terça-feira, 18 de julho de 2023

Sarau... Mulheres: A moça da cicatriz no queixo 3 (Eduardo Galeano)

Mulheres




Eduardo Galeano


021.


A MOÇA DA CICATRIZ NO QUEIXO

3

Conhecemo-nos por ocasião do estado de sítio. Tínhamos que caminhar abraçados e nos beijar caso se aproximasse qualquer vulto de uniforme. Os primeiros beijos foram por normas de segurança. Os seguintes, porque nos desejávamos. 

Naquele tempo, as ruas da cidade estavam vazias. 

Os torturados e os moribundos, entre si mesmos, diziam seus nomes e se tocavam nas pontas dos dedos. 

Flávia e eu nos encontrávamos cada vez em um lugar diferente, e ficávamos desesperados, em pânico, quando ocorriam alguns minutos de atraso.

Abraçados, escutávamos as sirenes das rondas pa-trulheiras e os sons do passo da noite, em direção àquela claridade indecisa que precede a aurora. Não dormíamos nunca. Do lado de fora, chegavam-nos o canto do ga-lo, a voz do garrafeiro, o barulho das latas de lixo e, então, tomar juntos o café da manhã era muito importante.

Nunca nos dissemos a palavra amor. Isso se deslizava, de contrabando, quando dizíamos: “Chove”, ou dizíamos: “Sinto-me bem”, mas eu teria sido capaz de meter-lhe uma bala na memória para que não lembrasse nada de nenhum outro homem. 

– Alguma vez – dizíamos –, quando as coisas mudarem. 

– Vamos ter uma casa. 

– Seria lindo.
 
Por algumas noites pudemos pensar, atordoados, que era por isso que se lutava. Que para que isso fosse possível é que as pessoas se atiravam na luta.

Mas era uma trégua. Logo soubemos, ela e eu, que antes disso iríamos esquecer ou morrer. 

________________


Galeano, Eduardo, 1940-
Mulheres / Eduardo Galeano; tradução de Eric Nepomuceno.
1. Ficção uruguaia- Crônicas. I. Título. II. Série.
_________________

Leia também: 

Sarau... Mulheres: Para inventar o mundo cada dia
Sarau... Mulheres: Amares
Sarau... Mulheres: A moça da cicatriz no queixo 3 

pag 028...



Florence


Florence Nightingale, la enfermera más famosa del mundo, dedicó a la India la mayor parte de sus noventa años de vida, aunque nunca pudo viajar a ese país que amó.

Florence era una enfermera enferma. Había contraído una enfermedad incurable en la guerra de Crimea. Pero desde su dormitorio de Londres escribió una infinidad de artículos y cartas que quisieron revelar la realidad hindú ante la opinión pública británica. 

* Sobre la indiferencia imperial ante las hambrunas: 

Cinco veces más muertos que en la guerra franco-prusiana. Nadie se entera. No decimos nada de la hambruna en Orissa, cuando un tercio de su población fue deliberadamente autorizada a blanquear los campos con sus huesos. 

* Sobre la propiedad rural: 

El tambor paga por ser golpeado. El campesino pobre paga por todo lo que hace, y por todo lo que el terrateniente no hace y hace que el campesino pobre haga en su lugar.

* Sobre la justicia inglesa en la India:

Nos dicen que el campesino pobre tiene la justicia inglesa para defenderse. No es así. Ningún hombre tiene lo que no puede usar.

* Sobre la paciencia de los pobres:

Las revueltas agrarias pueden convertirse en algo normal en toda la India. No tenemos ninguna seguridad de que todos esos millones de hindúes silenciosos y pacientes seguirán por siempre viviendo en el silencio y la paciencia. Los mudos hablarán y los sordos escucharán.


Nenhum comentário:

Postar um comentário