segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo III - A Iniciação Sexual (6)

Simone de Beauvoir


02. A Experiência Vivida




O SEGUNDO SEXO
SlMONE DE BEAUVOIR




PRIMEIRA PARTE

FORMAÇÃO
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CAPÍTULO III
A   INICIAÇÃO SEXUAL



continuando...


O homem comete um grave erro quando pretende impor à companheira seu próprio ritmo e se obstina em dar-lhe um orgasmo: muitas vezes com isso só consegue perturbar a forma voluptuosa que ela estava vivendo a seu modo próprio [1]. É uma forma bastante plástica para dar a si mesma um termo: certos espasmos localizados na vagina ou no conjunto do sistema genital, ou emanando de todo o corpo, podem constituir uma solução. Em certas mulheres eles se produzem bastante regularmente e com suficiente violência para serem assimilados a um orgasmo; mas uma amante pode também encontrar no orgasmo masculino uma conclusão que a acalma e satisfaz. E pode acontecer também que de maneira contínua, sem choque, a forma erótica se dissolva tranquilamente. O êxito não exige, como acreditam muitos homens meticulosos mas simplistas, uma sincronização matemática do prazer e sim o estabelecimento de uma forma erótica complexa. Muitos imaginam que "fazer gozar" uma mulher é questão de tempo e de técnica, logo uma violência; ignoram a que ponto a sexualidade da mulher é condicionada pelo conjunto da situação. A volúpia é nela, já o dissemos, uma espécie de encantamento; reclama um abandono total; se palavras ou gestos contestam a magia das carícias, o encantamento se dissipa. É uma das razões pelas quais tantas vezes a mulher fecha os olhos: fisiologicamente, há nisso um reflexo destinado a compensar a dilatação da pupila; mas mesmo na escuridão ela ainda baixa as pálpebras; quer abolir qualquer cenário, abolir a singularidade do instante, de si própria e do amante, quer perder-se no fundo de uma noite carnal tão indistinta quanto o seio materno. E, mais particularmente, ela almeja suprimir essa separação que ergue o macho à sua frente, ela deseja fundir-se com ele. Já se disse que deseja, em se fazendo objeto, permanecer sujeito. Mais profundamente alienada do que o homem, pelo fato de ser desejo e confusão em todo o corpo, só continua sujeito pela união com o parceiro; seria preciso que para dar e receber ambos se confundissem; se o homem se restringe a ter sem dar ou a dar sem ter, ela se sente manobrada; desde que se realiza como Outro, ela é o outro inessencial; é-lhe necessário negar a alteridade. Eis por que o momento da separação dos corpos lhe é quase sempre penoso. 0 homem, depois do coito, sinta-se triste ou alegre, enganado pela natureza ou vencedor da mulher, sempre renega a carne, volta a ser um corpo íntegro, quer dormir, tomar um banho, fumar um cigarro, dar um passeio ao ar livre. Ela gostaria de prolongar o contato carnal até que o encantamento que a fez carne se dissipe por completo; a separação é um arrancamento doloroso como uma nova desmama; ela tem rancor contra o amante que se afasta dela bruscamente. Mas o que mais a magoa são as palavras que contestam a fusão em que acreditara durante um momento. A "mulher de Gilles", cuja história Madeleine Bourdouxhe contou, retrai-se quando o marido lhe pergunta: "Gozaste bem?" Ela tapa-lhe a boca. Essas palavras causam horror a muitas mulheres porque reduzem o prazer a uma sensação imanente e separada. "Chega? Queres mais ainda? Foi bom?" O próprio fato de fazer as perguntas evidencia a separação, transforma o ato amoroso numa operação mecânica cuja direção foi assumida pelo homem. E é por isso mesmo que ele as faz. Muito mais do que a fusão e a reciprocidade, ele busca o domínio; quando a unidade do casal se desfaz, ele torna a se encontrar único sujeito; é preciso muito amor ou generosidade para renunciar a esse privilégio; ele gosta que a mulher se sinta humilhada, possuída a despeito de si mesma; ele quer sempre possuí-la um pouco mais do que ela se dá. Muitas dificuldades seriam poupadas à mulher se o homem não arrastasse consigo muitos complexos que o levam a considerar o ato amoroso como uma luta: então ela poderia não encarar o leito como uma arena.



