Cem Anos de Solidão
Gabriel Garcia Márquez
(10.1)
para jomí garcía ascot
e maría luisa elío
DESLUMBRADO COM TANTAS e tão maravilhosas invenções, o povo de Macondo não sabia por onde começar a se espantar. Passavam a noite em claro contemplando as pálidas lâmpadas elétricas alimentadas pelo gerador que Aureliano Triste trouxera na segunda viagem do trem e a cujo obsessivo tum-tum custou tempo e trabalho se acostumar. Indignaram-se com as imagens vivas que o próspero comerciante Sr. Bruno Crespi projetava no teatro de bilheterias que imitavam bocas de leão, porque um personagem morto e enterrado num filme, e por cuja desgraça haviam derramado lágrimas de tristeza, reapareceu vivo e transformado em árabe no filme seguinte. O público, que pagava dois centavos para partilhar das vicissitudes dos personagens, não pôde suportar aquele logro inaudito e quebrou as poltronas. O alcaide, por insistência do Sr. Bruno Crespi, explicou num decreto que o cinema era uma máquina de ilusão que não merecia os arroubos passionais do público. Diante da desalentadora explicação, muitos acharam que tinham sido vítimas de um novo e aparatoso negócio de cigano, de modo que optaram por não voltar ao cinema, considerando que já tinham o suficiente com os seus próprios sofrimentos para chorar por infelicidades fingidas de seres imaginários. Alguma coisa de semelhante aconteceu com os gramofones de manivela que as alegres matronas da França trouxeram, em substituição aos antiquados realejos, e que tão profundamente afetaram por algum tempo os interesses da banda de música. No princípio, a curiosidade multiplicou a clientela da rua proibida, e soube-se até de senhoras respeitáveis que se disfarçaram de malandro para observar de perto a novidade do gramofone, mas o observaram tanto e de tão perto que muito rapidamente chegaram à conclusão de que não era um moinho de brinquedo, como todos pensavam e como as matronas diziam, mas um truque mecânico que não podia se comparar com uma coisa tão comovedora, tão humana e tão cheia de verdade cotidiana como uma banda de música. Foi uma desilusão tão séria que quando os gramofones se popularizaram, a ponto de haver um em cada casa, não foram encarados como objetos para a diversão dos adultos, mas como uma coisa boa para as crianças desmontarem. Em compensação, quando alguém do povoado teve a oportunidade de comprovar a crua realidade do telefone instalado na estação da estrada de ferro, que por causa da manivela se considerava como uma versão rudimentar do gramofone, até os mais incrédulos se desconcertaram. Era como se Deus tivesse resolvido pôr à prova toda a capacidade de assombro e mantivesse os habitantes de Macondo num permanente vaivém do alvoroço ao desencanto, da dúvida à revelação, ao extremo de já ninguém poder saber com certeza onde estavam os limites da realidade. Era uma intrincada maçaroca de verdades e miragens, que provocou convulsões de impaciência no espectro de José Arcadio Buendía debaixo do castanheiro e o obrigou a vagar toda a casa mesmo em pleno dia. Desde que a estrada de ferro foi inaugurada oficialmente e o trem começou a chegar com regularidade toda quarta-feira às onze, e que se construiu a primitiva estação de madeira com um escritório, o telefone e um guichê para vender as passagens, eram vistos nas ruas de Macondo homens e mulheres que fingiam atitudes comuns e correntes, mas que na verdade pareciam gente de circo. Num povo escaldado pela praga dos ciganos, não havia um futuro para aqueles equilibristas do comércio ambulante que com o mesmo desembaraço ofereciam uma panela de apito e um regime de vida para a salvação da alma no sétimo dia; mas entre os que se deixavam convencer pelo cansaço e os incautos de sempre, faziam excelentes negócios. Entre essas criaturas de farândola, com culotese polainas, chapéu de cortiça, óculos com armação de aço, olhos de topázio e pele galo fino, numa das tantas quartas-feiras, chegou a Macondo e almoçou em casa o rechonchudo e sorridente Mr. Herbert.
