sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Didática Freiriana: Reinventando Paulo Freire (01 - Pedagogia da Acolhida)

Educare et Educare



Revista de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação
– Universidade Estadual do Oeste do Paraná


Dr. Ivo Dickmann
Ivanio Dickmann




Assumindo a difícil tarefa de reinventar a metodologia de Paulo Freire como um pedido do próprio Patrono da Educação no Brasil, busca-se nesse texto organizar de uma maneira didática como utilizar as diversas contribuições freirianas para a educação formal, informal e não-formal, partindo do pressuposto que a criatividade dos educadores, em seus mais diversos lugares pedagógicos que ocupam – escola, universidade, sindicatos, movimentos sociais, ONGs, entre outros – é o que mantém vivo o legado de Paulo Freire. A Didática Freiriana é uma provocação epistêmico-metodológica para que os educadores assumam uma postura pedagógica libertadora e dinamizadora dos ambientes educativos, tomando essa metodologia como referência para sua práxis. Como um texto inacabado, projeta-se a reinvenção dele mesmo, para ser ainda mais fiel ao pedido de Paulo Freire: não me sigam, me reinventem.





Introdução


Construir uma reinvenção do Método Paulo Freire é um grande desafio, mas é exatamente aí que se instaura o respeito ao seu legado, já que mais de uma vez ele afirmou que desejava ser reinventado, não seguido (FREIRE, 2009; FREIRE; FAUNDEZ, 2002). O que construímos nesse texto é uma tentativa de reunir e reorganizar um conjunto de aspectos centrais da pedagogia de Paulo Freire de uma forma que os educadores e educadoras possam utilizá-lo no seu cotidiano pedagógico (escola, universidade, ONG, movimentos sociais, sindicatos, entre outros), adequando às suas realidades e construindo conhecimento numa relação dialógico-dialética. Aqui você encontrará um roteiro que pode ser recriado de acordo com a realidade a ser trabalhada, criando uma infinidade de possibilidades do quefazer, tendo Freire como a referência epistêmico-metodológica central. A criatividade e a criticidade com que essa didática freiriana será aplicada nos diversos espaços pedagógicos não está ao alcance de nós autores, mas está entregue a comunidade freiriana, de modo que se incorpora ao legado de Freire – do qual somos continuadores.




1. PEDAGOGIA DA ACOLHIDA


Todos nós gostamos de ser acolhidos ao chegar à sala de aula, queremos sentir e vivenciar a aceitação e o reconhecimento dos outros. Como integrantes do grupo, como companheiros de caminhada na comunidade, como partes importantes do processo de convivência que nos torna mais humanos – a acolhida é o primeiro momento da humanização. Acolher o outro é um gesto de amor e alteridade, de tolerância com o diferente e de respeito à diversidade – que, de alguma forma, se traduz também como uma pedagogia da amorosidade. A acolhida é a dialetização das duas grandes dimensões humanas: a afetividade e a racionalidade.

Do ponto de vista pedagógico, acolher é respeitar o conhecimento dos outros – popular, acadêmico-científico, místico-religioso –, é promover o encontro dos diferentes, é proporcionar o diálogo de saberes. Na acolhida se recepciona a pessoa, mas também as suas ideias; é um acolhimento na sua integralidade de ser humano. A pedagogia da acolhida é o gesto simbólico que antecede a pedagogia da pergunta, assim como a pergunta é o que gesta a resposta grávida de mundo, confirmando a inexistência de analfabetismo oral, possibilitando a tematização da realidade concreta, a leitura do mundo e a conscientização crítica, aprendendo a dizer a palavra, rompendo a cultura do silêncio. A palavra rompe o verbalismo-ativismo e se faz ato epistêmico-metodológico.




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Dr. Ivo Dickmann
Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó

Ivanio Dickmann
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP




Revista Educere Et Educare, Vol. 13, N. 28, maio/agos. 2018. Ahead of Print. DOI: 10.17648/educare.v13i28.18076


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