segunda-feira, 24 de julho de 2023

Marcel Proust - No Caminho de Swann (E minha mãe abriu a porta - e)

em busca do tempo perdido

volume I
No Caminho de Swann


ao senhor gaston calmette
como um testemunho de profundo e afetuoso reconhecimento
— marcel proust



combray


I(e) 

E minha mãe abriu a porta gradeada do vestíbulo que dava para a escada. Dali a pouco, ouvi-a subir para fechar a janela. Dirigi-me sem ruído para o corredor; meu coração batia tão forte que eu tinha dificuldade de andar, mas ao menos já não batia agora de ansiedade, mas de terror e de alegria. Vi no vão da escada a luz que projetava a vela de mamãe. Vi-a, depois, a ela própria; precipitei-me. No primeiro segundo, ela me olhou com assombro, sem compreender o que se passava. Depois seu rosto tomou uma expressão de cólera; não me dizia uma única palavra e, com efeito, por muito menos que aquilo, já tinham passado dias sem falar comigo. Se mamãe me tivesse dito qualquer coisa, seria admitir que podiam tornar a falar-me, e, aliás, isso talvez me parecesse ainda mais terrível, como um sinal de que, ante a gravidade do castigo que se preparava, o silêncio e a zanga seriam coisas pueris. Uma palavra seria a tranquilidade com que se responde a um criado quando se está resolvido a despachá-lo, o beijo que se dá em um filho ao mandá-lo para o quartel e que se lhe teria negado se tudo se limitasse a uma desavença de dois dias. Mas mamãe ouviu meu pai que subia do gabinete de toalete aonde fora despir-se, e, para evitar a cena que ele me faria, disse-me em uma voz entrecortada pela cólera:

— Anda, vai-te, que ao menos o teu pai não te veja aqui esperando como um tolo! 

Mas eu lhe repetia: 

— Vem dar-me boa-noite — aterrorizado ao ver que o reflexo da vela de meu pai já se elevava na parede, mas também aproveitando-me de sua aproximação como de um meio de chantagem, na esperança de que mamãe, para que meu pai não me encontrasse ainda ali se ela insistisse em sua recusa, afinal me dissesse: “Volta para o teu quarto, que eu já vou lá”. Era tarde, muito tarde, meu pai estava diante de nós. Sem querer murmurei estas palavras que ninguém ouviu: “Estou perdido!”. 

Mas não foi assim. Meu pai, constantemente, me negava regalias que me haviam sido concedidas nos pactos mais generosos outorgados por minha mãe e minha avó, isso porque pouco se lhe dava dos “princípios” e com ele não havia “direito das gentes”. Por um motivo contingente, ou até sem motivo, suprimia-me no último instante um passeio já tão habitual, tão consagrado, que dele não me poderiam privar sem perjúrio, ou então, como ainda o fizera naquela mesma noite, dizia-me: “Anda, vai deitar-te, nada de desculpas!”. Mas precisamente porque não tinha princípios (no sentido de minha avó), tampouco se lhe poderia atribuir intransigência. Olhou-me um momento, com um ar atônito e agastado, e, depois que mamãe, com algumas palavras embaraçadas, explicou-lhe o que acontecera, retrucou-lhe:

— Pois então vai com o menino, já que dizias que não tinhas sono; fica um pouco no quarto dele, eu não tenho necessidade de nada.

— Mas, meu caro — respondeu timidamente minha mãe —, que eu tenha ou não vontade de dormir, isso não altera em nada as coisas. O que não se pode é habituar esse menino.

— Mas não se trata de habituar — disse meu pai, dando de ombros —, bem vês que esse pequeno está aflito, tem um ar desolado essa criança; vejamos, afinal de contas nós não somos carrascos! Muito terás adiantado, depois que o fizeres adoecer! Como há duas camas no seu quarto, manda Françoise preparar-te a grande e deita esta noite perto dele. Bem, boa-noite, eu que não sou tão nervoso como vocês, vou deitar-me.

