sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 4


Ensaio 29B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




O siô Joca não tinha bando de ataque ou defesa: as milícia de proteção dos negócio e da família, tão encontradiça entre as gente superiô preocupada em se resguardá das ideia e da felicidade dos reles vivente. Gente superiô qui gosta qui se baba de usá como trapo de chão os rele vivente. O Joca inté podia tê medo e o medo qui tinha não era medo de perdê a riqueza, mais de sofrê qualqué arranhadura nas carne. Isso ele não suportava, a dor física nele ou nos otros. De todo jeito, não apreciava usá pra mocinho essas milícia qui bem podia sê usada pra bandido. Sabia qui se ocê começa usá as força fora da lei não consegue mais voltá pros trilho dela. Os dormente depois qui entorta, torto fica. As justiça e as injustiça caminha tudo muito junto, é preciso acredita nas pulícia e mostrá o seu gosto de ajudá. Mostrá gosto com as pulícia é bão pro negócio do Joca Lampião.

Ele não tinha terras à venda no Paraíso. Eu sei, ocê sabe e ele sabia: o Paraíso não tá à venda e, pelo qui se sabe, não é feito com as terra da própria terra, são otras terra. Mais tem gente qui aceita confiá em cada coisa, qui é sempre bão avisá qui o Joca não vende as terra do Paraíso, ele só tem relacionamento bão com quem vende.

Nem se podia dizê qui ele tinha influência nas força militá do Império. Apenas, não descuidava de oferecê os cuidado pra iluminá tudo qui era lugá de aquartelamento das tropa, fazia as coisa na sua cobertura de interesse. O Joca não manda nas tropa do Império, ele só tem relacionamento bão com quem manda.

E vez qui otra, pra não ficá desconhecido pela razão do esquecimento ou parecê apartado dos amigo, comparecia na missa domingueira e aparecia no Paço das Casa Política e Militá da Villa. Tinha negócio com toda gente, afinal, depois do escurecimento do dia era os seus lampião qui iluminava as treva, naquele fim de mundo.

Otra das incumbência do Joca com as suas visita era entregá os imposto devido e os donativo qui a bolsa carregava. Não deixava atrasá. Chegava com tempo de sobra pra ficá um pouco mais e alongá os dedo de prosa. Levava e deixava os assunto em dia. Apesá do esforço feito, domingueira após domingueira, imposto devido e pago, já tinha se apercebido qui não ia subí nas graça da fidalguia. Recebeu aconselhamento de explicação qui faltava tê mais vontade de gostá dele mesmo, querê se aparecê como o mais forte, gritá mais alto. Mostrá um ar de aborrecimento com os preto e tédio com os pobre. Fazê vale a sua vontade inté na força se era preciso. Ficava na média entre a nobreza e a escumalha. Não pisava no pescoço, mais também não libertava. Não tinha nome entre as flores do bem pra sê bem visto.

Gostava de contá os causo do tio Biloca qui não era uma recomendação de fidalguia, serviam pra mostrá qui tinha jeito mais criativo de vivê. Mais a nobreza não tem interesse em nada criativo qui não seja pra serví seus impulso de prazê nas aparência da vida. O desgraçado do comerciante lampião, como era reconhecido pela fidalguia, permitia a formação de pecúlio entre os preto da sua casa, assim, os preto tinha os meio pra indenizá o seu valô de alforria. Isso, a fidalguia não perdoava, não era exemplo pra sê dado.

A Casa dos Lampião e Lamparina, propriedade do Joca Lampião, era um casarão de boa altura qui recebia os carregamento feito pelo rio, tinha lampião pra todo gosto e o montante numerário do compradô: sebo, óleo e vela. E os tamanho variava com as necessidade e posse do compradô. Tudo guardado no porão pra modo de meió sê conservado dos óio e das mão dos xereta. Mercadoria guardada com descuido perdia o valô e descumpria a regra capital do comércio: quem compra pra vendê qué tê lucro; então, o bão comerciante tem tino pra ganhá mais do qui perdê, na guerra entre o lucro e o prejuízo, baixa o preço quando compra e sobe o valô na venda. Quanto mais maió essa diferença meió é o negócio. Alguém ainda há de escrevê qui tudo no mundo é música ou reza, o Joca tinha com ele, sem tê muitas leitura, qui tudo no mundo é reza ou pecúlio.

Por causo disso, as mercadoria da casa não ficava guardada no galpão dos fundo. A umidade na beirada da praia da Arsenal se arrastava pelo chão e subia nas parede. No tempo da frieza mais dura, a aragem ficava tão moiada qui escorria nas parede, inté parecia qui brotava. Não era lugá pra conservá guardado os lampião. O galpão ficô desocupado um bão pedaço de tempo, inté o Joca lembrá de fazê ajutório pro siô padre. O galpão recebeu alguns catre de vara. As abertura foi fechada. Mais uma varredura no chão de terra. Depois de tudo pronto, virô o lugá onde ficava hospedado os preto da obra Santa.


O galpão foi construído nos tempo de antes com paredes de barro na grossura de um palmo. Não tinha pedra nem tijolo. A cobertura de telha-vã ficava apoiada no madeiramento do telhado em paus a pique. Ali, o siô Joca hospedava bonançoso os preto do siô padre. Ele considerava como um donativo de pecúlio. Um pequeno negócio qui ele não esperava lucrá, quem sabe, apenas um pequeno ressarcimento na hora de partí pros campo de cima, propriedade vitalícia do Nosso Siô.

Nas reunião com os comerciante da Villa, gostava de repetí qui a única coisa certa, depois da certeza da morte, é qui quem não plantá não vai colhê, mais tem qui sabê escolhê o qui vai plantá, só se colhe o qui se planta

Um luxo de senzala, sinhô Padre.

Deus lhe abençoe, Joca. Tenho certeza da sua boa-venturança e glória no Paraíso do amor do Nosso Sinhô, o siô padre entrô, como vez qui otra entrava, pra fazê averiguação de reconhecimento. Pediu qui fosse estendida algumas rede de dormí. E no chão fosse feita mais cama de vara, mais um qui otro preto tava pra chegá, os negros que não se importam do seu uso na obra Santa merecem um tratamento melhor, o sinhô não acha?

Proibiu o uso de castigo e exigiu um capitão-do-mato desarmado, mais cuidadoso com os qui chegava e saia. Queria os cumprimento das hora marcada, mais sem as marca da chibata. Ele queria dá aparência de lugá livre da escravatura, mais era só um disfarce da realidade. O catre de vara do Josino tava desocupado e mostrava qui ali não dormia nenhum homem livre.

Antes de saí, abençoô o lugá de barro. Os preto continuava deitado com as vista fechada, eles parecia dormí. Um pequeno lampião aclarava de amarelo as parede de barro e o chão de terra. Virô as costa e saiu com o Joca atrás. Na porta se parô pras despedida

Joca, até mais.

Até mais, sinhô Padre.

Que o Senhor o abençoe... em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Amém, e o padre com vestimenta de viúva saiu sem oiá pra trás.

O siô da Hora era um homem livre, mais não achava prudente encontrá o siô padre, naquelas horas de começo da noite. Era mais meió encontrá o siô padre na reunião já marcada. Esperô pelo sumiço do funcionário rezadô das domingueira

Boas noites, Joca, o dono dos lampião arrepiô-se, tava com as vista no sumiço do siô padre, não gostava de sê agarrado desprevenido de cuidado. Virô as vista na direção da trilha qui vinha da Arsenal

Quem vem, daí?

Afonso da Hora, Joca!

Mas o que se passa, sinhô da Hora?

Não interessava ao siô do Josino trocá confidência com o Joca Lampião, de modo qui fez o qui meió sabia fazê: mentiu. Oiô pra trás procurando algum rastro do Josino ou do fio bastardo. Nada. Os dois tava ainda na Arsenal

Estava procurando um bom lugar para jogar algumas linhas de pesca, o otro se mostrô com surpresa

Não sabia que o sinhô gostava desse divertimento...

Pois fique o amigo sabendo que não tem melhor divertimento, depois das distrações e desvios das moças, falava e calculava o trajeto do siô padre. Ia dá um tempo maió pro viúvo tomá o seu rumo. O Joca qui gostava de prosa, e não perdia a conjuntura e a conveniência do momento, alinhavô a voz e fez um convite

Saia da trilha e chegue na luz do lampião, os dois sorriu um do otro, o sinhô da Hora conheceu o tio Biloca?

Não, mas pelo olhar do Joca deveria ter conhecido.

