sexta-feira, 31 de julho de 2015

Histórias de avoinha: Nua. Sem dó nem piedade.

Ensaio 58B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar


O siô da Hora fungô as venta e aguçô os apetrecho da escutação: cautela, zelo e boa vontade. Sorriu. Eles continuava na vereda certa. Fungô otra veiz, só pra tê certeza do certo, sabia do caminho, mais gostava de praticá aquela fungação do aroma antes das vista alcançá o lugá, esse perfume das menina é danado de bom, elas não perdem nada esperando nossa visita. o conde tem confiança na vontade das moças? sou muito bom em tudo que eu faço, ele num tinha perdido o tino de farejadô, o conde é um cachorro bem treinado. o gato mia, o boi muge. o leão ruge, o menino assovia. vosmecê não é mais um menino. eu sei, bode. o menino cresceu e comprou a escritura de conde. veio junto a obrigação da minha juntura com um bode. vantagem para o conde, eu sou um bode sem marcas. não existem bodes desmarcados. eu sou livre. bobagem, o bode geme com alegria ou tristeza, tanto faz sabê o motivo. não tenho as marcas das correntes nem as canelas pretas, o cabelo é ruim, mas a pelagem é clara, sou um bode livre! calma, bode. não enche! o bode não consegue conversar com mais leveza? menos grotesco? isso, uma conversa menos dramática. vou tentar, mas não prometo nada. muito bom, afinal, quero apresentar ao bode algumas moças diferentes. já sei, moças que não são para o meu bico. nem para o pau. nossa, sinhô Conde, o pesadume das palavra sentou em cima da leveza. só quero ter certeza que o bode entende a gravidade da situação. a gravidade ou a leveza? estamos chegando. maravilha. cuidado com as palavras, não me desrespeite. não se preocupe. dentro da casa e das putas da Maria Cobra não esqueça que o bode também é o conde. não sei se quero ser um conde, um bode se cuida melhor das frescuras. cala a boca, bode. ordem dada, ordem obedecida. melhor assim, eu o trouxe para foder com elas, não com a minha paciência. já sei vou ter nas mãos as moças mais tenras e animadas da Villa. isso bode, muito macias, frescas, inocentes e meninas. meninas? isso não interessa, chegamos. chegamos? quase. oba! comporte-se. está bem. cuidado.

O siô da Hora tava chegando com o conde arrendadô das moça e o seu bode. Faltava cruzá o pelôrinho; a direita se mexeu de novo, foi inté o cabo do rêio. Tudo tava no lugá qui precisava tá. Levô os dedo no bigode, sorriu, ia sê bão aliviá os dedo durante algum castigo. Fungô os chêro de sangue e vinho nos dedo e cruzô aquele cruzêro. Sem oiá pra trás. Sem falá com os pensamento. Dobrô na rua Sete Pecados, largada atravessada entre a rua da Praia e a rua Formosa. Sentiu qui tava em casa. Foi ali, naquelas redondeza, qui o véio da Hora começô o seu comércio de seco e moiado. Quase fez o seu siná de respeito e favorecimento, em nome do pai fiô e santo, amém. Segurô os instinto e num disse as palavra. Deu mais dois passô e voltô, Em Nome do Pai Filho e Santo. Amém. Tanto viu, escutô e fez qui num esperava as bruxa aparecê com alguma desgraça, corria na frente com os pedido de proteção. Voltô os passo pra frente. Continuô o caminho de chegada. Os pensamento mais desaforado brotava, oiô pru lado e recomendô, fique atento, essas moças sempre têm algo novo para ensinar. no meu caso, tudo será novo. o bode nunca... nunca. nunca? nunca! isso é um espanto. o conde sabe fudê com a paciência do bode. desculpe. está bem, chega. fiquei pasmo. chega, conde. o bode só fez sacanagem com as mãos. aham. fique atento e deixe tudo nas mãos das moças. se o conde confia, o bode se entrega. confio, cresci aqui.

O ofertório. Um portal na escuridão. Lugá desimpedido pra poucos andá enquanto o dia durumia. A espessidão da cegueira acobertava as visita. O siô da Hora gostava dali, ele gostava sim. O conde oiô pru otro lado, bode. fale conde. se ninguém lhe disse, eu lhe digo, não tenha medo do entusiasmo da vida com as meninas, as confusões, as mentiras, tudo isso se vive com atrevimento desavergonhado. o conde não tem medo das denúncias? nem das anônimas, meu caro bode. sério? nada é para sempre, mas nem tudo se acaba. tudo acaba, conde. bobagem, bode, sempre haverá no mundo: condes, bodes, cordeiros e negros. no resumo do conde tem um abismo de gente que ficou de fora. eu sei, um contingente sem graça. um bode tem o mesmo valor que um cordeiro? não, jamais. o conde pode explicar melhor essa sua presunção de bodes e cordeiros? escute com atenção. estou escutando. um cordeiro não precisa rezar, mesmo assim, ele reza por si e pelos outros; o bode precisa rezar, mesmo assim, ele não reza. o bode é egoísta? ele precisa ser ensinado a ser um cordeiro, depois que aprende ele gosta de rezar, e ele reza: Peço que o Sinhô me conceda a graça de viver sem remorsos, sem pecados e amém. só isso? tem vez que ele é atendido no pedido do remorso, mas nunca fica sem pecado, ele não consegue evitar, os dedo do siô da Hora tava no bigode, sorria, sabia qui tinha proteção

Chegamos!

A lamparina avermeiada anunciava o lugá. Esfregô as mão, queria entrá sem batê. Nunca deixô sê anunciado, gostava de entrá desavisado. Os óio brilhava com aquela intimidade sem pudô, esse é o portal de passagem para um mundo de sem-vergonhice, entre. primeiro o conde. o bode está no limiar de um mundo com encantos e atrevimentos. me surpreenda, conde. estais, pronto? até para o fim do mundo, mais o bode num tava, atrás da porta tava a nudez e o atrevimento das moça qui a valentia da mocidade provoca pra se mostrá. O siô da Hora entrô

Meninas, chegou o vosso maior benfeitor!

Meu Deus, meninas! O Conde Humaitá! O Conde Humaitá!

O anúncio colocô a casa e a Maria Cobra em agitação de tumulto. Ele gostava de gastá munto e dá mais do qui recebia. Ela fazia questão de anunciá a titulação da nobreza do muriquinho piquinino, assim dava mais respeito pru negócio da casa e animava as menina. Depois recomendava sorrindo, meninas, o conde precisa ser cuidado com muita atenção, o nosso visitante é da nobreza rica.

O siô da Hora fingia qui o divertimento do gracejo incomodava. Ele se parecia com a vira-lata Poesia, a cadela da casa. Esquecida num canto. Sem uso. Atirada no chão com as patinha erguida, esperando algum agrado de meiguice. Mostrava desavergonhada sua barriga de pelos e tetinhas. Cansava de esperá os afago qui num vinha ela saia do canto. Rondava com o Raposa os otro canto da casa. Dois passo atrás. Ela, veiz e otra, recebia um agrado aqui otro ali, tudo com munta leveza. Mesmo assim, fazia fiasco. Churumingava, se mijava toda. Moiava o chão inté encharcá a terra. Depois durumia. Num parecia envergonhada ou cansada. Deitava na terra moiada

As moças e a dona da casa sempre com seus exageros.

Depois do fingimento do siô da Hora, Maria Cobra fazia gesto de seriedade, parecia incomodada. Sacudia a cabeça como se fosse fazê algum discurso desimportante na tribuna dos representante. Mais guardava silêncio. O corpo magro gingava dum lado e otro, as palavra num caia da boca. Era quando o tempo das coisa acontecida e num acontecida se misturava. Deu uma volta em si mesma, depois caminhô na direção do siô da Hora. O hôme num deu um passo de volta. Ficô onde tava. Num mexeu os pé, fincado na terra ficô, o sinhô Conde parado assim está parecendo um homem de milho, chegô mais um bocadinho perto, pareceu qui montava pra colhê o milho maduro. Num subiu. Num era hora ainda, parô no instante devido, aveludô a voz qui deixô saí devagá e piquinina, tudo para deixar o sinhô Conde com o contentamento adocicado, quer se servir?

O siô da Hora sorriu, levô os dedo no bigode, deu um passo piquinino pra frente e deitô ao lado da Poesia, as costa no chão da terra, as patona erguida, a língua pra fora, os óio abrindo e fechando. A respiração pareceu tê parado, louco qui as mão das moça entreabrisse as calça, doido pra se mijá, Maria Cobra me acostuma muito mal com seus mimos, que não vou mais encontrar em qualquer lugar. eu não entendo o conde. o que o bode não entende? o conde está louco que as moças lhe coloquem as mãos, mas fica brincando de gato e rato. isso se chama fantasia, bode. fantasia. isso mesmo, imaginação mais assombração e vosmecê tem a ilusão do faz de conta. por que o conde não coloca a mão no bolso, paga o serviço da moça que mais lhe agrada, faz o que veio fazer e vai embora? quando quero serviço rápido, fico na Humaitá.

Maria Cobra tumbém sorriu, o siô da Hora tava todo na sua disposição. Ela piscô as vista e fez um riso animado de revelação, ela sabia usá as mão e a boca, o sinhô Conde Humaitá merece o gosto do doce na boca. O conde fechô as vista, mais o bode espiava os modo daquela muié maluca. A siá dona da casa, das moça e controladora dos lucro, ofereceu uma tábua de cortá carne com pedaço de rapadura do melado de cana, o sinhô Conde quer apreciar?

Adoro caldo de cana e os doces do melado, faço gosto de lambuzar o bigode.

Junto com a rapadura, ela mostrô as carne qui male-male o decote cobria. Era generosa com as assombração de cada um dos paroquiano. Sabia escutá e se oferecê, isso é apenas para começá a tiração do azedume da rua, vamos prepará o sinhô Conde para os quitutes da casa.

O siô da Hora pediu o vinho da casa, tragam o vinho! muito vinho, tudo sem desgrudá as vista do decote se derramando. Assustando o conde. Descabaçando o bode. O siô da Hora descabeçando num queria elogiá antes do bode tocá as mão, num queria parecê um conde afoito nem queria perdê das vista os bico piquinino rosado. Adorava aquilo tudo.