[1] Lawrence viu muito bem a oposição entre essas duas formas eróticas. Mas é arbitrário declarar, como fez, que a mulher não deve conhecer o orgasmo. Se é um erro procurar provocá-lo de toda maneira, é também um erro recusá-lo de qualquer maneira como faz D. Cipriano em Serpente Emplumada.


Entretanto, simultaneamente com o narcisismo e o orgulho, observa-se na jovem um desejo de ser dominada. O masoquismo seria, segundo certos psicanalistas, uma das características da mulher, e é graças a essa tendência que ela poderia adaptar-se a seu destino erótico. Mas a noção de masoquismo é muito confusa e cumpre que a consideremos de perto.

Os psicanalistas distinguem, segundo Freud, três formas de masoquismo: uma consiste na ligação da dor com a volúpia, outra seria a aceitação feminina da dependência erótica e a última assentaria num mecanismo de autopunição. A mulher seria masoquista porque nela prazer e dor estariam ligados através do defloramento e do parto, e porque ela consentiria em seu papel passivo.

Cabe inicialmente observar que atribuir um valor erótico à dor não constitui absolutamente uma conduta de submissão passiva. A dor serve muitas vezes para levantar o tono do indivíduo que a experimenta, para despertar uma sensibilidade entorpecida pela própria violência da comoção e do prazer; é uma luz aguda brilhando na noite carnal, tira o amante do limbo em que se extasiava a fim de que possa ser novamente precipitado nele. A dor faz normalmente parte do frenesi erótico; corpos que se encantam de ser corpos para sua alegria recíproca, procuram encontrar-se, unir-se, confrontar-se de todas as maneiras possíveis. Há no erotismo um arrancamento de si próprio, um transporte, um êxtase; o sofrimento também destrói as fronteiras do eu, é uma superação e um paroxismo; a dor sempre desempenhou um grande papel nas orgias; e sabe-se que o esquisito e o doloroso se tocam; uma carícia pode tornar-se uma tortura, um suplício dar prazer. Abraçar conduz facilmente a morder, beliscar, arranhar; essas condutas não são geralmente sádicas, exprimem um desejo de fusão e não de destruição; e o sujeito que as suporta não procura tampouco renegar-se e humilhar-se e sim unir-se; ademais, elas não são especificamente masculinas, longe disso. Na realidade, a dor só tem significação masoquista no caso de ser apreendida e querida como manifestação de servidão. Quanto à dor do defloramento, não se acompanha precisamente de prazer; todas as mulheres temem os sofrimentos do parto e sentem-se felizes com o fato de os métodos modernos as livrarem deles. A dor não tem, em sua sexualidade, nem maior nem menor importância do que na sexualidade do homem.

A docilidade feminina é, por outro lado, uma noção muito equívoca. Vimos que na maior parte do tempo ela aceita no imaginário a dominação de um semideus, de um herói, de um macho; mas isso ainda não passa de um jogo narcisista. Com isso não se acha de modo algum disposta a suportar na realidade a expressão carnal dessa autoridade. Muitas vezes, ao contrário, ela se recusa ao homem que admira e respeita, e entrega- -se a um homem sem prestígio. É um erro procurar em fantasmas a chave de condutas concretas; os fantasmas são criados e acarinhados como fantasmas. A menina que sonha com violação, num misto de horror e complacência, não deseja ser violentada e o acontecimento, se se verificasse, seria uma odiosa catástrofe. Já vimos em Marie Le Hardouin um exemplo típico dessa dissociação. Ela escreve, em La Voüe Noire, igualmente:



Mas no caminho da abolição restava um terreno em que eu só entrava de narinas cerradas e coração batendo. Era aquele que, para além da sensualidade amorosa, me levava à sensualidade simplesmente... Não há uma só infâmia matreira que não tenha cometido em sonho. Sofria da necessidade de me afirmar de todas as maneiras possíveis.


Cumpre lembrar ainda o caso de Maria Bashkirtseff.