Um vivente mui especial, o Joca começô contá otro causo dos causo acontecido com o tio Biloca, cada vez qui contava as lembrança do tio Biloca, descobria que só morre quem não tem lembrança pra sê lembrada. O tio Biloca inté pareceu tá sentado de lado

O vivente gostava de viver do seu jeito sem procurar atropelo na vida. Ajudava todos que podia e procurava convencer os contrários que era melhor não odiar, caso o ouvinte não se convencia das argumentação e alterava os grito da voz, ele não desistia, continuava os ensinamentos da vida com felicidade, coisa que aprendeu caminhando pela escuridão das pescaria: odiar... só a miséria. Mas no entrevero era bom ter o tio Biloca do seu lado. Gostava da pescaria no esquecimento da noite. Em uma das muitas pescarias de sonâmbulo, o tio Biloca esperou cada pescadô escolher um lugar de acomodação e foi procurar o seu. Então, lançou a linha e sentô no barranco. O restante da tropa dos pescadores já tinha feito o mesmo. E foi uma noite de muitos peixes. Era enfiá a isca no anzol, lançar a linha e o cardume se agarrava como se fosse um só peixe. Uma enorme baleia de peixes famintos. Foram tantos lançamentos que perdemos a contação. Naquele entrevero da escuridão, aos gritos de peguei mais um, peguei outro, o tio Biloca ficô esquecido. Mas ninguém da importância do tio Biloca consegue ficar esquecido por muito tempo, o seu silêncio provocou nossa preocupação. Já passava do meio da noite quando senti falta da movimentação do tio Biloca. Ele era um sujeito esparramado. Não parecia ser dele aquele silêncio. Larguei a linha e mirei meus olhos no seu lugar de pescaria. Lá estava ele, um vulto deitado na barranca. Imóvel. Chamei o seu nome. Não respondeu. Tornei a chamar. Nada. O meu coração primeiro ficô pequeno, quase parado, depois disparou mais que a corredeira das pernas. Senti vontade de vomitar. Corri e saltei rios e montanhas, até chegar no tio Biloca

Tio!

Psiu... foi o que ele disse enquanto levava o dedo fura bolo à boca, todo amarelado do palheiro

O sinhô está bem?

Mais melhó não tem como tá, olhei na volta, nenhum peixe... a linha na água. Quieta. Dormindo. Achei estranho, nenhum peixe agarrado na linha do tio Biloca

Mas tio, como pode o sinhô não ter fisgado nenhum peixe?

Ele sentou. Não tinha pressa de prestar resposta de explicação. Ninguém se importa muito com a aclaração do emburrecimento de guri. O tempo trata de ensinar. Vi que os olhos dele me sorriam. Brilhavam na escuridão estrelada. Estendeu a mão pro lado e agarrô um garrafão de pinga. Passou as costas da mão na boca e tomô um gole. Um gole bonito de escutar

Escuta, guri. Não vim pescá. Vim pelo acompanhamento da parentada, escutá os barulho de ocês e os murmúrios das águas. Não tem maior lindeza que esta noite estrelada e o gosto da pinga mais essa agitação da gurizada.

Mas por que a peixaria do cardume não morde na sua linha?

Deu outro gole e sorriu, gostava de deixar a resposta suspensa com mistério

É simples, guri... é só não colocá isca na linha, tomou outro gole e recostou a cabeça na barranca. Devia tê deitado ao lado do tio Biloca, mas tem coisa que um guri só aprende depois que vira homem com saudade dos tempos de guri. Não deitei. Voltei pra pescaria. Sorrindo. Até hoje, quando vou na barranca deito no lugar de acomodação do tio Biloca. A pinga do lado


O tio Biloca tinha razão, um homem pode se arrebentá por nada. Mais isso já um outro causo.


_________________________

Leia também:


As Casa do Comércio na Villa 3
Ensaio 28B – 2ª edição 1ª reimpressão



As Casa do Comércio na Villa 5
Ensaio 30B – 2ª edição 1ª reimpressão

oprimir e explorar os outros, fazer nascer mais humilhado do que bonito?

Los Poetas del Amor (13)



"El niño Yuntero"


Miguel Hernández - Joan Manuel Serrat



Describir este poema debiera ser un compromiso.




Carne de yugo, ha nacido
más humillado que bello,
con el cuello perseguido
por el yugo para el cuello.

Nace, como la herramienta,
a los golpes destinado,
de una tierra descontenta
y un insatisfecho arado.

Entre estiércol puro y vivo
de vacas, trae a la vida
un alma color de olivo
vieja ya y encallecida.

Empieza a vivir, y empieza
a morir de punta a punta
levantando la corteza
de su madre con la yunta.

Empieza a sentir, y siente
la vida como una guerra
y a dar fatigosamente
en los huesos de la tierra.

Contar sus años no sabe,
y ya sabe que el sudor
es una corona grave
de sal para el labrador.

Trabaja, y mientras trabaja
masculinamente serio,
se unge de lluvia y se alhaja
de carne de cementerio.

A fuerza de golpes, fuerte,
y a fuerza de sol, bruñido,
con una ambición de muerte
despedaza un pan reñido.

Cada nuevo día es
más raíz, menos criatura,
que escucha bajo sus pies
la voz de la sepultura.

Y como raíz se hunde
en la tierra lentamente
para que la tierra inunde
de paz y panes su frente.

Me duele este niño hambriento
como una grandiosa espina,
y su vivir ceniciento
revuelve mi alma de encina.

Lo veo arar los rastrojos,
y devorar un mendrugo,
y declarar con los ojos
que por qué es carne de yugo.

Me da su arado en el pecho,
y su vida en la garganta,
y sufro viendo el barbecho
tan grande bajo su planta.

¿Quién salvará a este chiquillo
menor que un grano de avena?
¿De dónde saldrá el martillo
verdugo de esta cadena?

Que salga del corazón
de los hombres jornaleros,
que antes de ser hombres son
y han sido niños yunteros.


____________________________



Victor Jara





Víctor Jara le puso música al hermoso poema "El niño Yuntero" del gran poeta y dramaturgo español Miguel Hernández. Miguel nació en 1910 en una humilde familia campesina dedicada a la críanza de ganado. En 1925 abandona los estudios por orden paterna, para dedicarse al pastoreo. Miguel asiste a la biblioteca pública, convirtiendose en autodidacta.

Ya viviendo en Madrid, y al estallar la guerra civil española, se alista en el bando repúblicano combatiendo a la dictadura franquista. En plena guerra logra escapar brevemente a su natal Orihuela, para casarse con Josefina Manresa, a los pocos días vuelve a combatir al frente.

Una vez terminada la guerra civil, es delatado, entregado y hecho prisionero ; escondenado a muerte, la que por intervención de amigos e intelectuales, le es conmutada por 30 años de prisión. Enferma en prisión y muere el 28 de marzo de 1942, con solo 31 años de edad.





Ya no somos nosotros

Patricio Manns

canta ISABEL Y ÁNGEL PARRA






Ya No Somos Nosotros
Patricio Manns


(Chacarera)


Aquí donde usted nos ve
como dueños de la tierra
pa' no morirnos de pobres
pasamos la vida en guerra.

Somos pobres, somos ricos,
nadie sabe lo que somos.
Con las penas de mi pago
florecieron los aromos.*

¡Qué caray! apenas gritan**
que hay metal en el potrero,
viene el gringo desde el norte,
¡lo saca y deja el a'ujero!

¡Qué caray! apenas grito**
que me siento libertario,
me cambian la vestimenta
por una de presidiario.

La tierra tuvo a mi abuelo,
tuvo a mi padre y mi madre***
y al hijo que nació d'ellos
no hay ni perro que le ladre.

Yo defiendo mi derecho
que no es el derecho de otro,
¡pero qué caray! 'toy viendo****
que ya no somos nosotros.

Ya no somos de este valle,
ya no somos de este monte
y todo lo que uno labra
se va, usted sabe pa' dónde.

Chacarera, chacarera,
chacarera de mi pago,
no me libro de esta plaga
ni por más fuerza que le hago.



* En el disco "América novia mía" propone: se secaron los aromos.
** En las versiones posteriores a la original canta: ¡Qué carajo!, apenas gritan y Qué carajo! apenas grito respectivamente. En "América novia mía" dice: Qué carajo apenas grito en ambos versos.
*** En la versión de "América novia mía" canta: La tierra parió a mi abuelo / parió a mi padre y mi madre. En el disco "Los Parra de Chile" (1966) Isabel y Ángel Parra cantan: tuvo a mi padre, a mi madre.
**** En "América novia mía": ¡pero carajo! 'toy viendo.

Esse Saci


Saci-Pererê


R7





Saci-Pererê, personagem do folclore brasileiro



O Saci-Pererê é uma lenda do folclore brasileiro e originou-se entre as tribos indígenas do sul do Brasil.

O saci possui apenas uma perna, usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca.
Inicialmente, o saci era retratado como um curumim endiabrado, com duas pernas, cor morena, além de possuir um rabo típico.

Com a influência da mitologia africana, o saci se transformou em um negrinho que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e ganhou da mitologia europeia um gorrinho vermelho.


A principal característica do saci é a travessura, ele é muito brincalhão, diverte-se com os animais e com as pessoas. Por ser muito moleque ele acaba causando transtornos, como: fazer o feijão queimar, esconder objetos, jogar os dedais das costureiras em buracos e etc.

Segundo a lenda, o Saci está nos redemoinhos de vento e pode ser capturado jogando uma peneira sobre os redemoinhos.

Após a captura, deve-se retirar o capuz da criatura para garantir sua obediência e prendê-lo em uma garrafa.