O Raposa, dono da cadela Poesia qui ele recoieu das rua do mesmo jeito qui recoieu uma ou otra minina, chegô com o vinho. Tocava sua gaita de boca pra Poesia qui pulava no arredó, depois fungava e lambia nos pé descalço do tocadô. Colocô o garrafão no chão. Nenhuma palavra. As coisa qui tinha pra dizê saia da gaita na boca. O siô da Hora colocô o vinho num caneco de lata, farejô com exagero e depois oiô o Raposa, está aprovado! o quê está aprovado? o gosto e o perfume do vinho. e o conde sabe escolher um bom vinho? claro que sei. sabe bem menos do que pensa que sabe. bobagem, se não cheira mal e o gosto não está azedo, está aprovado, entregô o vinho pru Raposa e ordenô uma rodada para todos na casa. Puxô com a mão esquerda a garrafa qui caregava no bolso da casaca, abra esse, também! e sirva a mais bela mulher da casa, Maria Cobra.

O vinho da degola deu sua pequena contribuição de requinte e assombração entre as puta daquela noite. A casa tava cheia, quando acabar o vinho vosmecê pode abrir outro, depois outro, e se precisar, não me peça permissão, abra outro. O Raposa servia os cliente da casa, tocava sua gaita de boca e avisava, cortesia do Conde Humaitá. Só num serviu vinho nos quarto. Tinha ordem de num entrá se num tivesse precisão. O estabelecimento da Maria Cobra tinha duas parte. Uma bem-vista pelos visitante, otra mais reservada pru causo do visitante querê fazê uso da consumação. A parte da frente Maria Cobra gostava de chamá loja das venda, na continuação vinha os quarto. O lugá de aproveitamento das mercadoria tinha uma pequena cela sem janela ao lado da otra, cada uma das cela tinha um catre com vela, botija d’água e uma caneca de lata. Ali, num era permitido forçá as menina fazê o qui num queria. A punição era a expulsão da casa e o destino sem proteção de procurá os serviço de rua furtivo, clandestino e perigoso. As menina tumbém corria o risco de sê retirada da lida. Era mais raro ainda, mais podia acontecê no caso de contrabando das regalia recebida.

Poesia seguia o Raposa aos pulo, sempre dois passo atrás, latindo e abanando o rabo piquinino. Num tinha cô a pelagem da vira-lata, parecia uma camaleoa se adaptando a própria sobrevivência, tanto podia sê uma coisa boa como um mal-está no instante depois, ou um mistério sem segredo, ou um motivo pra desistí, ou um negócio parado, ou um pensamento sem cabeça, um cacareco no porão. Uns achava qui ela escolhia, otros afirmava qui era os óio dos qui via. Tinha veiz qui ela latia, mais num parecia qui latia

Esse bicho tem mais devoção que os meus negros, tem mais faro para reconhecer quem cuida da sua comida que esses escravos mal-agradecidos. Ela nunca abandona seu dono nem tenta fugir. Sabe o seu lugar na casa que a abriga e não a deixa dormir ao relento. É grata pela caridade do prato de comida, a caridade de uma cama, a caridade do seu cocho com água. Adoraria ver os rabos dos meus negros balançando de um lado e outro.

E por falar em rabos balançando vamos fazê um brinde à Poesia!

O siô da Hora se adiantô em segurá seu caneco de lata, um brinde ao rabo da Poesia! chega dessa conversa dura, conde. é o vinho, bode. parece que ele endureceu as palavra e amoleceu a língua. essa é a virtude do vinho

Viva à Poesia!

Maria Cobra tava em pé sem o vestido qui ficô nos pé. O caneco de vinho numa das mão. Nua. Descascada. A pelagem escovada. Pronta pra escaramuça. Num tinha música nem assovio, só tinha ela balançando. Nua. Sem dó nem piedade. Abria e fechava ela mesma. Gostava de sê vista. O Raposa recomeçô tocá. A Poesia recomeçô pulá. Só os três tava vivo.




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Leia também:

Histórias de avoinha: em nome do Pai Filho e do Santo. amém
Ensaio 57B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: O coveiro da esperança
Ensaio 59B – 2ª edição 1ª reimpressão

quinta-feira, 30 de julho de 2015

XXIII – Mitologia dos Orixás: Iemanjá [220] [221]

Iemanjá



Reginaldo Prandi



Iemanjá ajuda Olodumare na criação do mundo


Olodumare-Olofim vivia só no Infinito, cercado apenas de fogo, chamas e vapores, onde quase nem podia caminhar. Cansado desse seu universo tenebroso, cansado de não ter com quem falar, cansado de não ter com quem brigar, decidiu pôr fim àquela situação. Libertou as suas forças e a violência delas fez jorrar uma tormenta de águas.

As águas debateram-se com rochas que nasciam e abriram no chão profundas e grandes cavidades. A água encheu fendas ocas, fazendo-se os mares e oceanos, em cujas profundezas Olocum foi habitar.

Do que sobrou da inundação se fez a terra.

Na superfície do mar, junto à terra, ali tomou seu reino Iemanjá, com suas algas e estrelas-do-mar, peixes, corais, conchas, madrepérolas. ali nasceu Iemanjá em prata e azul, coroada pelo arco-íris Oxumarê.

Olodumare e Iemanjá, a mãe dos orixás, dominaram o fogo no fundo da Terra e o entregaram ao poder de Aganju, o mestre dos vulcões, por onde ainda respira o fogo aprisionado. O fogo que se consumia na superfície do mundo eles apagaram e com suas cinzas Orixá Ocô fertilizou os campos, propiciando o nascimento das ervas, frutos, árvores, bosques, florestas, que foram dados aos cuidados de Ossaim.

Nos lugares onde as cinzas foram escassas, nasceram os pântanos e nos pântanos, a peste, que foi doada pela mãe dos orixás ao filho Omulu.

Iemanjá encantou-se com a Terra e a enfeitou com rios, cascatas e lagoas. Assim surgiu Oxum, dona das águas doces.

Quando tudo estava feito e cada natureza se encontrava na posse de um dos filhos de Iemanjá, Obatalá, respondendo diretamente às ordens de Olorum, criou o ser humano. E o ser humano povoou a Terra.

E os orixás pelos humanos foram celebrados.

[220]



Iemanjá é violentada pelo filho e dá à luz os orixás


Da união entre Obatalá, o Céu, e Odudua, a Terra, nasceram Aganju, a Terra Firme, e Iemanjá, as Águas. Desposando seu irmão Aganju, Iemanjá deu à luz Orungã.

Orungã nutriu pela mãe incestuoso amor.

Um dia, aproveitando-se da ausência do pai, Orungã raptou e violou Iemanjá. Aflita e entregue a total desespero, Iemanjá desprendeu-se dos braços do filho incestuoso e fugiu.

Perseguiu-a Orungã.

Quando ele estava prestes a apanhá-la, Iemanjá caiu desfalecida e cresceu-lhe desmesuradamente o corpo, como se suas formas se transformassem em vales, montes, serras. de seus seios enormes como duas montanhas nasceram dois rios, que adiante se reuniram numa só lagoa, originando adiante o mar. O ventre descomunal de Iemanjá se rompeu e dele nasceram os orixás:

Dadá, deusa dos vegetais,

Xangô, deus do trovão,

Ogum, deus do ferro e da guerra,

Olocum, divindade do mar,

Olossá, deusa dos lagos,

Oiá, deusa do rio Níger,

Oxum, deusa do rio Oxum,

Obá, deusa do rio Obá,

Ocô, orixá da agricultura,

Oxóssi, orixá dos caçadores,

Oquê, deus das montanhas,

Ajê Xalugá, orixá da saúde,

Xapanã, deus da varíola,

Orum, o Sol,

Oxu, a Lua.

E outros e mais outros nasceram do ventre violado de Iemanjá. E por fim nasceu Exu, o mensageiro. Cada filho de Iemanjá tem sua história, cada um tem seus poderes.

[221]



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Leia também:

XXII – Mitologia dos Orixás: Ibejis [213] [214]

XXIV – Mitologia dos Orixás: Olocum [238] [239]


Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.



Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Pablo Neruda (Chile)

Los Poetas del Amor (28)



Agua sexual


Rodando a goterones solos,
a gotas como dientes,
a espesos goterones de mermelada y sangre,
rodando a goterones,
cae el agua,
como una espada en gotas,
como un desgarrador río de vidrio,
cae mordiendo,
golpeando el eje de la simetría, pegando en las costuras del
alma,
rompiendo cosas abandonadas, empapando lo oscuro.

Solamente es un soplo, más húmedo que el llanto,
un líquido, un sudor, un aceite sin nombre,
un movimiento agudo,
haciéndose, espesándose,
cae el agua,
a goterones lentos,
hacia su mar, hacia su seco océano,
hacia su ola sin agua.

Veo el verano extenso, y un estertor saliendo de un granero,
bodegas, cigarras,
poblaciones, estímulos,
habitaciones, niñas
durmiendo con las manos en el corazón,
soñando con bandidos, con incendios,
veo barcos,
veo árboles de médula
erizados como gatos rabiosos,
veo sangre, puñales y medias de mujer,
y pelos de hombre,
veo camas, veo corredores donde grita una virgen,
veo frazadas y órganos y hoteles.

Veo los sueños sigilosos,
admito los postreros días,
y también los orígenes, y también los recuerdos,
como un párpado atrozmente levantado a la fuerza
estoy mirando.

Y entonces hay este sonido:
un ruido rojo de huesos,
un pegarse de carne,
y piernas amarillas como espigas juntándose.
Yo escucho entre el disparo de los besos,
escucho, sacudido entre respiraciones y sollozos.

Estoy mirando, oyendo,
con la mitad del alma en el mar y la mitad del alma
en la tierra,
y con las dos mitades del alma miro al mundo.

y aunque cierre los ojos y me cubra el corazón enteramente,
veo caer un agua sorda,
a goterones sordos.
Es como un huracán de gelatina,
como una catarata de espermas y medusas.
Veo correr un arco iris turbio.
Veo pasar sus aguas a través de los huesos.








