segunda-feira, 24 de julho de 2023

Marcel Proust - À Sombra das Moças em Flor (Ao Redor da Sra. Swann - e)

em busca do tempo perdido

volume II
À Sombra das Moças em Flor


Ao Redor da Sra. Swann


(e)

continuando...

Fiquei falando no conde de Paris, perguntando se não seria amigo de Swann, pois temia que a conversa se desviasse dele.

- Sim, de fato é – contestou o Sr. de Norpois voltando-se para mim e fixando em minha modesta pessoa, onde flutuavam, como seu elemento vital, suas grandes faculdades de trabalho, seu espírito de assimilação.- E, meu Deus - acrescentou, dirigindo-se de novo a meu pai _ não creio passar dos limites do respeito de que faço profissão pelo príncipe (sem, no entanto, manter com ele relações pessoais que fariam difícil a minha situação, por menos oficial que seja) se lhe contar um fato bem picante em que, há não mais de quatro anos, numa estaçãozinha de estrada de ferro de um dos países da Europa central, o príncipe teve oportunidade de ver a Sra. Swann. Certamente, nenhum dos íntimos de Sua Alteza se permitiu lhe indagar como a havia encontrado. Não seria oportuno. Mas quando, por acaso, a conversação tocava no nome dela, por alguns sinais, imperceptíveis se quiserem, mas que não enganam ninguém, o príncipe parecia dar a entender de bom grado que sua impressão, em suma, fora longe de ser desfavorável.

- Mas não haveria possibilidade de apresentá-la ao conde de Paris? - perguntou meu pai.

- Ora, não sei; com os príncipes nunca se sabe. - respondeu o Sr. de Norpois-; os mais gloriosos, os que sabem render ao máximo o que se lhes deve, são também, às vezes, os que menos se atrapalham com os decretos da opinião pública, mesmo os mais justificados, por pouco que se cuide de recompensar determinadas afeições. Ora, é certo que o conde de Paris aceitou sempre com muita benevolência o devotamento de Swann, que é, aliás, um rapaz de espírito como poucos. 

- E qual foi sua impressão pessoal, senhor embaixador? - Indagou minha mãe por polidez e curiosidade.

Com a energia de um velho conhecedor que contrastava com a moderação habitual de suas frases: 

- Excelente! - respondeu o Sr. de Norpois.

E, sabendo que a confissão de uma forte impressão causada por alguma mulher, desde que feita com humor, toma parte de uma certa forma bastante apreciada do espírito da conversa, ele desatou num pequeno riso que se prolongou durante alguns instantes, umedecendo os olhos azuis do velho diplomata e fazendo vibrar suas narinas, nervuradas de fibrilas rubras.

- Ela é absolutamente encantadora! 

- Por acaso, senhor, um escritor de nome Bergotte estava presente? - argui timidamente, para tentar manter a conversa sobre o assunto dos Swann. 

-Sim, Bergotte estava lá - respondeu o Sr. de Norpois, inclinando a cabeça para o meu lado com polidez, como se, no seu desejo de ser amável com meu pai, atribuísse verdadeira importância a tudo que lhe dissesse respeito, mesmo às perguntas de um menino da minha idade e que não estava habituado a ser tratado com tanta delicadeza pelas pessoas da idade do embaixador.

-Conhece-o? - acrescentou, fixando em mim o olhar claro cuja agudeza Bismarck admirava.

- Meu filho não o conhece, mas o admira muito. - disse minha mãe.

