quinta-feira, 28 de maio de 2015

Facundo Cabral (Argentina)

Los Poetas del Amor (23)



yo se mi... que más pedir y por eso soy feliz 







Lhe disse, lhe digo e lhe direi
Porque o amor é para sempre.
Lhe digo, por exemplo:
Amo você agora que está quente,
E ontem que chovia.
Nas manhãs nubladas,
E nas noites abertas.
Amo você,
Amo você em pé, deitada,
Dormindo e acordada.
Amo você à uma, às duas, às três,
E às sempre.
Amo você,
Amo você em casa e amo você no caminho,
Amo você depois, antes e agora mesmo.
Amo você,
Amo você porque você me ama,
E toda você mo grita.
Amo você porque em você começo e termino,
Amo você porque nos encontramos e nos perdemos um no outro.
Digamos que amo você com todos o que sou incluindo eu mesmo.
Embora você saiba, meu amor, que quando eu digo que amo você, é Deus que te embeleza através do amor e eu sou o responsável por tão bela tarefa, ou seja, que cada vez que eu digo que amo você, Ele diz: "Amo você".






Yo No Vendo, Yo No Compro







No me importa tu fusil
Ni el cañón de tu enemigo
Dos males no significa
Un bien en ningún sentido
No se leer, ni se escribir
Pero atención yo se mi
Y de Tandil yo se
Que más pedir

Yo no vendo, yo no compro
Yo no cambio, yo no estorbo
Yo no presto, yo no escondo
Y por eso soy feliz

El hombre no sabe nada
Solo el tiempo es testigo
El hombre solo camina
El tiempo es el camino

Nunca pensé a donde voy
Pero atención se donde estoy
Conozco el sol y una canción
Para mí ya no hay rebaño
Por lo tanto no hay pastor
Para mí ya no hay esclavos
Por lo tanto no hay patrón

No se sumar, ni se restar
Pero atención conozco el mar
Y a una mujer conozco
Para que más






El Oficio de Cantor



El oficio del cantor es cosa maravillosa
Caray que contarle al mundo que en casa no sea una rosa
O que vino del oriente una nueva mariposa
O que Dios y la verdad viven en todas las cosas

El oficio de cantor
Es tarea venturosa
Para el sediento la copla
Es el agua milagrosa
Por compartir con Ciriaco
Esa cuestión misteriosa
Que es nada más que la vida
Aunque le llamen milonga

El oficio de cantor se aprende teniendo ganas
Abriéndole al sol la puerta y a la sombra la ventana
O dándole tiempo al tiempo para el verso para el trigo
Para la fe la esperanza, y perdón, y los amigos

Ser cantor no es un oficio
Es ser espía del viento
Pues se canta con su voz
Que es Dios compartiendo el verbo
Es andar soles y lunas
Con la manzana entera
Que el Señor puso en mis manos
Para dársela a cualquiera
Para cantar compañero
Hay que perder todo el miedo






Yo Sé Que Sí


Si, yo sé que si… si, yo sé que si.

Nos une la misma luz, el mismo color azul, el pasto verde
Que tiene la luna de aquí.
Si, yo sé que si… si, yo sé que si.

La siesta larga y el sol, el mismo temor a Dios y los
Changuitos que un día tendremos los dos
Si, yo sé que si... si, yo sé que si.

Nos une la soledad, tus ojos llenos de amor, sólo una
Cosa no entiendo mujer, por qué me dices que no…
Si, yo sé que si... si, yo sé que si.





Nada tengo que perder










Me gusta la gente simple






Me gusta la gente simple
aunque yo soy complicado
la gente de casa pobre
y corazón millonario

La que todavía suda,
la que se rompe las manos,
la que se juega la vida por el pan de sus hermanos

Me gusta la gente simple
que al vino le llama vino,
la que al pan le llama pan
y enemigo al enemigo

La que se da por entero y no tiene intermediarios
la que comparte conmigo el respeto a los milagros

Me gusta la gente simple,
que se levanta temprano,
porque hay que limpiar la calle,
pintar el frente al mercado,
bajar del camión la fruta,
repartir los telegramas,
servir el café, la sopa, pescar,
embolsar la papa,
cortar el árbol preciso para hacer una guitarra
con la que un día el cantor, caminará por la patria
contando la gente simple,
que sin ella no hay nada,
ni siquiera la milonga
que en el mundo me declara

Me gusta la gente simple
que hace la silla y la mesa,
los zapatos de mi madre,
el vestido de Teresa

La que ríe fácilmente,
la que fácilmente llora,
la que inocente confía
que un día cambien las cosas
Me gusta la gente simple
aunque yo soy complicado




Pobre de mi Patrón






quarta-feira, 27 de maio de 2015

O Canto dos Escravos

Clementina de Jesus 



Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando





BENGUELÊ
Pixinguinha e Gastão Vianna







O Canto dos Escravos
Clementina de Jesus, Doca, Geraldo Filme







Clementina de Jesus / Citação de Benguelê
Casa da Mãe Joana






Clementina de Jesus (1/2)
De Lá Pra Cá - 26/06/2011






Ensaio
Clementina de Jesus






Assim não, Zambi
Clementina de Jesus e Martinho da Vila







A Morte do Chico Preto
Geraldo Filme







Ensaboa (1977)





Ensaboa
Cartola


Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando
Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando
Tô lavando a minha roupa
Lá em casa estão me chamando Dondon
Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando

Os fio que é meu, que é meu
E que é dela
Rebenta a goela de tanto chorá
O rio tá seco, o sol não vem não
Vortemos pra casa
Chamando Dondon



Composição: Cartola




Ponto de Jongo









A Escravidão no Brasil em Fotos






segunda-feira, 25 de maio de 2015

Histórias de avoinha: Uma negra que já tenha tido desfrute

Ensaio 51B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Mifioneto, escuta essa verdade da sua avoinha, num tem uma verdade! E num tem uma mentira... 
tudo o qui ocê fala é mentira se ocê num credita nas coisa qui ocê fala. Nem os mais mau da cara dura credita no qui diz, mais eles tenta fazê ocê creditá. Ocê tem qui tê cuidado pra num creditá em mentira e num saí falando as mentira qui ocê credita sê verdade. Isso pode sê difícil se ocê num aprendê se importá com as coisa qui fala e cuidá meió das coisa qui escuta. O destino de Josino já tava traçado antes de tudo qui já tava acontecendo naqueles dia. Ele num foi escutado de verdade. E num tinha força qui fosse mudá isso... nem a verdade. A mentira, o ódio e a injustiça tem entusiasmo pra sempre e quando isso tem acendimento em boca arrogante com escutação descuidada consegue fazê caminhá pra trás as coisa boa já feita. Num havia arrebatamento pra ouví a verdade do preto Josino.

O entusiasmo com a encantação em homenagem aos noviço obedecia as lei da tribo, muito bem, muito bem, o sinhô Conde precisa passar pela iniciação, os uivo dos hôme no salão desabava sobre o mirante do governadô. Ele girô sua atenção na decoração daquela penumbra, está tudo perfeito, e foi se cravá no candidato a noviço, vosmecê está preparado, o conde da Hora confirmô com um pequeno aceno da cabeça, seja lá o qui fosse esse preparamento, eles num era mais esperto qui o siô conde, o qui mudava entre eles era a fome pelas riqueza e as coisa feita pra tê mais da felicidade do luxo com a dominação dos ignorante.

O siô conde da Hora num conhecia esse começo dos noviço qui tava sendo falado, mais num devia sê muito diferente da sua inauguração de hôme com as preta. Nunca esqueceu esses dia de touro na bacia das água, num comentava muito, mais tinha muita gabolice das descoberta feita. Lembrava sempre qui podia lembrá. Foi tempo de deixá vontade de voltá. Tem ocupação do tempo qui é assim, tem ocupação do tempo qui num é assim, bendito de ocê quando sabe qui tá num tempo assim de um dia querê voltá, num pra consertá, mais pra vivê tudo de novo. E ocê num deixa ele passá só passando, ocê aproveita pra mergulhá da cabeça inté os pé. Vivê tudo desassustado das doçura ou loucura, mais já vô avisando ocê qui esse é um tempo qui precisa o sangue do atrevimento.

Gostava de dizê, nas rara veiz qui disse, o dia seguinte de uso da negrinha era melhor, num sabia a causa de sentí assim, mais era bão sabê senti assim, eu tinha tanta força e dureza escondida de mim mesmo. O guri tava orgulhoso. Acordava com mais gosto da pretinha no otro dia, no otro, e no otro... tinha provado a delícia de ficá enfiado inté desmaiá. Cada veiz qui tinha a preta Biscoito ficava enfiado mais tempo. Tremendo. Suando inté encharcá os dois mais o chão, sem medo, embarcado de cabeça na bacia da muié. Desmaiando. Acordando. Gemendo. Um desmaio por ele mesmo. O pai repetia com os riso de alegria, meu filho ficou homem. Duro. Forte. Sem piedade. Conveniente pra num escutá o silêncio da muié-menina. Um desmaio rápido das batida curta e apressada. Gastava mais tempo oiando ela passá com gingação preta e com os desmaio do qui entregando os rancho.