Não se podia agradecer a meu pai, seria irritá-lo com o que ele chamava de pieguices. Não me atrevia a fazer um movimento; estava ainda ali diante de nós, alto, com seu branco roupão de dormir e a manta roxa e cor-de-rosa de casimira da Índia que costumava enrolar à cabeça desde que sofria de nevralgias, na mesma atitude com que Abraão, na gravura segundo Benozzo Gozzoli que me dera o sr. Swann, dizia a Sara que se separasse de Isaac.[1] Faz muitos anos isso. A parede da escada, onde vi subir o reflexo de sua vela, já não existe há muito. Em mim, também, foram destruídas muitas coisas que julgava iriam durar para sempre, e novas coisas se edificaram, dando nascimento a penas e alegrias novas, que eu não poderia prever então, da mesma forma que as antigas se me tornaram difíceis de compreender. Faz também muito tempo que meu pai já deixou de poder dizer a mamãe: “Vai com o pequeno”. Jamais renascerá para mim a possibilidade de tais horas. Mas desde algum tempo que recomeço a perceber muito bem, se presto ouvidos, os soluços que tive então a coragem de conter diante de meu pai e que só rebentaram quando me encontrei a sós com mamãe. Na realidade jamais cessaram; e somente porque a vida vai agora mais e mais emudecendo em redor de mim é que os escuto de novo, como os sinos de convento, tão bem velados durante o dia pelos ruídos da cidade, que parece que pararam, mas que se põem a tanger no silêncio da noite.

Mamãe passou aquela noite em meu quarto; no momento em que acabava de cometer uma falta tão grande que esperava ser obrigado a deixar a casa, meus pais me concediam mais do que eu nunca teria obtido deles como recompensa de uma boa ação. E até na hora em que se manifestava por aquele ato de graça, o procedimento de meu pai para comigo conservava esse quê de arbitrário e imerecido que o caracterizava e que provinha de que em geral sua atitude obedecia antes a circunstâncias fortuitas que a um plano premeditado. Talvez até aquilo a que eu chamava sua severidade, quando me mandava deitar, merecesse menos esse nome do que a severidade de minha mãe ou de minha avó, pois a natureza de meu pai, mais diferente da minha em certos pontos do que a natureza delas, provavelmente não havia adivinhado até então o quanto eu sofria todas as noites, coisa que minha mãe e minha avó muito bem sabiam: mas as duas me amavam o bastante para não consentir que me fosse poupado o sofrimento, pois queriam ensinar-me a dominá-lo, a fim de diminuir minha sensibilidade nervosa e fortalecer minha vontade. Quanto a meu pai, cuja afeição por mim era de outra espécie, não sei se teria ele tal coragem: logo que compreendeu que eu sofria, dissera a minha mãe: “Vai consolá-lo”. Mamãe ficou aquela noite em meu quarto e, como para não prejudicar com nenhum remorso aquelas horas tão diferentes das que eu tinha o direito de esperar, quando Françoise, ao compreender que se passava alguma coisa de extraordinário, ao ver mamãe sentada junto de mim, com a minha mão na sua e deixando-me chorar sem ralhar-me, perguntou-lhe: “Mas senhora, que tem o patrãozinho para chorar assim?”, e mamãe lhe respondeu: “Nem ele mesmo o sabe, Françoise, está nervoso; prepare-me depressa a cama grande e vá deitar-se”. Assim, pela primeira vez, minha tristeza não era mais considerada como uma falta punível, mas como um mal involuntário que acabavam de reconhecer oficialmente, como um estado nervoso de que eu não era responsável: fora-me dado o consolo de não ter de mesclar nenhum escrúpulo à amargura de minhas lágrimas, podia chorar sem pecado. Também não era pequeno meu orgulho perante Françoise, por aquela reviravolta das coisas humanas, que, uma hora depois que mamãe se recusara a subir a meu quarto e me mandara desdenhosamente dizer que dormisse, me elevava assim à dignidade de adulto, fazendo-me atingir de súbito uma espécie de puberdade do sofrimento, de emancipação das lágrimas. Deveria sentir-me feliz e não o era. Parecia-me que minha mãe acabava de me fazer uma primeira concessão que lhe deveria ser dolorosa, que era uma primeira abdicação de sua parte ao ideal que concebera para mim, e que pela primeira vez, ela, tão corajosa, se confessava vencida. Que, se eu havia alcançado uma vitória, era contra ela, que lhe conseguira quebrantar o ânimo e dominar a razão como o teriam feito a doença, o sofrimento ou a velhice, e que aquela noite encetava uma nova era e ficaria como uma triste data. Se tivesse coragem, diria então a mamãe: “Não, eu não quero, não durmas aqui”. Mas conhecia aquela sabedoria prática, realista como se diria hoje, que temperava, na sua pessoa, a natureza ardentemente idealista de minha avó, e sabia que, agora que o mal estava feito ela preferia deixar-me ao menos sentir seu prazer calmante e não incomodar meu pai. Por certo, o belo rosto de minha mãe ainda brilhava de juventude naquela noite em que me prendia tão docemente as mãos e procurava estancar o pranto; mas parecia-me que não deveria ser assim, que sua cólera me deveria ser menos triste do que aquela recente brandura que minha infância desconhecera; e que, com mão sacrílega e furtiva, eu acabava de traçar-lhe na alma a primeira ruga e de ali fazer surgir o primeiro fio de cabelo branco. Esta ideia redobrou meus soluços e então vi mamãe, que nunca se deixava arrastar comigo a excessos sentimentais, dominada de súbito por minha comoção e tentando reter o desejo de chorar. Como sentisse que eu o havia notado, disse-me a rir: “Olha só o meu canarinho, que já ia tornando a sua mamãe tão boba como ele! Vamos a ver, já que não tens sono, nem tua mamãe tampouco, deixemos de nervos, façamos alguma coisa, vamos pegar um dos teus livros”. Mas eu ali não tinha nenhum. “Será que ficarias menos contente se eu te mostrasse desde já os livros que tua avó iria dar-te no dia dos teus anos? Pensa bem: não ficarás decepcionado quando não receberes nada depois de amanhã?” Eu estava, pelo contrário, encantado, e mamãe foi buscar um pacote de livros que, através do papel que os envolvia, só me deixavam adivinhar seu formato oblongo, mas que sob esse primeiro aspecto, embora sumário e velado, já eclipsavam a caixa de tintas do Primeiro do Ano e os bichos-da-seda do ano passado. Eram La mare au diable, François le Champi, La petite Fadette e Les maîtres sonneurs.[2] Minha avó, como depois vim a saber, escolhera primeiro as poesias de Musset, um volume de Rousseau e Indiana:[3] pois, se julgava as leituras fúteis tão prejudiciais como os bombons e os bolos, não pensava que os grandes sopros do gênio tivessem sobre o espírito, ainda que fosse o de uma criança, uma influência mais perigosa e menos vivificante do que, em seu corpo, o ar livre e o vento do largo. Mas como meu pai quase a tivesse tratado de louca ao saber dos livros que queria me dar, ela própria voltara à livraria de Jouy-le-Vicomte para que eu não corresse o risco de ficar sem presente (fazia um dia escaldante e regressara tão mal que o médico advertiu minha mãe de que não a deixasse fatigar-se daquela maneira) e se atirara aos quatro romances campestres de George Sand. “Minha filha”, dizia ela a mamãe, “eu nunca seria capaz de dar a esse menino qualquer coisa de mal escrito.”