Ninguém o distinguiu na mesa, enquanto não se comeu o primeiro cacho de bananas. Aureliano Segundo encontrara-o por acaso, protestando num espanhol trabalhoso porque havia um quarto livre no Hotel de Jacob e, como fazia com freqüência com muitos forasteiros, levou-o para casa. Tinha um negócio de balões de sondagem, que levara à metade do mundo com lucros excelentes, mas não conseguira fazer ninguém subir em Macondo, porque consideravam esse invento como um retrocesso, depois de terem visto e experimentado os tapetes voadores dos ciganos. Partia, pois, no próximo trem.Quando trouxeram para a mesa o salpicado cacho de bananas que costumavam pendurar na sala de jantar durante o almoço, arrancou a primeira fruta sem muito entusiasmo. Mas continuou comendo enquanto falava, saboreando, mastigando, mais com distração de sábio do que com deleite de comedor, mas ao terminar o primeiro cacho suplicou que trouxessem outro. Então, tirou da caixa de ferramentas sempre trazia consigo um pequeno estojo de aparelhos óticos. Com a incrédula atenção de um comprador de diamantes, minou meticulosamente uma banana, seccionando as suas partes com um estilete especial, pesando-as numa balancinha de farmacêutico e calculando a sua envergadura com um calibrador de armeiro. Em seguida, tirou da caixa uma série de instrumentos com os quais mediu a temperatura, o grau de umidade da atmosfera e a intensidade da luz. Foi uma cerimônia intrigante que ninguém comeu tranqüilo, esperando que Herbert emitisse por fim um juízo revelador, mas ele não disse nada que permitisse vislumbrar as suas intenções.
Nos dias seguintes foi visto com uma rede e um cestinho caçando borboletas nos arredores do povoado. Na quarta-feira, chegou um grupo de engenheiros, agrônomos, hidrólogos, topógrafos e agrimensores que, durante várias semanas, exploraram os mesmos lugares onde Mr. Herbert caçava borboletas.Mais tarde chegou o Sr. Jack Brown, num vagão suplementar que haviam enganchado no rabo do trem amarelo e era todo laminado de prata, com poltronas de veludo episcopal e teto de vidros azuis. No vagão especial chegaram também, voejando em torno do Sr. Brown, os solenes advogados vestidos de negro que em outra época tinham seguido por todas as partes o Coronel Aureliano Buendía, e isto fez o povo pensar que os agrônomos, hidrólogos, topógrafos e agrimensores, assim como Mr. Herbert com os seus balões de sondagem e as suas borboletas coloridas e o Sr. Brown com o seu mausoléu sobre rodas e os seus ferozes cães policiais, tinham coisa a ver com a guerra. Não houve, entretanto, muito para pensar no assunto, porque os desconfiados habitantes de Macondo mal começavam a se perguntar que diabo era o que estava acontecendo, quando já a aldeia se tinha transformado num acampamento de casas de madeira com tetos de zinco, povoado por forasteiros que chegavam de meio mundo no trem, não só nos bancos e nos estribos mas até no teto vagões. Os americanos, que depois trouxeram as suas mulheres lânguidas com roupas de musselina e grandes chapéus de gaze, fizeram uma aldeia à parte do outro lado da linha do trem, com ruas orladas de palmeiras, casas com janelas com tela metálica, mesinhas brancas nos terraços e ventiladores de pás pendurados no teto, e extensos prados azuis com pavões e codornas. O setor estava cercado por uma rede metálica, como um gigantesco galinheiro eletrificado que nos frescos meses de verão amanhecia negro de andorinhas esturricadas. Ninguém sabia ainda o que desejavam, ou se na verdade seriam apenas filantropos, e já tinham ocasionado um transtorno colossal, muito mais perturbador que o dos antigos ciganos, mas menos transitório e compreensível. Dotados de recursos que em outra época estavam reservados à Divina Providência, modificaram o regime das chuvas, apressaram o ciclo das colheitas, e tiraram o rio de onde sempre esteve e o puseram com as suas pedras brancas e as suas correntes geladas