Diz também a lenda que os Sacis nascem em brotos de bambus, onde vivem sete anos e, após esse tempo, vivem mais setenta e sete para atentar a vida dos humanos e animais, depois morrem e viram um cogumelo venenoso ou uma orelha de pau.

Veja Mais!

Folclore brasileiro
As principais características do folclore brasileiro.


__________________________________

Juro que vi















_____________________________



A Lenda do Saci Pererê



Infoescola


Por Rosalina Rocha Araújo Moraes



Quem é o Saci?

Você sabia que existe um dia, no Brasil, dedicado à comemoração do Saci? E o Saci você sabe quem é? Onde ele surgiu? Já ouviu alguma vez a história desse personagem fantástico?




Saci pererê. Ilustração: André Koehne [CC-BY-SA 3.0] / via Wikimedia Commons


O Saci é um personagem brasileiro mitológico que habita o imaginário popular brasileiro principalmente no interior do país onde ainda se mantém o hábito dos mais velhos, de contarem histórias aos mais jovens nas tranquilas e claras noites de lua.


Representado atualmente pela figura de um menino negro de uma só perna que possui um gorro vermelho na cabeça e traz sempre um cachimbo na boca. De Norte a Sul do Brasil, além do nome, são várias também as definições e representações atuais que se tem dele. No nordeste, de uma forma geral ele segue a representação antes descrita que é a mais conhecida atualmente e a mais popular.

No Sul e Sudeste há algumas variações. No Rio Grande do Sul, por exemplo, ele é retratado como um menino negro perneta de gorro vermelho que se diverte atormentando a vida dos caminhoneiros e aventureiros que gostam de viajar. Deixando-os areados ele os faz perder o destino. Ranços culturais europeus podem ter influenciado o Saci em Minas Gerais onde ganhou acessórios como: “um bastão, laço ou cinto, que usa como a "vara de condão" das fadas européias” (site: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/saci.html). 
Já em São Paulo, apesar de manter essas mesmas características básicas ele possui um boné em lugar do gorro.


De onde vem o (s) Saci (s)?

Segundo a crença popular os Sacis vivem setenta e sete anos e se originam do bambu. Após sete anos de “gestação” dentro do gomo do bambu ele sai para uma longa vida de travessuras e quando morre se metamorfoseia em cogumelos venenosos ou em “orelhas de pau”. Quem é do interior ou já foi ao campo a passeio deve ter visto alguma vez, uma espécie de cogumelo que se forma nos troncos das árvores e que se parece com uma orelha. É isso que os matutos chamam de “orelha de pau”.


As principais características

Apesar das inúmeras definições dessa famosa entidade folclórica algumas características são mais presentes e recorrentes nas descrições do Saci. Sabe-se que em geral:

é um ser que vive nas matas;
é extremamente misterioso;
é negro, pequeno e possui apenas uma perna;
usa um capuz vermelho e um cachimbo;
não possui pelos no corpo;
não possui órgãos para urinar ou defecar;
só tem três dedos em cada mão;
possui as mãos perfuradas;
adora assoviar e ficar invisível;
vive com os joelhos machucados, resultado das travessuras;
tem o domínio dos insetos que atormentam o homem: mosquitos, pernilongos, pulgas, etc.;
fuma em um pito e solta fumaça pelos olhos;
adora fazer travessuras;
pode, em momentos de bom humor ajudar a encontrar coisas perdidas;
gira em torno de si feito um pião e provoca redemoinhos;
pode ser malvado e perigoso;
adora encantar as criancinhas faze-las perder-se na mata.


Saci: malvado ou apenas peralta?

Entre todas essas características uma é unânime: sua personalidade travessa. Algumas pessoas acreditam que ele é mau outros dizem que ele é apenas um garoto traquino que adora fazer pequenas travessuras, mas sem o intuito de fazer o mal, apenas de se divertir. Seja como for diz a lenda que ele é muito peralta. Adora assustar os animais, prendê-los, criar situações embaraçosas para as pessoas, esconder objetos, derrubar e quebrar as coisas, entre outras danações.

Diz a lenda que ele não é apenas um brincalhão ou um espírito mau. Tratar-se-ia de um exímio conhecedor das propriedades medicinais das ervas e raízes da floresta. Se alguém precisa entrar na mata e pegar algo, portanto, tem que pedir autorização do Saci, pois entrando sem permissão cairá inevitavelmente em suas armadilhas.


Como escapar do Saci?

Algumas pessoas afirmam que o único meio de driblar o negrinho é espalhando cordas ou barbantes amarrados pelo caminho. Assim ele se ocuparia em desatar os nós, dando tempo da pessoa fugir de sua perseguição. O Saci também tem medo de córregos e riachos, por isso, atravessar um pode ser uma alternativa, pois o Saci não consegue fazer a travessia.

Mas o único meio de controlar um Saci, segundo o mito, é tirando-lhe o gorro e prendendo-o em uma garrafa. Para isso é necessário jogar uma peneira ou um rosário bento em um redemoinho. Só dessa forma se pega um Saci. Uma vez preso e sem o gorro que lhe dá poderes ele fará tudo que for mandado.


As origens

Diante de todas essas informações fica a pergunta: onde teria nascido a lenda do Saci? Os estudos sobre o folclore brasileiro apontam a origem indígena quando falam da lenda do Saci. Esse mito teria surgido na região Sul do Brasil durante o período colonial, por vota do final do século XVIII, por ocasião das Missões.

A alcunha pela qual o Saci é mais popularmente conhecido é Saci-Pererê, mas seu nome originalmente era Yaci-Yaterê de origem Tupi Guarani. De acordo com a região do Brasil ele pode, porém, ser conhecido por uma variedade de apelidos.

O dicionário Aurélio traz as seguintes variações de nomes do Saci: “Saci-cererê, Saci-pererê, Matimpererê, Martim-pererê” (AURÉLIO, 2005). Além dessas denominações Martos e Aguiar (2001, p. 75) apontam ainda: “saci-saçura, saci-sarerê, saci-siriri, saci-tapererê ou saci-trique”. Por ser considerado por alguns um perito na arte da transformação em aves, o negrinho travesso recebe ainda nomes de passarinhos nos quais se transforma, como por exemplo: matitaperê, matintapereira, sem-fim, entre outros (ibidem, p. 75). Na região às margens do Rio São Francisco ele é conhecido pela alcunha de Romão ou Romãozinho.


A metamorfose do Saci

Quando surgiu, o saci foi representado por um curumim endiabrado, de uma perna só e de rabo. Suas traquinagens tinham como objetivo atrapalhar a entrada dos intrusos na mata, ou seja, no território indígena. Era provavelmente uma forma encontrada pelos nativos de resguardar seu território da invasão dos indesejados homens brancos.

A figura original do Saci – garoto índio – sofreu alterações por ocasião da inserção, na cultura brasileira, de elementos africanos e europeus, trazidos para cá pelos negros escravos importados da África e pelos colonizadores.

Ao chegarem a terras brasileiras trazendo seus próprios mitos e difundindo-os entre os que aqui habitavam, africanos e europeus provocaram uma mescla de características das três culturas, assim, a lenda do saci ganhou elementos novos.

O Saci se transformou em um garoto negro de características físicas africanas. Alguns acreditam que a ausência da perna se deveu a uma perda sofrida em uma disputa de capoeira, luta praticada pelos negros africanos. Também ganhou um cachimbo, típico dos costumes africanos. Da cultura européia ganhou um elegante barrete vermelho que reza a lenda, é a fonte de seus poderes mágicos.


Conclusão

Apesar de todo o encanto dessa lenda e desse personagem. Mesmo com a resistência em alguns lugares da cultura de contar histórias, o que se percebe hoje é a desvalorização da cultura oral e o enfraquecimento desses costumes a cada dia.

Alguns fatores, porém têm contribuído para que o Saci não se apague da memória de nosso povo e facilitado o acesso de mais pessoas a essa lenda que integra o patrimônio literário e cultural brasileiro.

Graças à criatividade de escritores brasileiros como: Maurício de Souza, Monteiro Lobato e Ziraldo, esse personagem viajou do campo para as grandes metrópoles e até mesmo para o exterior através de suas obras.

Monteiro Lobato, escritor conhecido do público infantil, foi o primeiro a lembrar o Saci. Nas décadas de 1970 e 1980 o personagem apareceu nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo e o personagem ficou conhecido em todo o País. Este é, talvez, o escritor que mais difundiu esse personagem, primeiro através da obra escrita e depois através da obra televisionada, que hoje tem alcance internacional, levando nosso personagem ao conhecimento do mundo.

Maurício de Souza, criador da turma da Mônica, também incluiu o Saci nas suas histórias em quadrinho, principalmente nas do personagem Chico Bento, que é um matuto da roça. Outro que imortalizou o Saci em sua obra foi Ziraldo com a criação da turma do Pererê, que também alcançou as telas da televisão.

Além do impulso dado pela literatura, outro fato importante foi a criação, em 2005, pelo governo brasileiro, do dia nacional do Saci, que deve ser comemorado dia 31 de outubro. Essa idéia surgiu com o intuito de minimizar a importância que se dá à comemoração do dia das bruxas3, reduzindo assim, a influência de culturas importadas e favorecendo a valorização da cultura e do folclore nacionais.

