mulheres descalças
uma sombra silenciosa
Ensaio 127Bzk – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
e assim, inatie aye, batizada antônia, pelo capitão-do-mato, no meio do caminho da chácara dos duarte inté o mercado, saiu de perto das mão de mãinha pru cercadinho das miúda leitosa, depois quias guria miúda num quis mais brincá com buneca preta ela foi alugada pra tê uso no mercado público
lá – teve otro batizado sem esperança, sem ternura, sem água fria, o dono da veiz anunciava o novo nome –, virô açunta do tabulêro
era açunta pra cá, açunta pra lá, açunta acha e se num acha é pruqui ainda num ixisti
a cabeça sempre raspada
inté sê comprada pelo siô augusto pra juntá os dois batizado e virá a negra antônia açunta de uso pra tudo na casa
nunca ninguém lhe pruguntô o nome qui quiria tê nem uqui tava no curação, num tinha querê, ela era pra uso do compradô, Mãezinha... essa nossa Açunta não lhe parece uma sombra silenciosa?
Não sei, nunca pensei assim, não me ocorreu ter algum pensamento sobre a Açunta. Estou tão acostumada com ela, respondeu dona rosinha virada pra janela, depois fez silêncio, parecia incomodada com o estranhamento da prugunta e da própria resposta qui achô meió disê dita, num tava animada pra pensá as muié da casa e a vida quielas tinha ali – muntu menos, pensá a vida da açunta, já tinha muntu qui se preocupá dela mesma e da miúda –, mais ainda arriscô aumentá um pouco a resposta dada, mesmo ressabiada com os mau humô do siô augusto, ela me parece ser uma mulher esponjosa e angustiada que não sobreviveu ilesa às lembrança, e mais num disse, mais pensô, Não deve ser fácil viver na Villa risonha sendo mulher negra e sem nenhum protetor.
usiô augusto fez um oiá depreciadô, um muxoxo de pouco-caso qui juntô com um gesto da impaciência das mão, Não consigo ver assim. Na verdade, Mãezinha, vou lhe confessar que não consigo ver Açunta como gente como a gente. É só mais uma negra para uso da comodidade de vosmecê e meu entretimento.
O sinhô Augusto não vê Açunta como uma mulher, dona rosinha já tava toda dentro da sala pianística, as costa virada pra praça, Não consigo ver Açunta como mulher, é verdade. Para mim, ela é só mais uma macaca, Ainda bem, pensô dona rosinha, ainda bem, respirô aliviada
Mãezinha, a Villa não existe sem regras, proibições e preferências. E todos precisamos obedecer. Isso se aplica, principalmente, à negrada. É a forma certa do contrato que temos para segurar essa cambada, e digo mais, sem as nossas leis isso aqui vira terra de ninguém... a negrada vai querer mandar enquanto fica jogada pelos canto vagabundando, num tinha jeito, os assunto sempre acabava do mesmo feitio, Negro sem uso é vagabundo ou bandido.
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