no outro extremo da povoação, atrás do cemitério. Foi nessa ocasião que construíram uma fortaleza de cimento armado sobre a descolorida tumba de José Arcadio, para que o cheiro de pólvora do cadáver não contaminasse as águas. Para os forasteiros que chegavam sem amor, transformaram a rua das carinhosas matronas da França num povoado mais extenso que o outro e, numa quarta-feira gloriosa, trouxeram um trem carregado de putas inverossímeis, fêmeas babilônicas adestradas em recursos imemoriais e providas de toda espécie de ungüentos e dispositivos para estimular os inertes, despertar os tímidos, saciar os vorazes, exaltar os modestos, desenganar os múltiplos e corrigir os solitários. A Rua dos Turcos, enriquecida com luminosos armazéns de comestíveis que expulsaram as velhas feiras de canários-da-terra, regurgitava nas noites de sábado com as multidões de aventureiros que se atropelavam entre as mesas de jogo, os balcões de tiro ao alvo, o beco onde se adivinhava o futuro e se interpretavam os sonhos, e as mesas de frituras e bebidas, que amanheciam no domingo esparramadas pelo chão, entre corpos que às vezes eram de bêbados felizes e quase sempre de curiosos abatidos pelos disparos, murros, navalhadas e garrafadas da briga. Foi uma invasão tão tumultuada e intempestiva que nos primeiros tempos era impossível andar na rua com o estorvo dos móveis e dos baús e com o trançar da carpintaria dos que erguiam as suas casas em qualquer terreno vazio sem a autorização de ninguém, e com o escândalo dos casais que penduravam as suas redes entre as amendoeiras e faziam o amor debaixo dos toldos, em pleno dia e na vista de todo mundo. O único reduto de serenidade foi estabelecido pelos pacíficos negros antilhanos, que construíram uma rua marginal com casas de madeira sobre estacas, em cujas portas se sentavam ao entardecer cantando hinos melancólicos na sua estropiada algaravia. Tantas mudanças ocorreram em tão pouco tempo que oito meses depois da visita de Mr. Herbert os antigos habitantes de Macondo se levantavam cedo para conhecer a sua própria aldeia.
— Olhem a confusão em que nos metemos — costumava então dizer o Coronel Aureliano Buendía — só por termos convidado um americano para comer banana.
Aureliano Segundo, em compensação, não cabia em si de contente com a avalancha de forasteiros. A casa se encheu de repente de hóspedes desconhecidos, de invencíveis farristas mundiais, e foi preciso acrescentar quartos no quintal, aumentar a sala de jantar e trocar a antiga mesa por uma de dezesseis lugares, com louça nova e talheres, e ainda assim foi necessário estabelecer turnos para almoçar. Fernanda teve que engolir os seus escrúpulos e atender como reis os convidados da pior condição, que enlameavam a varanda com as botas, urinavam no jardim, estendiam as suas esteiras em qualquer lugar para fazer a sesta e falavam sem se preocupar com suscetibilidades de damas nem com gestos de cavalheiros. Amaranta se escandalizou de tal modo com a invasão da plebe que voltou a comer na cozinha como nos velhos tempos. O Coronel Aureliano Buendía, convencido de que a maioria dos que entravam para cumprimentá-lo na oficina não o fazia por simpatia ou estima, mas pela curiosidade de conhecer uma relíquia histórica, um fóssil de museu, preferiu se fechar a chave e não voltou a ser visto a não ser em muito poucas ocasiões, sentado na porta da rua. Úrsula, em compensação, mesmo nos tempos em que já arrastava os pés e caminhava tateando nas paredes, experimentava um alvoroço pueril quando se aproximava a chegada do trem. “É pre ciso fazer carne e peixe”, ordenava às quatro cozinheiras que se estafavam para andar em tempo sob a imperturbável direção de Santa Sofía de la Piedad. “É preciso fazer de tudo”, insistia, “porque nunca se sabe o que os forasteiros querem comer.” O trem chegava na hora de mais calor. Ao almoço, a casa trepidava num alvoroço de mercado e os suarentos comensais, que