1 O termo mitológico é utilizado aqui para designar um personagem que faz parte dos mitos da cultura brasileira. Segundo o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0 mito é uma “narrativa na qual
aparecem seres e acontecimentos imaginários, que simbolizam forças da natureza, aspectos da vida
humana, etc. Representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação popular, pela
tradição, etc”.

2 Criança indígena.

Bibliografia

AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. Coordenação e edição: Margarida dos Anjos e Marina Baird Ferreira. Brasil: Editora positivo, 2004.

Enciclopédia: Nova pesquisa e saber. Português e folclore. São Paulo: Nova editora ltda.

LOBATO, Monteiro. O Saci. São Paulo: Editora Brasiliense S.A. sem/data.

MARTOS, Cloder Rivas, 1942. Viver e aprender português, 2ª série. Cloder Rivas Martos, Joana D’Arque Gonçalves de Aguiar. 7. ed. Reform. São Paulo: Saraiva, 2001.

MEGALE, Nilza B. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.






E agora, José?

Carlos Drummond de Andrade




E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?















Poema das Sete Faces





Poema de sete faces



Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

De Alguma poesia (1930)

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

XX – Mitologia dos Orixás: Oxum [186] [187]

OXUM


Reginaldo Prandi



Oxum é concebida por Iemanjá e Orunmilá


Um dia, Orunmilá saiu de seu palácio para dar um passeio acompanhado de todo o seu séquito. Em certo ponto deparou com outro cortejo, do qual a figura principal era uma mulher muito bonita. Orunmilá ficou impressionado com tanta beleza e mandou Exu, seu mensageiro, averiguar quem era ela.

Exu apresentou-se ante a mulher com todas as referências e falou ue seu senhor, Orunmilá, gostaria de saber seu nome. Ela disse que era Iemanjá, rainha das águas e esposa de Oxalá.

Exu voltou à presença de Orunmilá e relatou tudo o que soubera da identidade da mulher. Orunmilá, então, mandou convidá-la ao seu palácio, dizendo que desejava conhecê-la.

Iemanjá não atendeu de imediato ao convite, mas um dia foi visitar Orunmilá. Ninguém sabe ao certo o que se passou no palácio, mas o fato é que Iemanjá ficou grávida após a visita a Orunmilá.

Iemanjá deu à luz uma linda menina. Como Iemanjá já tivera muitos filhos com seu marido, Orunmilá enviou Exu para comprovar se a criança era mesmo filha dele. Ele devia procurar sinais no corpo. Se a menina apresentasse alguma marca, mancha ou caroço na cabeça seria filha de Orunmilá e deveria ser levada para viver com ele.

Assim foi testado, pelas marcas de nascença, que a criança mais nova de Iemanjá era de Orunmilá. Foi criada pelo pai, que satisfazia todos os seus caprichos. Por isso cresceu cheia de vontades e vaidades.

O nome dessa filha é Oxum.



[186]





Oxum dança para Ogum na floresta e o traz de volta à forja



Perante Obatalá, Ogum havia condenado a si mesmo a trabalhar duro na forja para sempre. Mas ele estava cansado da cidade e da sua profissão. Queria voltar a viver na floresta, voltar a ser o livre caçador que fora antes.

Ogum achava-se muito poderoso, sentia que nenhum orixá poderia obrigá-lo a fazer o que não quisesse. Ogum estava cansado do trabalho de ferreiro e partiu para a floresta, abandonando tudo. Logo que os orixás souberam da fuga de Ogum, foram a seu encalço para convencê-lo a voltar à cidade e à forja, pois ninguém podia ficar sem os artigos de ferro de Ogum, as armas, os utensílios, as ferramentas agrícolas.

Mas Ogum não ouvia ninguém, queria ficar no mato. Simplesmente os enxotava da floresta com violência. todos lá foram, menos Xangô. E como estava previsto, sem os ferros de Ogum, o mundo começou a ir mal. Sem instrumentos para plantar, as colheitas escasseavam e a humanidade já passava fome.





Foi quando uma bela e frágil jovem veio à assembleia dos orixás e ofereceu-se a convencer Ogum a voltar à forja.

Era Oxum a bela e jovem voluntária.

Os outros orixás escarneceram dela, tão jovem, tão bela, tão frágil. Ela seria escorraçada por Ogum e até temiam por ela, pois Ogum era violento, poderia machucá-la, até matá-la. Mas Oxum insistiu, disse que tinha poderes de que os demais nem suspeitavam. Obatalá, que tudo escutava mudo, levantou a mão e impôs silêncio. Oxum o convecera, ela podia ir à floresta e tentar.





Assim, Oxum entrou no mato e se aproximou do sítio onde Ogum costumava acampar. Usava ela tão-somente cinco lenços transparentes presos à cintura em laços, como esvoaçante saia. Os cabelos soltos, os pés descalços, Oxum dançava como o vento e seu corpo desprendia um perfume arrebatador.

Ogum foi imediatamente atraído, irremediavelmente conquistado pela visão maravilhosa, mas se manteve distante. Ficou à espreita atrás dos arbustos, absorto. De lá admirava Oxum embevecido.

Oxum o via, mas fazia de conta que não. O tempo todo ela dançava e se aproximava dele mas fingia sempre que não se dera por sua presença. a dança e o vento faziam flutuar os cinco lenços da cintura, deixando ver por segundos a carne irresistível de Oxum. Ela dançava, o enlouquecia. dele se aproximava e com seus dedos sedutores lambuzava de mel os lábios de Ogum.

Ele estava como que em transe. E ela o atraía para si e ia caminhando pela mata, sutilmente tomando a direção da cidade. Mais dança, mais mel, mais sedução, Ogum não se dava conta do estratagema da dançarina. Ela ia na frente, ele a acompanhava inebriado, louco de tesão.

Quando Ogum se deu conta, eia que se encontravam ambos na praça da cidade. Os orixás todos estavam lá e aclamavam o casal em sua dança de amor. Ogum estava na cidade, Ogum voltara!

Temendo ser tomado como fraco, enganado pela sedução de uma mulher bonita, Ogum deu a entender que voltara por gosto e vontade própria. E nunca mais abandonaria sua forja. E os orixás aplaudiam e aplaudiam a dança de Oxum.

Ogum voltou à forja e os homens voltaram a usar seus utensílios e houve plantações e colheitas e a fartura baniu a fome e espantou a morte. Oxum salvara a humanidade com sua dança de amor.



[187]



______________


Leia também:

XIX – Mitologia dos Orixás: Obá [183] [184]


XXI – Mitologia dos Orixás: Iá Mi Oxorongá [204]

Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.



Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Os Alquimistas Estão Chegando


Jorge Ben Jor







Os Alquimistas Estão Chegando
Jorge Ben Jor


Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!...

Os Alquimistas
Estão chegando
Estão chegando
Os Alquimistas...(2x)

Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Êh! Êh! Êh! Êh!...

Eles são discretos
E silenciosos
Moram bem longe dos homens
Escolhem com carinho
A hora e o tempo
Do seu precioso trabalho...

São pacientes, assíduos
E perseverantes
Executam
Segundo as regras herméticas
Desde a trituração, a fixação
A destilação e a coagulação...

Trazem consigo, cadinhos
Vasos de vidro
Potes de louça
Todos bem e iluminados
Evitam qualquer relação
Com pessoas
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido
De temperamento sórdido...

Êh! Êh! Êh! Êh!
Êh! Êh! Êh! Êh!...

Os Alquimistas
Estão chegando
Estão chegando
Os Alquimistas...(2x)

Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh!...


Composição: Jorge Ben Jor



Chove Chuva





Mais Que Nada - 1963




quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O amor é meu país/ Meu país

Ivan Lins


O amor é meu país/ Meu país






Meu País
Ivan Lins


Aqui é o meu país
Nos seios da minha amada
Nos olhos da perdiz
Na lua na invernada
Nas trilhas, estradas e veias que vão
Do céu ao coração
Aqui é o meu país
De botas, cavalos, estórias
De yaras e sacis
Violas cantando glórias
Vitórias, ponteios e desafios
No peito do Brasil
Me diz, me diz
Como ser feliz em outro lugar
Aqui é o meu país
Dos sonhos sem cabimento
Aqui sou um passarim
Que as penas estão por dentro
Por isso aprendi a cantar,
Voar, voar, voar
Me diz, me diz
Como ser feliz em outro lugar




E só para não esquecer outros tempos sem amigos... e gostos escondidos por ditaduras de silêncios e desaparecidos!





terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Queda

Albert Camus



Camus, Albert, 1913 - 1960
         A queda / Albert Camus; tradução de Valerie Rumjanek. - 6ª edição -
Rio de Janeiro; BestBolso, 2014.



