quinta-feira, 29 de setembro de 2011

III - Contos Africanos

Nós chorámos pelo Cão Tinhoso


Ondjaki
Para a Isaura. Para o Luís B. Honwana



Foi no tempo da oitava classe, na aula de português.

Eu já tinha lido esse texto dois anos antes mas daquela vez a estória me parecia mais bem contada com detalhes que atrapalhavam uma pessoa só de ler ainda em leitura silenciosa – como a camarada professora de português tinha mandado. Era um texto muito conhecido em Luanda: “Nós matámos o Cão tinhoso”.

Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas penduradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas. Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo. Fiquei atrapalhado.

A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto. Assim queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu os que liam melhor. Nós, os da minha turma da oitava, éramos cinquenta e dois. Eu era o número cinquenta e um. Embora noutras turmas tentassem arranjar alcunhas para os colegas, aquela era a minha primeira turma onde ninguém tinha escapado de ser alcunhado. E alguns eram nomes de estiga[1] violenta.

Muitos eram nomes de animais: havia o Serpente, o Cabrito, o Pacaça, a Barata-da-Sibéria, a Joana Voa-voa, a Gazela, e o Jacó, que era eu. Deve ser porque eu mesmo falava muito nessa altura. Havia o É-tê, o Agostinho-Neto, a Scubidú e mesmo alguns professores também não escapavam da nossa lista. Por acaso a camarada professora de português era bem porreira e nunca chegámos a lhe alcunhar.

Os outros começaram a ler a parte deles. No início, o texto ainda está naquela parte que na prova perguntam qual é e uma pessoa diz que é só introdução. Os nomes dos personagens, a situação assim no geral, e a maka[2] do cão. Mas depois o texto ficava duro: tinham dado ordem num grupo de miúdos para bondar[3] o Cão Tinhoso. Os miúdos tinham ficado contentes com essa ordem assim muito adulta, só uma menina chamada Isaura afinal queria dar proteção ao cão. O cão se chamava Cão Tinhoso e tinha feridas penduradas, eu sei que já falei isto, mas eu gosto muito do Cão Tinhoso.

Na sexta classe eu também tinha gostado bué[4] dele e eu sabia que aquele texto era duro de ler. Mas nunca pensei que umas lágrimas pudessem ficar tão pesadas dentro duma pessoa. Se calhar é porque uma pessoa na oitava classe já cresceu um bocadinho mais, a voz já está mais grossa, já ficamos toda hora a olhar as cuecas[5] das meninas “entaladas na gaveta”, queremos beijos na boca mais demorados e na dança de slow[6] ficámos todos agarrados até os pais e os primos das moças virem perguntar se estamos com frio mesmo assim em Luanda a fazer tanto calor. Se calhar é isso, eu estava mais crescido na maneira de ler o texto, porque comecei a pensar que aquele grupo que lhes mandaram matar o Cão Tinhoso com tiros de pressão de ar, era como o grupo que tinha sido escolhido para ler o texto.

Não quero dar essa responsabilidade na camarada professora de português, mas foi isso que eu pensei na minha cabeça cheia de pensamentos tristes: se essa professora nos manda ler este texto outra vez, a Isaura vai chorar bué, o Cão tinhoso vai sofrer mais outra vez e vão rebolar no chão a rir do Ginho que tem medo de disparar por causa dos olhos do Cão Tinhoso.

O meu pensamento afinal não estava muito longe do que foi acontecendo na minha sala de aulas, no tempo da oitava classe, turma dois, na escola Mutu Ya Kevela, no ano de mil novecentos e noventa: quando a Scubidú leu a segunda parte do texto, os que tinham começado a rir só para estigar os outros, começaram a sentir o peso do texto. As palavras já não eram lidas com rapidez de dizer quem era o mais rápido da turma a despachar um parágrafo. Não. Uma pessoa afinal e de repente tinha medo do próximo parágrafo, escolhia bem a voz de falar a voz dos personagens, olhava para a porta da sala como se alguém fosse disparar uma pressão de ar a qualquer momento. Era assim na oitava classe: ninguém lia o texto do Cão Tinhoso sem ter medo de chegar ao fim. Ninguém admitia isso, eu sei, ninguém nunca disse, mas bastava estar atento à voa de quem lia e aos olhos de quem escutava.

