Ópera do malandro
Ópera do malandro
SEGUNDO ATO
Continuando...
Sobe o volume da orquestra; as duas se encaram e, súbito, se atracam.
BARRABÁS (Entra tentando separá-las)
Pára! Solta! Ah, essas unhas! (Puxa Teresinha) Fora daqui, moça!
LÚCIA
Dá umas porradas nela, dá!
BARRABÁS
Aqui tu não manda nada, viu? Fora!
TERESINHA
Me larga!
BARRABÁS
Aqui o galo sou eu! Fora!
TERESINHA
Eu sou uma senhora de respeito, caralho! Me solta!
BARRABÁS (Arrasta Teresinha pra fora)
E se voltar, fica! Fora!
LÜCIA
Me desculpe, amor, eu perdi a cabeça. Essa história de casamento me deixou confusa. . .
MAX
Casamento, tem graça. . . Você acha que eu ia deixar esse filho da mãe escorraçar esposa minha desse jeito? Sabe, Lúcia, eu te amo e sou fiel.
LÚCIA
Você pode até me achar cruel, mas eu preferia te ver morto a te ver nos braços de outra.
MAX
E eu prefiro morrer nos teus braços a viver nos braços de outra.
LÚCIA
Que lindo! Repete, vá!
MAX
Prefiro morrer nos teus braços a viver nos braços de outra.
LÚCIA
Tu é poeta pra caramba, hein?
MAX
LÚCIA
Não sei. . .
MAX
Você sabe que podem me liquidar a qualquer momento! Cadê teu pai?
LÚCIA
Tava no quarto dele tomando uns rabo-de-galo. A esta altura do porre, já deve estar dormindo...
MAX
Então vá lá e me traga as chaves. Depois você distrai o Barrabás como só você sabe. E nessa eu caio fora.
LÚCIA
Não, Max! Eu quero ir contigo!
MAX
Não dá, Lúcia. O Barrabás vai perceber. . . Já reparou como ele não tira os olhos de ti? Mas assim que a coisa serenar, venho correndo te buscar. A gente se casa nas burocracias todas e eu te levo pra Hollywood.
LÚCIA
Eu te adoro, te quero e te venero.
MAX
Rápido, rápido. Eu também te adoro, quero e venero. Ah, Lúcia, quando apanhar as chaves, aproveita e pega uns dois contos do teu pai, que eu vou precisar pro táxi. Rápido, vai!
continua pág 110 ...
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NOTA
O texto da "Ópera do Malandro" ê baseado na "Ópera dos Mendigos" (1728), de John Gay, e na "Ópera dos Três Vinténs" (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill. O trabalho partiu de uma análise dessas duas peças conduzida por Luís Antônio Martinez Corrêa e que contou com a colaboração de Maurício Sette, Marieta Severo, Rita Murtinho, Carlos Gregório e, posteriormente, Maurício Arraes. A equipe também cooperou na realização do texto final através de leituras, críticas e sugestões. Nessa etapa do trabalho, muito nos valeram os filmes "Ópera dos Três Vinténs", de Pabst, e "Getúlio Vargas", de Ana Carolina, os estudos de Bernard Dort ("O Teatro e Sua Realidade"), as memórias de Madame Satã, bem como a amizade e o testemunho de Grande Otelo. Contamos ainda com a orientação do prof. Manoel Maurício de Albuquerque para uma melhor percepção dos diferentes momentos históricos em que se passam as três "óperas". E o prof. Luiz Werneck Vianna contribuiu com observações muito esclarecedoras. Esta peça é dedicada à lembrança de Paulo Pontes.
Chico Buarque Rio, junho de 1978
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Leia também:
Chico Buarque - Ópera do Malandro (prefácio e nota)
Chico Buarque - Ópera do Malandro (introdução)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 1 (1a)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 1 (1b)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 2 (2a)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 2 (2b)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 2 (2c)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 3 (3a)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 3 (3b)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Primeiro Ato - Cena 3 (3c)
Chico Buarque - Ópera do Malandro / Segundo Ato - Cena 1
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Chico Buarque - foi musicando o poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Mello Neto, encenado pelo grupo universitário TUCA, que Chico Buarque se revelou como compositor, dois anos antes do sucesso de "A Banda", "Roda Viva", sua primeira peça, teve uma carreira tumultuada: estreou no Rio, em 1967, com um sucesso que desgostou a muita gente; em São Paulo, os atores foram espancados durante o espetáculo e, em Porto Alegre, sequestraram a atriz Elizabeth Gasper. A peça acabou proibida pela censura.
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