Um advogado francês faz seu exame de consciência num bar de marinheiros, em Amsterdã. O narrador, autodenominado "juiz-penitente", denuncia a própria natureza humana misturada a um penoso processo de autocrítica. O homem que fala em A queda se entrega a uma confissão calculada. Mas onde começa a confissão e onde começa a acusação? Ele se isolou do mundo após presenciar o suicídio de uma mulher nas águas turvas do Sena, sem coragem de tentar salvá-la. Camus revela o homem moderno que abandona seus valores e mergulha num vazio existencial. 






'Deliciosa casa, não acha? As duas cabeças que vê lá são de escravos negros. Uma insígnia. A casa pertencia a um traficante de escravos. Ah! Não se escondia o jogo, naqueles tempos. Tinha-se audácia, dizia-se: " Aí está, faço tráfico de escravos, vendo carne negra." Já imaginou alguém, hoje em dia, trazendo ao conhecimento público que é este o seu trabalho? Que escândalo! Parece que estou ouvindo meus confrades parisienses. Como são irredutíveis nessa questão, não hesitariam em lançar dois ou três manifestos, talvez até mais! Pensando bem, eu juntaria minha assinatura às deles. A escravatura, ah, isso não, nós somos contra! Que se seja obrigado a instalá-la em sua casa ou nas fábricas, bom, é a ordem natural das coisas, mas vangloriar-se disso é o cúmulo.'
p.35







'Devo reconhecer humildemente, meu caro compatriota, que fui sempre um poço de vaidade. Eu, eu, eu, eis o refrão da minha preciosa vida, e que se ouvia em tudo quanto eu dizia. Só conseguia falar vangloriando-me, sobretudo quando o fazia com esta ruidosa discrição, cujo segredo eu possuía. É bem verdade que eu sempre vivi livre e poderoso. Simplesmente, sentia-me liberado em relação a todos pela excelente razão de que me considerava sem igual. Sempre me achei mais inteligente do que todo mundo, como já lhe disse, mas também mais sensível e mais hábil, atirador de elite, incomparável ao volante e ótimo amante. Mesmo nos setores em que era fácil verificar minha inferioridade, como o tênis, por exemplo, em que eu era apenas um parceiro razoável, era-me difícil não acreditar que, se tivesse tempo para treinar, superaria os melhores. Só reconhecia em mim superioridades, o que explicava minha benevolência e minha serenidade. Quando me ocupava dos outros, era por pura condescendência, em plena liberdade, e todo o mérito revertia em meu favor; eu subia um degrau no amor que dedicava a mim mesmo.' p.38







'Olhe, está chovendo de novo. Quer parar embaixo desta marquise? Bem. Onde é que eu estava? Ah, sim, a honra! Pois bem, quando me voltou à lembrança essa aventura, compreendi o que ela significava. Em resumo, meu sonho não resistiria à prova dos fatos. Eu havia sonhado, isto agora ficava claro, em ser um homem completo, que se fizesse respeitar tanto em sua pessoa como em seu ofício. Meio Cerdan, meio De Gaulle, por assim dizer. Em suma, queria dominar em todas as coisas. Eis o motivo pelo qual eu me dava certos ares superiores e recorria a todos os requintes para mostrar antes minha habilidade física que meus dotes intelectuais. Mas, depois de apanhar em público sem reagir, já não me era possível acariciar essa bela imagem de mim mesmo. Se eu fosse o amigo da verdade e da inteligência que pretendia ser, que me importaria essa aventura já esquecida por aqueles que a haviam presenciado? Apenas acusaria a mim próprio de me haver irritado à toa e também, uma vez irritado, de não ter sabido enfrentar as consequências de minha raiva, por falta de presença de espírito. Em vez disso, ardia de vontade de me vingar, de bater e de vencer. Como se meu verdadeiro desejo não fosse o de ser a criatura mais inteligente ou mais generosa da face da Terra, mas apenas de bater em quem eu quisesse, de ser, enfim, o mais forte, e da maneira mais elementar. A verdade é que todo homem inteligente, como o senhor bem sabe, sonha em ser um gângster e em imperar sobre a sociedade unicamente pela violência. Uma vez que isso não é tão fácil como a leitura de romances especializados pode fazer crer, envereda-se geralmente pela política e corre-se para o partido mais cruel. Que importa, não acha, humilhar o próprio espírito, se dessa forma se consegue dominar o mundo inteiro? Eu descobria em mim agradáveis sonhos de opressão.' p.43

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 3


Ensaio 28B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




Josino não procurô as vista do Capitão, não quis oiá direto o desafeto. Não viu utilidade em provocá o armamento do otro. Um desafio com as vista só ia dá crescimento naquela confusão de castigá e gritá, fazendo do chicote a força do entendimento e da servidão. Decidiu deixá as duas vista disfarçada com feitio de amansada enquanto ficava amarrotado. Precisava oiá sem o coração. Fez acordo com Milagres qui as coisa sentida nas carne não ia cruzá com os pensamento da cabeça. Carecia sobrevivê.

Não era fácil pro trabaiadô escravizado vivê muito mais qui o tempo da criançada branca de seis e sete anos; desembarcá vivo do tumbeiro qui chegava carregado de carne preta pra Villa era o primeiro passo, depois carecia se acertá com a rudeza dos dia e noite de frio e entendê as lista de gostá do siô Afonso da Hora, os cavalo, as família, as terra, o gado e a Villa. O preto Josino nunca descobriu qual era a ordem de preferência, mais sabia qui os preto não tava nela nem nunca ia tá.

Chegá com a boca fechada, as perna firme e os braço forte não era esperteza, era sorte. Muitos adoecia e ficava na estrada das água. Otros chegava tão enfermiço qui nem valia o esforço de desembarcá. Pió mesmo, ficava nas fazenda enfiada pra bem longe, sem ninguém pra falá. O cipó do boi cantava a torto e direito. O jeito era ganhá ajutório com as lembrança dos avoengo mais as reza dos orixá, eles têm o conhecimento pra desvendá os mistérios do mundo, da natureza e a luta costumeira dos caminho de cada um contra a desgraceira.

Oiá, mãe nove vezes, banhava com sua magia as água e as areia da Arsenal. Usava uma luz prata azulada pra aclará os três: Josino, Capitão e o siô Afonso da Hora. Os barulho das água continuava indo e vindo, as areia aguada afundava lentamente com os pé do Josino. As vista do Capitão não podia escondê o seu embaraço com as coisa qui se passava nele: a vista preta só obedecia, ela oiava os pé; a otra é qui mandava, a verde. Essa não amansava o cipó do boi, pelo contrário, ela atiçava, colocava lenha na fornalha qui respingava covardia e medo. Ele tinha os dois mundo na cô das vista. Dois mundo separado e grudado pelo ódio. A vista preta mais se parecia com um bichinho da estima e agrado do siô, a verde reinava sem dó e sem compaixão. E o qui podia serví pra honrá a vida era usado pra encorajá a infâmia.

Josino caminhô devagá inté saí das água e afundá os pé nas areia sem alagamento. No caminho do moiado pro seco ele mudô a decisão de só sobrevivê. Esperô parado o ataque com a armadura da carne retesada mais o escudo das vontade de vivê nas belezura da Milagres, tinha decidido qui ia resistí, não queria mais tê só a vida qui não tinha

Se esse negro apanhá ele sai logo, mas precisa receber o corretivo certo, ele sai logo... lhe garanto, o siô da Hora oiô no Capitão antes de respondê, pareceu qui soltô o respiro da impaciência com o aluno qui não qué aprendê e acha qui sabe. O guri tinha o seu valô: era bão com o cipó do boi; mais não tinha o cacoete dos negócio nos pensamento. As preocupação na cabeça do faz-de-tudo só tinha o castigo. O siô não ensinô e o guri não aprendeu por conta própria fazê negócio. E os cuidado qui não tinha com os preto podia arruiná as mercadoria. O máximo qui o siô lhe alcançô ensiná foi dominá a força com o uso das tira nos couro preto

Não é o caso do Josino... recolha o cipó, o Capitão escutô em silêncio o mandamento do siô Afonso da Hora, as mão apertava com força a empunhadura, a perna do otro lado se dobrô coisa de nada, a mão armada com o cipó parecia querê desacatá as ordem do patrão, inté qui empurrô a vista verde pro seu lugá mestiço sem tê querê. Ela não tinha mais querê qui o gado. Abriu com muito custo a boca pra repetí qui ouvia e obedecia. Abaixô o oiá verde inté quase na altura do oio preto. Fincô as duas vista no chão, parecia tê adormecido, mais a verde não conseguia adormentá. Ela continuava atinada com os movimento do preto

Josino, saia desta praia maldita, o siô da Hora repetiu o chamado, mais sem grito. Ele parecia se ajuntando, como sempre fez, com algum dos seus cachorro. Todos da sua maió estima. A voz parecia doce e cordata, mais quem apreciava os jeito de mandá do siô da Hora, sabia qui ele tava frio e indiferente. Não levava inté no limite o absurdo de sentí dó do preto, essa ligação gostava de mostrá qui devotava nos cachorro. Chegô pensá em oferecê um pedaço de osso com carne pro preto se abeirá com festa nos seus pé de dono. Sorriu do pensamento qui teve, não o Josino, um rei sem reino.

