Ó cintilante Quiquia,
Menina dos meus olhares,
Flor azul da simpatia,
Ó cintilante Quiquia,
Rasga este céu da alegria
Dos meus risonhos cantares,
Ó cintilante Quiquia,
Menina dos meus olhares.
[Zat.]



[OLHOS PRETOS]

Olhos pretos, sonhadores,
Ó celeste Carolina,
Como são esmagadores
Olhos pretos sonhadores,
Como vibram dos amores
A noss’alma cristalina,
Olhos pretos, sonhadores,
Ó celeste Carolina.
[Zot.]



[SE ESTALA A ESTROFE]

Se estala a estrofe de fogo,
Se explose a estrofe do Bem,
Como o verbo demagogo
Se estala a estrofe de fogo,
Não ceda o espírito ao rogo
Do Mal que os erros contêm,
Se estala a estrofe de fogo,
Se explose a estrofe do Bem!



continua pág. 223...

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Leia também:
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De fato, a inteligência, criatividade e ousadia de Cruz e Sousa eram tão vigorosos que, mesmo vítima do preconceito racial e da sempiterna dificuldade em aceitar o novo, ainda assim o desterrense, filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa, “Cisne Negro” para uns, “Dante Negro” para outros, soube superar todos os obstáculos que o destino lhe reservou, tornando-se o maior poeta simbolista brasileiro, um dos três grandes do mundo, no mesmo pódio onde figuram Stephan Mallarmé e Stefan George. A sociedade recém-liberta da escravidão não conseguia assimilar um negro erudito, multilíngue e, se não bastasse, com manias de dândi. Nem mesmo a chamada intelligentzia estava preparada para sua modernidade e desapego aos cânones da época. Sua postura independente e corajosa era vista como orgulhosa e arrogante. Por ser negro e por ser poeta foi um maldito entre malditos, um Baudelaire ao quadrado. Depois de morrer como indigente, num lugarejo chamado Estação do Sítio, em Barbacena (para onde fora, às pressas, tentar curar-se de tuberculose), seu corpo foi levado para o Rio de Janeiro graças à intervenção do abolicionista José do Patrocínio, que cuidou para que tivesse um enterro cristão, no cemitério São João Batista.


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Organização e Estudo
Lauro Junkes
Presidente da Academia Catarinense de Letras

© Copyright 2008
Avenida Gráfica e Editora Ltda.

Projeto Gráfico, Editoração e Capa
ESPAÇO CRIAÇÃO ARQUITETURA DESIGN E COMPUTAÇÃO GRÁFICA LTDA.
www.espacoecriacao.com.br
Fone/Fax: (48) 3028.7799

Revisão Linguístico-Ortográfica
PROFª Drª TEREZINHA KUHN JUNKES
PROF. Dr. LAURO JUNKES

Impressão e Acabamento
Avenida Gráfica e Editora Ltda.

Formato
14 x 21cm

FICHA CATALOGRÁFICA

Catalogação na fonte por M. Margarete Elbert - CRB14/167
S725o      Sousa, Cruz e, 1861-1898

                        Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização
                  e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008.
                         v. 1 (612 p.)

                         Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do
                  traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.

                            1. Sousa, Cruz e, 1861-1898. 2. Poesia catarinense. I.
                  Junkes, Lauro. II. Titulo.

                                                                                      CDU: 869.0(816.4)-1


"A gente só tem saída na poesia."


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