- Meu Deus! - exclamou o Sr. de Norpois (que me inspirou, à própria inteligência, dúvidas mais sérias do que as que me atormentavam, quando vi que aquele que punha milhares e milhares de vezes acima, aquele que eu julgava ser o máximo em todo o mundo, achava-se, para ele num ponto bem inferior em sua escala de admirações) - não partilho dessa opinião. Bergotte é o que chamo um tocador de flauta; de resto, deve-se reconhecer que toca de modo agradável, embora com bastante maneirismo e afetação. Não passa disto e isto, não é lá grande coisa. Em suas obras sem músculos se encontra o que se poderia denominar um plano. Nada de ação; ou til e principalmente nenhuma dimensão. Seus livros pecam pela base, ou não têm base nenhuma. Numa época feito a nossa, onde a complexidade da vida, mal deixa tempo para ler; onde o mapa da Europa sofre remanejamentos profundos e está às vésperas de sofrer talvez ainda maiores; onde tantos ameaçadores novos, se colocam em toda parte; hão de concordar que temos o direito de pedir a um escritor, para ser algo mais do que um belo espírito faça esquecer; nas discussões ociosas e bizantinas acerca dos méritos de pura forma; que podemos ser invadidos a qualquer instante por uma dupla tropa de bárbaros, os de fora e os de dentro. Sei que isto é blasfemar contra a sacro - daquilo que esses senhores denominam a Arte pela Arte, mas não existem tarefas mais urgentes do que agenciar palavras de maneira harmoniosa e a maneira de Bergotte é às vezes, bem sedutora, não nego; mas, em suma, tudo isso aí, está afetado, é muito frágil e bem pouco viril. Agora compreendo melhor, repor à sua admiração totalmente exagerada por Bergotte, as breves linhas que trouxe há pouco e sobre as quais passei os olhos por alto, já que você me disse com toda a simplicidade, que eram apenas rabiscos de criança (eu o disse, mas absolutamente não pensava assim). Misericórdia a todo pecado, aos pecados da juventude. Afinal, outros na mocidade também têm pecados na consciência, e você não é o único a se julgar poeta na sua idade. Mas, nota-se a má influência de Bergotte. Evidentemente, não lhe causarei surpresa dizendo que não havia no seu escrito, nenhuma de suas qualidades, pois é consumado na arte, aliás bastante superficial, de um certo estilo cujos valores você não poderia possuir na sua idade. Porém, os defeitos são os mesmos, já apresenta o mesmo contrassenso de alinhar umas atrás das outras palavras muito sonoras e só depois se preocupar com o sentido. É colocar o carro adiante dos bois. Até nos livros de Bergotte, chinesices de forma, essas sutilezas de mandarim decadente me parece vãs. Diante de alguns fogos de artifício, agradavelmente lançados por alguém - já gritam todos que se trata de uma obra-prima. As obras-primas não são frequentes assim! Bergotte não tem no seu ativo, em sua bagagem, poderia se dizer, um romance de impulso um tanto mais alto, um desses livros que se destaque numa biblioteca. Não vejo um só em sua obra. O que não impede que, em seu caso, a obra seja infinitamente superior ao autor. Ah! Eis alguém que dá desafio ao homem de espírito, que achava que só se devem conhecer os escritores pelos seus livros. Impossível ter um indivíduo que corresponda menos aos seus, reais pretensiosos, mais solene, menos um sujeito de boa companhia. Vulgar em certos momentos, falando em outros como um livro, e até nem mesmo como um livro seu, mas como um livro tedioso, o que ao menos não são os de sua autoria: assim é Bergotte. É um espírito dos mais confusos, alambicado, aquilo que os nossos pais chamavam um empolado, e que torna ainda mais desagradáveis as coisas que diz, pela forma de enunciá-las. Não sei se é Loménie ou Saint-Beuve quem conta que Vigny padecia do mesmo defeito. Porém Bergotte nunca escreveu o Cinq-Mars, nem Le Cachet Rouge, onde algumas páginas são verdadeiros trechos antológicos.