Sor Juana Inés de la Cruz (México)


RESUELVE LA CUESTIÓN DE CUÁL SEA PESAR MÁS MOLESTO EN ENCONTRADAS CORRESPONDENCIAS:

Amar o Aborrecer



Que no me quiera Fabio al verse amado
es dolor sin igual, en mi sentido;
mas que me quiera Silvio aborrecido
es menor mal, mas no menor enfado.

¿Qué sufrimiento no estará cansado,
si siempre le resuenan al oído,
tras la vana arrogancia de un querido,
el cansado gemir de un desdeñado?

Si de Silvio me cansa el rendimiento,
a Fabio canso con estar rendida:
si de éste busco el agradecimiento,

a mí me busca el otro agradecida:
por activa y pasiva es mi tormento,
pues padezco en querer y ser querida.




Não era una devota religiosa, na verdade, sua inclinação para a ordenação estava relacionada com o seu desejo de não perder seus interesses intelectuais, impedir de ser convertida (como todas as mulheres de seu tempo) em uma escrava do sexo oposto, uma mártir da cozinha e das tarefas domésticas.





Alfonsina Storni (Argentina)



La caricia perdida


Se me va de los dedos la caricia sin causa,
se me va de los dedos... En el viento, al pasar,
la caricia que vaga sin destino ni objeto,
la caricia perdida ¿quién la recogerá?

Pude amar esta noche con piedad infinita,
pude amar al primero que acertara a llegar.
Nadie llega. Están solos los floridos senderos.
La caricia perdida, rodará... rodará...

Si en los ojos te besan esta noche, viajero,
si estremece las ramas un dulce suspirar,
si te oprime los dedos una mano pequeña
que te toma y te deja, que te logra y se va.

Si no ves esa mano, ni esa boca que besa,
si es el aire quien teje la ilusión de besar,
oh, viajero, que tienes como el cielo los ojos,
en el viento fundida, ¿me reconocerás?



sábado, 25 de julho de 2015

Histórias de avoinha: em nome do Pai Filho e do Santo. amém


Ensaio 57B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Respirô com desafogo quando saiu da loja consagradora dos hôme de boa vontade em bode, a rua da Igreja tava toda iluminada com as lamparina pública nas parte alta da Villa. Cumprimentô um qui otro qui tumbém saia e seguia no pavimento da rua. Num tava disposto pra fazê conversa mole, queria mais é sabê de tê uma qui otra conversa bem dura com as moça da Maria Cobra. Tava apressado. Nada lhe deixava mais firme, esquisito e entusiasmado qui os perfume das moça carregado nos pé. Gostava de sentí as moça caminhando, os pé piquinino adoçado com brandura indo e vindo. O peso dos pé lhe usando com estrada.

Apressô os passo qui dava e levava inté o prazê das moça. Quanto mais andava mais tolerante ficava com os pensamento mais ansioso. Engolia as pedra da estrada. Avivava os esconderijo qui carregava embiocado. Fez mais um ou dois ou três cumprimento nas despedida. Perdeu as conta, parô de contá. Num lembrava mais os qui tinha feito ou desfeito, nenhuma zumbaia importava mais qui chegá no seu destino. Mirô na direção da rua dos Pecado, colocô nas vista o caminho qui precisava fazê. Mais despedida mais desatenção, tava cego de vontade. Prometeu qui ia corrê os perigo qui fosse preciso. O menino piquinino qui vestia como conde, juramentado de bode, tava descontrolando dos costume no favô das vontade. A cacunda do bode continuô o seu trajeto de fome

Boas noites, obrigado. boa noite, sinhô Conde. boas noites, que Deus lhe acompanhe, e se foi no rumo da rua da Ponte. Desceu. Num passiava, voava. Pra baixo todo santo ajuda, já na subida é preciso uma reza mais fervorosa. É na subida qui se conhece os inimigo. Passô com ligêreza pelo beco do Fanha, oiô pru céu, num tinha chuva pra caí nem lua pra iluminá. Era preciso se contentá com a brilhatura daquela noite escurinha.

Atravessô a rua da Ponte inté a rua da Praia, dobrô na direção da Arsenal. Ia com asa nos pé e um assovio piquinino evaporando nos lábio fino. Tava na direção certa, evocava as lembrança do caminho conhecido. Chegô apostá com ele mesmo qui arrumava jeito de percorrê aquela trama de rua e beco, terra e buraco e esterco, com as vista tapada meió qui as esquina de porta e janela, quarto e sala e cozinha, do casarão da siá Casta. O coelho e a couve. Mais, depois do acontecido na loja da Irmandade, deixô de lado o desafio de camiá na rua como um cego. Num era tempo de corrê risco com brincadêra e fazê o caminhô errado. Num era boa hora pra tê morte violenta e misteriosa. Um hôme qui num vê os próprio passo corre muito risco, o maió é precisá creditá nos passo daquele qui diz qui vê. E tem o cego das ideia qui ele tumbém num queria sê, gostava de repetí nos pensamento próprio, um hôme qui num pensa antes de sabê o qui precisa fazê é um cego qui num sabe se num tá guiado pra continuá cego. Tinha veiz qui dava pra escutá as conversa, não vou mais ser o cego das brincadeiras. o pior cego é aquele que não quer ver, o bode e o conde enfeitiçado. Um queria vê antes de fazê, o otro queria fazê antes de vê, os dois só combinado qui num queria iluminá os caminho

Não acredito em bruxas nem preciso perguntar se elas existem. é bom deixar o qui é de lá, por lá, e o que é de cá, por cá, o siô conde tava com feitiço qui num credita, o siô bode nunca desacreditô. Sagrado era as moça qui um e otro queria tocá com as mão, sentí o perfume sem chiliqui, apreciá o gosto comendo e bebendo desabalado, essas hora num era encontro de atendimento com pôco caso, um homem que é homem precisa cultivar o senso do sagrado. pelo fato, que o sagrado pode ajudá-lo a ser homem. essas moças me tratam como a um rei, me dão o que eu quero mais do que eu peço. cuidado com os excessos, a conta é muito dispendiosa. ocê fala como um bode e esquece que sou um conde, um homem consagrado. a ser um bode.

Continuava na direção certa. Os pensamento e a melodia era o mesmo canto. Levô uma das mão na cintura, sentiu mais força e decisão quando reconheceu o cabo do rêio, aquela arma tinha mais força de usança qui a pólvora. Uma matava. Uma dominava. Num gostava de matá. Uma coisa insana de fazê, matar é um desperdício de riqueza. um homem que não tudo faz como se estivesse para morrer, no dia seguinte, não vale dois. a morte é certa, e não tem tempo, aumentô a melodia qui fez crescê os passo, daqui cem anos estaremos todos mortos. uns bem antes, outros nem tanto.

Ele tinha plano, mesmo no caso de morrê no otro dia. Havia de tê continuação. A siá Casta tava devendo essa elegância de pai qui os fiô dá. Precisava tê um plano pra consertá essa dívida, um homem precisa continuar o seu nome. quase sempre dá para continuar. e quando não dá? é preciso encontrar outra solução, as conversa do conde com o bode mais vinha do qui ia, vou ser um bom pai, vou ensinar o que aprendi. isso é um descaso da siá Casta. depois eu penso um desfecho aceitável. bobagem, isso só pode ter um arremate satisfatório. depois. O propósito agora era visitá as moça da Maria Cobra, muié de muntu valô, muntu jeito com as mão, esse é um assunto de urgência. não é assunto para tratar com a Maria Cobra. tanto pouco com um bode.

Sentia qui o coração corria adiantado. Animava os passo na medida qui o vigô saia da moleza e se apresentava mais decidido. Avivava. Numa hora assim, achava qui o amanhã durava mais cem ano, num podia sê mais curto qui cem ano, num era caminho pra tê medo de vivê. Precisava planejá sua sucessão de herança na moldura branca. Essas coisa sempre se ajeita, era hora de tê desistência numa ou otra, num dava pra fazê as duas bem-feita e no mesmo tempo. Siá Casta ia tê qui esperá.

Os bode da Villa qui desse perdão no caso de querê perdoá, nada é maior nem tem gosto melhor que a vida na cama do amor, sorriu e aumentô o assovio. Os bode véio ia precisá tê paciência, a esperteza e a resistência dessas moças é insuperável. a quem te referes? elas têm um amor interessado para cada paroquiano. quem? as putas, quem seria? aham, o assovio e os pensamento corria na frente, avançava mais rápido e puxava os passo de conde, a andadura de bode. Nada parecia andá a esmo, nem a vontade de camiá. Eles seguia as melodia solta dos lábio, já estou sentindo. o quê? o perfume do amor. como vosmecê consegue? o gosto da memória cura qualquer tristeza ou esquecimento. cura o desapego? não posso crer que alguém não se interesse, tem veiz qui o siô conde parece qui pensa meió qui o siô bode, otras veiz parece sê o contrário, mais é bobice separá um dotro. É tudo do mesmo bicho, fiô da criação qui foi vendo e copiando. Um hôme castrado de sê hôme só pensa como macho, qui num leva nada da vida, nadica de nada, só as vestimenta de festa num corpo frio, duro de cera, descolorindo, então, ele devora tudo. Num qué sabê de futuro, busca tê a glória sem encanto, sem luz ou viveza da vida. Meió ia sê ele deixá as coisa boa da vida e levá nas costa as ruim feita, nem assim é certeza qui ia aprendê.

O assovio continuava evaporando junto com a moldura branca inacabada.

Fiô inté tinha, mais bastardo num dava de colocá na moldura branca. Num tinha lugá na sala o fiô da pele preta, precisava um fiô com a máscara branca, escuta. estou escutando. não levamos nem as lágrimas das putas. defunto é defunto. não tem que levar nada. tem defunto que nem suspiro de adeus. uma maldição. vosmecê trate de cuidar melhor da família. estou providenciando. como? do meu jeito. cuida, se vosmecê não faz uso de mulher com siá Casta, quem haverá de fazer? estou lhe desconhecendo os modos. depois da arca fechada e o adeus para sempre, tudo fede, depois seca, viram pó as lágrimas, as lembranças, até que um vento qualquer assopra tudo. e o lugar não fica mais vazio. isso, o siô da Hora aumentô a força do assovio, parecia querê emudecê a voz do siô bode e do siô conde. Num precisava sê lembrado qui vai chegá um tempo qui as coisa fica com otro feitio: as história de ocê num é mais as história de ocê, é os enredo e as confusão de ocê contada com a boca de qualqué bode.