Na verdade, jamais se resignava a comprar qualquer objeto de que não se pudesse tirar algum proveito intelectual e sobretudo o que nos proporcionam as coisas belas, ensinando-nos a buscar deleite em outra parte que não nas satisfações do bem-estar e da vaidade. Até quando tinha de fazer algum presente chamado útil, quando tinha de dar uma poltrona, um serviço de mesa, uma bengala, procurava-os “antigos”, como se, havendo seu longo desuso apagado em tais coisas o caráter de utilidade, parecessem antes destinadas a contar a vida dos homens de outrora que a atender às necessidades de nossa vida atual. Gostaria que eu tivesse no quarto fotografias dos mais belos monumentos ou paisagens. Mas, no momento de fazer a compra, e embora a coisa representada tivesse um valor estético, achava ela que a vulgaridade, a utilidade, logo reassumiriam seu lugar, pelo processo mecânico de representação, a fotografia. Procurava então um subterfúgio, tentando, se não eliminar de todo a vulgaridade comercial, pelo menos atenuá-la, substituí-la o mais possível pelo que ainda fosse arte, introduzir-lhe como que várias “espessuras” de arte: em vez de fotografias da catedral de Chartres, das fontes de Saint-Cloud, do Vesúvio, informava-se com Swann se algum grande mestre não os havia pintado, e preferia dar-me fotografias da catedral de Chartres por Corot, das fontes de Saint-Cloud por Hubert Robert, do Vesúvio por Turner, o que constituía um grau de arte a mais.[4] Mas, se o fotógrafo era assim eliminado da representação da obra-prima ou da natureza e substituído por um grande artista, reassumia contudo seus direitos ao reproduzir aquela interpretação. E, tendo chegado ao último reduto da vulgaridade, minha avó ainda assim procurava afastá-la. Perguntava a Swann se a obra não fora gravada, preferindo, quando possível, gravuras antigas e que tivessem um interesse para além de si mesmas, por exemplo as que representam uma obra-prima em um estado em que não mais podemos vê-la hoje (como a gravura da Ceia de Leonardo, por Morghen, antes de sua deterioração).[5] Cumpre dizer que os resultados dessa maneira de exercer a arte de dar presentes nem sempre foram dos mais brilhantes. A ideia que fiz de Veneza segundo um desenho de Ticiano que tinha por fundo a laguna era por certo muito menos exata do que a fornecida por simples fotografias. Já nos era impossível calcular, quando minha tia queria fazer um requisitório contra minha avó, as poltronas por ela oferecidas a um parzinho recente ou a velhos casais e que, à primeira tentativa para se servirem delas, logo desabavam sob o peso de algum dos destinatários. Mas minha avó teria julgado mesquinho preocupar-se muito com a solidez de um móvel onde ainda se distinguiam uma flor, um sorriso, às vezes uma bela imaginação do passado. Até aquilo que nesses móveis correspondia a uma necessidade, como se apresentasse de uma feição a que estávamos desabituados, a encantava como esses antigos modos de dizer em que descobrimos uma metáfora, apagada, em nossa linguagem atual, pelo desgaste do hábito. Ora, exatamente da mesma forma, os romances campestres de George Sand que ela me dava de presente eram como um mobiliário antigo, e estavam cheios de expressões caídas em desuso, convertidas em imagens, e que não se encontram mais senão no campo. E minha avó comprava-os de preferência a outros, como teria alugado com mais gosto uma propriedade onde houvesse um pombal gótico ou qualquer uma dessas velhas coisas que exercem no espírito uma feliz influência, dando-lhe a nostalgia de impossíveis viagens pelo tempo.