Ela ia e voltava dentro da casa dançando alguma tristeza. A siá mãe da Hora ordenava uma obrigação atrás da otra. Uma luta entre as carne nova e as carne com as cicatriz do tempo. Quanto mais tristeza mais balançava os passo pra frente e atrás. Quanto mais dançava sua tristeza mais ocupação recebia, num parecia cansá nem tê vontade de falá. Só cansa quem tá vivo, só fala quem tem vontade de tá vivo. O caminhá de flutuá dela dava no menino-hôme uma muita vontade de escavocá as carne desanimada da pequena muié. Um tempo das coisa de hôme com muié fácil pro menino da Hora. O véio da Hora precisô dá mandamento de arrumação nos encontro com a pretinha e nos atendimento das encomenda, meu filho, tudo tem sua hora.

As lembrança do guri qui num se atormentava em tê vontade de dureza fazia do siô conde da Hora, nos dia de hôme, um embuste muito demorado. Pegava muita veiz no tranco. Aquelas vontade de maió rapidez deixô muita saudade e lambança. Foi o tempo dos vento da alegria dançante. Aconteceu nos dia qui o armazém da Hora já tava com tamanho bão. E se aconteceu era pra acontecê. O guri entregadô qui tinha as vista verde e muita boniteza parecia vê o mundo pela cô das vista qui tinha. Um mundo verde qui recebia as encomenda em casa, uma a uma, das mão do menino com boniteza verde. Tudo nos arredó da rua das praia.

O véio da Hora escutava os elogio do ensolarado menino e se alarmava. Aquele num era um mundo com boniteza, mais um lugá de esperteza. Teve um rompante de fazê o qui já tava pensando sê preciso fazê, e numa veiz só, é hoje, gritô de supetão, esse é um bom momento, não passa de hoje. Preciso de um trago.

Quando chamô a esposa já tinha tomado o seu talagaço de cachaça, vosmecê deixe para depois o seu zelo de capricho com a casa, fique nos cuidados do balcão. Já volto. E deu de mão no fiô, num disse nenhuma palavra com explicação, nunca dava. Nunca precisô. Arrastô o guri inté a praça de compra, venda ou troca dos preto qui já chegava na Villa acorrentado, é agora ou nunca. Escolhe uma...

A quentura da cachaça se jogô nos óio verde, firme e paterna, prometeu qui fosse o qui fosse a escolha dava sua aprovação, vosmecê escolhe e o seu pai compra a mercadoria, fez silêncio, deu tempo pro guri corrê os óio, aponte uma negra!

Elas tava numa posição de lado uma com a otra, todas mal-cuidada, fedô de sujêra forte, mulambenta, chorando, resmungando as palavra pra pouco entendimento na Villa. Presa uma na otra com uma corrente travada em colá de ferro no pescoço. Uma segurava a otra, uma levava a otra

Escolher o quê, sinhô meu pai?

O véio da Hora pareceu perdê a paciência com o fiô, será que vai ser preciso explicar os detalhes de uso, a la pucha, esse guri precisa de uma negra que já tenha tido desfrute, fácil de meter a minhoca, toda aquela preocupação tinha causa no esbanjamento da boniteza verde nos óio do guri e a falta de apetite do piazote com as carne de muié, uma negra que conheça os benefícios e o jeito de ajudar com as tarefas das mãos

Não sei, meu pai... escolhe o sinhô.

Mas que merda é essa? Levanta essa mão e aponte o dedo! Escolhe uma negrinha, e pronto!

Ele escolheu.

A pretinha escolhida tava com o oiá tão longe qui num dava pra vê o visto qui tava na frente dela. Mais num foi o oiá perdido da mocinha qui importô nem a mudez da língua, tampouco foi as vista seca e com tristeza, um choro sem choro, um luto qui durava tempo e dava jeito de sê pra vida toda qui ela tinha de vida. Parecia qui já tinha decidido defuntá o resto da vida oiando pra lá, sentindo o gosto qui num tava ali.

Ele escolheu.

Num foi o tamanho de muié qui ela já tinha, as curva pouco passava das medida do guri, nem foi a pouca vestimenta sem forro qui tapava cintura abaixo, uns pano sujo e rasgado. Manchado de terra com dô. Os dente podia tá branco ou podia num tá, ela num ria, nada dizia, ele apostava neles branco. A cabeça tava raspada inté onde alguma navalha pode alcançá. Parecia qui num respirava nem escutava. Suja, em pé, uma estátua entristecida, saburrenta, mais decidida ficá minguada em lamento. Balançava as perna como a mãe carrega o fiô chorando. O guri da Hora oiava pra ela, só pra ela. Num podia vê o qui acontecia dentro daquela sombra de muié. Eles num tinha assunto. Nem ia tê.

Ele escolheu.

Ela tinha um mistério qui o guri da Hora num percebeu, mais viu as duas cuia preta derramando a água leitosa qui só as mãe carrega. Ela era uma árvore com fruto, aquela boniteza se escorrendo deixô o guri da Hora agitado. Ele escolheu. Apontô com o braço firme e decidido o peito se derramando, o dedo duro e robusto tremendo... essa...

Essa?

Sim, respondeu sem tirá o oiá curioso dos peito mamudo. Num sabia qui podia sê assim, vazando como se tivesse furado. A vontade qui tava no guri era prová o gosto se derramando. Lembrô um dos dois aconselhamento do painho, meu filho, nem queira entender. Ocê não vai conseguir... elas sangram na greta das perna e derramam leite pelo peito. É uma nojice. Nem tente colocá algum juízo nisso. Aprenda fazer bom uso, nada mais.

O guri continuô em silêncio, quase nada escutava, num achô urgente colocá importância nas palavra do véio da Hora. Sua urgência era encontrá um jeito pra prová as água derramando da pretinha

Que assim seja, o da Hora pai virô-se pra conversá do preço com o contratante, onde está esse sujeito, levava e trazia os passo entre os preto acorrentado, uns em pé, otros escorado, maltratado, exaustos da travessia qui vinha da capital do império. A conversa num demorô pra tê acerto. Quando as duas parte qué negociá num tem preço ruim nem mercadoria com preço demais. A mocinha dos dente branco, qui num tinha gosto de tá ali se derramando sem uso de mãe, foi vendida pra família da Hora. Teve sorte, foi o qui disse o da Hora pai, somos uma família de gente das mais respeitadas e caridosas nas redondeza do comércio da rua das praias.

Afonsinho, vamos... ela é sua. Já tenho recibo da compra. Tudo assinado no bom cumprimento das leis. Segure a corrente, o piazote pegô a corda de ferro, uma corda pesada pra tá amarrada no pescoço da preta recém comprada, ele num andava. Ficô ali, parado. A corrente na mão, o que foi, agora?

Meu pai, solta ela da corrente e da coleira.

Ocê está louco? Nem pensar! E se ela foge?

Para onde, meu pai?

O pai oiô o fiô com as vista qui nunca tinha usado, acho que vou me arrepender antes do fim que nem teve começo, abriu o garrote do pescoço, soltô o passarinho dentro da gaiola, e ocê já pensou um nome?

Não.

Posso oferecer sugestão?

É claro que pode...

Biscoito Queimado.

Por que isso?

O véio da Hora soltô o riso de aprovação e entendimento da brincadêra qui fez, gostava de caçoá dos preto, se eles não fazem antes é certo que farão depois. Mas o que ocê acha do nome? Biscoito Queimado, igual aos biscoitos queimados da tua mãe, soltô otra gargalhada cheia de satisfação consigo mesmo, gostava da sua inteligência e bão humô

Acho melhor usar o nome que ela já tem.

Essa daí, não diz o nome que já tem e finge não saber que precisa obedecer ocê.

Nada de correntes...

O véio da Hora se perguntava como foi qui o guri cresceu tanto, está bem, amarre esta corda nos braços e puxe. Só para mostrar o caminho. Depois do costume não vai ter mais uso, mas antes é preciso fazer o costume.

Foi dito e feito, lá tava os três caminhando na rua das praia inté o armazém da Hora, um ou dois puxões, só isso foi preciso, se vangloriô o véio da Hora, não tivemos demora para voltar. A muié colocô as vista pra fora do balcão, tava enfiada em arrumação dentro do altar de compra e venda

Veja, minha esposa... compramos essa negrinha para ajudar nas lidas da casa e outros serviços que vosmecê achar conveniente, a dona da casa ergueu os óio do balcão pra oiá com mais cuidado a mercadoria

E o filho, foi a primeira pergunta qui fez. O marido deu de ombro, siná da sua indiferença

Não sei, já veio sem o bichinho nos braços. Mas se não foi vendido, foi comido com os peixes durante a travessia.

