No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Dois
baitasar
Memórias
e aqui, entre nós duas, aquela mulher me assustava. acho que
fazia de propósito, sabia do meu jeito assustadiço
eu procurava ficar firme, sem estardalhaços, apertava as
pernas e segurava o xixi, sempre fui muito mijona. precisava fazer xixi com
frequência, devia ter uma bexiga muito pequenina
um dia estava brincando no milharal com os meninos de
esconde-esconde, me divertia tanto que nem percebi as horas pulando de espiga
em espiga, escurecendo lentamente, até que minha bexiga miúda e acanhada deu
sinal de incômodo, fiquei apreensiva, sabia que precisava encontrar um
esconderijo o mais rápido possível
corri pelo milharal
não consegui segurar mais e o aguardado imprevisto aconteceu,
fiz xixi no meio do milharal, bem na frente dos meninos
fiquei desonrada
a situação constrangedora
os meninos riam que se espremiam e dançavam
até que comecei a rir junto, aprendia assim a encontrar humor em
situações inusitadas, aceitar peculiaridades e encontrar alegria em todas situações da vida
a menina mijona e suas aventuras divertidas
A mocinha não é nenhum menino, perdi a vontade de rir e corri
assustada da patroa para o meu quarto enquanto as tábuas do chão estalavam com meus
passos apertados
dentes gemendo
pelos arrepiando
atirada na cama, rosto enfiado no travesseiro, chorava de
saudade com uma tristeza áspera e quente derramando de mim
lembro da minha amiga destes dias, longe dos meus amores, uma
saudade de aflição, Espere um instante, já volto. Quero mostrar para você minha
amiguinha.
volto do nosso quarto com minha almofada de cabeceira, Uma
grande companheira e confidente.
só ela e eu sabemos quanto das lágrimas me vazaram em suas
penas
uma pequena almofada de veludo forrada com amor, sempre em
meio as outras almofadas, uma confidente silenciosa que recebia as lágrimas na
solidão das nossas noites
meu consolo estava nessa almofada que abraçava com carinho
todas noites, um amiga que entendia minhas tristezas e segredos mais doídos, a
única testemunha das minhas perturbações mais íntimas, escutava sem reclamar
noites de solidão insuportáveis
um testemunho do amor e da saudade
um pequeno conforto e alívio sem julgamentos, Meus segredos
com o mundo estão guardados aqui.
com o tempo, minha querida, encontrei algumas alegrias e
amores, outras lágrimas derramadas aqui foram rareando, aprendi a deixar o passado
no passado, olhar à frente sem esquecer, aprendendo e vivendo
a tristeza também faz parte da vida, testemunha silenciosa do
nosso caminho caminhado, fui salva muitas vezes por essa amiga, Claro, minha
querida, que alguns detalhes dessa história me veio pela imaginação, não quis
deixar de colocar todos os pontos com agulha.
não quis deixar ponto sem nó
considere como minha contribuição para melhor ilustrar a
história da família Gonçalves Lara e o entorno daquele povoado vizinho
de Piedras Altas
fatos e mentiras que vi, outras tantas que ouvi
uma vida de aia, muro de lamentações, objeto e utensílio para
uso geral, até ser rejeitada pelo desgaste dos anos, dia após dia, sem tréguas,
marcas cruéis como lanças que perfuram o tempo sem piedade, asas do vento em
uma alma cansada, coração faminto, passos gastos, hesitantes, perplexos,
cicatrizes em um corpo exausto e dolorido
nosso cárcere
minha querida, não te preocupes que ainda não estou aguando
as plantas quando chove
por aqueles dias, minha meninice sentia vaidade de
importância quando la mujer do patrão se abria em confidências. E não me
ocorria desabrigar os segredos vistos e ouvidos daquela casa.
mantinha silêncio da falação de esa mujer tão triste
de sonhos, mas siempre tão envolta de gente, não enxergava razão para
fazer conversa de mexerico, talvez, quem sabe, porque não tinha alguém seguro
com quem cochichar
de qualquer maneira, seguia o empenho de Blanca, comer
o pão do diabo sem fazer da tristeza desalento para outros
en la Montaña, não se tinha o hábito da leitura, muito menos, o uso da
escrevinhação. não tínhamos precisão dessas futilidades para sobreviver. por
lá, era imposição da sabedoria entender o tempo de semear e colher, prever
chuvas e sua escassez, ou sua abastança desgovernada, vigiar os humores da lua,
aprender a ler estrelas e os ventos quentes da poeira cinza das queimadas,
reconhecer o brilhantismo do sol, o desassossego da seca, o imprevisto das
pragas, era preciso resistir com enxada e mãos nas entranhas da terra
fui compreender o denotado sentido de ler e escrever, muito
depois, até então, não havia motivos nem tempo para contar com lápis e papel
esta história de luta eterna pelo alimento
minha querida, você percebe a importância da tua escutação
atenta? o teu testemunho de ouvinte não deixará que tudo isso seja esquecido
depois de mim, você carrega essas histórias de fatos e mentiras
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