Minha mãe sentou-se junto ao meu leito: tomara François le Champi, cuja capa avermelhada e incompreensível título lhe emprestavam, para mim, uma personalidade distinta e um misterioso atrativo. Ainda não tinha lido verdadeiros romances. Ouvira dizer que George Sand era o tipo do romancista. O que já me predispunha a imaginar em François le Champi alguma coisa de indefinível e delicioso. Os processos narrativos destinados a excitar a curiosidade ou a emoção, certas maneiras de dizer que despertam sentimentos de inquietude ou melancolia e que um leitor medianamente instruído reconhece como comuns a muitos romances, a mim me pareciam únicos — pois considerava um livro novo, não como uma coisa que tivesse muitos semelhantes, mas como uma pessoa particular, que em si mesma tivesse a razão de existir —, uma perturbadora emanação da essência peculiar a François le Champi. Naqueles acontecimentos tão cotidianos, naquelas coisas tão comuns, eu sentia como que uma entonação, um estranho acento. A ação desenrolou-se; e tanto mais obscura se me afigurou visto que eu, naquele tempo, quando lia, cismava muitas vezes, durante páginas inteiras, em coisas muito diferentes. E, às lacunas que essa distração abria na história, acrescentava-se, quando era mamãe que lia para mim em voz alta, a circunstância de que ela saltava todas as cenas de amor. E, assim, todas as esquisitas mudanças, que ocorriam na atitude respectiva da moleira e do menino e que só têm explicação nos progressos de um amor nascente, se me apresentavam impregnadas de profundos mistérios, cuja fonte eu imaginava estar nesse nome desconhecido e tão suave de “Champi”, nome que dava, sem que eu soubesse por que, ao menino que o usava, a sua cor viva, purpúrea e encantadora. Minha mãe, se não era uma leitora fiel, também não deixava de ser, para as obras onde encontrasse a marca de um sentimento verdadeiro, uma leitora admirável quanto ao respeito e simplicidade da interpretação, e a beleza e suavidade do tom. Mesmo na vida, quando eram pessoas e não obras de arte que assim lhe despertavam ternura ou admiração, comovia a delicadeza com que afastava ela da voz, dos gestos, das palavras qualquer rompante de alegria que pudesse fazer mal àquela mãe que outrora perdera um filho, qualquer referência a festa ou aniversário que lembrasse a este velho a sua avançada idade, qualquer assunto caseiro que acaso parecesse fastidioso a algum jovem sábio. Da mesma forma quando lia a prosa de George Sand, que respirava sempre essa bondade e distinção moral que mamãe aprendera de minha avó a considerar como superior a tudo na vida, e que só muito mais tarde eu deveria ensinar-lhe a não ter igualmente por superior a tudo nos livros, atenta em banir da voz toda trivialidade, toda afetação que pudessem servir de obstáculo àquela poderosa onda, dava toda a ternura natural, toda a ampla doçura que exigiam, àquelas frases que pareciam escritas para a sua voz e que, por assim dizer, cabiam inteiras no registro de sua sensibilidade. Para atacálas no devido tom, sabia encontrar o acento cordial que lhes preexiste e que as ditou, mas que as palavras não indicam: graças a ele, amortecia de passagem toda a rudeza nos tempos dos verbos, dava ao imperfeito e ao pretérito perfeito a doçura que há na bondade, a melancolia que há na ternura, encaminhava a frase que ia findando para aquela que ia começar, ora acelerando, ora retardando a marcha das sílabas, para fazê-las entrar, embora diferissem de quantidade, em um ritmo uniforme, e insuflava àquela prosa tão comum uma espécie de vida sentimental e contínua.