Lembrava e deslembrava os aconseiamento do pai conforme as conveniência das impertinência feita, o que é isso? não se desacalme. vem bicho do demônio! calma, siô conde, é o Camará Farol, o preto acendedô das iluminação das rua sabe qui é preciso tê acautelamento. Tratô de acalmá o siô da Hora, num queria assustá o relho e a arma de atirá do bode. Saiu do poste e foi pra clareza

Você, negro! Estais me seguindo?

Num tenho tempo pra perdê no trabáio nem pra usá do feitiço, continuô o serviço de acendê e repará as lanterna

E o negrinho?

Foi durumi, qui num é mais tempo da escuridão prum minino piquinino ficá catingando de cera e fogo.

O serviço não terminou?

Num termina inté o sol nascê pra modo de escondê a escuridão, deixá tudo num lugá sem nome, embaixo do teto das estrela inté chegá novo encantamento.

O dia é depois da noite que vem depois do dia. Isso é assim mesmo, não é nenhuma bruxaria.

Quem disse qui num é? Vô andando qui o escurecimento do dia num espera. Nesse lugá, é preciso sê mais desembaraçado qui a escuridão, passô sem desviá ou trombá. Foi dum lado pru otro. O siô da Hora podia jurá qui o preto atravessô ele e a sua brancura de conde com a laterna e a vela acessa, mais num creditô qui viu o qui viu e num sentiu, não se engane, idiota. eu sei das bruxarias. esses negros esfolam e matam com maldade, não se tem tempo para pedidos de socorro. entendi. vá em frente, negro. não olhe para trás

Você, negro! Responda-me, o acendedô já caminhava com o minino piquinino na direção das lanterna da reparação. Parô. Virô-se

O qui falta o siô sabê?

Estou no caminho certo?

O acendedô e o muriquinho ergueu os ombro, num tinha resposta pra dá, se tinha num queria se metê, pode qui sim ou pode qui num tá...

Isso não é resposta, negro!

Nada contece como se qué.

Bobagem, negro! O que eu quero acontece.

Então, fecha os óio e caminha o caminho meió. O caminho qui o siô qué, faz do seu feitio, desvirô e caminhô dali. o hôme branco num viu o muriquinho. pur qui num viu? o qui se vê e num dá pra entendê, dá medo, é meió num vê.

O bode tumbém desviô. Voltô soltá os assovio. O canto assoprado evaporando os caminho da frente. Abrindo. A mão enfiada na casaca acariciava a garrafa com o vinho, será melhor apreciado com as moças da Maria Cobra do que com os bodes da freguesia.

O conde avançava na rua da Praia carregando as vontade dos hôme do mundo, sentia qui a moleza lhe abandonô. Gostava da sua reação de dureza, sabia qui num era assim pra sempre, precisava tomá agora o qui queria tê. Enfiá com gosto de dono inté o martelo caí da mão. Derramado. Os passo aumentava sem tê conta qui aumentava, é assim mesmo, quando estamos caminhando com prazer. o caminho parece mais longo. não se pode aproveitar o caminho e ao mesmo tempo correr. nem caminhar demais. a vontade de correr é grande. cuidado com a pressa, ela é o infausto da perfeição. nem sempre, nem sempre.

O siô conde tava indo e carregava de arrastô o bode qui num sabia o qui ia encontrá. E se sabia, fazia fingimento de num sabê. Quando se tá indo assim, a vontade de chegá é maió qui gostá de caminhá. As delícia lá da frente voltava pra chamá o curação qui já num tava mais no peito, batia desacomodado logo abaixo do umbigo, o amor não é o coração. ele é o quê? ele para de pulsar quando te alivias. até pulsar, novamente. e o que fazer com esse amor quando se está aliviado? ele volta ao peito. ele cuida das coisa do dia, todo dia, dia após dia, até morrer. uma morte lenta. é necessária a resignação e engordar. o amor não é real, o siô da Hora soltô mais assovio. Num se importava de sabê o lugá do amô, ele precisava tá no lugá qui tinha qui tá, quente e duro inté se aliviá, mesmo qui num dava de colocá na moldura. Ele tava nas mão do curação qui latejava mais perto dos pé qui da cabeça. Da terra do qui do céu.

A saudade daquele prazê derramado deixava o siô conde nervoso, as rua ficava feito estrada com mais tempo qui alento de pobre, sofrimento qui só termina nu céu. Nunca acaba na vida. É preciso vivê a morte pra sossegá. O siô conde num queria sossego, mais sê o vento nas árvore. Queria sê tudo, derrubando tudo mais rápido qui os passo, na vida é preciso encurtar o tempo. diminuir as distâncias e fazer de tudo. muito bem, bode, mas ter tudo é pouco, é preciso ser tudo. tudo? caso o bode não faça, outro fará e ficará com tudo.

O assovio avivava os lugá qui ia passá, na frente, os caminho. Avisando. Mostrando. O siô da Hora enfiava e desenfiava as mão do bolso. Conversava os pensamento da cabeça e do umbigo com o siô conde e o siô bode, deixo ou não um bigode abaixo do nariz? por que um bigode? assim tenho um lugar para desviar o nervosismo das mãos. ninguém percebe porque ele não aparece no escuro. um bigode dá mais respeito. se o caso é respeito, melhor seria deixar crescer a barba. um conde barbudo não dá respeito ao bode. nem um bode barbudo vira conde. bobagem, o respeito e o medo da Villa se ganha com a pose e as posse.

O decisório sobre o bigode ficô pra depois da usança das moça, não se toma nada por decidido em caminho de tanta agitação. concordo, isso é decisão para depois. agora, é outra trama. bem assim, não interessa o bigode, mas o tamanho do bolso.

Deixô o faro desembuchá, fungô fundo e soltô junto os assovio. Tinha um siná sonoro indo, pelos caminho, um otro qui chegava com os rastro do faro da diantêra. O tino do nariz se o caçadô tem costume de usá pode alargá a trilha. Foi quando presentiram os perigo da obra santa, esse fedor da negrada é inconfundível. estamos mais perto do que longe, um abrandô os passô e segurô o otro. Um parô os assovio. O otro de fungá. Eles sabia onde tava. Levô a mão direita, a mesma qui empunha o relho, inté a testa, depois foi no peito, ombro esquerdo, e no fim de todo aquele respeito, chegô no direito, em nome do Pai Filho e do Santo. Amém. Num encarô a obra santa. A esquerda ficô trancada no bolso, num sabia se saia ou ficava, acabô ficando, num tinha uso.

O siô da Hora atravessô na frente da obra santa protegido, num gostava de pensá nas coisa qui podia contecê, agora ou depois, na falta do siná de respeito e acobertamento, afinal, o amparo para o custeio que a obra recebe tem um bom pedaço do meu ajutório. está certo, um pedacinho carrego de volta. gosto de pensar que é um pequeno imposto devido pelo sinhô Padre. mas o que fica deve ter algum valor na contabilidade do céu, levô os dedo inté o bigode, sorriu, ia sê bão se aliviá durante a dominguêra, malandro agoniza, mas não morre.

Voltô apressá a caminhadura.




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Leia também:

Histórias de avoinha: O sinhô Conde acredita em Deus?
Ensaio 56B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: Nua. Sem dó nem piedade.
Ensaio 58B – 2ª edição 1ª reimpressão

U2

"U2 The Show Never Done"








Invisible






Song For Someone






With or without you




With Or Without You


See the stone set in your eyes
See the thorn twist in your side
I wait for you

Sleight of hand and twist of fate
On a bed of nails, she makes me wait
And I wait without you

With or without you
With or without you

Through the storm, we reach the shore
You gave it all, but I want more
And I'm waiting for you

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

My hands are tied, my body bruised
She's got me with
Nothing to win and
Nothing left to lose

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you
With or without you

Ooh
Ooh
Ooh

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you
With or without you

Uh
Uh


Com Ou Sem Você


Veja o conjunto de pedras em seus olhos
Veja as coisas retorcidas ao seu lado
Eu espero por você

Truque de mão e virada de destino
Numa cama de pregos ela me faz esperar
E eu espero sem você

Com ou sem você
Com ou sem você

Através da tempestade nós alcançamos a costa
Você dá tudo mas eu quero mais
E eu estou esperando por você

Com ou sem você
Com ou sem você
Não posso viver
Com ou sem você

E você se entrega
E você se entrega
E você se
E você se
E você se entrega

Minhas mãos estão amarradas, meu corpo ferido
Ela me tem com
Nada a ganhar e
Nada mais a perder

E você se entrega
E você se entrega
E você se
E você se
E você se entrega

Com ou sem você
Com ou sem você
Não posso viver
Com ou sem você

Com ou sem você
Com ou sem você
Não posso viver

Com ou sem você
Com ou sem você

Ooh
Ooh
Ooh

Com ou sem você
Com ou sem você
Não posso viver
Com ou sem você
Com ou sem você

Uh
Uh


Composição: Adam Clayton / Bono / Larry Mullen, Jr. / The Edge




One





Nós estamos pedindo algo extraordinário
Não queremos colocar um homem na Lua
mas...
colocar a humanidade de volta na Terra.
Nós temos a tecnologia...
nós temos os recursos...
nós temos o conhecimento...
para acabar com a pobreza extrema...
se... se nós tivermos vontade.
E eu acredito que nós temos vontade para isso.
Outros... vocês sabem...
nós temos o movimento dos direitos civis...
outros acabaram com o apartheid...
outros rasgaram a "cortina de ferro".
Isso é o que essa geração...
isso é o que depende de nós.
A nossa viagem à Lua...
"colocar um homem na lua"...
nós acabaremos com a pobreza extrema...
nós vamos fazer da pobreza história...
isso é o que caiu para nós fazermos.
E eu acredito
que isso não é uma aventura impossível.
Eu acredito que em 50 anos, quando
eu olhar de volta a esse momento...
eles dirão, houve algumas pessoas
naquela época que disseram
Não é aceitável ter uma criança morrendo
por falta de uma vacina de vinte centavos
Não é aceitável ter uma criança
morrendo por falta de comida
na sua barriga em pleno século 21
isso não é mais aceitável!
Eu sei que vocês sabem disso
Mas eu gostaria que vocês dissessem isso...
a todos os políticos que vocês virem
Você pode fazer isso bem fácil...
só pegar seu celular...
alguém tem telefone celular aqui?
Vocês podem se por em um monte de encrencas
com um celular, vejam só...
Telefones celulares...
aparelhinhos perigosos...
apague os holofotes em mim, Bruce...
Então, estamos procurndo por um milhão de americanos
para enviarem e-mails a nós
e se unirem a campanha"One"...
não estamos buscando o seu dinheiro...
estamos buscando suas vozes...


sexta-feira, 24 de julho de 2015

Manoel de Barros (Brasil)

da Poesia  (03)



VI

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas…
E se riu.
Você não é de bugre? – ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.