Apavorado pelo que o Sr. de Norpois acabara de dizer acerca do fragmento que lhe submetera, imaginando, por outro lado, as dificuldades que teria quando quisesse escrever um ensaio, ou simplesmente me entregar à reflexões sérias, senti mais uma vez a minha nulidade intelectual e percebi que não nascera para a literatura. Antigamente, em Combray, sem dúvida certas impressões muito humildes, ou uma leitura de Bergotte, me haviam posto num estado de devaneio que me parecera ser muito valioso. Mas, esse estado, meu poema-em-prosa o refletia; e, sem dúvida alguma, se o Sr. de Norpois não descobrira e percebera de imediato aquilo que eu julgava belo apenas devido a uma miragem totalmente enganosa, era porque não se deixava iludir. Ao contrário, acabava de me ensinar quão ínfima era minha posição (quando eu era julgado do exterior, objetivamente, pelo conhecedor mais aparelhado e esclarecido). Sentia-me consternado, diminuído; e meu espírito, como um fluido que só possui as dimensões do vaso que o contém, assim como se dilatara antigamente para preencher as imensas capacidades do gênio, agora, contraído, cabia todo na estreita mediocridade em que o Sr. de Norpois o trancara e restringira. 

-As relações entre mim e Bergotte - acrescentou, voltando-se para meu pai - não deixaram de ser espinhosas (o que, afinal de contas, é uma forma de serem também divertidas). Há alguns anos, Bergotte fez uma viagem à Viena, quando eu era embaixador ali; foi-me apresentado pela princesa de Metternich, foi inscrever-se na embaixada e mostrou vontade de ser recebido em suas festas. Ora, eu representante da França no estrangeiro, à qual em certa medida ele honra seus escritos, digamos, para sermos exatos, numa medida bastante fraca, teria que passar por alto a triste opinião que tenho sobre sua vida privada. Mas ele viajava sozinho e, além do mais, tinha a pretensão de ser convidado com sua companheira. Não creio ser mais pudico do que outro qualquer e, sendo celibatário, talvez abrir um pouco mais amplamente as portas da Embaixada do que se fosse casado e pai de família. Não obstante, confesso que há um grau ao qual não saberia me acomodar, e que se torna ainda mais repulsivo mais que moral, falemos claro, moralizador, que assume Bergotte em si, onde só se veem análises perpétuas e, cá entre nós, um tanto frágeis; dolorosos remorsos doentios e, como simples pecados, verdadeiras gafes (sabemos por experiência própria), enquanto mostra tamanha inconsequência de cinismo em sua vida privada. Em suma, evitei a resposta, a princesa voltou porém sem maior êxito. De modo que julgo não estar muito em valor junto a este personagem, e não sei até que ponto ele apreciou a atenção de Swann em convidá-lo ao mesmo tempo que a mim. A não ser que ele mesmo o tenha pedido, quem pode saber, pois no fundo é uma pessoa doente. Esta é mesmo sua única desculpa.

-E a filha da Sra. Swann estava nesse jantar? - perguntei ao Sr. de Norpois, aproveitando para fazer essa pergunta num momento em que íamos para o salão, assim, podia mais facilmente dissimular minha emoção, o que não podia fazer à mesa, imóvel e em plena luz. 

O Sr. de Norpois pareceu por um momento procurar lembrar-se. 

- Sim, uma jovenzinha de catorze ou quinze anos? De fato, lembro-me que me foi apresentada antes do jantar como a filha do nosso anfitrião. A vi pouco, pois foi se deitar cedo. Ou ia à casa de uma amiga, não me recordo exatamente. Mas vejo que está bem a par dos Swann.

-Jogo com a Srta. Swann nos Champs-Élysées; é delicioso! 

-Aí está! Aí está! Mas a mim, de fato, me pareceu encantadora. Entretanto, confesso que ela nunca chegará aos pés da sua mãe, se é que posso dizer isso sem lhe ferir um sentimento bastante vivo.

- Prefiro a fisionomia da Srta. Swann, mas também admiro sua mãe; vou passear no Bois somente na esperança de vê-la passar.

-Ah, mas eu vou lhes dizer isto; vão ficar muito lisonjeadas.