Meus remorsos estavam agora acalmados, eu me abandonava à doçura daquela noite em que tinha mamãe junto de mim. Sabia que uma noite daquelas não poderia se repetir: que o meu maior desejo no mundo, ter mamãe comigo no quarto durante aquelas tristes horas noturnas, era por demais contrário às necessidades da vida e ao sentir de todos, para que a realização que lhe fora concedida naquela noite não pudesse ser mais que uma coisa fictícia e excepcional. Amanhã recomeçariam as minhas angústias e mamãe não estaria ali comigo. Mas quando essas angústias estavam em sossego, eu já não as compreendia; e depois, a noite seguinte ainda era coisa muito remota; dizia comigo que teria tempo de ponderar, embora esse tempo não me acrescentasse nenhum poder, que se tratava de coisas independentes de minha vontade e que só o intervalo que ainda as separava de mim as fazia parecer mais evitáveis.


continua na página 42...
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Leia também:

Volume 1
Volume 2
Volume 3
Volume 4
Volume 5
Volume 6
Volume 7

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[1]  Benozzo Gozzoli (1420?-97) pintou afrescos representando 23 cenas do Antigo Testamento no cemitério de Pisa. Entre eles, uma série que tem por tema A vida de Abraão. O gesto evocado por Proust não aparece nesses afrescos. [n. e.]
[2] Romances campestres de George Sand. François le Champi, que a mãe lerá para ele, remete justamente ao amor incestuoso entre o filho e sua mãe adotiva. [n. e.]
[3] Bastante diferente dos outros quatro romances anteriormente citados, Indiana (1832) é obra de juventude de George Sand e narra paixões, adultérios e suicídios. [n. e.]
[4] Em pesquisa do jornal Opinion, de 1920, o quadro Catedral de Chartres, de Jean-Baptiste Corot (1796-1876), é escolhido por Proust para integrar a tribuna francesa da pintura, no Louvre. O pintor Hubert Robert (1733-1808) pintou vários quadros com o motivo das fontes. Proust admirava muito a obra do pintor inglês William Turner (1775-1851). Considerado precursor do Impressionismo, pintou aquarelas do Vesúvio entre os anos de 1815 e 1819. [n. e.]
[5]  Raphaël Morghen (1758-1833), gravador em Florença, foi encarregado pelo duque de Toscana Fernando iii a gravar a Ceia de Leonardo da Vinci a partir de um desenho de Teodoro Matteini. O original, pintado a óleo sobre a parede do refeitório de monges dominicanos do monastério de Santa Maria das Graças, em Milão, foi inteiramente pintado sob pretexto de restauração, entre os anos de 1726 e 1770. [n. e.]

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