Cora Coralina (Brasil)



Minha infância

(Freudiana)

Éramos quatro as filhas de minha mãe.
Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
Duas me precederam – eram lindas, mimadas.
Devia ser a última, no entanto,
veio outra que ficou sendo a caçula.

Quando nasci, meu velho Pai agonizava,
logo após morria.
Cresci filha sem pai,
secundária na turma das irmãs.

Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam – diziam:
“- Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente”.

Tinha medo das estórias
que ouvia, então, contar:
assombração, lobisomem, mula sem cabeça.
Almas penadas do outro mundo e do capeta.
Tinha as pernas moles
e os joelhos sempre machucados,
feridos, esfolados.
De tanto que caía.
Caía à toa.

Caía nos degraus.
Caía no lajedo do terreiro.
Chorava, importunava.
De dentro a casa comandava:
“- Levanta, moleirona”.

Minhas pernas moles desajudavam.
Gritava, gemia.
De dentro a casa respondia:
“- Levanta, pandorga”.

Caía à toa…
nos degraus da escada,
no lajeado do terreiro.
Chorava. Chamava. Reclamava.
De dentro a casa se impacientava:
” – Levanta, perna-mole…”

E a moleirona, pandorga, perna-mole
se levantava com seu próprio esforço.

Meus brinquedos…
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis…
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.

E a casa me cortava: “menina inzoneira!”
Companhia indesejável – sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.

A rua… a rua!…
(Atração lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descobertas)
- proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
- emparedavam.

A rua. A ponte. Gente que passava,
o rio mesmo, correndo debaixo da janela,
eu via por um vidro quebrado, da vidraça
empanada.

Na quietude sepulcral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.

Contenção… motivação…Comportamento estreito,
limitando, estreitando exuberâncias,
pisando sensibilidades.
A gesta dentro de mim…
Um mundo heroico, sublimado,
superposto, insuspeitado,
misturado à realidade.

E a casa alheada, sem pressentir a gestação,
acrimoniosa repisava:
” – Menina inzoneira!”
O sinapismo do ablativo
queimava.

Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes impostas, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar…
E a certeza de estar sempre errando…
Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.

Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre…
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer,
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.

Eu era triste, nervosa e feia.
Chorona.
Amarela de rosto empalamado,
de pernas moles, caindo à toa.
Um velho tio que assim me via
dizia:
“- Esta filha de minha sobrinha é idiota.
Melhor fora não ter nascido!”

Melhor fora não ter nascido…
Feia, medrosa e triste.
Criada à moda antiga,
- ralhos e castigos.
Espezinhada, domada.
Que trabalho imenso dei à casa
para me torcer, retorcer,
medir e desmedir.
E me fazer tão outra,
diferente,
do que eu deveria ser.
Triste, nervosa e feia.
Amarela de rosto empapuçado.
De pernas moles, caindo à toa.
Retrato vivo de um velho doente.
Indesejável entre as irmãs.

Sem carinho de Mãe.
Sem proteção de Pai…
- melhor fora não ter nascido.

E nunca realizei nada na vida.
Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que me acomodei
na mediocridade de meu destino.






Paulo Leminski (Brasil)



Razão de Ser


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?



Demétrio Xavier

Primeira Pessoa








II Congresso Brasileiro de Filosofia da Libertação, na UFRGS









Galpão Nativo





quarta-feira, 22 de julho de 2015

Osiris Rodriguez Castillo (Uruguay) - para ler em voz alta

El Despido 


Literatura Gauchesca del Uruguay... imperdible. (Y recitao, mas mejor )



Secundido Barbosa era mi amigo. 
Cuando nací, ya estaba de pión en casa;
y dejé de gatiar pa dir prendido
de su modesto chiripá de apala.

Supe ser, de gurí, flor de cargoso.
No tenía prienda que me conformara,
y ái andaba Quindín, qu´era su apodo,
pescándome la luna en las cañadas.

Lo tengo bien patente en el ricuerdo
de la noche´el asalto de la estancia;
fortín de piedras que melló en sus tiempos
mucho malón filoso de l´indiada.

Tata´bía acantonao, pa´defenderse,
su personal de crédito en las casas;
y mama, como encinta de la muerte,
pasiaba un delantal preñao de balas.

Yo dentré a tener miedo, pero en esas,
al rejucilo anaranjao di un arma,
lo ví´ a Quindín Barbosa hecho una fiera,
meta trabuco al lao de mi ventana.

Y el miedo se me jué; m´entró sueñera,
y al bárbaro arrorró de las descargas,
clavé el pico y soñé la noche entera,
que aquel gaucho era´l Angel de la Guarda.

Pasó lerdiando el tiempo, que´s el modo
que tiene de pasar por la campaña,
y en mi amigo hallé un máistro que gustoso
me diba rasquetiando l´inorancia.

M´enseñó a hacer trencitas y retobos,
y enriedao en los tientos y las pláticas,
me dio el secreto ´e la virtud del criollo,
que es ser juerte y sobao, como las guascas.

Y era de comedido y bondadoso...
De recorrer el campo siempre tráiba
p´al "patroncito", un aperiá o un zorro,
o algún pichón de tero o de calandria.

Nunca más viá olvidar la tarde aquella
cuando él jué a racionar la caballada,
y yo, atado al tilín de sus espuelas,
me arrimé a pirichar cómo lidiaba.

Rellenó un imbornal pal doradiyo,
que´ra un diablo importao, orgullo e´tata,
idioso el condenao y decidido
pa´distribuir los dientes y las patas!

Ni me le había arrimao, cuando ví el brillo
de sus ojos salvajes, odio en llamas,
me abrasó la clinera; los colmillos
rajaron como un trapo la distancia.

Sentí un derrumbe y me asombró el padrillo
pataliando en el suelo entre boquiadas,
mientras el puño alzao de Secundino
era un ñudo en la lonja de la guacha.

Y ái tiene, ¿ve?, por eso jué el despido.
El puro había costao su güena plata,
y el hombre no explicó lo sucedido,
porque quedaba mal que lo explicara.

Salió del escritorio como ido...
Ya estaba en el palenque´l malacara
y se puso a ensillarlo dispacito,
como quien gusta revisar las garras...

Dispués armó un cigarro; en rudo mimo
me palmió la cabeza; la mirada
se l´enllenó de estrellas... Dio un suspiro,
y se secó la frente con la manga.

Ganao por un apuro repentino,
hizo caracoliar al malacara,
y agarró por la güeya al trotecito...
Yo, recién compriendí lo que pasaba,
y no sabía qué hacer ¡era tan chico!

La pena m´hizo un ñudo en la garganta
que redepente desaté en un grito;
el sol voltió a mi lao la sombra e´tata:
¡Se va, tatita, se me va´l amigo!
¿Quién va´pescar mi luna en las cañadas,
cuando el viento cerrero traiga arisco
sus tropillas de miedo hasta mi almohada?

Y desfleque el chilcal los alaridos
del lobizón, y tiemble la perrada.
No va´star el trabuco´e Secundino
como un sol de coraje en mi ventana.

Jué pa´salvarme que mató al padrillo!
me jué a morder y el l´abajó la guacha!
Como él dijo dispués: "estaba escrito..."
¿Me lo va´echar? ¿Al Angel de la Guardia?

Tata era un hombre güeno, compriensivo,
le dolió aquello, ¿sabe? Sin palabras
salió hasta la tranquera; dio un chillido,
y sofrenó el bagual el Secundino
con un tirón que lo sentó en las patas!

Corrió pa´regresar, eco ´e cariño
recogiendo el largor de la llamada...
"Mande, patrón...

--Quedate, Secundino,
el gurí no quiere que te vayas.

Nem Tudo Está Dito

Los Poetas del Amor (27)



Nem Tudo Está Dito


Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto –
um capítulo do inferno de Krutchônikh.
Recorda –
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.

Hoje te sentas,
no coração – aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.

No teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.

Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.

De qualquer forma
o meu amor
– duro fardo por certo –
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.

Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.

Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.

Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.

Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.

Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...

Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa.

Maiakowisk





Natureza Humana


Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza

Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acessa

Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar

Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar

Vinicios de Moraes





O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva 


Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.

Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.

Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma.


Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'





14


Brincas todos os dias com a luz do universo.
Visitante sutil, chegas na flor e na água
És mais do que essa clara cabeça que aperto
como entre as mãos um cacho de uvas, cada dia.

A ninguém te pareces desde que te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas do sul?
Ah, deixa-me recordar-te como eras outrora quando não existias.

De súbito o vento ulula e me golpeia a janela fechada.
O céu é uma rede cheia de peixes sombrios.
Aqui vêm ter todos os ventos, todos.
E despe-se a chuva.

Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Posso lutar apenas contra a força dos homens.
O temporal remoinha folhas escuras
e solta todas as barcas que de noite atracaram no céu.

Tu estás aqui. Ah, tu não foges.
Tu me responderás até o último grito.
Encolhe-te a meu lado como se tivesses medo.
Não obstante algumas vezes passou uma sombra estranha por teus olhos.

Agora mesmo, pequena, me trazes madressilvas
e até os seios trazes perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
eu te amo e minha alegria morde tua boca de ameixa.

Quanto te haverá doído acostumar-te a mim,
à minha alma só e selvagem, ao meu nome que todos afugentam.
Já vimos tantas vezes arder o luzeiro do céu, beijando-nos os olhos,
e sobre nossas cabeças destorcer-se o crepúsculo em leques gigantes.