Tenho minhas dúvidas se foi uma boa compra. Essa negrinha está numa tristeza sem fim, não acho que vai melhorar, tinha oiá tão longo qui num dava pra vê o visto, o desgosto do luto qui parecia sê pra vida toda qui ela tinha de vida, e a troco do quê essa extravagância, foi a segunda pergunta. A muié dona da casa oiava pra otra muié amarrada. As duas amarrada. A mais nova enfiada naquele saco de pano amarelado e manchado e fedido, coberta só da cintura pra baixo

Não é nenhum esbanjamento, vosmecê e o guri precisam dos serviços da negrinha. E por agora, trate de acomodar a menina. A deixe limpar os maus bocados, mais o qui a siá mãe da Hora num podia acalmá era o desconforto do ciúme. O menino da Hora assistiu tudo junto da sua primeira escrava. Segurando a corda. Os dois tava calado, ela amarrada nos punho. Ele num tirava as vista do desmame. Ela tinha dô, mais tava desistida, só importava as lágrima qui corria pra dentro inté derramá nos peito. Ela num derramava o choro nas vista. Fazia o despejo nos peito e num parecia qui queria pará.

O véio da Hora ergueu as mão pro céu, vosmecê devia agradecer a minha preocupação com o seu conforto. O presente já está pago, fez volta e meia, colocô-se atrás do balcão e ordenô qui os três entrassem na casa. A loja precisava de sossego. Foi a primêra veix qui o guri sentiu precisão clara e manifesta de usá as mão. Sentiu vontade de se derramá, mais num sabia como fazê

Cubra essa negrinha, num foi grito nem destempero, mais mando de muié desconfiada do serviço e do uso da escrava comprada. Num queria perdê o fiô pros modo indecente do pai nem da preta ajudante. Correu inté o quarto de dormí do casal, num queria mostrá o seu medo. Entrô no lugá das visita do marido e parô no espelho e empurrô com as mão o qui tava boiando caído.

O peito secô. Chegô pra ela era o tempo das vista se derramando.



__________________________

Leia também:


Histórias de avoinha: O mundo é assim, tem dono
Ensaio 50B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: Eu juro!
Ensaio 52B – 2ª edição 1ª reimpressão

sábado, 23 de maio de 2015

Sebastião, um indomável gênio brasileiro

O Síndico




Toda a fúria do romantismo na voz do Síndico




Um Dia de Domingo
Gal Costa






Um Dia de Domingo
Tim Maia


Eu preciso te falar
Te encontrar de qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar de encontro ao vento

Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter
O mesmo sol que te bronzeia
Eu preciso te tocar
E outra vez te ver sorrindo
Te encontrar num sonho lindo

Já não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo

Faz de conta que ainda é cedo
Tudo vai ficar por conta da emoção
Faz de conta que ainda é cedo
E deixar falar a voz do coração



Composição: Michael Sullivan / Paulo Massadas





Réu Confesso








Gostava Tanto de Você








Me dê motivo




Você já viu o filme? O Tião nunca colocou o pé no freio. Nunca pegou leve...





Pede a Ela
Roberto Carlos





Pede a Ela
Tim Maia


Pede a ela
Prá ligar prá mim
Diz a ela
Que apesar de tudo
Eu não mudei
Um milhão de vezes eu liguei
E ela manda responder
Que não está...

Diz a ela que me viu chorar
Você pode usar o argumento
Que quiser
Tenta tudo aquilo que puder
Pede a ela
Prá voltar prá mim...

Diz que eu agora ando
Solitário e sem amor
Que você só procurou
Por ela
Porque viu a minha dor
Diz a ela
Que eu estou sozinho
E vou sofrer
Meu orgulho já se acabou
Minha vida se modificou
Não dá prá segurar...

Pede a ela
Prá ligar prá mim
A saudade tá batendo
Tá ruim
Pede a ela
Prá ligar prá mim
Já não posso mais
Viver assim...

Pede a ela
Prá ligar prá mim
A saudade tá batendo
Tá ruim
Pede a ela
Prá ligar prá mim
Já não posso mais
Viver assim
Pede a ela
Prá ligar prá mim!...


Composição: Carlos Colla / Ed Wilson





Até Parece Que Foi Sonho
Fábio * Hyndon








Azul da Cor do Mar








Eu Amo Você





Eu Amo Você
Tim Maia


Toda vez que eu olho
Toda vez que eu chamo
Toda vez que eu penso
Em lhe dar
Ah! Ah!

O meu amor
Oh! Oh!
Meu coração
(Pensa que não vai ser possível!)
De lhe encontrar
(Pensa que não vai ser possível!)
De lhe amar
(Pensa que não vai ser possível!)
De Conquistá-la

Eu amo você, menina
Eu amo você!
Eu amo você, menina
Uh! Uh!
Eu amo você!

Toda vez que eu olho
Toda vez que eu chamo
Toda vez que eu penso
Em lhe dar
Ah! Ah!

O meu amor
Oh! Oh!
Meu coração
(Pensa que não vai ser possível!)
De lhe encontrar
(Pensa que não vai ser possível!)
De lhe amar
(Pensa que não vai ser possível!)
Te conquistar
Ah!

Eu amo você, menina
Eu amo você! juro!
Eu amo você, menina
Uh! Uh!
Eu amo você!

Eu te amo! Eu te amo!


Composição: Cassiano




É Primavera








Essa Tal Felicidade







Telefone







Bons Momentos







Como uma onda






Como Uma Onda
Tim Maia


Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como o mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo
Agora
Há tanta vida lá fora, aqui dentro
Sempre como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como o mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo
Agora
Há tanta vida lá fora, aqui dentro
Sempre como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar


Composição: Lulu Santos / Nelson Motta






Racional (Volumes 1 e 2)








TOP 10 Românticas









DVD Tim Maia ao vivo Reveillon
Último Show Audio * Perfeito Imperdivel








Por Toda a Minha Vida








Tim Maia - O Filme




quinta-feira, 21 de maio de 2015

Alfonsina Storni (Argentina)

Los Poetas del Amor (22)



Esta tarde


Ahora quiero amar algo lejano...
Algún hombre divino
Que sea como un ave por lo dulce,
Que haya habido mujeres infinitas
Y sepa de otras tierras, y florezca
La palabra en sus labios, perfumada:
Suerte de selva virgen bajo el viento...

Y quiero amarlo ahora. Está la tarde
Blanda y tranquila como espeso musgo,
Tiembla mi boca y mis dedos finos,
Se deshacen mis trenzas poco a poco.

Siento un vago rumor... Toda la tierra
Está cantando dulcemente... Lejos
Los bosques se han cargado de corolas,
Desbordan los arroyos de sus cauces
Y las aguas se filtran en la tierra
Así como mis ojos en los ojos
Que estoy sonañdo embelesada...

Pero
Ya está bajando el sol de los montes,
Las aves se acurrucan en sus nidos,
La tarde ha de morir y él está lejos...
Lejos como este sol que para nunca
Se marcha y me abandona, con las manos
Hundidas en las trenzas, con la boca
Húmeda y temblorosa, con el alma
Sutilizada, ardida en la esperanza
De este amor infinito que me vuelve
Dulce y hermosa...







Julia de Burgos (Puerto Rico)




El mar y tú


La carrera del mar sobre mi puerta
es sensación azul entre mis dedos,
y tu salto impetuoso por mi espíritu
es no menos azul, me nace eterno.

Todo el color de aurora despertada
el mar y tú lo nadan a mi encuentro,
y en locura de amarme hasta el naufragio
van rompiendo los puertos y los remos.

¡Si tuviera yo un barco de gaviotas,
para sólo un instante detenerlos,
y gritarle mi voz a que se batan
en un sencillo duelo de misterio!

Que uno en el otro encuentren su voz propia,
que entrelacen sus sueños en el viento,
que se ciñan estrellas en los ojos
para que den, unidos, sus destellos.

Que sea un duelo de música en el aire
las magnolias abiertas de sus besos,
que las olas se vistan de pasiones
y la pasión se vista de veleros.

Todo el color de aurora despertada
el mar y tú lo estiren en un sueño
que se lleve mi barco de gaviotas
y me deje en el agua de dos cielos.