O preto continuô parado no lugá qui escolheu fincá os pé e tirá tudo aquilo à limpo. Viu o cipó se mexê com feitio de peçonhenta, deslizava pelas areias inté fica todo enrolado. Recolhido nas mão do Capitão. O cipó do boi tava quieto e encolhido num jeito qui podia ficá estendido e golpeá o sofrente, tudo num pisca de ôio. Dava pra sentí qui aquele foi um recolhimento a contragosto, feito pelo desejo de mostrá qui sabia obedecê, merecia confiança.

O murmúrio da Milagres chegô inté o Josino, veio nas costa do preto, ele podia jurá qui foi carregado pelas água, nos braço de Oiá. Sentiu os cabelo da nuca ficá arrepiado. Fechô as vista e ficô calado, pronto pra escutá. Os assopro da voz da sua mulhé feito esposa chegô no tempo certo, veio pra acalmá sua vontade de lutá

Não é tempo de fazê besteira, meu preto. Tem o dia de enfrentá e tem o dia de sê recolhê, tem vez qui é melhó escolhê vivê. Espreitá melhó não é aceitá nem se dá, é esperá as coisa boa da vida, elas vai chegá. Nunca é melhó se matá.

Ele obedeceu.

O siô abriu a bondade do seu sorriso, sempre fez assim quando a sua vontade de dono de tudo era reconhecida, desinventava o homem carrancudo, mais se enganava quem pensava qui o aborrecimento não voltava como um espasmo de prazê. O siô da Hora agia com mais sabedoria e capricho quando suas norma recebia o respeito da obediência, mudava ligeiro e largava o uso da bondade se a obediência era esquecida: exigia a fome, a sede, o castigo do açoite e a humilhação no desobediente, se o negro não aprendia por bem havia de aprendê por mal, era quando gostava de aproximá o sofrimento e a dô

Muito bem, Josino. Vá dormir para esquecer a dor, o siô falava como se um homem não tivesse fome de liberdade das corrente qui o Capitão ora apertava ora afrouxava, como uma assombração qui vive pra fazê do sofrimento dos preto o seu prazê. Cresceu e se fortaleceu na banalidade daquele cotidiano de corrente, açoite, salmoura, pimenta e lágrima. Só conseguia arrancá a carranca da cara quando a empunhadura do cipó do boi tava livre pra agí. O seu único prazê era usá o cipó com a maestria e precisão do professô. Usava um chicote com um feitio qui inté parecia qui ele não existia, só existia o cipó do boi. Um mestre disfarçado de fio bastardo

E ocê, Capitão, chamô a atenção do fio bastardo e esperô ele lhe oiá, volte amanhã à fazenda, o rapaz lhe oiava espantado, bem cedinho. Mas antes de dormirem, leve o Josino até aquele serviço de reparação no cais, o cipó do boi escutô sem reclamá, mudo da sua raiva. Ficô pendurado no Josino e nas tarefa qui o preto precisava desempenhá. Continuô o seu silêncio, tratô de esperá o siô falá tudo qui precisava

Depois da reparação feita, acomodem o descanso no porão da Casa dos Lampiões. Tenho reunião com os próceres da Villa, parece que a obra do céu não está tendo a ligeireza recomendada e esperada pelo sinhô padre. Além das obras de Deus, o padre dá ares de que é entendido nas obras dos homens.

O casarão dos lampião era mais uma das casa de comércio forte na Villa, junto nesta conta de comércio forte era preciso botá a Casa das Governança do Céu; não tinha jeito de esquecê a Casa do Conselho da Municipalidade; muito menos, a Casa do Governadô e a Casa da Magistradura com as suas conveniência. Mais era na casa de trabalho do chefe das pulícia qui era decidida as medida de punição, a guarda das conversa do comércio de interesse e os acerto de troca-troca.

Tudo tinha acerto antes de tê decisão. O siô gostava de repetí as palavra do finado sogro quando tinha qui fazê reunião com os mercado forte da Villa, não gostava de entrá na reunião antes de tá tudo adequado

Espero que tudo tenha ficado acertado entre os dois, oiô pra vista verde do Capitão, que cada um cumpra sua missão da melhor maneira, tirô o relógio do bolso e espiô o dia anoitecendo, preciso ir que o meu atraso não recomenda bem aos negócios, colocô as vista mais uma vez em cada um, não pronunciô mais nada e saiu uns passo, inté qui parô. Fez meia volta, parecia preocupado

Não se deixem confundir com esses negros vagabundos ou fugidos do poder dos seus senhores. Não quero ter que me envolver com as Posturas Policiais da Villa, ergueu o dedo na direção do fio bastardo, mais falô pros dois preto, não esqueçam que cada um de ocês vale dois mil réis se forem pegos depois do anoitecer, andando na Villa. Carreguem o salvo-conduto, desvirô e foi saindo, os negros à noite são todos iguais, cuidado para não serem confundidos com esses vagabundos preguiçosos, vadios acostumados a roubar e matar, a silhueta do siô Afonso da Hora se perdeu no escurecimento da noite, mais o eco da voz ficô na Arsenal.

_______________________


Leia também:


As Casa do Comércio na Villa 2
Ensaio 27B – 2ª edição 1ª reimpressão


As Casa do Comércio na Villa 4
Ensaio 29B – 2ª edição 1ª

O Brasil que não conhecemos ou desconhecemos

Festa do Pequi


















domingo, 26 de outubro de 2014

Minha siora de qui chora esse menino? Chora de barriga cheia com vontade mamá

Cabra Marcado para Morrer


Era um País subdesenvolvido subdesenvolvido subdesenvolvido



Trailer








Um filme de Eduardo Coutinho

Cabra Marcado para Morrer (1984)







Em 1962, o líder da liga Camponesa de Sapé (PB), João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem de latifundiários. Um filme sobre sua vida começa a ser rodado em 1964, com a reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato, e com a produção do CPC da UNE e do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, e direção de Eduardo Coutinho. As filmagens com a participação de camponeses do Engenho Galiléia (PE) e da viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, são interrompidas pelo Golpe Militar em 1964. Dezessete anos depois, em 1981, Eduardo Coutinho retoma o projeto e procura Elizabeth Teixeira e outros participantes do filme interrompido, como o camponês João Virgílio, também atuante em ligas. O tema central passa a ser a história de cada um deles que, estimulados pela filmagem e revendo as imagens do passado, elaboram para a câmera os sentidos de suas experiências. João Virgílio conta a tortura e a prisão que sofreu neste período. Enquanto Elizabeth, que havia mudado de nome e vivia refugiada numa pequena cidade da Bahia com apenas um de seus dez filhos, emerge da clandestinidade e reassume sua identidade. Ela também fala de sua prisão e do rencontro com os filhos, antes dispersos por várias cidades do Brasil, e da tentativa de reconstituir suas vidas.



Ano de Lançamento: 1984
País de Origem: Brasil
Idioma do Áudio: Português
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0134402/

Premiações:

Prêmio Gaivota de Ouro no Festival Internacional de Cinema, 1, 1984, RJ..
Prêmio Tucano de Ouro no Festival Internacional de Filme e Vídeo, 1, 1984, RJ..
Melhor Documentário no Festival de Havana, 4, 1984, Havana - CU..
Grande Prêmio no Festival de Tróia, 1985 - PT..
Prêmio Especial do Júri no Festival de Salsa - IT..
Grande Prêmio no Festival de Cine Realidade, 1985, Paris - FR..
Prêmio no Festival Georges Pompidou, 1985 - FR..
Prêmio do Júri Evangélico, Crítica Internacional, Associação Internacional dos Cinemas de Arte e Fórum de Cinema Jovem no Festival de Berlim, 35, 1985, Berlim - DE..
Prêmio Air France, 1985..
Golfinho de Ouro do Cinema do Governo do Estado do Rio de Janeiro.



Elizabeth Teixeira:

"Nunca esmoreci, nunca esqueci a luta. Fiquei encosta porque esse era o último jeito... A luta não para... A mesma necessidade de 64 tá na fisionomia do operário, do homem do campo e do estudante, não fugiu um milímetro... A luta não pode para enquanto existe fome e salário de miséria. O Povo tem que lutá. Quem é que não luta pelo melhó? Quem tivé condição e a sua boa vida que fique aí... Eu tenho que lutá!"


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Histórias de avoinha: As Casa do Comércio na Villa 2


Ensaio 27B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



José, o medidô da obra Santa, virô um preto forro e banguela. Depois dos tempo de serviço e cuidado com o acabamento da obra qui não acabava, ele perdeu importância e acabô de lado. Ficô com utilidade pouca. Não mais valia o qui valeu. Tava livre pra pensá o qui ia fazê, mais não sabia fazê da sua vida otra coisa qui serví o branco bacana, educado e falante, qui gostava de zangá com os preto qui não podia respondê aos dono da primeira e da última palavra. Os dono de tudo. Assim, entre passá os dia parado ou indo e vindo sem rumo, aceitô subí na carreta de boi do Maneco Coxa, ele trabaiava para o Armazém Em Casa, do siô Azambuja Capadura. O Maneco era um sujeito qui tinha o hábito estranho de tomá leite de vaca com pera enquanto falava mal dos otro. Viveu se lamentando. Gostava de fingí sê o qui não era. Um enganadô qui só mostrava as falsidade da sua bondade lá pelo meio da viagem, então, não tinha mais como descê.