Em ti minhas palavras choveram afagando-te.
Amei de há muito teu corpo de queimado nácar.
Creio-te até senhora do universo.
Hei de trazer-te das montanhas flores alegres, amarílis,
avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.
Quero fazer contigo
o que faz a primavera às cerejeiras.


Neruda

domingo, 12 de julho de 2015

Histórias de avoinha: O sinhô Conde acredita em Deus?

Ensaio 56B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



O siô padre apontô sisudo a cruiz de prata pendurada no pescoço. Bunita. Bem-feita. Com trêis pedra brilhante no lugá dos cravo. Ele carregava solene o sermão da eternidade balançando brilhoso no peito. Falava cerimonioso em nome do hôme pregado. Tinha o costume de segurá a cruiz com uma das mão, a otra espaiava o siná da misericórdia em nome do Pai Filho Espírito Santo, o arrependimento limpa os pecados, meu filho, o otro oiava e pensava como podia tê uma igual, tanta cruz em peito tão pequeno faz pensar na força do sinhô Padre para carregar tantos pecados, carregá aquela cruiz pode num ajudá tirá os pecado, mais faz pensá qui o pregadô era hôme de muita riqueza qui abandonô tudo pra salvá os pobre, em veiz de abandoná as riqueza devia tê distribuído com os pobre, vai sabê o qui se passa na cabeça de cadum, o castigo precisa ficar bem à vista, meu filho, eu sei, sinhô Padre, caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém; as conversa amena, entre o siô padre e o siô conde, datava depois qui o siô Afonso da Hora comprô o título de conde Humaitá e passô acompanhá siá Casta nas dominguêra, meu filho, cuida bem dos teus pensamentos e atitudes, tenho muito cuidado, sinhô Padre, a escória se alimenta da inveja e das macaquices, são patéticos sem um belo pensamento, ouça este velho servo do Senhor, cuida para não seres acusado e condenado de haver abrigado algo suspeito, todos podem ser acusados, alguns mais do que outros, sirvas mais do que sejas servido, não esqueças que todos estamos perto de morrer, amém. Ali, tava os dois conversando da vida qui se qué tê antes de morrê. A cruiz era convocada pra desembaraço das dúvida no juramento, assim, num precisava anunciá com muitas palavra o robusto carvalho da verdade, não esqueças que o dia do julgamento pode demorar, mas pode não demorar, eu sei, sinhô Padre, é preciso chupar toda a laranja enquanto se pode, esteja preparado, meu filho.

O siô padre confirmô qui o afiádo tava preparado, sabia qui a terra come a carne de tudo pra tê adubo, só assim faz crescê a espiga do miô, a terra come a carne, mas quem come o espírito, sinhô Padre, a Misericórdia de Deus, meu filho, esse deus do siô padre parece sê gordão e guloso, num para de comê gente e fazê adubo. O siô bode num tirava das lembrança o otro bode rasgado na garganta. O coitado num teve nenhum aviso, num deu um gemido. Num creditô qui tinha sido traído inté sentí o frio cortante no gargalo. Ninguém credita qui é sacrificado, dia mais dia menos, nem o bode qui num sabe qui é bode. Depois de sentí o fio frio e cortante num tem mais tempo de nada. Ninguém morre duas veiz do arrependimento, o sinhô Padre não precisa mostrar o inferno, basta ameaçar com a perda do céu

O sinhô Conde acredita em Deus?

O silêncio ficô sem ruído no salão da Harmonia, num era preciso tê destemô pra dá resposta de confirmação, num era preciso tê atrevimento pra dizê o qui a Freguesia esperava escutá, sim, eu acredito em Deus!

O siô padre farejô qui a confirmação podia sê só um consentimento anunciado da boca pra fora, onde estará o sopro da verdade? Nas palavras da mente ou nos compromissos do coração? No palavrório escondido entre o improvável e o razoável?

O siô bode num gostava de ficá empurrado de costa na parede, atocaiado, cercado nos lado, sem saída, eu e dona Casta não perdemos um sermão do sinhô Padre. Estamos sempre nas domingueiras. E repare, sinhô Padre, que a viagem é longa, lá da Humaitá até a Villa, ele num sentiu satisfação com a resposta, num disse nada qui o dono da cruiz num sabia.

Do seu lado, o siô padre achô qui ele tava brincando de esconde-esconde. Os dois sabia qui a resposta num valeu. A interrogação ia continuá inté aclará as sombra qui o bode carregava, não foi o que lhe perguntei...

Então, talvez não tenha entendido a sua pergunta.

Não tem problema, faço de novo.

Pois, faça... o siô bode quis tirá da voz o desafio do desacato, mais num conseguiu sê menos desabusado qui o seu costume. Nem bem terminô de convocá a provocação, reconheceu qui foi desacautelado. Colocô tudo a perdê com cisma teimosa qui faz as criança chorá ou sê arrastada. A voz fria e dura do siô padre lhe avisô do perigo

Então, diga se vosmecê aceita Deus por fé ou diz que acredita porque precisa dizer...

O siô bode conde tinha fé no qui podia dá resultado de mais riqueza, nas coisa qui podia mudá com suas lei e grito, num ia dizê o qui pensava, desta veiz num aceitô a provocação, em quem eu acredito? esse padreco sabe da missa só a metade. eu tenho fé na chibata, nas correntes, na fartura do gozo com as meninas da Maria Cobra, no vinho, mas não acredito que sou louco ou depravado por conta das minhas paixões desregradas. elas guiam e estimulam minha vida. nasci para ser dono de tudo. não sou um monstro, acredito que as mulheres me salvaram de ser um monstro abominável. gosto das mulheres. gosto de mandar nas mulheres. gosto de ser obedecido. sempre. eu também sinto ganas de salvar todas, mas do meu jeito. às vezes, sinto compaixão, mas é cada vez mais raro sentir piedade. mulheres e negros são lentos para entender as ordens que precisam cumprir, incapazes de encontrar as saídas da sua desgraça. gostam de reis, eu gosto de ser seu rei. um rei sem escrúpulos, não tem coisa pior que eu mesmo à solta, por aí. e esse padreco quer a minha confiança, depois minha confissão, aham, vai ficar esperando, rezando. o melhor é ficar calado, não fazer perguntas difíceis nem mostrar que sei as respostas. todas. são muito ignorantes e fracos, não vou provocar desafios com respostas desabusadas

Não desacredito, sinhô Padre. Nunca deixei de fazer o sinal da cruz: Pai, Filho e Espírito Santo. É como uma proteção da bondade e do sacrifício contra a intolerância e o ódio. Uma caridade. O amor em Cristo nos salvará. Precisamos mastigar o ódio até o fim com a caridade, ela contagia pelo ar. As palavras podem estar infectadas, num caso extremo como esse, quando as palavras provocam o contágio, todos precisam ficar em silêncio e orar para que a lei de Deus continue acima das leis dos homens. O segundo maió dos trêis encapuzado, qui tinha feito o juramentado jurá, pareceu impaciente com aquela perguntação tardia do siô padre. Parecia muita conversa e tempo jogado fora. Tirô o capuz, a sua fantasia triste do medo.

O siô bode antes de sê bode foi conde, antes de sê conde foi mascate negociadô do armazém do pai, e, bem antes de sê comerciante, chegô muriquinho piquinino de colo e têta, veio das lonjura portuguesa. Atravessô a estrada das água, mais num tava acorrentado nem foi arrancado da sua mãinha. Num foi separado do seu painho. Eles num tinha fartura de dote, mais comia quando tinha fome, dormia quando tinha sono. Num cresceu assustado com os costume do chicote e das corrente, num tinha o jeito de sê apanhado com cara de espanto. Mais foi apanhado. Num quis arregalá as vista quando viu o desmascarado, mais num controlô o feitio de oiá o desembruiado do pano branco qui cobria as aparência do doutô Garganta, promotô acusadô dos criminoso da Villa

Sinhô Padre, sinhô Conde, me perdoem a secura da intromissão, ele parecia tá se descontrolando do feitio qui gostava de sê, essas perguntas sobre a Cruz e o Nosso Senhor Salvador estão fora do lugar e do tempo, deveriam ser feitas antes do acontecimento.

O sinhô Promotor tem toda razão, mas...

Permita-me, sinhô Padre, por favor, o doutô Garganta num tava disposto em mantê aquela polêmica com o padinho do siô bode conde, desviô sua atenção do siô padre. Oiô firme e duro pro recém feito bode. Os dois parecia tá no palanqui dos julgamento. Um lugá pra desfilá os mistério das mentira e verdade, razão e abuso, a tribuna do siô juiz num é um lugá de justiça, é um palco de contação das história contra e à favô. Ganha quem conta a meió história, sinhô Conde, para que serve Deus? Para o sinhô Conde ele é um sentimento ou uma ideia?

O siô bode e conde tinha resposta daquele desafio, mais num sabia se as coisa qui ele pensava tava no tempo de sê dita, essa gente num sabe se qué das medida sem medida qui ele pode fazê, eles num sabe se ele tem controle, num sabe como pode controlá o descontrole, mas que merda é essa, se perguntô, caí em uma armadilha? não posso acreditar! preciso sair dessa tramoia para cordeiros, eu não sou um cordeiro! posso até fingir ser um bode, acontece que fingir não é ser, querem escutar as palavras que acalmam seus medos, covardes! são egoístas, rezam para um grande e terrível Deus! apanham o que for preciso e juram que é seu, matam e mastigam os corpos fracos! perseguem! ferem! escondem! oram para um grande e terrível Deus! preservam o mal e o soltam de tempos em tempos, esvaziam o céu, tudo fica proibido, só a lei é permitida, a vossa lei! feita por vós! julgada por vós, condenados por vós! o anjo e o egoísta! estão prontos para minha chegada?

Sorriu das coisa estranha qui pensava. Num podia mais silenciá, ficá com os pensamento guardado. Precisava arriscá dizê alguma coisa, qualqué coisa, mais num podia tudo, precisei da Rita para descobrir as mulheres, por que a Rita? o preço era bom e carregava muita tristeza para rir da minha ignorância. os filhos que ela não teve fez bem em não ter. o filho que teve já está feito, não tem o que fazer, mas deu uma boa criação. fez melhor do que eu com a criação dos cavalos. gosto mais dos cavalos, não são egoístas. gente é egoísta, só quer melhorar, nunca é o bastante. sempre mais e mais. isto vai piorar, se o vivente tem um negro, logo quer outro, depois três, quatro. a criação da Rita com o bastardo foi boa, como já disse, ele sabe o lugar que precisa ficar. sinhá Casta gostava e não gostava, mas gostando ou não, ela não tinha o que fazer. o negócio tava fechado. e o que estava ou não estava feito ficou no passado, lá atrás não tem como mexer

Ele é tudo!