Mario Benedetti (Uruguay)



Espero


Te espero cuando la noche se haga día,
suspiros de esperanzas ya perdidas.
No creo que vengas, lo sé,
sé que no vendrás.
Sé que la distancia te hiere,
sé que las noches son más frías,
Sé que ya no estás.
Creo saber todo de ti.
Sé que el día de pronto se te hace noche:
sé que sueñas con mi amor, pero no lo dices,
sé que soy un idiota al esperarte,
Pues sé que no vendrás.
Te espero cuando miremos al cielo de noche:
tu allá, yo aquí, añorando aquellos días
en los que un beso marcó la despedida,
Quizás por el resto de nuestras vidas.
Es triste hablar así.
Cuando el día se me hace de noche,
Y la Luna oculta ese sol tan radiante.
Me siento sólo, lo sé,
nunca supe de nada tanto en mi vida,
solo sé que me encuentro muy sólo,
y que no estoy allí.
Mis disculpas por sentir así,
nunca mi intención ha sido ofenderte.
Nunca soñé con quererte,
ni con sentirme así.
Mi aire se acaba como agua en el desierto.
Mi vida se acorta pues no te llevo dentro.
Mi esperanza de vivir eres tu,
y no estoy allí.
¿Por qué no estoy allí?, te preguntarás,
¿Por qué no he tomado ese bus que me llevaría a ti?
Porque el mundo que llevo aquí no me permite estar allí.
Porque todas las noches me torturo pensando en ti.
¿Por qué no solo me olvido de ti?
¿Por qué no vivo solo así?
¿Por qué no solo....


domingo, 17 de maio de 2015

Histórias de avoinha: O mundo é assim, tem dono


Ensaio 50B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



A direção da vida da siá Casta era a mesma qui toda muié branca, bem escorada na família, aprendia fazê desde menina: cuidá dos conforto do marido, zelá pelos asseio e boniteza da casa, aprová os alimento com cara e chêro saboroso e vigiá tudo arranjado na mesa, mais num podia perdê das vista, a mais relevante e vaidosa das tarefa, fabricá na barriga a continuação do nome do hôme qui ela carregava como seu nome. Tudo feito em silêncio e devoção sem perdê a boniteza de muié. Ela num tinha cantoria. No caso de siá Casta ela ainda num tinha feito a continuação da vida, sem tê um fiô num parecia sê muié. Num tinha cantoria de crença no casarão. As crença qui dão vida na casa, com seus choro e alegria. Nem a bondade das palavra do siô padre parecia consolá, cada coisa tem seu tempo e seu jeito, gostava de recitá depois da confissão de quixume da siá, o que tiver de ser há de ser, minha filha, esse era otro dos ensinamento qui gostava de pronunciá, combinado com o ensinamento dito antes, uma frase levava inté a otra qui voltava nas palavra dita de antes.

A siá num tinha com quem conversá essas coisa de muié. Isso era ruim, ela parecia sê sozinha no sofrimento qui tinha. Tudo no seu arredó tinha pintura de sê muito feliz, inté os escravo do casarão tinha menos feitio de desistência qui ela. O siô padre usava aquele vestido longo todo preto de viúva, mais num tinha o tino qui as muié precisa tê. Ele num sangra nem precisa abrí as perna na cama com o coração fechado. E confessá é diferente de conversá. Tinha veiz qui num se aguentava de tão apertada, e chamava Grabiela Milagres, quero lhe ouvir. No começo dos encontro num falava otra frase com a preta, colocava a vontade toda na audição das palavra da muié do Josino, siá Casta, tem veiz qui as coisa num é pra sê, e pronto. Num adianta fazê o sofrimento aumentá além do tamanho qui ele tem, é burrice sofrê mais qui a dô, escutava e balançava a cabeça com concordância, gostava das palavra e dos aconselhamento da Grabiela, também das intimidade qui aumentava, mais siá Casta tinha qui fazê falação medida com a preta. Num podia falá de tudo com a escrava, se tinha otro feitio de sê feito, ia tê qui descobrí sozinha, siá... pra tudo tem um jeito.

E assim, lá tava o marido conde no caminho de sê aprovado como o mais novo associado da Irmandade gentil, caprichosa e masculina da Villa das Dores. Nos assunto daquele ajuntamento secreto de hôme, ela ficô de fora. Num parecia tê utilidade, mais eles tudo tava enganado. A sià Casta entrô com as mãos dada no siô conde, ele inté desconfiava, mais nunca ia dizê qui as palavra dele carregava junto o palavrório dela.

Naquele mundo era assim, a força e a arrogância com os hôme, a resignação e os mistério com as muié. Um mundaréu pros hôme, otro mais apertado pras muié. Sem jeito de querê mudá. Um mundo dos rico, otro da pobreza. Os branco arrogante acabô com as pegada dos natural da terra, ficô com tudo e colocô os preto pra trabaiá acorrentado. Eles tem muita preguiça de ganhá a vida com o próprio suô. Esses branco num consegue desistí de tê escravo, num qué renunciá da sua vida de disfarces e palavras vã. Esses qui só manda e num faz podia sê chamado de vagabundo, mais eles diz qui tem estudo. Num faz diferença se os demônio tá neles ou eles tá nos demônio, eles tem as orelha na nuca e os óio na testa, a língua sai onde devia tá o nariz e as duas boca tá nos lugá qui devia tê as orelha. Eles tem duas boca: uma pra mentí e a otra pra jurá qui num mente.

Naquele mundo era assim, um Deus qui apanhava com os preto, otro qui segurava a chibata e batia inté o sangue brotá da carne preta rasgada. Um Deus qui chorava, otro qui num escutava os lamento. Um Deus humano e esfomeado, otro atormentado e assassino.

O mundo é assim, tem dono. Num devia tê, mais tem. Ele passa de pai pra fiô. Uma tristeza vê tanto sangue e suô derramando dô pra modo de fazê uns pouco demônio comprá o Paraíso. Eles se achá maió do qui é, mais é só coisa ruim: depravado, mandão, injusto; carrega os demônio da violência e ignorância disfarçado de requintado. Gosta de matá disfarçado nas lei qui eles mesmo faz. É gente egoísta qui precisa de gente imbecil qui repete: num esquece qui o mundo tem dono; eles diz qui é o dono e isso nunca vai mudá. Os imbecil repete, grita e mata e morre disfarçado de coisa ruim, no lugá dos dono qui tá no Paraíso.

As terra dentro do casarão também tinha dono, elas obedecia os ordenamento da siá Casta. Quando o siô conde colocava os pé fora do seu gosto de dominação precisava se curvá pros mistério da siá. Inté fazia questão de se mostrá com inocência e burrice pros conhecimento de dona-de-casa. Entrava e saia sem muito apetite pra ficá, as tarefa era de muié. O gosto de dominação do siô conde era o quarto de dormí e sê safado. Um mundo qui podia escolhê a vida qui queria tê. Inté no quarto tinha muitas veiz qui parecia num tá. Num queria sempre, quase num queria. Num tinha vontade sempre, inda mais, quando já tinha colocado as mão e enfiado sua língua de fogo em uma ou duas pretinha. Siá Casta nunca lhe chamava nos assunto do quarto safado. Esperava sê chamada.

Num gostava de chamá o siô conde nos assunto do casarão, mais chamava pra tê sua desforra. Ele respondia impaciente e desconfortável, não sou abelhudo, não. Vosmecê faça do seu jeito, tenho certeza que será o melhor jeito para ser feito, ela lhe sorria com bondade magra e sonolenta. Gostava de sê cruel com as fraqueza do siô conde. Um mundo dos marido, otro das esposa. O mundaréu dividido em otros mundinho. Gente qui come e os qui morre de fome, os qui lê e os qui nem sabe o nome, os qui bate e os qui apanha, os qui escreve as lei e os qui cumpre, os qui prende e os qui foge, os qui reza e os qui num reza, o inferno e o céu, sempre foi assim e não vai mudar, era o dizê do siô conde, esse jeito vai continuar para sempre enquanto Deus não virar mulher ou ficar com o negrume igual dos negros, depois do dito soltava sua gaitada mais imensa e rouca, era o próprio riso do demônio. Quando acalmava das gargalhada, como se fosse uma erva daninha germinando nas últimas hora da madrugada, completava o presságio, mas com a graça de Deus isso nunca vai acontecer!

O sinhô Conde está pronto?

Tem veiz qui o susto é maió quando tá carregado da culpa, isso se o pecante num tivé ajustado com o demônio. O siô conde se assustô com a desatenção dele mesmo. Voltô os pensamento pro salão, mais num sabia o qui tinha perdido nem se dava pra se recuperá. O hôme pequeno continuava no mirante, oiando de cima para baixo, na direção do siô padre, o painho daquele batizado de começo nas confraria dos irmãos de óio entumecido e sonho maldito, o sinhô Padre tem algumas palavras para serem ditas, o viúvo do vestido longo negro respondeu qui num tinha sermão novo pra sê falado. O qui precisava sê dito já tava dito, mais ele podia dizê uma ou otra coisinha

Todos precisamos da nossa força, apoiando uns aos outros. Juntos! Uma vara sozinha se curva e quebra fácil, mas um feixe de varas resiste mais e melhor, se a Villa lucra... a vida de cada dos senhores terá algum sentido e benefício. Então, vossa Irmandade ganha. A Villa é um lugar de negócios e os assuntos do comércio precisam dos cuidados atentos da Irmandade e a benção de Deus.