Procurei durante toda a minha vida colocar-me voluntariamente sob um domínio ilusório qualquer, mas todas as pessoas que experimentei eram tão ordinárias em relação a mim que só senti nojo.


Por outro lado, é certo que o papel sexual da mulher é em grande parte passivo; mas viver imediatamente essa situação passiva não é mais masoquista do que a atividade agressiva do macho é sádica; a mulher pode transcender as carícias, a comoção, a penetração para seu próprio prazer, mantendo assim a afirmação de sua subjetividade; ela pode também procurar a união com o amante, e dar-se a ele, o que significa uma superação de si e não uma abdicação. O masoquismo aparece quando o indivíduo escolhe fazer-se constituir em pura coisa pela consciência de outrem, representar-se a si mesmo como coisa, fingir ser uma coisa. "O masoquismo é uma tentativa, não de fascinar o outro pela minha objetividade, mas sim de me fazer fascinar a mim mesmo pela minha objetividade para outrem" (cf J.-P. Sartre, L'Être et le Néant). A Juliette, de Sade, ou a jovem virgem de Philosophie dans le boudoir, se entregam ao macho de todos os modos possíveis, mas para seu próprio prazer, não são de modo algum masoquistas. Lady Chatterley ou Kate, no total abandono consentido, não são masoquistas. Para que se possa falar de masoquismo é preciso que o eu seja posto e que se considere esse duplo alienado como fundado pela liberdade de outrem.

Nesse sentido encontrar-se-á efetivamente em certas mulheres um verdadeiro masoquismo. A jovem tem disposição para isso porque é amiúde narcisista e o narcisismo consiste em se alienar em seu ego. Se experimentasse desde o começo de sua iniciação erótica uma perturbação e um desejo violento, ela viveria autenticamente suas experiências e deixaria de as projetar nesse polo ideal que chama eu; mas em sua frieza o eu continua a afirmar-se; fazer dele a coisa de um homem parece-lhe então uma falta. Ora, o "masoquismo, como o sadismo, é assumpção de culpabilidade. Sou culpado, com efeito, pelo único fato de que sou objeto". Esta ideia de Sartre liga-se à noção freudiana de autopunição. A jovem julga-se culpada por entregar seu eu a outrem e disso se pune dobrando voluntariamente humilhação e servidão; vimos que as virgens desafiavam o futuro amante e se puniam da submissão futura infligindo-se diversas torturas; quando o amante é real e presente elas se obstinam nessa atitude. A própria frieza já se nos apresentou como um castigo que a mulher impõe tanto a si mesma como a seu parceiro: ferida em sua vaidade, ela tem rancor contra ele e contra si própria e se proíbe o prazer. No masoquismo ela se fará apaixonadamente escrava do homem, dir-lhe-á palavras de adoração, desejará ser humilhada, batida; alienar-se-á sempre mais profundamente por furor de ter consentido na alienação. É, bastante claramente, a atitude de Mathilde de Ia Mole, por exemplo. Ela se recrimina por se ter entregue a Julien; é por isso que, em certos momentos, cai aos seus pés, quer submeter-se a todos os caprichos dele, sacrifica-lhe a cabeleira; mas ao mesmo tempo revolta- se contra ele tanto quanto contra si mesma. Adivinhamo-la gelada nos seus braços. O abandono simulado da mulher masoquista cria novas barreiras que lhe interditam o prazer; e é ao mesmo tempo dessa incapacidade de conhecer o prazer que ela se vinga de si mesma. 0 círculo vicioso que vai da frieza ao masoquismo pode fechar-se para sempre, acarretando então condutas sádicas por compensação. Pode acontecer também que a maturação erótica liberte a mulher de sua frieza, de seu narcisismo e que, assumindo sua passividade sexual, ela a viva imediatamente, ao invés de a representar. Pois o paradoxo do masoquismo está em que o sujeito se reafirma incessantemente, em seu próprio esforço por se abdicar. É no dom irrefletido, no movimento espontâneo para o outro, que ele consegue esquecer-se. É portanto verdade que a mulher será mais solicitada do que o homem pela tentação masoquista; sua situação erótica de objeto passivo incita-a a representar a passividade; é a autopunição a que a convidam suas revoltas narcisistas e a frigidez que é a consequência delas; o fato é que muitas mulheres, e em particular muitas moças, são masoquistas. Colette, falando de suas primeiras experiências amorosas, confia-nos, em Ales Appreentissages
:


