No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Dois
baitasar
Memórias
¿Por qué tanta prisa?
o sossego se
perdia quando o horário do almoço se apresentava com todas fomes para devorarem
assim, dona Manuela
se sentia percorrida velozmente de uma só vez, todos dias engolida avidamente,
por todas e todos, sem dó nem piedade, querendo e exigindo, um jogo contínuo de
se impor ao outro com a própria vontade ou com naturalidade pelo comportamento
dos costumes
uma mulher com
mil atribuições genéricas, as específicas entram na mesma conta: mãe e amante
desejada, bonita e gostosa... e cheirosa
ali, naquele casarão, que
dominava a vacaria e o rebanho esparramado pelo campo, onde o sol beijava
suavemente as ondas do seu universo ao nascer com o canto do Alvorado, e ao se
pôr, viveu ou vive a dona Manuela – não sei mais o que se passa com aquela
gentarada –, uma mulher de espírito resiliente e coração generoso com a família
suas manhãs iniciavam com o
despertar rústico entoado pelo Alvorado, ainda com as carícias leves do luar se
dissipando, todos erguiam ruidosamente para o balé diário das grandes e
pequenas atribuições
a quietude de dona Manuela
recebia toda aquela invasão, uma epifania na família
não era sempre, mas, às vezes,
ela aparecia enquanto eu preparava café, o aroma forte e reconfortante se
espalhava por cada canto, café era o amuleto para despertá-la depois do Alvarado
a cada dia, meticulosamente,
colocava à mesa um pequeno banquete de ovos, pães, frutas e um bule de café que
prometia vigor, uma das serventias que aprendi com dona Manuela, A partir de
ahora serás el cuidadora de esta gente, desde lo Alvorado hasta mi baño, Sim,
senhora. Espero não decepcionar, Se trata de memorizar los movimientos y
repetir... repetir... repetir...
as crianças emergiam de seus
quartos, ainda enredada nos últimos fios de Morfeu, sonhadoras e mormacentas
entre uma mastigação e outra,
revisavam entre si suas lições, ajeitavam uma camisa desalinhada, corriam de um
canto a outro procurando seus esquecimentos
don Juan, às
voltas com as notícias da manhã, compartilhava com os filhos seus planos do dia,
tudo entre goles de café e comentários sobre o clima e os animais
assim que a porta se fechava
atrás das últimas crianças, geralmente, eram Aryani e Chiado, a quietude
retornava
era hora de metamorfear-me
novamente, seguindo as ordens da dona Manuela, Hay que ordenar la cocina,
recoger la ropa del suelo y lavarla, barrer el suelo una vez al día, tais
ordens, por mais repetitivas que fossem, eram orquestradas com uma precisão que
só ela possuía, acredito que por anos de prática transformando o ordinário em
uma coreografia nua e peculiar pelo casarão
depois de um tempo se quer
respirar outros ares, tinha paixão por novas histórias, trocar sorrisos com
pessoas, conversar bobagens, reconhecer e ser reconhecida, despertar alegria e
tristeza, abraçar e ser abraçada, tocar e ser tocada, desvelar medos e ser amparada
à tarde, não me permitia
descansar, o dever chamava novamente, as obrigações de limpeza da cozinha,
curar as feridas dos restos de comida nos pratos, limpar talheres e copos,
preparar panelas e jarros para a próxima refeição enquanto as conquistas e
inquietações familiares carregavam à volta ao fim do dia
depois devia iniciar o preparo
do jantar
após o jantar, dona Manuela e don
Juan sentavam no terraço, olhos perdidos no horizonte, onde o sol tocava a vacaria
num raro silêncio
a lua... minha cúmplice, sorria
do alto, enviava um sorriso de cumplicidade, ela entendia de fases e
transformações, luz e sombra, assim me recarregava para dançar este balé ao
amanhecer com as minhas mil atribuições, dia após dia, na tapeçaria de uma vida
familiar que não era a minha
Como foi seu dia, querida?
Mismo... sin noticias...
Mamá, estou
pronta! Vou dormir...
a lua me sorria, Vá viver sua vida, rapariga bonita.
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Livro Um:
Memórias - 01: a lua cheia
Memórias - 35: não lembro das despedidas
Livro Dois:
Memórias - 01: Don Juan Pietro Gonçalves Lara
Memórias - 02: fatos e mentiras
Memórias - 03: siempre ha sido así
Memórias - 04: ¡Hijo-de-puta!
Memórias - 05: El hombre es así
Memórias - 06: rusgas e rezingas, rastros do aprendizado
Memórias - 07: minha querida amiga
Memórias - 08: a liberdade de não sentir medo
Memórias - 09: a lenda da fonte mágica
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