Tudo começô tímido e sem entusiasmo. A bateção ficô forte com os aceno de aprovação das cabeça, o escurecimento das vela, os murmúrio de apreço e consideração. O assoalho sangrô com os espezinho dos pé. A madêra resistente estremeceu e chorô com as batida. Tudo ali contagiava as bota mais encabulada e covarde, depois vinha os grito e as palma. O teatro tava pronto pras feitiçaria. A descompostura saia da tocaia e jogava no chão sangrando a máscara de bão moço. Aparecia os vento da imbecilidade. O siô conde aproximô um sussurro do seu painho de batizado, o que é essa Irmandade, sinhô Padre?

O sorriso secreto e vaidoso tava ali, o siô padre só deixava ele aparecê na solidão da sacristia. Escancarado. O hôme vestido de preto já tava pronto pra pergunta feita. Carregava a resposta na ponta da língua, louco pra soltá elas voando. Quase abriu otro sorriso em cima do riso escondido de antes, um pouco mais caridoso, só pra mostrá a sua satisfação de tê mais uma decifração divina. Num abriu nenhum nem otro sorriso. Trancô tudo, num era momento. Ficô com receio de deixá escapá o ruído de guizo-de-cascavel na preparação do bote. Num espante se ocê descobrí qui a serpente do Paraíso pode tê tido a mesma simpatia. Os hôme são assim, eles gosta de num contá tudo. Mais no causo de agora, era meió se recolhê. Ele num queria espantá nenhuma das alma. O seu trabáio era rezá muito e se convencê e encantá as palavra qui deixava saí boca pra fora. No seu trabáio era bão ficá no controle, a Irmandade cuida daqueles que cuidam da Villa, tendo dito se calô e esperô o coro

Amém!

Ele é um dos caminho qui aquela fraternidade de irmãos e galos tolos usa pra paralisá as pessoa da Villa, tenha a cô qui tenha. Ele num faz ruindade, mais credita qui escondê os conhecimento do entendimento e amarrá os pensamento no medo é bão pros cordêro da Villa. Num vê ruindade nisso. O medo funciona meió qui a esperança no tempo qui os imbecil sai da casca do ovo e tenta engolí a vida. Tem coisa qui a língua gosta de gritá qui faz, otras qui ela escolhe o meió jeito de dizê, otras qui num gostá de dizê e tem as coisa qui só vai soltá da língua se ela tivé certeza qui num vai sê vista soltando o vento. O siô padre jura qui tem segredo qui é meió deixá engaiolado, o fracasso da vida é um deles, coisa de arrepiá, a salvação na morte mata a vida daqueles qui credita na promessa da vida eterna, eles deixa pra vivê depois, lá no Paraíso. Ele já num repete nas dominguêra da Villa qui o Paraíso é dos pobre e esfomeado, nunca disse qui era dos preto

O que é de verdade nessa Irmandade, sinhô Padre?

Meu filho, isso aqui é uma confraria discreta, destinada aos homens com fé no progresso e na ordem. Aceitam apenas rupturas acessórias. A convicção esperançosa em Deus é uma festa e deveria ser ampliado em cada um dos nossos atos, palavras e pensamentos. O sacerdócio pela vida não está apenas aqui, precisa estar em todos os instantes das nossas vidas. É como comer o mingau quente da vida pelas beiradas.

E o que preciso fazer, a pergunta do siô conde parece sê boba, acontece qui o conde de coió num tinha nada, num era coco nem chocolate. Num tava ali obrigado nem brigado, mais num sabia com clareza as razão pra tá ali. Foi avisado pra aceitá os mistério e as revelação da serpente em plumada para conhecer o caminho com as pedra da riqueza, virô pra platéia e gritô, estou aqui por mim, Conde Afonso da Hora, e minha esposa Dona Casta, a Condessa da Hora, foi seu aviso de lealdade.

As batida dos pé no chão de madêra e os grito de aprovaçã num parava, viva o Conde, a Irmandade gosta de lealdade!




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Leia também:


Histórias de avoinha: A revanche de siá Casta
Ensaio 49B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: Uma negra que já tenha tido desfrute
Ensaio 51B – 2ª edição 1ª reimpressão

sábado, 16 de maio de 2015

XI - Contos Africanos: "Ventos do Apocalipse"


“Mata, que amanhã faremos outro”




Pauline Chiziane




Este é o ditado dos tempos do velho Império de Gaza, que se tornou célebre, sobrevivendo muitos sóis e muitas luas e, como o grão, semeando de boca em boca, até aos nossos dias.

Há mais de cem anos, as terras de Mananga foram invadidas por guerreiros de tronco nu, pés descalços, orelhas furadas e saiotes de pele, ornamentadíssimos com colares multicolores, amuletos, braçadeiras felpudas, trazendo longas zagaias à direita e escudos de pele à esquerda. Os generais deste exército, os verdadeiros ngunis, laureados com coroas de penas, marchavam na retaguarda e em segurança, enquanto o grosso do efectivo formado por changanes marchava à frente, servindo de protecção aos senhores ngunis, pois em caso de ataque seriam os primeiros a morrer.

Eram os guerreiros do exército de Muzila, marchando de vitória em vitória, espalhando ordem e soberania por essas terras, chacinando os inimigos, submetendo as tribos conquistadas, apoderando-se das suas mulheres e incorporando no exército todos os jovens das terras usurpadas.

Quando os guerreiros de Muzila marchavam, a terra abalava em violentos sismos, o Sol parava, as árvores abriam alas e até soldados de Portugal buscavam abrigo nas trincheiras. As populações em bando fugiam para cá e para lá, procurando refúgio no interior da savana.

Os grupos em fuga estabeleceram normas de segurança: é proibido falar, tossir ou espirrar no esconderijo. Podes borrar-te, ou mijar-te, mover-te é que não, porque é perigoso. As crianças são livres, nada as detém. Quando têm fome, choram até enrouquecer a voz. Quando têm sede berram até enervar, e quando estão felizes cantam até de mais. Não suportam a fome, a sede e o calor e choram. As vozinhas dos meninos ouviram-se no espaço, em direcção aos tímpanos atentos dos heróicos guerreiros, que seguiram as ondas do som até descobrir o esconderijo. A vingança foi implacável, e até os fetos foram estripados dos ventres das mães. Deste modo estabeleceram-se novas normas de segurança: é preciso silenciar o choro dos meninos.

A caminho do novo abrigo os maridos aproximavam-se delicadamente das esposas com crianças no colo e transmitiam a ordem: mulher, o menino vai chorar e seremos descobertos. Mata este, que depois faremos outro.

Nos momentos de perigo, a solidariedade é a lei: ou morre um por todos ou todos por um.

Com gestos desesperados, a mulher puxava a ponta da capulana, sufocando a crença que se batia até a paragem respiratória. O menino morto era escondido na vegetação, não havia tempo para enterrar os mortos. Cuidado, mulher, é proibido chorar, mas também não vale a pena, a quem comovem as lágrimas no tempo de guerra?

O marido abraçava carinhosamente a mulher, sussurrando ao ouvido: coragem, mulher, tinha que ser assim. Esse já morreu, amanhã faremos outro.





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Paulina Chiziane, dizem que foi a primeira mulher moçambicana a escrever um romance (Balada de Amor ao Vento, 1990), mas ela afirma que é contadora de estórias e não romancista. Escreve livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspira-se nos contos à volta da fogueira, sua primeira escola de arte. Nasceu em 1955 em Manjacaze. Frequentou estudos superiores que não concluiu. Actualmente vive e trabalha na Zambézia.




Chiziane, Paulina. Ventos do Apocalipse / Paulina Chiziane; design gráfico de José Serrão; capa: Malangatana, Minhas Máscaras (1983), pormenor recortado, editorial Caminho, SA, Lisboa – 1999. 2ª Edição.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Obrigado, BB King


Lucille







Lucille

Esse som que você está ouvindo é da minha guitarra
que se chama Lucille, e eu sou muito louco pela Lucille
Lucille me tirou das plantações, Oh você pode dizer,
me trouxe fama
Eu não acho que eu poderia falar o suficiente sobre Lucille
As vezes, quando eu estou triste parece que Lucille tenta me ajudar
chama meu nome

Eu costumava a cantar espiritualmente e achava que isso era
o que eu realmente queria fazer. Mas de um jeito ou de outro
quando eu fui para o exército, eu peguei na Lucille e
comecei a cantar blues

Bem, agora enquanto eu pago meus pecados, talvez você não
saiba o que eu quero dizer quando digo pagando meus pecados, eu quero dizer quando
as coisas estão ruins para mim. Eu sempre posso, eu sempre posso,
você sabe, depender da Lucille

Meio difícil falar pra você, Eu acho que eu vou deixar
Lucille dizer algumas palavras então

Você sabe, eu duvido que você possa sentir como eu me sinto, mas
quando eu penso nas coisas que eu já passei
como, bem por instancia, se eu tivesse uma namorada e
ela abusasse de mim, e eu fosse pra casa à noite, talvez eu
sozinho, bem não talvez, eu sou sozinho, eu pegaria Lucille
e ela traz aqueles sons engraçados que soa bom pra
mim, você sabe. As vezes, eu chego ao lugar once eu
não posso dizer nada

Olhe para fora.