A juventude e a ignorância contribuindo, eu começara pelo devaneio um devaneio culposo, um horrível e impuro impulso de adolescência. São numerosas as jovens apenas núbeis que sonham com ser o espetáculo, o joguete, a obra-prima libertina de um homem maduro. É uma inveja feia que expiam contando-a, uma inveja que anda de par com as neuroses da puberdade, o hábito de roer giz e carvão, beber água dentifrícia, ler livros sujos e enfiar alfinetes na palma das mãos.


Não se poderia dizer mais claramente que o masoquismo faz parte das perversões juvenis, que não é uma solução autêntica do conflito criado pelo destino sexual da mulher, e sim uma maneira de fugir dele, nele chafurdando. Não representa de nenhum modo o desabrochar normal e feliz do erotismo feminino.

Esse desabrochar pressupõe que — no amor, na ternura, na sensualidade — a mulher consiga superar sua passividade e estabelecer com seu parceiro uma relação de reciprocidade. A assimetria do erotismo masculino e feminino cria problemas insolúveis enquanto há luta de sexos; podem facilmente resolver-se quando a mulher sente no homem desejo e respeito a um tempo; se a deseja em sua carne, reconhecendo sua liberdade, ela se reencontra como o essencial no momento em que se faz objeto, ela continua livre na submissão a que consente. Então os amantes podem conhecer, cada qual à sua maneira, um gozo comum: o prazer é sentido por cada um dos parceiros como sendo seu, embora tendo sua fonte no outro. As palavras receber e dar trocam seus sentidos, a alegria é gratidão, o prazer ternura. Numa forma concreta e carnal realiza-se o reconhecimento recíproco do eu e do outro na consciência mais aguda do outro e do eu. Certas mulheres dizem sentir nelas o sexo masculino como uma parte de seu próprio corpo; certos homens acreditam ser a mulher que penetram; essas expressões são evidentemente inexatas; a dimensão do outro permanece; mas o fato é que a alteridade não tem mais um caráter hostil; é essa consciência da união dos corpos em sua separação que dá ao ato sexual seu caráter comovente; ele é tanto mais perturbador quanto os dois seres, que juntos negam e afirmam apaixonadamente seus limites, são semelhantes e no entanto diferentes. Essa diferença, que muitas vezes os isola, torna-se, quando se reúnem, a fonte de seu encantamento; a febre imóvel que a queima, a mulher contempla- lhe a imagem invertida no seu ardor viril; a potência do homem, é o poder que ela exerce sobre ele; esse sexo inflado de vida pertence-lhe, como seu sorriso pertence ao homem que lhe dá prazer. Todas as riquezas da virilidade e da feminilidade refletindo- se, apreendendo-se umas através das outras, compõem uma unidade móvel e estática. O que é necessário a uma tal harmonia não são requintes técnicos mas antes, na base de uma atração erótica imediata, uma generosidade recíproca de corpo e alma.

Essa generosidade é amiúde freada no homem pela vaidade, na mulher pela timidez; enquanto ela não supera suas inibições não a pode fazer triunfar. É por isso que o pleno desabrochar sexual é na mulher bastante tardio; é por volta de 35 anos que ela atinge eroticamente seu apogeu. Infelizmente, se é casada, o marido já se habituou demasiado à sua frieza; ela ainda pode seduzir novos amantes, mas começa a fenecer; seu tempo é escasso. É no momento em que deixam de ser desejáveis que muitas mulheres resolvem assumir enfim seus desejos.