Enquanto falava assim, o Sr. de Norpois estava, por alguns momentos ainda, na situação das pessoas que, ouvindo-me falar de Swann como homem inteligente; seus pais como honrados corretores de câmbio; tal como uma bela residência, acreditavam que falaria também de outro homem tão inteligente, de outros corretores de câmbio tão honrados e outra casa tão bonita; é o momento em que um homem de espírito são; e não como um louco, ainda que não se dê conta de que está falando com um. Norpois sabia que não há nada tão natural como o prazer de observar as bonitas coisas e que é bem-educado, quando alguém nos fala com calor de uma impressão de crer que ele está apaixonado, de brincar com ele e proteger seus propósitos. Porém, dizendo que falaria de mim à Gilberte que me permitiria, como uma divindade do Olimpo que assumiu a fluidez de um sopro, ou melhor, o aspecto de um velho de quem Minerva tomou a fisionomia; penetrar eu mesmo, invisível, no salão da Sra. Swann, atrair sua atenção, ocupar seus pensamentos, excitar sua gratidão pela minha admiração; aparecer-lhe como o amigo de um homem importante, parecer-lhe no futuro digno de ser convidado por ela e de entrar na intimidade de sua família), este homem importante que ia usar em meu benefício o grande prestígio que devia ter aos olhos da Sra. Swann, inspirou-me de súbito uma ternura tão grande que mal pude me conter em não beijar suas doces mãos brancas e engelhadas, que pareciam ter ficado muito tempo dentro d'água. Quase esbocei o gesto, que imaginei ter sido o único a notar. Com efeito, é difícil a cada um de nós calcular exatamente em que escala as palavras e os movimentos aparecem aos outros; de medo de exagerarmos nossa importância e aumentando em enormes proporções o campo em que são obrigadas a se estender as lembranças dos outros no decurso de sua vida, imaginamos que as partes acessórias de nosso discurso, de nossas atitudes, mal penetram na consciência das pessoas com quem conversamos, pela mais forte razão de que não permanecem em sua memória. Aliás, é a uma suposição desse tipo que se submetem os criminosos quando retocam mais tarde uma frase que disseram, variante que, pensam, ninguém poderá confrontar com qualquer outra versão. 

Mas é bem possível que, mesmo no que concerne à vida milenária da humanidade, a filosofia do folhetinista, segundo a qual tudo está fadado ao esquecimento, seja menos verdadeira que uma filosofia contrária, que preveja a conservação de todas as coisas. No mesmo jornal em que o moralista dos editoriais nos fala de um acontecimento, de uma obra-prima, e, com maior razão, de uma cantora que teve "seu instante de celebridade": "Quem se lembrará de tudo isto dentro de dez anos?"; na terceira página, a recessão da Academia das Inscrições não fala muitas vezes de um fato por si mesmo menos importante, de um poema de pouco valor, que data da época dos faraós e que agora é conhecido integralmente? Talvez não ocorra exatamente o mesmo na curta vida humana. Entretanto, alguns anos mais tarde, numa casa em que o Sr. de Norpois, que ali se achava em visita, e onde me parecia o mais sólido apoio que poderia encontrar, porque era amigo de meu pai, indulgente, inclinado a nos querer bem a todos, e, além disso, habituado pela profissão e suas origens a ser discreto, quando, logo que o embaixador havia ido embora, contaram-me que ele fizera alusão a um sarau de antigamente, no qual tinha "visto o momento em que eu ia lhe beijar as mãos", não só enrubesci até as orelhas, como fiquei estupefato ao saber que era tão diferente do que julgara, não apenas a maneira como o Sr. de Norpois falava de mim, mas ainda a composição de suas exclamações. Tal mexerico me esclareceu quanto às proporções inesperadas de razão e de presença de espírito, de memória e de esquecimento de que é feito o rito humano; fiquei maravilhosamente surpreendido como no dia em que, na primeira vez, num livro de Maspero, que se sabia exatamente a lista dos caçadores que Asurbanipal convidava para suas batidas, dez séculos antes de Jesus Cristo.

- Oh, senhor! - disse eu ao Sr. de Norpois - quando me anunciou que transmitiria à Gilberte e à sua mãe a admiração que lhes devotava. Se falar de mim à Sra. Swann, toda minha vida não será bastante para lhe testemunhar meu reconhecimento e essa vida lhe pertenceria. Mas devo torná-lo ciente de que não conheço a Sra. Swann e nunca lhe fui apresentado.

