Mulheres
Eduardo Galeano
021.
A MOÇA DA CICATRIZ NO QUEIXO
4
O céu amanheceu limpo e azul.
Ao entardecer, vimos ao longe os barcos dos pescadores como pontinhos que vinham crescendo. Voltavam com os porões repletos de tubarões.
Eu conhecia essa horrível agonia. Os tubarões, estrangulados, remexiam-se nas redes, tentando cegamente lançar mordidas antes de caírem amontoados.
5
– Aqui ninguém encontrará você. Fica, até que as coisas mudem.
– As coisas mudam sozinhas?
– O que você vai fazer? A revolução?
– Eu sou uma formiguinha. As formiguinhas não fazem coisas tão grandes
como a revolução ou a guerra. Levamos pedacinhos de folhas ou mensagens.
Ajudamos um pouco.
– Folhinhas, pode ser. Ficaram algumas plantas.
– E algumas pessoas.
– Sim: os velhos, os milicos, os presos e os loucos.
– Não é bem assim
– Você não quer que seja bem assim.
– Você não quer que seja bem assim.
– Estive muito tempo fora. Longe. E agora... agora estou quase de volta.
Pertinho, em frente. Sabe o que sinto? O que os bebezinhos sentem quando
observam o dedão do pé e descobrem o mundo.
– A realidade não se importa nem um pouco com o que você sente.
– E vamos ficar chorando pelos cantos?
– Seis vezes sete é quarenta e dois e não noventa e quatro, e você, furiosa
grita: Quem é o filho da puta que anda mudando os números?
– Mas... você pode me dizer como é que se acaba com uma ditadura? Com
flechinhas de papel?
– Com o quê, eu não sei.
– Daqui, se acaba uma ditadura? Por controle remoto?
– Ah, sim. A heroína solitária busca a morte. Não, não é machismo
pequeno-burguês. É feminismo.
– E você? Pior. É egoísmo.
– Ou covardia. Diga.
– Não, não.
– Diga que sou enganador, desertor.
– Você não entendeu.
– É você quem não entende.
– Por que reage assim?
– E você?
– Eu já sei que você não precisa provar nada a você mesmo. Não seja bobo.
– Eu já sei que você não precisa provar nada a você mesmo. Não seja bobo.
– No entanto, você me disse que...
– E você também me disse. Vamos começar outra vez?
– Está bem. Eu me expressei mal.
– Desculpe-me.
– Seria uma estupidez discutirmos nestes poucos dias que...
– Sim. Nestes poucos dias.
– Escuta.
– O quê?
– Sabe de uma coisa? Estamos todos desamparados.
– Sim.
– Todos. Desamparados.
– Sim. Mas eu te amo.
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Sarau... Mulheres: Para inventar o mundo cada dia
Sarau... Mulheres: Amares
pag 029...
Louise
—Quiero saber lo que saben —explicó ella.
Sus compañeros de destierro le advirtieron que esos salvajes no sabían nada más que comer carne humana:
—No saldrás viva.
Pero Louise Michel aprendió la lengua de los nativos de Nueva Caledonia y se metió en la selva y salió viva.
Ellos le contaron sus tristezas y le preguntaron por qué la habían mandado allí:
—¿Mataste a tu marido?
Y ella les contó todo lo de la Comuna:
—Ah —le dijeron—. Eres una vencida. Como nosotros.
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Galeano, Eduardo, 1940-
Mulheres / Eduardo Galeano; tradução de Eric Nepomuceno.
1. Ficção uruguaia- Crônicas. I. Título. II. Série._________________
Leia também:
Sarau... Mulheres: Amares
Sarau... Mulheres: A moça da cicatriz no queixo 4 e 5
pag 029...
Louise
—Quiero saber lo que saben —explicó ella.
Sus compañeros de destierro le advirtieron que esos salvajes no sabían nada más que comer carne humana:
—No saldrás viva.
Pero Louise Michel aprendió la lengua de los nativos de Nueva Caledonia y se metió en la selva y salió viva.
Ellos le contaron sus tristezas y le preguntaron por qué la habían mandado allí:
—¿Mataste a tu marido?
Y ella les contó todo lo de la Comuna:
—Ah —le dijeron—. Eres una vencida. Como nosotros.
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