Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Vol 1
1
Estudos de Costumes
- Cenas da Vida Privada
Memórias de duas jovens esposas
PRIMEIRA PARTE
IX – A SRA. DE L’ESTORADE À SRTA. DE CHAULIEU
Dezembro
IX – A SRA. DE L’ESTORADE À SRTA. DE CHAULIEU
Dezembro
Tudo dito e tudo feito, minha querida filha; é a sra. de l’Estorade quem te escreve; mas entre nós nada está mudado, há apenas uma donzela a menos. Podes ficar tranquila; meditei meu consentimento e não o dei levianamente. Minha vida está agora determinada. A certeza de seguir por um caminho traçado convém igualmente ao meu espírito e ao meu caráter. Uma grande força moral corrigiu para sempre o que denominamos os acasos da vida. Temos terras para valorizar, uma residência para ornar, embelezar; tenho uma casa para dirigir e tornar agradável, um homem a quem reconciliar com a vida. Terei sem dúvida uma família para cuidar, filhos para educar. Que queres? A vida ordinária não poderia ser nada de grande, nem de excessivo. Evidentemente, as imensas aspirações que ampliam quer a alma, quer o pensamento, não entram nessas combinações, pelo menos na aparência. Quem me impede de deixar vagar sobre o mar do infinito os barcos que nele lançávamos? Entretanto, não creias que as coisas humildes a que me dedico sejam isentas de paixão. A tarefa de fazer com que um pobre homem que foi joguete das tempestades creia na felicidade é uma bela obra e pode bastar para modificar a monotonia da minha existência. Não me parece que tenha deixado entrada para a dor, e vi possibilidades de praticar o bem. Entre nós, não amo Luís de l’Estorade com esse amor que faz o coração bater quando se ouve um passo, que nos emociona profundamente às menores entonações da voz ou quando um olhar de fogo nos envolve; mas tampouco ele me desagrada. Que farei, dirás, desse instinto das coisas sublimes, desses pensamentos fortes que nos ligam e que estão em nós? Sim, foi isso o que me preocupou. Pois bem, não é uma grande coisa ocultá-los, empregálos, sem que ninguém o saiba, na felicidade da família, fazer deles os elementos da ventura dos seres que nos são confiados e aos quais nos devemos? O período em que essas faculdades brilham é bem restrito para as mulheres, passa rápido; e, se minha vida não for grandiosa, terá sido calma, uniforme e sem vicissitudes. Nascemos favorecidas, podemos escolher entre o amor e a maternidade. Pois bem, escolhi: dos meus filhos farei os meus deuses, e deste canto de terra o meu Eldorado. É tudo o que te posso dizer hoje. Agradeço-te por tudo que me mandaste. Dá uma vista de olhos às minhas encomendas, cuja nota vai com esta carta. Quero viver num ambiente de luxo e de elegância e ter da província somente o que ela oferece de delicioso. Permanecendo na solidão, uma mulher nunca se torna provinciana, conserva-se o que é. Conto muito com a tua dedicação para me manter a par de todas as modas. No seu entusiasmo, o meu sogro nada me recusa e revoluciona a casa. Mandamos vir operários de Paris e modernizamos tudo.
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Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um produtivo escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.[1][2] Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.
Entre seus romances mais famosos destacam-se A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.[1] Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).
Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava.[1] De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Balzac, Honoré de, 1799-1850.
A comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada / Honoré de Balzac; orientação, introduções e notas de Paulo Rónai; tradução de Vidal de Oliveira; 3. ed. – São Paulo: Globo, 2012.
(A comédia humana; v. 1) Título original: La comédie humaine ISBN 978-85-250-5333-1 0.000 kb; ePUB
1. Romance francês i. Rónai, Paulo. ii. Título. iii. Série.
12-13086 cdd-843
Índices para catálogo sistemático:
1. Romances: Literatura francesa 843
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[120]Cardeal Ximenez: Ximenez de Cisneros (1436-1517), arcebispo de Toledo.
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Leia também:
Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (5)
Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (6)
Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (7)
Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (8)
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