nem sequer sabiam quem eram os seus anfitriões, irrompiam em tropel para ocupar os melhores lugares da mesa, enquanto as cozinheiras davam encontrões umas nas outras, com as enormes tigelas; de sopa, os alguidares de carnes, as gamelas de legumes, as travessas de arroz, e serviam com a concha inesgotáveis barris de limonada. Era tal a desordem, que Fernanda se exasperava com a idéia de que muitos comessem duas vezes, e em mais de uma ocasião quis se desabafar em impropérios de verdureira, porque algum comensal atônito pedia a conta. Mais de um ano se passara desde a visita de Mr. Herbert e a única coisa que se sabia era que os americanos pretendiam plantar bananeiras na região encantada que José Arcadio Buendía e os seus homens tinham atravessado, procurando a rota das grandes invenções. Outros dois filhos do Coronel Aureliano Buendía, com a sua cruz de cinza na testa, chegaram arrastados por aquele arroto vulcânico e justificaram a sua decisão com uma frase que talvez explicasse as razões de todos.
— Nós viemos — disseram — porque todo mundo vem.
Remedios, a bela, foi a única que permaneceu imune à peste da companhia bananeira. Estacou numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia, à desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples. Não entendia por que as mulheres complicavam a vida com camisetas e anáguas, de modo que coseu uma bata de aniagem que enfiava simplesmente pela cabeça e resolvia sem mais trâmites o problema de se vestir, sem desmanchar a impressão de estar nua, que no seu modo de entender as coisas era a única maneira decente de se estar em casa. Amolaram-na tanto para que cortasse o cabelo cascateante que já batia na barriga da perna e para que fizesse um coque preso com pentes e tranças com laços coloridos que simplesmente raspou a cabeça e fez perucas para os santos. O assombroso do seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda procurando a comodidade e quanto mais passava por cima dos convencionalismos em obediência à espontaneidade, mais perturbadora ficava a sua beleza inacreditável e mais provocante o seu comportamento para com os homens. Quando os filhos do Coronel Aureliano Buendía estiveram pela primeira vez em Macondo, Úrsula se lembrou de que levavam nas veias o mesmo sangue da bisneta e estremeceu com o horror esquecido. “Abra bem os olhos”, preveniu-a. “Com qualquer deles, os filhos sairão com rabo de porco.” Ela fez tão pouco-caso da advertência que se vestiu de homem e se espojou na areia para subir no paude-sebo e esteve a ponto de ocasionar uma tragédia entre os dezessete primos transtornados pelo insuportável espetáculo. Era por isso que nenhum deles dormia em casa quando visitavam o povoado, e os quatro que tinham ficado viviam às expensas de Úrsula em quartos alugados. Entretanto, Remedios, a bela, teria morrido de rir se tivesse sabido daquela precaução. Até o último instante em que esteve na Terra ignorou que o seu irreparável destino de fêmea perturbadora era uma desgraça cotidiana. Cada vez que aparecia na sala de jantar, contrariando as ordens de Úrsula, causava um pânico de exasperação entre os forasteiros. Era evidente demais que estava inteiramente nua sob a bata grosseira e ninguém podia entender que o seu crânio pelado e perfeito não fosse um desafio e que não fosse uma criminosa provocação o descaro com que descobria as coxas para aliviar o calor e o prazer com que chupava os dedos depois de comer com as mãos. O que nenhum membro da família jamais soube foi que os forasteiros não tardaram a perceber que Remedios, a bela, desprendia um hálito perturbador, uma brisa de tormento que continuava sendo perceptível várias horas depois de ela ter passado. Homens experimentados nos transtornos do amor, vividos no mundo inteiro, afirmavam não ter padecido nunca de uma ansiedade semelhante à que produzia o perfume natural de Remedios, a bela. Na varanda das begônias, na