O acusadô encarô o siô bode, os dois ficô frente na frente, as vista dum encarava as vista dotro, eles procurava alguma coisa qui pudesse fazê desfeita do feito e juramentado. Num encontrava. Num encontrô. Num ia encontrá. Os dois acabô nos braço um dotro, um abraço desanimado qui num deu satisfação de vê, num deu contentamento de dá. O acusadô deu o caso como encerrado sem tá satisfeito. Anunciô na direção do siô padre, na razão de sê o padinho do novo bode da boataria, agora, sinhô Padre, só nos resta fazer o acontecido acontecer.

O siô muriquinho piquinino, num nascido na Villa, chegado como forastêro de fora, Afonso da Hora, tornado conde Humaitá pelos laço da maridança, qui juntô os dote do marido e as aliança do véio conde, tava aceito. Ele era um bode moço na loja da Freguesia Harmonia, dona da Villa. Otro estúpido, otro bem-aventurado, num queria se perguntá, num queria trapaceá na resposta. Num tinha vontade de esclarecê. Gente boa e caridosa só pensa coisa boa de tanta caridade qui faz. A caridade serve pra isso mesmo, ajudá sem libertá o necessitado, perdoá o piedoso sem arrependimento

Bem, muito bem... vamos afrouxar o descanso com um bom vinho!

Os dois mascarado qui restava acabô com a fantasia do mistério: o maió de todos era o visconde Madeiro, juiz das leis da Villa, o hôme encarregado de fazê justiça cega qui enxerga a verdade no lugá qui tivé, sem vaidade, medo das fofoca, pelo chêro. As pessoa boa da Villa confiava no juiz preocupado na aplicação correta das lei, o hôme qui faz o certo, livremente; e do lado, tava o menó de todos, o coroné Sião, chefe das pulícia, encarregado de mantê a ordem e os bão costume, ainda tava com as mão encardida com o sangue do bode.

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Leia também:


Histórias de avoinha: O tempo é um rio seco
Ensaio 55B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: em nome do Pai Filho e do Santo. amém
Ensaio 57B – 2ª edição 1ª reimpressão

O leito de uma estranha

Mahmûd Darwîsh


O leito de uma estranha


Sou uma mulher. Nem mais, nem menos.
Vivo a minha vida como ela é
fio a fio
e fio a minha lã para vesti-la, não
para acabar a história de Homero ou o seu Sol
e vejo o que vejo
tal como é, na sua aparência.
e no entanto fixo o olhar uma
e outra vez na sua sombra
para sentir o pulso da perda,
e escrevo um amanhã
sobre as folhas de um ontem: não há voz
apenas o eco.
Gosto da ambiguidade necessária nas
palavras daquele que viaja de noite em direcção ao que já se foi
da ave sobre as colinas das palavras
sobre as açoteias das aldeias.
Sou uma mulher, nem menos, nem mais.


Faz-me voar a flor de amendoeira,
no mês de Março, da minha varanda,
saudosa de um dizer distante:
– Toca-me, para que eu leve os meus cavalos à água das nascentes.
Choro sem razão aparente, e amo-te
a ti como és, sem obrigação
sem ser em vão.
e dos meus ombros levanta-se o dia sobre ti
e quando te abraça desce uma noite sobre ti
e eu não sou isto nem aquilo
não, não sou Sol nem Lua
sou uma mulher, nem mais, nem menos.


Sê tu o Qays da nostalgia
se assim queres. É que eu
eu gosto de ser amada como sou
não uma imagem
colorida no jornal, ou uma ideia
entoada no poema entre os cervos...
ouço o grito de Laila longínquo
a partir do quarto de dormir: – Não me deixes
prisioneira de uma rima nas minhas noites das tribus
não me deixes com eles como uma história...
sou uma mulher, nem mais, nem menos.


Eu sou quem sou, como
tu és quem és: moras em mim
e eu moro em ti sobre ti para ti
amo a claridade necessária no nosso mistério partilhado
sou tua quando transbordo da noite
mas não sou uma terra
não sou uma viagem
sou uma mulher, nem mais, nem menos.


Cansa-me
o ciclo da Lua mulher
adoece a minha guitarra
corda
a corda
sou uma mulher,
nada menos
nada mais!


Mahmûd Darwîsh, O leito de uma estranha (1999)
Tradução: André Simões



لا أَقَلَّ، ولا أَكْثَرَ


أَنا اُمرأةٌ. لا أَقلَّ ولا أَكثرَ
أَعيشُ حَياتي كَما هِيَ
خَيْطاً فَخَيْطاً
وأَغْزِلُ صُوفي لِألبَسَهُ , لا
لِأُكْمِلَ قَصَّةَ ((هُوميرَ)) أَو شَمْسَهُ
وأَرى ما أَرى
كما هُوَ , في شَكْلِهِ
بَيْدَ أَنِّي أُحدِّقُ ما بِينِ حِينٍ
وآخَرَ في ظِلِّهِ
لِأحِسَّ بِنَبْضِ الخَسارةِ،
فاكتُبْ غداً
على وَرَقِ الأمْسِ: لا صَوْتَ
إلاّ الصَدىً.
أُحبُّ الغُموضَ الضَروريَّ في
كَلِمات الـمُسافِر لَيلاً إلى ما آختفى
مِنَ الطَير فَوقَ سُفُوحِ الكلام
وفَوقَ سُطُوحِ القُرى
أَنا امرأة ، لا أَقلَّ ولا أكثرَ


تُطَيِّرُني زَهْرَةُ اللوز،
في شهر آذار ، مِن شُرْفتي
حَنِيناً إلى ما يقول البعيدُ :
((اُلْمِسيني لِأُوردَ خيليَ ماء اليَنابيعِ))
أَبكي بلا سَبَبٍ واضِحٍ , وأُحبُّكَ
أَنت كما أَنت , لا سَنَداً
أَو سُدَى
ويَطَلْعُ من كَتْفيَّ نَهارٌ عَليكَ
ويَهْبُطُ، حِين أَضْمُّكَ، ليلٌ إليك
ولستُ بهذا ولا ذاك
لا لستُ شمساً و لا قمراً
أَنا امرأةٌ، لا أَقلَّ ولا أكثرَ


فكُنْ أَنتَ قَيْس الحَنِين،
إذا شئتَ . أَمَّا أَنا
فيُعجِبُني أَن أُحَبَّ كما أَنا
لا صُورَةً
مُلَوَّنَةً في الجَريدة , أو فِكْرةً
مُلَحّنةً في القصيدة بين الأَيائلِ...
أَسْمَعُ صَرْخةَ ليلى البعيدة
من غرفة النوم: لا تتركني
سَجِينةَ قافيةٍ في ليالي القبائلِ
لا تتركيني لهم خبراً...
أَنا اُمرأةٌ , لا أَقلَّ ولا أكثرَ


أَنا مَن أَنا , مثلما
أَنت مَنْ أَنت : تَسْكُنُ فيَّ
وأَسكُنُ فيك إليك ولَكْ
أُحبّ الوضوح الضُروريَّ في لُغْزِنا المشترك
أَنا لَكَ حين أَفيضُ عن الليل
لكنني لَسْتُ أَرضاً
ولا سَفَراً
أَنا اُمرأةٌ , لا أَقَلَّ ولا أكثرَ


وتُتعبُني
دَوْرَةُ القَمَر الأنْثَويّ
فتمرضُ جيتارتي
وَتَراً
وَتَراً
أنا اُمرأةٌ،
لا أَقلَّ
ولا أكثرَ!

Não foi Cabral

Mc Carol


Segundo a funkeira, música foi feita de brincadeira com estudantes.







Não Foi Cabral

MC Carol



Professora me desculpe

Mas agora vou falar

Esse ano na escola

As coisas vão mudar


Nada contra ti

Não me leve a mal

Quem descobriu o Brasil

Não foi Cabral


Pedro Álvares Cabral

Chegou 22 de abril

Depois colonizou

Chamando de Pau-Brasil

Ninguém trouxe família

Muito menos filho

Porque já sabia

Que ia matar vários índios


Treze Caravelas

Trouxe muita morte

Um milhão de índio

Morreu de tuberculose

Falando de sofrimento

Dos tupis e guaranis

Lembrei do guerreiro

Quilombo Zumbi


Zumbi dos Palmares

Vitima de uma emboscada

Se não fosse a Dandara

Eu levava chicotada








sexta-feira, 10 de julho de 2015

Baú

E do baú saiu isso (01)




Desenho De Deus
Armandinho





Te Ver
Skank





Alma Nova
Zeca Baleiro





Alma Nova

Sempre que te vejo assim
Linda, nua
E um pouco nervosa
Minha velha alma
Cria alma nova
Quer voar pela boca
Quer sair por aí...

E eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Ainda não é hora
De partir...

Sempre que te vejo assim
Linda, nua
E um pouco nervosa
Minha velha alma
Cria alma nova
Quer voar pela boca
Quer sair por aí...

Eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Ainda não é hora
De partir...

Então ficamos
Minha alma e eu
Olhando o corpo teu
Sem entender...

Como é que a alma
Entra nessa história
Afinal o amor
É tão carnal...

Eu bem que tento
Tento entender
Mas a minha alma
Não quer nem saber
Só quer entrar em você
Como tantas vezes
Já me viu fazer...

E eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Você tem muito
Que aprender...(2x)

Então ficamos
Minha alma e eu
Olhando o corpo teu
Sem entender...

Como é que a alma
Entra nessa história
Afinal o amor
É tão carnal...

Eu bem que tento, tento
Tento entender
Mas a minha alma
Não quer nem saber
Só quer entrar em você
Como tantas vezes
Já me viu fazer...

E eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Você tem muito
Que aprender...(2x)

Eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Você tem muito
Que aprender...