Às vezes eu acho que ela está chorando

Você sabe, se eu pudesse cantar pop tunes como o Frank Sinatra,
ou Sammy Davis Junior, eu não acho que ainda posso
porque Lucille não quer tocar nada alé de
blues. Eu acho que eu, eu acho que eu estou muito feliz sobre
isso. Porque não, ninguém canta pra mim como a Lucille
Cante, Lucille

Bem, eu vou deixar assim. Vá devagar, Lucille. Eu
gosto do jeito que Sammy canta e eu gosto do jeito que Frank
canta, mas eu posso ser um pouco Frank, Sammy, um pouco
Ray Charles, de fato, todas as pessoas com alma
nisso

Um pouco Mahalia Jackson aqui

Mais uma, Lucille!

Vá devagar agora

Você sabe, eu imagino que muitos de vocês querem saber, muitos
de vocês querem saber por que eu chamei minha guitarra Lucille. Lucille
praticamente salvou minha vida duas ou três vezes. Sem
brincadeira, ela realmente salvou

Lembro que uma vez, eu estava num acidente de carro, e
quando o carro parou de rodar, eu cai na
Lucille, ela me segurou, sério, ela me
segurou. Então essa foi a primeira vez que ela me salvou

O jeito, o jeito que eu cheguei ao nome Lucille, eu estava
em Twist, Arkansas, e eu sei que nenhum de vocês nunca ouviu
dessa, ouviu? E uma noite um dos caras começou um
rumor por lá, você sabe, eles começaram a brigar, voce
sabe o que eu quero dizer. E o cara que estava bravo com a
mulher dele, foi quando ela caiu nesse tanque de gas que estava
queimando para aquecer, o gás caiu no chão

E quando o gás se espalhou pelo chão, o prédio
começou a pegar fogo, e quase me queimou tentando salvar
Lucille. Oh eu, eu imagino que você ainda esteja se perguntando por que eu
a chamei de Lucille, a mulher que começou aquela briga naquela
noite se chamava Lucille

E que tem sido Lucille, desde então pra mim. Mais uma
agora Lucille

Soa bastante bom pra mim. Posso tocar mais uma?

Olhe para fora, Lucille.

Soa muito bem. Acho que vou tentar mais uma.
Certo!
Composição: B.B. King






The Thrill Is Gone







Eric Clapton & B.B King






Everyday I Have The Blues






Live in Africa








The Best








quinta-feira, 7 de maio de 2015

Histórias de avoinha: A revanche de siá Casta

Ensaio 49B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar


O conde num respirô nem piscô pra dá sua replicação de obediência e agradecimento, inté pareceu gostá de fazê gosto, mostrá sua humilde servidão a importância do chamamento, sempre foi do palpite qui tem hora da valentia e otra da covardia, sem teimosia birrenta, Não quero de maneira nenhuma incomodar Vossa Excelência com minha visita de insignificância, a sala continuava escurecendo, cada assopro espantava o iluminamento, parecia qui os ânimo de assoprá as vela num acalmava. O desaluminá ficava maió de tamanho e mistério, mas lá estarei para ouvir seus conselhos, seguir seus passos de sabedoria e justiça, num corô de vergonha e se ficô acerejado num deu pra vê, quase lembrô de perguntá da necessidade de tanto negrume e escondição. Num quis lembrá, tem coisa qui num é bão lembrá.

É certo qui ele num tinha motivo nem atrevimento pra mostrá mais valô qui o governadô da província, bastava o sabô íntimo do convite público recebido e a inveja qui num via, mais sentia, Não se preocupe com as insignificâncias, sinhô Conde. Deixe que eu decida o tamanho da migalhice de cada um. Afinal, o cidadão tem um preço que faz de si e um valor que recebe dos outros, quase sempre a serventia é menor que a proteção, parô a conversa, esperô a colocação do pequeno mirante qui dois preto carregava, numa distância segura, pra tudo qui era lugá de aparição do governadô. Eles num podia se torná um estorvo nem criá uma espera demasiada, atento esperando um aviso, um gesto, um ruído, qualqué coisa. Os dois era entendido de meneio do governadô. Tinha veiz qui eles errava, otras eles salvava. Numa das veiz, eles errô quando o governadô fez o siná da cruz, teve qui repetí o siná de cima do terraço, toda corte precisô fazê. O siô padre qui tava do lado, num pode subí no palco e fez a reza debaixo pra cima. Mais já teve veiz qui o ruído dos vento preso no ventre saiu intempestiva e as ventosidade continuô saindo do mirante. É isso, a gente tá nesse mundo pra errá e acertá. Subiu os dois degrau. De fato, agora já oiava de cima o conde com uma presunção natural, quase involuntária, dessas qui acompanha a fidalguia qui nunca deve explicação, mais tem medo de deixá de sê superiô, credite mifioneto, essa gente qui nunca precisô tê amedrontamento, vive com medo de precisá dá esclarecimento, Vou lhe mostrar uma chibata matadora. Essa acaba com o negro mais desgraçado e desaforado, parô o discurso de novo, baixô a cabeça inté roçá o hálito do vinho no conde, sussurrô aborrecido, já cansado daquele feitio de usá a voz rouca e arrastada do demônio, essa chibata faz gosto de assuntar com o ladrão mais filho-da-puta, seja da cor que tenha.

Vô dizê o qui eu vi, ocê credite se tivé vontade de creditá, o siô conde num caiu das perna medrosa, mole e sem força, ali mesmo, na frente de todos aqueles convidado, assustado como guri cagado, porquanto o espritu do véio Ermo da Hora apareceu atrás do fiô. Agarrô o guri pelas cintura e segurô firme, num deixô ele perdê o respeito, o conde parecia desenho solto no vento. A noite quase terminô ali, ele num conseguia retorná as vista na direção do demônio. Sabia qui tinha o oiá assustado. Sacudiu a cabeça concordando, mais num disse palavra, num quis arriscá, elas ia saí com jeito de vigarice, tremida e espremida. Agarrô com força os dedo na mão, fechô os dedo. Botô toda força qui tinha nos dois punho fechado. Num ia caí em nenhuma armadilha. Ergueu as vista inté oiá na direção do governadô. Só então, o espritu do véio da Hora soltô a cintura do guri e deu dois passo de distância, sorriu com a missão cumprida e foi puxado pelas mão. Num respondeu logo, antes foi inté o fiô e sussurrô um qui otro recado da siá Casta. E desapareceu, de novo. Os aviso da siá Casta encheu as lembrança do conde, Vosmecê não esqueça que vence quem entrar na imaginação do outro, fazendo acreditar que a mentira é verdade, lembre que brincar de esconde-esconde com os olhos vendados é fácil, vosmecê só precisa ficar espionando.

Sinhô Governador, a voz do conde foi mais um suspiro qui uma resposta de concordância, mais, pelo menos, ela já tinha voltado, estou a mercê de Vossa Excelência, e tava mesmo, num era mentira. A siá num parava de avisá, Meu esposo, não seja imprudente. Todo cuidado é pouco com aqueles que fazem você duvidar de si mesmo. Não mostre o fundilho das calças. Cuidado com o costume de sentir grandeza em demasia, quando vosmecê se deparar com autoridade de maior grandeza não vai resistir a tentação de se submeter com mais facilidade que o recomendado.

Esses aconselhamento de siá é bão num tê esquecimento, mifioneto. Tome os cuidado necessário com as medida de grandeza e despojamento, nenhuma coisa nem otra; em demasia, só as prontidão da vida com bondade, num deixe de fazê cafuné com cautela e precisão inté o corpo ficá em chama. Ocê pode obedecê com doçura, mais sem escondê o seu valô, se proteja das depravação afetada dos mandão, eles tem os demônio nas entranha, tudo neles é antinatural, presta atenção qui inté algum banho de lágrima se parece um completo deslumbramento. Espera, um dia a panela destampa e os qui acha qui manda descobre qui é mandado

Lembre-se, meu caro Conde, o acanhado não se enfrenta do mesmo jeito que o inimigo apreciável. Espero o Conde, amanhã?

Era certamente impossível se recusá, mais o conde num se conteve de mostrá o seu lado cívico e bajuladô, Um convite de Vossa Excelência é uma ordem, nem terminô de dizê o qui disse e fez com a boca um abrimento de surpresa: uma luz iluminava a cabeça do mandão. Uma chance em mil do fato acontecê, mais aconteceu. Aquilo lhe obrigô lembrá do falecido pai qui também tinha sido iluminado e esclarecido sobre as coisa qui precisava sê feita na Villa. Uma iluminadura divina, concordô sem discussão. Os dois tinha o mesmo destino

Bobagens, sinhô Conde. Pare de repetir o que lhe ensinaram. Não me olhe assim, como se eu fosse um novelista intriguento, falso e tolo. Não estou lhe ordenando nada, é apenas um convite, continuava sorrindo com o gosto vago de quem pode tudo, uma fidalguia nobre e ardente pra si mesma, ou seja, o conde egoísta é só uma caricatura tolerável, uma forma engraçada; especial, só ele, o governadô. A palavra mais alta só do hôme no mirante, o sinhô Conde já ouviu as histórias do bandeirante Domingos Jorge Velho?