sala de visitas, em qualquer lugar da casa, se podia assinalar o lugar exato onde estivera e o tempo transcorrido desde que deixara de estar. Era um rastro definido, inconfundível, que ninguém da casa podia distinguir porque estava incorporado há muito tempo aos cheiros cotidianos, mas que os forasteiros identificavam imediatamente. Por isso eram eles os únicos que entendiam que o jovem comandante da guarda tivesse morrido de amor e que um cavaleiro vindo de outras terras tivesse caído em desespero. Inconsciente da aura inquietante em que se ria do insuportável estado de íntima calamidade que provocava à sua passagem, Remedios, a bela, tratava os homens sem menor a malícia e acabava de transtorná-los com as suas inocentes complacências. Quando Úrsula conseguiu impor a ordem de que comesse com Amaranta na cozinha, para que os forasteiros não a vissem, ela se sentiu mais cômoda, porque afinal de contas ficava a salvo de qualquer disciplina. Realmente, tanto fazia comer em qualquer lugar, e não em horas fixas, mas de acordo com as alternativas do seu apetite. Às vezes se levantava para almoçar às três da madrugada, dormia o dia inteiro, e passava vários meses com os horários trocados, até que algum incidente casual voltava a pô-la em ordem. Quando as coisas andavam melhor, levantava-se às onze da manhã e se trancava durante duas horas completamente nua no banheiro, matando escorpiões enquanto espantava o denso e prolongado sono. Em seguida, jogava água em si mesma tirando-a da caixa com uma cuia. Era um ato tão prolongado, tão meticuloso, tão rico de situações cerimoniais, quem não a conhecesse bem poderia pensar que estava entregue a uma merecida adoração do seu próprio corpo. Para ela, entretanto, aquele rito solitário carecia de qualquer sensualidade, e era simplesmente uma maneira de matar o tempo enquanto não sentia fome. Um dia, quando começava a se banhar, um forasteiro levantou uma telha do teto e ficou sem respiração diante do tremendo espetáculo de sua nudez. Ela viu os olhos aflitos através das telhas quebradas e não teve nenhuma reação de vergonha, mas sim de preocupação.
— Cuidado — exclamou. — Você vai cair.
— Só quero ver você — murmurou o forasteiro.
— Ah, bem — ela disse. — Mas tenha cuidado que essas telhas estão podres.
O rosto do forasteiro tinha uma dolorosa expressão de espanto e parecia lutar surdamente contra os seus impulsos primários, para não dissipar a miragem. Remedios, a bela, pensou que ele sofria de medo de que as telhas quebrassem e se banhou mais depressa do que de costume, para que o homem não contin uasse em perigo. Enquanto se jogava água, disse a ele que era um problema que o teto estivesse naquele estado, pois ela acreditava que a camada de folhas apodrecidas pela chuva era o que enchia o banheiro de escorpiões. O forasteiro confundiu aquela conversa com uma forma de dissimular a complacência, de modo que quando ela começou a se ensaboar cedeu à tentação de dar um passo adiante.
— Deixe-me ensaboá-la — murmurou.
— Agradeço a sua boa intenção — disse ela — mas posso perfeitamente fazê-lo sozinha com as minhas duas mãos.
— Só as costas — suplicou o forasteiro.
— Seria um desperdício — ela disse. — Nunca se viu ninguém ensaboar as costas.
Depois, enquanto se enxugava, o forasteiro implorou com os olhos cheios de lágrimas que se casasse com ele. Ela lhe respondeu sinceramente que nunca se casaria com um homem tão bobo que perdia quase uma hora, e até ficava sem almoçar, só para ver uma mulher tomar banho. Por fim, quando vestiu a bata, o homem não pôde suportar a comprovação de que realmente não usava nada embaixo, como todo mundo suspeitava, e se sentiu marcado para sempre com o ferro ardente daquele segredo. Então arrancou mais duas telhas para se atirar no interior do banheiro.
— É muito alto! — ela o preveniu assustada. — Você vai se matar!
continua página 146...
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