Composição: Zeca Baleiro e Fernando Abreu

quinta-feira, 9 de julho de 2015

80 anos! La Negra

Gracias, Mercedes Sosa


Me encanta versos de los pueblos latinoamericanos en su voz




La primera de las miles de veces que él oído La Negra

"Volver a los diecisiete"





Volver A Los 17

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo


Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si


Mi paso retrocedido cuando el de ustedes avanza
El arco de las alianzas ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena


Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si


Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes


Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si


El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero


Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si


De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella Diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín



Volver a Los 17

Voltar aos 17 depois de viver um século
É como decifrar sinais sem ser sábio competente
Voltar a ser de repente tão fragil como um segundo
Voltar a sentir profundo como um menino diante de Deus
Isso é o que sinto neste instante fecundo


Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.


Meu passo retrocede quando o de vocês avança
O arco das alianças penetrou em meu ninho
Com todo seu colorido passeou por minhas veias
E até a dura corrente com a qual nos prende o destino
É como um diamante fino que ilumina minha alma serena


Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.


O que pode o sentimento não o pode o saber
Nem o mais claro proceder, nem o maior dos pensamentos
Tudo o muda num momento qual mago condescendente
Nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes


Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.


O amor é um turbilhão de pureza original
Até o feroz aminal sussura seu doce som
Detém os pergrinos, liberta os prisioneiros
O amor com seus esforços ao velho o torna criança
E ao mal só o carinho o torna puro e sincero


Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.


De par em par a janela se abriu como por encanto
Entrou o amor com seu manto como uma fraca manhã
Ao som de sua bela Diana fez brotar o jasmim
Voando qual serafim ao céu lhe pôs brincos
Meus anos em dezessete os converteu o querubim


Composição: Violeta Parra




Después de escuchar su voz para el canto era ajeno a cambiar la forma de caminar

"Todo Cambia"







Todos juntos por favor

Solo le Pido a Dios







Zamba Para Olvidarte







Yo vengo a ofrecer mi corazón







Soy pan, soy paz, soy más







Las manos y la voz nunca olvidará

"Las manos de mi madre"







"Serenata para la tierra de uno"





LP "Serenata para la tierra de uno" Mercedes Sosa (1979) 

1.La paciencia pobrecita (María Elena Walsh - Óscar Alem) 00:00
2.El cosechero (Ramón Ayala) 04:16
3.Cuando muere el angelito (Eugenio Carlos Inchausti - Marcelo Ferreyra) 07:52
4.Viejo Caa Catí (Edgar Romero Maciel - Alberico Mansilla) 11:06
5.Serenata para la tierra de uno (María Elena Walsh) 15:04
6.Volveré siempre a San Juan (Armando Tejada Gómez - Ariel Ramírez) 18:16
7.Juancito en la siesta (Chacho Muller) 22:01
8.Pueblos tristes (Otilio Galíndez) 25:19
9.Ky chororo (Aníbal Sampayo) 28:34
10.El mundo prometido a Juanito Laguna (Armando Tejada Gómez - César Isella). 31:32
+ Bonus Track
11.Canción de las simples cosas (Armando Tejada Gómez - César Isella) 36:00
12.Como la cigarra (Maria Elena Walsh) 38:37
13.Como un pájaro libre (Adela Gleijer - Diana Reches) 41:12
14.O cio da terra (Milton Nascimento - Chico Buarque) 43:32

En 1979, se editó el disco "Serenata para la tierra de uno". Aún en medio de la violencia que sacudía al país, Mercedes Sosa seguía cantándole a la vida. El hostigamiento y el cerco que se fué formando en torno de ella la obligaron a exiliarse. Ese año fue detenida en la ciudad de La Plata junto con todo el público que había ido a verla cantar. Ese mismo año se instaló en París y en 1980 se afincó en la ciudad de Madrid.
En teoría, Mercedes Sosa podía entrar y salir del país, no tenía causa judicial alguna, pero no podía cantar. En un país en que la vida humana no tenía valor alguno y cientos de ellas se perdían en la oscuridad de las mazmorras, los usurpadores del poder pensaban que la canción con contenido era peligrosa. Había que acallar a los cantores, como una manera de silenciar a la población. Por eso mismo 4 canciones de este álbum serían censuradas por la dictadura militar y prohibidas en su edición para Argentina pero si serian publicadas en el exterior. Estas 4 canciones son las contenidas como bonus track del disco.



Mercedes Sosa Homenaje a Violeta Parra




Defensa de Violeta

Compositor: Nicanor Parra


Dulce vecina de la verde selva
Huésped eterno del abril florido
Grande enemiga de la zarzamora
Violeta Parra.

Jardinera
............. locera
....................... costurera
Bailarina del agua transparente
Árbol lleno de pájaros cantores
Violeta Parra.

Has recorrido toda la comarca
Desenterrando cántaros de greda
Y liberando pájaros cautivos
Entre las ramas.

Preocupada siempre de los otros
Cuando no del sobrino
................................. de la tía
Cuándo vas a acordarte de ti misma
Viola piadosa.


Tu dolor es un círculo infinito
Que no comienza ni termina nunca
Pero tú te sobrepones a todo
Viola admirable.

Cuando se trata de bailar la cueca
De tu guitarra no se libra nadie
Hasta los muertos salen a bailar
Cueca valseada.

Cueca de la Batalla de Maipú
Cueca del Hundimiento del Angamos
Cueca del Terremoto de Chillán
Todas las cosas.

Ni bandurria
................. ni tenca
............................... ni zorzal
Ni codorniza libre ni cautiva


solamente tú
................... tres veces tú
....................................... Ave del paraíso terrenal.

Charagüilla gaviota de agua dulce
Todos los adjetivos se hacen pocos
Todos los sustantivos se hacen pocos
Para nombrarte.

Poesía
.......... pintura
...................... agricultura
Todo lo haces a las mil maravillas
Sin el menor esfuerzo
Como quien se bebe una copa de vino.

Pero los secretarios no te quieren
Y te cierran la puerta de tu casa
Y te declaran la guerra a muerte
Viola doliente.

Porque tú no te vistes de payaso
Porque tú no te compras ni te vendes
Porque hablas la lengua de la tierra
Viola chilensis.

¡Porque tú los aclaras en el acto!

Cómo van a quererte
............................... me pregunto
Cuando son unos tristes funcionarios
Grises como las piedras del desierto
¿No te parece?

En cambio tú
..................... Violeta de los Andes
Flor de la cordillera de la costa
Eres un manantial inagotable
De vida humana.

Tu corazón se abre cuando quiere
Tu voluntad se cierra cuando quiere
Y tu salud navega cuando quiere
Aguas arriba!

Basta que tú los llames por sus nombres
Para que los colores y las formas
Se levanten y anden como Lázaro
En cuerpo y alma.

¡Nadie puede quejarse cuando tú
Cantas a media voz o cuando gritas
Como si te estuvieran degollando
Viola volcánica!

Lo que tiene que hacer el auditor
Es guardar un silencio religioso
Porque tu canto sabe adónde va
Perfectamente.

Rayos son los que salen de tu voz
Hacia los cuatro puntos cardinales
Vendimiadora ardiente de ojos negros
Violeta Parra.

Se te acusa de esto y de lo otro
Yo te conozco y digo quién eres
¡Oh corderillo disfrazado de lobo!
Violeta Parra.

Yo te conozco bien
............................ hermana vieja
Norte y sur del país atormentado
Valparaíso hundido para arriba
¡Isla de Pascua!

Sacristana cuyaca de Andacollo
Tejedora a palillo y a bolillo
Arregladora vieja de angelitos
bVioleta Parra.
Los veteranos del Setentaynueve
Lloran cuando te oyen sollozar
En el abismo de la noche oscura
¡Lámpara a sangre!

Cocinera
............. niñera
....................... lavandera
Niña de mano
.................... todos los oficios
Todos los arreboles del crepúsculo
Viola funebris.

Yo no sé qué decir en esta hora
La cabeza me da vueltas y vueltas
Como si hubiera bebido cicuta
Hermana mía.

Dónde voy a encontrar otra Violeta
Aunque recorra campos y ciudades
O me quede sentado en el jardín
Como un inválido.

Para verte mejor cierro los ojos
Y retrocedo a los días felices
¿Sabes lo que estoy viendo?
Tu delantal estampado de maqui.

Tu delantal estampado de maqui
¡Río Cautín!
................. ¡Lautaro!
.............................. ¡Villa Alegre!
¡Año mil novecientos veintisiete
Violeta Parra!
Pero yo no confío en las palabras
¿Por qué no te levantas de la tumba
A cantar
............ a bailar
....................... a navegar
En tu guitarra?

Cántame una canción inolvidable
Una canción que no termine nunca
Una canción no más
.............................. una canción
Es lo que pido.

Qué te cuesta mujer árbol florido
Álzate en cuerpo y alma del sepulcro
Y haz estallar las piedras con tu voz
Violeta Parra

Esto es lo que quería decirte
Continúa tejiendo tus alambres
Tus ponchos araucanos
Tus cantaritos de Quinchamalí
Continúa puliendo noche y día
Tus toromiros de madera sagrada
Sin aflicción
................... sin lágrimas inútiles
O si quieres con lágrimas ardientes
Y recuerda que eres
Un corderillo disfrazado de lobo.






Mercedes Sosa interpreta a Atahualpa Yupanqui





Duerme Negrito


Duerme, duerme, negrito
Que tu mama está en el campo, negrito
Duerme, duerme, mobila
Que tu mama está en el campo, mobila

Te va traer codornices
Para ti.
Te va a traer rica fruta
Para ti
Te va a traer carne de cerdo
Para ti.
Te va a traer muchas cosas
Para ti.

Y si el negro no se duerme
Viene el diablo blanco
Y zas le come la patita
Chacapumba, chacapumba, apumba, chacapumba.
Duerme, duerme, negrito
Que tu mama está en el campo,
Negrito

Trabajando
Trabajando duramente, (Trabajando sí)
Trabajando e va de luto, (Trabajando sí)
Trabajando e no le pagan, (Trabajando sí)
Trabajando e va tosiendo, (Trabajando sí)

Para el negrito, chiquitito
Para el negrito si
Trabajando sí, Trabajando sí
Duerme, duerme, negrito
Que tu mama está en el campo
Negrito, negrito, negrito.


Composição: Atahualpa Yupanqui