Mulheres
Eduardo Galeano
020.
A MOÇA DA CICATRIZ NO QUEIXO
2
Nessa noite, pela janela aberta de minha casa, contemplamos juntos as faíscas dos relâmpagos iluminando os casebres do vilarejo. Juntos, esperamos os trovões e o desaguar da chuva.
– Você sabe cozinhar?
– Sei alguma coisa. Batatas, peixes...
Eu passava as noites debruçado, sozinho, na janela, acariciando a garrafa de genebra e esperando pelo sono ou pelos doentes. Meu consultório, de chão de terra e lampião a querosene, consistia numa cama turca e um estetoscópio, algumas seringas, vendas, agulhas, linhas para dar pontos em cortes e as amostras grátis de remédios que Carrizo, de vez em quando, me mandava de Buenos Aires. Com isso, e com dois anos de faculdade, eu me arranjava para costurar homens e lutar contra as febres. Nas minhas noites solitárias sem querer desejava uma desgraça para não me sentir totalmente inútil.
Rádio, eu não escutava, pois no litoral corria o perigo ou a tentação de sintonizar alguma emissora do meu país.
– Não vi nenhuma mulher neste vilarejo. Também isso você deixou para trás?
? Eu dormia sozinho na minha cama de faquir. Os elásticos do colchão já estavam à vista e as pontas das molas em espiral apareciam perigosamente. Tinha que dormir todo encolhido para não ser espetado por elas.
– Sim – respondi-lhe, com ar zombeteiro. – Para mim acabou-se a clandestinidade. Nem com mulheres casadas tenho encontros clandestinos.
Ficamos calados.
Fumei um cigarro, dois.
Por fim, perguntei-lhe para que tinha vindo. Respondeu-me que precisava de um passaporte.
– Você ainda faz passaportes?
– Pensa voltar?
Disse-lhe que, tal como estavam as coisas, voltar seria uma estupidez. Que não existia o heroísmo inútil. Que...
– Isso é coisa minha – disse ela. – Perguntei se você ainda faz passaportes.
– Se você precisar.
– Quanto tempo leva?
– Para os outros – disse-lhe –, um dia. Para você, uma semana.
Riu
Nessa noite cozinhei com vontade pela primeira vez. Fiz para Flávia uma corvina na brasa. Ela preparou um molho com o pouco que havia.
Fora, chovia a cântaros.
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Galeano, Eduardo, 1940-
Mulheres / Eduardo Galeano; tradução de Eric Nepomuceno.
1. Ficção uruguaia- Crônicas. I. Título. II. Série._________________
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Día de los pueblos indígenas
Rigoberta Menchú nació en Guatemala, cuatro siglos y medio después de la conquista de Pedro de Alvarado y cinco años después de la conquista de Dwight Eisenhower.
En 1982, cuando el ejército arrasó las montañas mayas, casi toda la familia de Rigoberta fue exterminada, y fue borrada del mapa la aldea donde su ombligo había sido enterrado para que echara raíz.
Diez años después, ella recibió el premio Nobel de la Paz. Y declaró:
—Recibo este premio como un homenaje al pueblo maya, aunque llegue con quinientos años de demora.
Los mayas son gente de paciencia. Han sobrevivido a cinco siglos de carnicerías.
Ellos saben que el tiempo, como la araña, teje despacio.
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