O caminho daquele ajuntamento de carreta era subí inté Laguna com a missão de buscá sal, farinha, arroz, açúcar e vinagre. No início, inté qui gostô daquele amontoamento das muita carreta uma atrás da otra, e das parada no campo, as noite brilhando mais qui os óio da Boitatá, as liberdade de rí e falá alto, as contação das história nos arredó do fogo no chão. Mais José não aprovô os modo do Maneco Coxa com os boi puxadô das carreta. Uma boiada de boi trabaiadô. Era custoso pro preto forro vê qui o carreteiro não reconhecia um animal do otro. Tentô explicá o qui o Maneco Coxa não queria sabê

Bobagem, Zé. Os bois não precisa nem saber quem manda, eles só precisa obedecer, o forro tomô pra ele mesmo a missão de ensiná as diferença dum boi pro otro

Maneco, esse aqui, enquanto falava passava a mão num boi todo louro com uma das guampa serrada, gosta de sê atado nos arreio pelo lado das direita; esse otro, caminhô mais três passo inté o verméio, tem gosto do lado esquerdo; aquele lá, não tem importância de lado, mais gosta de tá na frente, já aquele otro, qui também não tem gosto de lado, qué tá atrás. O Maneco Coxa oiava desconfiado pro José, como podia um preto véio qui nunca fez viagem de carreta com tanta lonjura, querê ensiná os bem-querê e não querê da sua junta de boi, logo pra ele, um doutô carreteiro

Tenho desconfiança que isso é tudo invencionice, falava e enfiava os dedo nos fio de barba qui carregava pendurada na cara, os carreteiro mais antigo conta qui a barba era esconderijo da cicatriz de um boi seu desafeto, coisa boa é qui não era o serviço qui queria fazê atrás do boi na barranca, desde quando boi pode tê querer, eles obedecem e pronto, o José podia passá a estrada inteira explicando as causa do seu sabê, as coisa qui aprendeu nos anos de cuidá de gente, não ia adiantá, o Maneco Coxa tava resolvido qui não queria sabê

Os animal não é diferente, eles gosta de sê cuidado, Maneco.

Bobagem, Zé. Vamos dormir.

Existe aquelas noite qui não se gosta de lembrá e ocê esquece de lembrá. Tem aquelas qui ocê esquece de deslembrá e leva as lembrança viva pelo resto da vida. O preto forro deitô nos pelego qui largô no chão, ele tava disposto não carregá nenhum apontamento da vida pro sono. Não queria passeá em nenhuma saudade, prometeu fechá os óio e dormí; depois, abrí os óio e acordá. E foi o qui fez.

Quando acordô a junta já tava atrelada e o café pulava no bulê. Sentô nos pelego e esticô as vista no redô do acampamento

Buenos dias, negrinho!

Buenos dias, coxinha...

Os dois se oiava enviesado. O Maneco Coxa em pé, pronto pra continuá na estrada, oiô abaixo, parecia tá mais satisfeito qui o seu costume, o cheiro de boi qui carregava tava espalhado nos pelego qui recolhia. O José, já sentado, mais não bem acordado, subiu as vista antes de perguntá

Por que não fui chamado?

Aqui, ninguém acorda ocê, se não acorda vai ficar pra trás.

Levantô.

Encheu a caneca com o café fervido. Tomô tudo em quatro vez qui derramô da caneca na boca. Juntô os pelego e jogô na carreta. Depois, foi inté a frente reconhecê a junta atrelada. Nenhum tava no lugá dito por ele, na noite anteriô. No fundo, o Maneco Coxa é um enganadô qui finge qui não escuta pra fazê do seu feitio e depois acusá qui o aconselhamento não deu certo

Maneco, os boi não tá no meió lugá de trabaio.

Bobagem, Zé. Ocê quer ver? Suba.

O acampamento tava esvaziando. A caravana de boi carreteiro já tava enfileirada. O Maneco Coxa continuava sua explicação e os ensinamento qui se podia tirá do seu feitio de comandá

Esses boi só puxam a carreta quando têm ordem de puxá, subiu o varapau qui usava pra batê, mais não bateu, apontô o varapau no rabo do último animal e empurrô. O berro pareceu empurrá os boi pra frente. Depois, fez o mesmo com o boi da direita, qui não berrô nem apressô os passo. Virô-se na direção do Maneco, pareceu reconhecê a empunhadura do varapau, o dono dele, sabia qui o aviso era pra andá, mais o amô segue os próprio caminho, endireitô e acertô os passo com a passeata.

O José não gostô daquele ajuntamento de carreta e a obrigação de trabaiá com o Maneco Coxa e o seu varapau. Desaconselhô ele mesmo: não ia repetí a viagem inté Laguna. Era meió ficá parado, correndo o risco de bebê além da conta da saúde. No seu tempo de cuidá a obra Santa, não deixava os trabaiadô da obra apanhá, não gostava do chicote nem do varapau. Não ia trabaiá pro Maneco Coxa, o homem fingia sê bão homem, uma criatura do bem. Ele inté enganava os cego de oiá sem vê, gente convertida qui enxerga sem vê, não qué vê o qui vê. Os convertido só vê o qui o siô avisa qui pode vê. Pro José bastô vê com as própria vista o Maneco Coxa destratando os boi da carreta

Se ocê faz isso com os animal, com gente menô qui ocê a maldade deve sê maió.

Ocê é um negro metido!

Não retrucô.

Na chegada, esperô recebê seu pagamento, depois avisô qui não ia mais voltá. Não ficô um dia sem otra missão. Recebeu oferecimento de emprego da Casa de Carne e de Couro, propriedade do siô Demétrio Lomboduro, respondeu qui não queria. Mais desta vez, era só duas carreta. Ele na chefia da incumbência: buscá carne salgada nas charqueada da pequena Pelotas. Os charqueadô pelotense tinha fama de fazê um retalhamento mais delicado, com espessura regulá e com grande superfície de dessecamento e salgamento. Por lá, a carne era charqueada muito mais fina. Isso tudo, ajudava na qualidade da carne, com mais tempo sem estragá podia sê estocada e carregada pra mais longe qui os lugá de costume. Só precisava tê cuidado de embarcá nas carreta as carne do animal vacum, as carne salgada de cavalo e égua não interessava. Aceitô.

Foi e voltô duas vez, mais teve muito pouco gosto, era um homem da cidade. Não teve cobiça de levá esse otro tanto da sua vida como um caixeiro-viajante do charque. Pensô em abrí o próprio negócio. Acabô qui de tanto pensá e querê, e não querê, ele voltô no começo: empregado doméstico do padre, mais com a obrigação de oiá com cuidado os preto qui trabaiava na obra Santa. Precisava dá mais atenção nos preto qui não trabaiava com gosto. O siô padre não queria nenhum desgostoso. Esses era preciso devolvê. Assim, ele foi deixando os dia passá: oiando os moço preto trabaiá, inté qui ele fugiu com os pensamento pra encontrá o tempo da sua mocice. Os batuque, os sapateado, as palma. Abriu um sorriso banguela quando lembrô das suas utilidade de moço com as muié. As andança da vida precisava tê aproveitamento, não dava pra esperá tê mais coisa das coisa qui nunca ia tê. É isso, quando a vida se vê já perdeu o tempo da mocice. Ele aguardava o tempo de conhece de mais pertinho sua mãinha da barriga. A mãe de sangue.

Nas noite mais bem dormida, qui afundava a cabeça no travesseiro – dormí com encosto de cabeça foi um consolo qui ganhô pra tanto serviço bão qui fez – ele podia sentí mãinha, o calô do seu abraço, a quentura doce das palavra qui soprava na sua volta, parecia girá, girá, girá, uma pomba girando qui só acalmava com as cantiga de niná. As palma, os sapateado, os batuque. Otras vez, sonhava de abrí o riso escancarado dos dente, feliz de podê se vê, sentia a mão enfiada e bem segura dentro da mão grandona do seu painho. Nunca perdeu o costume de querê sabê da Mãe d’água como eles tava na vida dos moradô nas água. A cachação foi otra ajuda qui precisô pra aliviá o banzo da cantiga de niná qui não escutô. E não foi uma nem duas, muito mais de mil noite, acordô com o dedão enfiado na boca e as vista alagada. Choromingava pelo muxongo da mãinha. Um dengo qui nunca teve.