As condições em que se desenrola a vida sexual da mulher dependem não somente desses dados mas ainda de todo o conjunto de sua situação social e econômica. Seria abstrato pretender estudá-la mais a fundo sem esse contexto. Mas de nosso exame ressaltam várias conclusões geralmente válidas. A experiência erótica é uma das que revelam aos seres humanos, da maneira mais pungente, a ambiguidade de sua condição; nela eles se sentem como carne e como espírito, como o outro e como sujeito. É para a mulher que esse conflito assume o caráter mais dramático, porque ela se apreende inicialmente como objeto, porque ela não encontra de imediato uma autonomia segura no prazer; é-lhe preciso reconquistar sua dignidade de sujeito transcendente e livre, assumindo sua condição carnal: empresa difícil e cheia de riscos, na qual ela soçobra amiúde. Mas a própria dificuldade da situação defende-a contra as mistificações em que o homem se deixa enlear; ele é amiúde enganado pelos privilégios falaciosos que implicam seu papel agressivo e a solidão satisfeita do orgasmo; ele hesita em se reconhecer plenamente como carne. A mulher tem de si mesma uma experiência mais autêntica.

Mesmo adaptando-se mais ou menos exatamente a seu papel passivo, a mulher é sempre frustrada como indivíduo ativo. Não é o órgão da posse que ela inveja no homem: é a presa. É curioso paradoxo que o homem viva em um mundo sensual de doçura, de ternura, de moleza, um mundo feminino, enquanto a mulher se move em um universo masculino que é duro e severo; suas mãos guardam o desejo de apertar a carne lisa, a polpa fundente: adolescente, mulher, flores, peles, criança; toda uma parte de si mesma permanece disponível e aspira à posse de um tesouro análogo ao que ela entrega ao macho. Com isso se explica que em muitas mulheres subsista de maneira mais ou menos larvar uma tendência para a homossexualidade. Há algumas em quem, por um conjunto de razões complexas, essa tendência se afirma com uma autoridade particular. Nem todas as mulheres aceitam dar a seus problemas sexuais a solução clássica, única oficialmente admitida pela sociedade. Temos que encarar também as que escolhem caminhos diferentes.




continua página 144...

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Leia também:


O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo II - A Moça (1)
O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (9)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (8)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (7)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (6)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (5)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (4)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (3)O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo I - Infância (2)
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O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo II - A Moça (3)
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O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo II - A Moça (5)
O Segundo Sexo - 02. A Experiência Vivida: Capítulo III - A Iniciação Sexual (6)



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As mulheres de nossos dias estão prestes a destruir o mito do "eterno feminino": a donzela ingênua, a virgem profissional, a mulher que valoriza o preço do coquetismo, a caçadora de maridos, a mãe absorvente, a fragilidade erguida como escudo contra a agressão masculina. Elas começam a afirmar sua independência ante o homem; não sem dificuldades e angústias porque, educadas por mulheres num gineceu socialmente admitido, seu destino normal seria o casamento que as transformaria em objeto da supremacia masculina.
Neste volume complementar de O SEGUNDO SEXO, Simone de Beauvoir, constatando a realidade ainda imediata do prestígio viril, estuda cuidadosamente o destino tradicional da mulher, as circunstâncias do aprendizado de sua condição feminina, o estreito universo em que está encerrada e as evasões que, dentro dele, lhe são permitidas. Somente depois de feito o balanço dessa pesada herança do passado, poderá a mulher forjar um outro futuro, uma outra sociedade em que o ganha--pão, a segurança econômica, o prestígio ou desprestígio social nada tenham a ver com o comércio sexual. É a proposta de uma libertação necessária não só para a mulher como para o homem. Porque este, por uma verdadeira dialética de senhor e servo, é corroído pela preocupação de se mostrar macho, importante, superior, desperdiça tempo e forcas para temer e seduzir as mulheres, obstinando-se nas mistificações destinadas a manter a mulher acorrentada.
Os dois sexos são vítimas ao mesmo tempo do outro e de si. Perpetuar-se-á o inglório duelo em que se empenham enquanto homens e mulheres não se reconhecerem como semelhantes, enquanto persistir o mito do "eterno feminino". Libertada a mulher, libertar-se-á também o homem da opressão que para ela forjou; e entre dois adversários enfrentando-se em sua pura liberdade, fácil será encontrar um acordo.
O SEGUNDO SEXO, de Simone de Beauvoir, é obra indispensável a todo o ser humano que, dentro da condição feminina ou masculina, queira afirmar-se autêntico nesta época de transição de costumes e sentimentos.


"O que é uma mulher?"


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