João Ubaldo Ribeiro
Para meu amigo Glauber
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Soberania
Um conceito muito útil, quando se trata do Estado, é o de soberania. Soberania lembra soberano (rei) e tem origem no século XII, significando a reivindicação dos reis por expandir seu poder em relação aos senhores feudais. Este conceito transferiu-se, nos tempos contemporâneos, para o Estado. Ao se declarar que o Estado é soberano, o que se quer dizer é que ele não se subordina a ninguém, que não há poder acima dele. Se o Estado não é politicamente independente, claro que tampouco é soberano. Os cidadãos desse Estado, na verdade, são cidadãos do Estado do qual aquele depende — e, às vezes, em exemplos que são abundantes na história antiga e contemporânea, não são nem isso, vivendo numa espécie de limbo jurídico, numa cidadania de segunda classe.
A soberania é um conceito político e jurídico, de implicações muito ramificadas. No mundo de hoje, nem mesmo as potências mais fortes dispõem de uma soberania inquestionável, de caráter unilateral, pois a interdependência entre os diversos Estados, em maior ou menor grau, de uma forma ou de outra, é um fato. Os Estados mais fracos têm uma soberania muitíssimo relativa, enfraquecida notadamente através da superioridade econômica dos mais fortes. Respeitam-se, na maior parte dos casos, as aparências. Ou seja, um governo não diz ao outro: nomeiem tal ministro, ou não vendam tal produto pelo preço que querem. Mas, por inúmeros canais muito fáceis de imaginar, a soberania dos Estados mais fracos é violada a cada instante. Acresça-se a isso a existência de zonas de influência das grandes potências, em que a soberania de cada Estado é subordinada, às vezes pela força, aos interesses das respectivas potências hegemônicas. (No caso da antiga União Soviética, a imprensa costumava chamar os países sob sua esfera de influência de "satélites"; no caso dos Estados Unidos, os países da América Latina ainda são chamados, por eles mesmos, de "nosso próprio quintal".)
Discute-se muito em que ponto do Estado, em que componente seu, estaria localizada a soberania. No caso do rei Luís XIV, o problema era fácil, segundo ele mesmo disse, com admirável concisão: o rei (soberano) detinha a soberania, ponto final. Hoje em dia, o problema é mais complicado, pelo menos na prática. Há Estados em que, tanto na prática como na lei, a soberania está concentrada na figura do governante (ou governantes, no caso, por exemplo, de uma junta militar). Mas, em qualquer caso, é possível ver que a soberania não está efetivamente no governante, mas em todo o esquema econômico e militar que lhe dá suporte.
É muito comum que, em termos jurídicos, a soberania seja localizada no povo — a soberania popular. Seria o povo que, em última análise, concentraria a soberania e a exerceria, por meio de diversos mecanismos institucionalizados como, por exemplo, através de seus representantes eleitos. Contudo, só o exame de cada caso concreto é que dirá se o que está escrito na lei é espelhado na realidade.
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1 Você acha que, quando o governo brasileiro impõe um regime jurídico aos índios, está violando a soberania das nações indígenas?
2 A Constituição brasileira — lei máxima do nosso Estado, a que todas as outras devem submeter-se — diz: "Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido." Que quer dizer isto, em termos de soberania?
3 A Organização das Nações Unidas (ONU) não tem tido êxito na manutenção da paz e do equilíbrio entre seus membros. A soberania de cada Estado está envolvida neste problema?
4 Tente examinar as mudanças de soberania ocorridas no Brasil logo em seguida ao grito do Ipiranga.
5 A estabilização da moeda e a consequente reorganização da economia brasileira representam uma afirmação de soberania do Estado. Comente.
6 Em certas áreas das grandes cidades, os agentes do Estado (coletores de lixo, agentes de saúde, bombeiros, carteiros etc.) só conseguem entrar com permissão de traficantes e outros "protetores" da comunidade. Nesses casos, o Estado está perdendo soberania, aqui entendida como controle sobre o território. Isto acontece em sua cidade? Comente o fato.
continua na página 037...
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Leia também:
João Ubaldo Ribeiro - Política: Que coisa é a Política
João Ubaldo Ribeiro - Política: Como a Política interessa a todos e a cada um (a)
João Ubaldo Ribeiro - Política: Como a Política interessa a todos e a cada um (b)
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João Ubaldo Ribeiro - Política: Soberania
João Ubaldo Ribeiro - Política: Estado e violência
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João Ubaldo Ribeiro nasceu na ilha de Itaparica, na Bahia, no dia 23 de janeiro de 1941, na casa de seus avós. Era filho dos advogados Manuel Ribeiro e de Maria Filipa Osório Pimentel.
João Ubaldo foi criado até os 11 anos, em Sergipe, onde seu pai trabalhava como professor e político. Fez seus primeiros estudos em Aracaju, no Instituto Ipiranga.
Em 1951 ingressou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Em 1955 mudou-se para Salvador, e ingressou no Colégio da Bahia. Estudou francês e latim.
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© 1998 by João Ubaldo Ribeiro
Direitos de edição da obra em língua portuguesa adquiridos pela
EDITORA NOVA FRONTEIRA S.A.
Rua Bambina, 25 — Botafogo .
22251-050 — Rio de Janeiro — RJ — Brasil
Tel: (021) 537-8770
— Fax:(021) 286-6755
http://www.novafronteira.com.br
Equipe de Produção
Regina Marques
Leila Name
Michelle Chao
Sofia Sousa
e Silva Marcio Araujo
Revisão
Angela Nogueira Pessôa
CIP-Brasil.
Catalogação-na-fonte S
indicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
R369p
Ribeiro, João Ubaldo 3 ed. Política; quem manda, por que manda, como manda / João Ubaldo Ribeiro. — 3.ed.rev. por Lucia Hippolito. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
Apêndice
1. Ciência política. I. Título
CDD 320
CDU 32
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