________________________________

Leia também:


As Casa do Comércio na Villa 1
Ensaio 26B – 2ª edição 1ª reimpressão


As Casa do Comércio na Villa 3
Ensaio 28B – 2ª edição 1ª reimpressão

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Criolo (Brasil)

Los Poetas del Amor (12)



Vai Ser Assim








[Introdução]
É, dizem que não é pra você
Essa história de vencer
E sonhar e conquistar
Eu digo que é pra você
Essa história de vencer
De sonhar e conquistar


[Verso 1]
Eles querem forjar heróis
Pra manter o povo sem voz
É o soco no queixo, lapada no beiço
O tambor de criola merece respeito
Duro é saber que o país que almejo
Já foi vendido por um baixo preço
Então façam das flores navalhas
Que farei das canções baionetas
A verdade é o todo e o todo é povo
Meu povo é sofrido e não foge da luta
Pois em casa de menino de rua
O último a dormir apaga a lua

[Refrão]
Vai, que eu quero encontrar este lugar
E possa dizer: "Valeu a pena essa porra de vez!"

(2X)

[Ponte]
Vai ser assim, senhor...
(2X)

[Refrão]

Castro Alves (Brasil)

Los Poetas del Amor (11)



Navio Negreiro


O Navio Negreiro narrado pelo ator Paulo Autran com cenas do filme Amistad.






I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.


II


Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...


III


Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!



IV


Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


V


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...


VI


Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!


sábado, 11 de outubro de 2014

"Vamos caminhando Aqui se respira luta"

Los Poetas del Amor (10)



Calle 13 - Latinoamérica







Latinoamérica
Calle 13


Latinoamérica


Soy... Soy lo que dejaron
Soy toda la sobra de lo que se robaron
Un pueblo escondido en la cima
Mi piel es de cuero, por eso aguanta cualquier clima
Soy una fábrica de humo
Mano de obra campesina para tu consumo
Frente de frío en el medio del verano
El amor en los tiempos del cólera, mi hermano!
Soy el sol que nace y el día que muere
Con los mejores atardeceres
Soy el desarrollo en carne viva
Un discurso político sin saliva
Las caras más bonitas que he conocido
Soy la fotografía de un desaparecido
La sangre dentro de tus venas
Soy un pedazo de tierra que vale la pena
Una canasta con frijoles, soy Maradona contra Inglaterra
Anotándote dos goles
Soy lo que sostiene mi bandera
La espina dorsal del planeta, es mi cordillera
Soy lo que me enseñó mi padre
El que no quiere a su patría, no quiere a su madre
Soy américa Latina, un pueblo sin piernas, pero que camina
Oye!

Totó La Momposina:
Tú no puedes comprar el viento
Tú no puedes comprar el sol
Tú no puedes comprar la lluvia
Tú no puedes comprar el calor

María Rita:
Tú no puedes comprar las nubes
Tú no puedes comprar los colores
Tú no puedes comprar mi alegría
Tú no puedes comprar mis dolores

Totó La Momposina:
Tú no puedes comprar el viento
Tú no puedes comprar el sol
Tú no puedes comprar la lluvia
Tú no puedes comprar el calor

Susana Bacca:
Tú no puedes comprar las nubes
Tú no puedes comprar los colores
Tú no puedes comprar mi alegría
Tú no puedes comprar mis dolores

Calle 13
Tengo los lagos, tengo los ríos
Tengo mis dientes pa' cuando me sonrio
La nieve que maquilla mis montañas
Tengo el sol que me seca y la lluvia que me baña
Un desierto embriagado con peyote
Un trago de pulque para cantar con los coyotes
Todo lo que necesito, tengo a mis pulmones respirando azul clarito
La altura que sofoca,
Soy las muelas de mi boca, mascando coca
El otoño con sus hojas desmayadas
Los versos escritos bajo la noches estrellada
Una viña repleta de uvas
Un cañaveral bajo el sol en Cuba
Soy el mar Caribe que vigila las casitas
Haciendo rituales de agua bendita
El viento que peina mi cabellos
Soy, todos los santos que cuelgan de mi cuello
El jugo de mi lucha no es artificial
Porque el abono de mi tierra es natural

Totó La Momposina:
Tú no puedes comprar el viento
Tú no puedes comprar el sol
Tú no puedes comprar la lluvia
Tú no puedes comprar el calor

Susana Bacca:
Tú no puedes comprar las nubes
Tú no puedes comprar los colores
Tú no puedes comprar mi alegría
Tú no puedes comprar mis dolores

María Rita:
Não se pode comprar o vento
Não se pode comprar o sol
Não se pode comprar a chuva
Não se pode comprar o calor
Não se pode comprar as nuvens
Não se pode comprar as cores
Não se pode comprar minha'legria
Não se pode comprar minhas dores

No puedes comprar el sol
No puedes comprar la lluvia
(Vamos caminando)
No riso e no amor
(Vamos caminando)
No pranto e na dor
(Vamos dibujando el camino)
No puedes comprar mi vida
(Vamos caminando)
La tierra no se vende

Trabajo bruto, pero con orgullo
Aquí se comparte, lo mío es tuyo
Este pueblo no se ahoga con marullo
Y se derrumba yo lo reconstruyo
Tampoco pestañeo cuando te miro
Para que te recuerde de mi apellido
La operación Condor invadiendo mi nido
Perdono pero nunca olvido
Oye!

Vamos caminando
Aquí se respira lucha
Vamos caminando
Yo canto porque se escucha
Vamos dibujando el camino
(Vozes de um só coração)
Vamos caminando
Aquí estamos de pie
Que viva la américa!
No puedes comprar mi vida



América Latina

Eu sou, eu sou o que sobrou
Sou todo o resto do que roubaram
Um povo escondido no topo
Minha pele é de couro, por isso aguenta qualquer clima
Eu sou uma fábrica de fumaça
Mão de obra camponesa, para o seu consumo
Frente fria no meio de verão
O amor nos tempos do cólera, meu irmão!
Eu sou o sol que nasce e o dia que morre
Com os melhores entardeceres
Sou o desenvolvimento em carne viva
Um discurso político sem saliva
As mais belas faces que conheci
Sou a fotografia de um desaparecido
O sangue em suas veias
Sou um pedaço de terra que vale a pena
Uma cesta com feijão, eu sou maradona contra a inglaterra
Marcando dois gols
Sou o que sustenta minha bandeira
A espinha dorsal do planeta, é a minha cordilheira
Sou o que me ensinou meu pai
O que não ama sua pátria, não ama a sua mãe
Sou américa latina, um povo sem pernas, mas que caminha
Ouve!

Toto la momposina:
Você não pode comprar o vento
Você não pode comprar o sol
Você não pode comprar chuva
Você não pode comprar o calor

Maria Rita:
Você não pode comprar as nuvens
Você não pode comprar as cores
Você não pode comprar minha alegria
Você não pode comprar as minhas dores

Toto o Momposina:
Você não pode comprar o vento
Você não pode comprar o sol
Você não pode comprar chuva
Você não pode comprar o calor

Susana Bacca:
Você não pode comprar as nuvens
Você não pode comprar as cores
Você não pode comprar minha alegria
Você não pode comprar as minhas dores

Calle 13
Tenho os lagos, tenho os rios
Eu tenho os meus dentes pra quando eu sorrio
A neve que maquia minhas montanhas
Eu tenho o sol que me seca e a chuva que me banha
Um deserto embriagado com cactos
Um gole de pulque para cantar com os coiotes
Tudo que eu preciso, eu tenho meus pulmões respirando azul claro
A altura que sufoca,
Sou os dentes na minha boca, mascando coca
O outono com suas folhas caídas
Os versos escritos sob as noites estreladas
Uma vinha repleta de uvas
Um canavial sob o sol em cuba
Eu sou o mar do caribe, que vigia as casinhas
Fazendo rituais de água benta
O vento que penteia meus cabelos
Sou, todos os santos pendurados em meu pescoço
O suco da minha luta não é artificial
Porque o adubo de minha terra é natural

Toto o Momposina:
Você não pode comprar o vento
Você não pode comprar o sol
Você não pode comprar chuva
Você não pode comprar o calor

Susana Bacca:
Você não pode comprar as nuvens
Você não pode comprar as cores
Você não pode comprar minha alegria
Você não pode comprar as minhas dores

Maria Rita:
Não se pode comprar o vento
Não se pode comprar o sol
Não se pode comprar a chuva
Não se pode comprar o calor
Não se pode comprar as nuvens
Não se pode comprar as cores
Não se pode comprar minha'legria
Não se pode comprar minhas dores

Você não pode comprar o sol...
Você não pode comprar chuva
(Vamos caminhando)
No riso e no amor
(Vamos caminhando)
No pranto e na dor
(Vamos desenhando o caminho)
No pode comprar a minha vida
(Vamos caminhando)
A terra não se vende

Trabalho árduo, porém com orgulho
Aqui se divide, o que é meu é seu
Este povo não se afoga com as marés
E se derruba, eu reconstruo
Tampouco pisco quando eu te vejo
Para que recordem do meu sobrenome
A operação condor invadindo meu ninho
Perdoo porém nunca esqueço
Hey!

Vamos caminhando
Aqui se respira luta
Vamos caminhando
Eu canto porque se ouve
Vamos desenhando o caminhando
(Vozes de um só coração)
Vamos caminhando
Aqui estamos de pé
Que viva a America!
Não podes comprar minha vida...




Composição: Eduardo Cabra / Rafael Rafa Arcaute / René Pérez