Acrescentara estas últimas palavras por escrúpulo e para não dar a entender estar me gabando de uma relação que não existia. Todavia, ao mesmo tempo que pronuncie tais palavras, sentia que já eram inúteis, pois desde o princípio de meu agradecimento observei um ardor refrescante, que vira passar pelo rosto do embaixador numa expressão de dúvida e descontentamento; em seus olhos um olhar vertical, estreito (como, no desenho em perspectiva de um sólido, a linha fugitiva de uma faces), olhar que se dirige a esse interlocutor invisível que temos dentro de nossa própria pessoa no momento em que nos dizem algo que o outro interlocutor, a pessoa com quem então se fala no caso, eu não deve ouvir. Logo percebi que as frases que pronunciara e que, ainda fracas diante da efusão de reconhecimento de que fui invadido, me pareceram ir tocar o Sr. de Norpois e acabar de decidi-lo a intervenção que lhe teria custado tão pouco, e a mim daria tanta alegria, (dentre todas que me quisessem fazer mal teriam ido buscar as pessoas diabolicamente) as únicas que pudessem ter como resultado fazê-lo renunciar à seu primeiro intento. De fato, ouvindo-as, assim como no momento em que um desconhecido, com quem acabamos agradavelmente de trocar impressões, achávamos semelhantes a respeito de transeuntes que concordávamos considerar vulgares, mostra-nos de repente o abismo patológico que nos separa, sempre tateando os bolsos e indiferente acrescenta: 

"É pena que eu não traga o meu revólver, não ficaria um só".

O Sr. de Norpois, sabia que nada era menos precioso e mais fácil do que ser recomendado à Sra. Swann e ser introduzido em sua casa; que viu que para mim, ao contrário, aquilo representava um enorme prêmio, em consequência, sem dúvida uma grande dificuldade, pensou bem que o meu desejo na aparência, que eu havia expressado, devia dissimular um pensamento, um desígnio suspeito, alguma falta anterior em virtude da qual, na certeza desagradaria à Sra. Swann, ninguém até então quisera se encarregar de lhe trazer um recado de minha parte. E compreendi que esse recado ele não o daria. Jamais poderia ver a Sra. Swann cotidianamente durante anos e anos, sem por isso falar alguma vez de mim. Entretanto, dias depois, pediu-lhe uma informação que eu queria saber e encarregou meu pai de transmitir a resposta. Porém, não julgara dever dizer à ela de quem era a pergunta. Portanto, ela não sabia que eu conhecia o Sr. de Norpois e que tinha tanto desejo de ir à sua casa; e isso foi talvez uma infelicidade menor do que eu imaginava. Pois a segunda dessas novidades não teria provavelmente acrescentado eficiência da primeira, aliás incerta. Como para Odette, a ideia de sua própria vida e de sua residência não despertava nenhuma inquietação misteriosa, à uma pessoa que a conhecesse, que fosse à sua casa, não lhe parecia um ente fabuloso como o parecia a mim, que teria jogado uma pedra nas janelas dos Swann, caso pudesse escrever à ela que conhecia o Sr. de Norpois; estava convencido de que uma tal mensagem, mesmo transmitida de modo tão brutal, me teria dado muito mais prestígio aos olhos da dona da casa do que a má vontade que pudesse ter contra mim. Mas, mesmo que eu pudesse perceber que a missão da qual não se encarregou o Sr. de Norpois fosse inútil, ou pior, que ela pudesse me trazer prejuízos aos olhos dos Swann, eu não teria coragem, se o Sr. de Norpois se mostrasse disposto a levá-la a termo, de encarregá-lo tal e renunciar à volúpia, por mais funestas que fossem as consequências, de que meu nome e minha pessoa se encontrassem desse modo junto de Gilberte por um momento, em sua casa e em sua vida desconhecidas.


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