No salão num tinha murmúrio de afetação nem de susto. Nem desrepeito. Os hábito da reunião num tava se criando de novo, já vinha de muito tempo antes. Purgatório e renovação. Paciência e submissão. A presa nas garra do predadô. Um num tinha pressa, sabia qui podia escolhê a hora do banquete, o otro num sabia se já tava em carne viva. Num sabia se a dô qui sentia era da morte ou de sê comido. Entre eles os espritu qui num se solta das riqueza da fortuna: egoísta, cruel e intolerante; os nervo do conde volta ficá forte, solene e rigoroso, Claro, sinhô Governador, já ouvi muitas histórias desse grande homem. Devemos muito do que somos a ele!

O conde sabia qui era o brinquedo daquele salão, num ia fazê murmúrio de susto nem de afetação. Lá tava o sorriso misterioso no mirante com a iluminura divina, pronto pra lhe desafiá ou devorá, Pois consegui a chibata do velho Jorge, um acerto da sorte com a oração e o valor justo. O destino precisa ser ajudado para fazer justiça aos homens do bem. Esse foi um grande homem, um destemido que gostava de caçar os teimosos. Um bravo, sem nenhuma dúvida. Mas um Capitão descuidado que estragou muita mercadoria.

Um desbravador, foi a resposta uivada pelos demônio do salão. Um grito só. Um aviso. Eles tinha fervô e paixão pela memória do sujeito. O hôme pequeno continuava no seu terraço particulá, virô-se pro amontoado de gente boa da Villa, e fez um aceno, inté os assopro nas lanterna parô. Os assopradô teve qui engolí as ventania qui ia fazê. Num se sabe onde foi pará a ventilação qui num foi feita. As coisa qui tinha qui sê feita e num é feita, onde fica? Num se sabe onde fica, um dia mais ou menos elas aparece como mexerico ou um vento melancólico qui nunca teve uso, deselegante, inesperado e enche a parte qui ficô vazia, esperando a vida acontecê

Meus amigos, o tempo irá reservar um lugar de honra para esse grande homem, entre nossos heróis, o governadô parô o discurso e oiô direto nas vista do conde, o bandeirante matadô tava dentro da imaginação daqueles hôme, ele era o intruso, o recém-chegado qui gozava pouco respeito, nossas crianças precisam conhecer suas histórias, elas são a continuação do nosso jeito elevado e discreto de viver, a voz do hôme no platô encheu de gritos o salão, a Irmandade uivava a proclamação

Viva Domingos, o Velho!

Viva!

Outro viva para nossas crianças!

Viva!

É assim qui a fidalguia faz, cria uma roupa qui os preto tem qui usá pra toda vida, se num usá as coisa pode piorá. O siô conde levantô as mão e acompanhô os grito de viva! Aos pouco uma esperança de ódio foi se acendendo, Vosmecê carece beber um bom vinho e tagarelar mais por aqui... junto da nossa má influência, inté os assassino da milícia do véio Jorge deu gargalhada do convite do governadô

Eu aprendo rápido, sinhô Governador, mas foi muita sorte depois de tanto tempo encontrar tal relíquia, o siô conde conhecia as história do bandeirante matadô, num esquece qui na luta do medo contra a esperança vence quem entrá na imaginação do otro, num esquece qui o medo faz tudo pra ocê creditá qui a mentira é verdade. Inté ocê repetí qui num existe a verdade, é tudo mentira. Pensa com avoinha, se tudo é mentira, a mentira também num é verdade, truquice dessa gente, eles qué qui ocê credite na verdade qui eles jura qui é verdade, e qui avoinha amaldiçoa. A verdade dessa gente, é a verdade dos espritu ruim qui vive das trinta moeda da traição do qui é bão, do qui é de todos. Pode creditá qui tem gente assim, qui vive já morta. Esse siô véio Domingos, no seu tempo, montô a própria milícia e ficava com disposição pra atendê a meió oferta. Os branco tinha medo dele. Os índio pavô, degolava os índio. Esses num tinha lucro se prendia, então num prendia. Os preto tinha otro valô, mais o gosto de fazê eles sofrê ganhava do prazê do lucro. O dinhêro num compra tudo. Os preto qui ele num arrebentava era preso. Arrastava aos grunhido, grito e lágrima. Os qui se defendia morria com seus grito alucinado, Esse é o único destino decente para esses negros antinaturais, aqui, nesta colônia portuguesa, negro bom é o negro acorrentado, marcado com a minha chibata, nunca deixô de exigí participação nos saque. Uma milícia de hôme analfabeto e descalço qui meteu medo inté nos fazendêro e usinêro, quase acabô com os índio. E desconjuntô mais preto qui colocô de volta nas mão dos dono, Os amigos nem têm muito do que reclamar, cada negro que volta arrastado ou caminhando impede a fuga de outros dez, no mínimo, ou quem sabe, mais de cem, ele mais valia pros branco pelo terrô qui esparramava nos preto

Essa é de um tempo em que as coisas eram feitas para durarem...


Viva!

Naquele salão cheio de botas e riqueza, vazio de anjos, o conde num precisava se contorcê muito pra elogiá um matadô assanhado. Num tinha ningém, naquele salão, nem ele conhecia gente qui creditava na ingenuidade santa, lugá no céu pros mais sofrido. Sua gente creditá na otra porta, a vida eterna com mais conforto. O deus da Irmandade num se contenta com bagatela nem qualqué bocado repartido, ele é tudo, ele qué tudo, é o deus qui vence o mal, sem lástima, mágoa ou pena. É só frieza e indiferença, o bem é a Irmandade, o mal é os preto
os pobre
as puta, essa escória qui num tem salvação, num tem dente, num tem boniteza, num sabe escrevê nem falá, eles fede. Eles num precisa nem da água pra limpá os pecado, num sabe usá o sabão da vida eterna.

O siô conde oiava o salão desfigurado, ainda num sabia como era o começo de tudo, ele tava ali pra sê iniciado, mais sorriu, naquele salão num tava o fim de tudo. Ele havia de tê o qui siá Casta costurô com todo cuidado, desde a morte do pai, o conde Antão. Tava pronto o indiciamento do conde Afonso da Hora na Irmandade. Ele tava pronto. A siá Casta mesma cobiçô sê da Irmandade, chegô se oferecê pra esse começo solene e reservado, no lugá do pai, mais foi avisada qui na Irmandade num era lugá de muié. Foi rejeitada.

O siô da Hora foi a sua revanche.




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Leia também:


Depois da fama feita, deite na cama
Ensaio 48B – 2ª edição 1ª reimpressão


Histórias de avoinha: O mundo é assim, tem dono
Ensaio 50B – 2ª edição 1ª reimpressão

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Super-Homem, a Canção

Gilberto Gil









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Super-Homem, a Canção

Gilberto Gil


Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver

Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher


Composição: Gilberto Gil

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Aos mestres com Carinho


Acho que não precisa traduzir




Tenho uma declaração a fazer. É sobre o mestre. Bem, mestre... agradecemos muito tudo o que fez por nós. E gostaríamos que aceitasse uma pequena lembrança.




Memórias do aluno Mia Couto

LITERATURA E POESIA



(Trecho de uma palestra proferida por Mia Couto, intitulada ” Da cegueira colectiva à aprendizagem da insensibilidade”, em Maputo/2012)

Durante anos, fui professor. E quando digo isto há uma emoção fortíssima que me atravessa. Eu não sei se há profissão mais nobre do que a de ensinar. E digo ensinar porque existe uma diferença sensível entre ensinar e dar aulas. O professor no sentido de mestre é aquele que dá lições.

Os professores que mais me marcaram na vida foram os que me ensinaram coisas que estavam bem para além da matéria escolar. Não esqueço nunca um professor da escola primária que um dia leu, comovido, um texto escrito por ele mesmo. Logo na declaração da sua intenção nasceu o primeiro espanto: nós, os alunos, é que fazíamos redações, nós é que as líamos em voz alta para ele nos corrigir. Como é que aquele homem grande se sujeitava àquela inversão de papéis? Como é que aceitava fazer algo que só faz quem ainda está a aprender?

Lembro-me como se fosse hoje: o professor era um homem muito alto e seco e, nesse dia, ele subiu ao estrado da sala segurando, nos dedos trémulos, um caderno escolar. E era como se ele se transfigurasse num menino frágil, em flagrante prestação de provas. Parecia um mastro, solitário e desprotegido. Só a sua alma o podia salvar.

Depois, quando anunciou o título da redação veio a surpresa do tema que parecia quase infantil: o professor iria falar das mãos da sua mãe. Éramos crianças e estranhámos que um adulto (e ainda por cima com o estatuto dele) partilhasse connosco esse tipo de sentimento. Mas o que a seguir escutei foi bem mais do que um espanto: ele falava da sua progenitora como eu podia falar da minha própria mãe. Também eu conhecera essas mesmas mãos marcadas pelo trabalho, enrugadas pela dureza da vida, sem nunca conhecerem o bálsamo de nenhum cosmético. No final, o texto acabava sem nenhum artifício, sem nenhuma construção literária. Simplesmente, terminava assim, e eu cito de cor: “é isto que te quero dizer, mãe, dizer-te que me orgulho tanto das tuas mãos calejadas, dizer-te isso agora que não posso senão lembrar o carinho do teu eterno gesto.”

Havia qualquer coisa de profundamente verdadeiro, qualquer coisa diversa naquele texto que o demarcava dos outros textos do manual escolar. É que não surgia ali, em destacado, uma conclusão moral afixada como uma grande proclamação, uma espécie de bandeira hasteada. Aquele momento não foi uma aula. Foi uma lição que sucedeu do mesmo modo como vivemos as coisas mais profundas: aprendemos, sem saber que estamos aprendendo. Lembro este episódio como uma homenagem a todos os professores, a esses abnegados trabalhadores que todos os dias entregam tanto ao futuro deste país.




Aqueles dias de menina do colegial
de contar histórias
e de morder as unhas se foram








E de novo...


Lulu
To Sir With Love






Escolha o seu jeito de ver






O tempo passa...



Ao Mestre Com Carinho 2
1996

sábado, 2 de maio de 2015

Ocê já... algum desses? Tá esperando o quê?


5 livros para compreender a miséria humana




fevereiro 20, 2015 17:19






Veja também
O ato de colonizar está na mente
Saramago e nossos moinhos de vento
Democracia amputada




Autores como Fiódor Dostoievski, José Saramago, Graciliano Ramos, Victor Hugo e Paulina Chiziane escreveram obras fundamentais para entendermos tragédias que se abateram (e ainda se abatem) sobre a humanidade


Por Marcelo Hailer


A classificação de um produto cultural enquanto “clássico” não se dá à toa. Uma série de fatores estão envolvidos em torno da obra que fazem dela atemporal e fundamental para se compreender eventos, trágicos ou não, que aconteceram durante a história. No momento presente vivemos uma série de acontecimentos que são alvos de inúmeras análises – jornalísticas, sociológicas e históricas – tais como os novos conflitos de guerra, seca no Brasil, grupos políticos da extrema esquerda e direita que disputam a narrativa político-social e, claro, a concentração de riqueza e a miséria inerentes ao sistema capitalista.

Por mais que os temas acima citados sejam contemporâneos, eles são recorrentes na história do mund, seja no Ocidente, na Ásia ou na África. E todos eles já foram fontes de inspiração para obras primas que nos trazem algum entendimento das atitudes dos considerados “humanos” e que, inevitavelmente, levam à tragédia. Para tanto, selecionamos cinco autores e uma obra respectiva que trata de questões presentes no cotidiano, seja ele político, jornalístico ou social.


1 – Os Demônios, de Fiódor Dostoiévski

Obra fundamental para quem deseja compreender e acompanhar os resultados de quando duas figuras ávidas pelo poder travam uma disputa na qual as pessoas são meramente instrumentos para tal objetivo. De acordo com especialistas na obra de Dostoiévski, Os Demônios é uma das poucas, senão a única obra do escritor russo que teve como ponto de partida uma tragédia real: o assassinato do estudante Ivanov por um grupo de niilistas liderados Nietcháiev, em 1869.

Todo o ambiente político de então é recriado por Doistoiévski de maneira magistral e, a partir dos personagens Kirilov, Chigalióv e Piotr Stiepánovitch, temos a representação do intelectual pessimista e dos fanatismos políticos perpetrados pelos grupos de Chigalióv e Stiepánovitch. Temas como fundamentalismo religioso, fanatismo político e terror se fazem presente nesta obra prima. As análises críticas sobre o humano e a sua busca pelo poder são de uma atualidade perturbadora. Para historiadores, ao construir as personagens de Chigalióv e Stiepánovitch, Dostoiévski foi profético a respeito dos horrores cometidos em nome de Hitler e Stálin.



2 – Os Miseráveis, de Victor Hugo

Esta obra monumental do escritor francês Victor Hugo é fundamental não apenas para se compreender a questão da miséria humana, mas também para quem deseja ter acesso a críticas e percepções do período revolucionário que resultou na fundação do Estado francês. Inúmeras críticas tecidas pelo escritor podem ser muito bem adaptadas e trazidas para o atual contexto político, principalmente quando pensamos na atual fase da Europa e dos novos movimentos revolucionários.

Os Miseráveis não chamou apenas a atenção, à época, por conta de seu teor crítico, mas, principalmente, por ter como protagonistas um presidiário (Jean ValJean), uma prostituta (Fantine) e uma criança explorada por adultos (Cosette). Tal escolha de personagens foi considerado um escândalo, pois, à época, os romances apenas retratavam o cotidiano da realeza e da burguesia.

A partir da narrativa de Jean, Fantine e Cosette, Victor Hugo mergulha na hipocrisia humana e como está dividida entre “ambiciosos” e “invejosos” e que tal divisão é parte da cultura e, portanto, presente desde a educação infantil. Ao mesmo tempo em que o autor desnuda a “sociedade de bem”, ele dá voz aos sujeitos subalternos que passam ao largo da Revolução Francesa.






3 – Vidas Secas, de Graciliano Ramos

Considerada a obra mais importante do movimento realista da literatura brasileira, Vidas Secasnunca esteve tão atual, principalmente quando pensamos que nos dias atuais o que mudou foi o mapa geográfico da seca retratado na obra. Se antes eram exôdos rurais, hoje o Brasil vive na iminência de um êxodo urbano.

Empurrados pela seca, a família de Sinhá Vitória e Fabiano empenha uma jornada em busca de meios à sobrevivência. Na obra, o que chama atenção é que, a única personagem humanizada e com sentimentos é a cachorra Baleia e também é a única que possui um nome. As outras personagens são referidas pelos cargos que ocupam ou posição genética na família, tais como filho mais novo.

Vidas Secas é um mergulho profundo na miséria humana no que diz respeito a explorar o próximo em situações de calamidade, tal como a seca. O que impressiona é a crítica de Graciliano Ramos: profética e atual.








4 – O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago

Como será que Jesus Cristo narraria a sua trajetória se lhe fosse dada esta oportunidade? É o que faz o escritor José Saramago em O Evangelho segundo Jesus Cristo, onde o Messias é o narrador de sua própria história na qual mitos bíblicos e crenças religiosas são desconstruídos.

Em tempos onde fundamentalistas religiosos ocupam cargos de poder no Brasil e em outros países, resgatar a obra de Saramago é de fundamental importância, principalmente quando lembramos da memorável cena onde Cristo estabelece um diálogo com o Diabo e Deus e fica sabendo do provável acordo entre as duas imagens referências da religião.

Além de toda a crítica à moral religiosa, principalmente a católica, reler O Evangelho… é de suma importância para compreendermos que, entre laicos e fundamentalistas, o acordo político vem antes.









5 – Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane

Ventos do Apocalipse, ao lado de Neketcha – Uma história de poligamia, é considerada uma das obras mais controversas de Paulina Chiziane, onde a escritora moçambicana pesa a caneta para retratar os horrores da guerra de civil de Moçambique, que aconteceu entre 1977 e 1992 e onde a escritora atuou como voluntária para ajudar os feridos de guerra.

Na obra, Paulina Chiziane está mais interessada em discutir a relação e a destruição entre os irmãos moçambicanos do que as questões políticas. Ativista da revolução que libertou Moçambique da colonização portuguesa, Chiziane sempre declara que, à época, não se conformava que, depois de tanto lutar contra os colonizadores, moçambicanos iniciassem uma guerra contra… moçambicanos.

Com uma narrativa muito particular, Paulina Chiziane retrata os horrores da guerra civil que, segundo a autora, presenciou durante o conflito. Não existe bem ou mal, apenas guerra e miséria.








Ilustração de capa: Emile Bayard (A jovem Cosette)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A demência da ilusão


Ernesto Sábato



Cantos do Sul da Terra



"Eu creio que a verdade é perfeita para as matemáticas, a química, a filosofia, mas não para a vida. Na vida, a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança... contam mais."



"Há dias em que me levanto com uma esperança demencial, momentos em que sinto que as possibilidades de uma vida mais humana estão ao alcance de nossas mãos. Este é um desses dias."





EL TÚNEL -Audiolibro Completo
Ernesto Sábato





El túnel
León Klimovsky







Dorival Caymmi