O céu ficou carregado de nuvens escurecidas. Olhei lá para fora à espera de uma trovoada que trouxesse uma chuva de meia hora. Mas nada.

Na terceira parte até a camarada professora começou a engolir cuspe seco na garganta bonita que ela tinha, os rapazes mexeram os pés com nervoso miudinho, algumas meninas começaram a ficar de olhos molhados. O Olavo avisou: “quem chorar é maricas então”! e os rapazes todos ficaram com essa responsabilidade de fazer uma cara como se nada daquilo estivesse a ser lido.

Um silêncio muito estranho invadiu a sala quando o Cabrito se sentou. A camarada professora não disse nada. Ficou a olhar para mim. Respirei fundo.

Levantei-me e toda a turma estava também com os olhos pendurados em mim. Uns tinham-se virado para trás para ver bem a minha cara, outros fungavam do nariz tipo constipação de cacimbo. A Aina e a Rafaela que eram muito branquinhas estavam com as bochechas todas vermelhas e os olhos também, o Olavo ameaçou-me devagar com o dedo dele a apontar para mim. Engoli também em cuspe seco porque eu já tinha aprendido há muito tempo a ler um parágrafo depressa antes de ler em voz alta: era aquela parte do texto em que os miúdos já não têm pena do Cão tinhoso e querem lhe matar a qualquer momento. Mas o Ginho não queria. A Isaura não queria.

A camarada professora levantou-se, veio devagar para perto de mim, ficou quietinha. Como se quisesse me dizer alguma coisa com o corpo dela ali tão perto. Aliás, ela já tinha dito, ao me escolher para ser o último a fechar o texto, e eu estava vaidoso dessa escolha, o último normalmente era o que lia já mesmo bem. Mas naquele dia, com aquele texto, ela não sabia que em vez de me estar a premiar, estava a me castigar nessa responsabilidade de falar do Cão Tinhoso sem chorar.

— Camarada professora — interrompi numa dificuldade de falar. — Não tocou para a saída?

Ela mandou-me continuar. Voltei ao texto. Um peso me atrapalhava e eu nem podia fazer uma pausa de olhar as nuvens porque tinha que estar atento ao texto e às lágrimas. Só depois o sino tocou.

Os olhos do Ginho. Os olhos da Isaura. A mira da pressão de ar nos olhos do Cão Tinhoso com as feridas dele penduradas. Os olhos do Olavo. Os olhos da camarada professora nos meus olhos. Os meus olhos nos olhos da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso.

Houve um silêncio como se tivessem disparado bué de tiros dentro da sala de aulas. Fechei o livro.

Olhei as nuvens.

Na oitava classe, era proibido chorar à frente dos outros rapazes.


Ondjaki nasceu em 1977, em Luanda, Angola. Autor da novíssima geração de escritores africanos, antes de publicar seu primeiro romance Ondjaki já era reconhecido como contista, poeta, roteirista e artista plástico. Sua obra, ganhadora de diversos prêmios literários, já foi traduzida para diferentes línguas, como alemão e chinês. Entre seus livros estão Bom dia camarada (romance) e Os da minha rua (contos), ambos publicados no Brasil.

Contos africanos dos países de língua portuguesa / Albertino Bragança...[et al.]; organizadora Rita Chaves; ilustrador Apo Fousek – 1ª ed – São Paulo: Ática. 2009. il. – (Para gostar de ler: 44)


[1] Palavra usada para caçoar ou ridicularizar, muito presente no universo infantil. (N.E.)
[2] Discussão, debate, briga, confusão. (N.E.)
[3] Matar. (N.E.)
[4] Gíria que significa “muito”, “bastante”. (N.E.)
[5] Calcinha. (N.E.)
[6] Diz-se de qualquer tipo de dança em que o casal dança aconchegado, em ritmo lento. (N.E.)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sintomas de saudade

Marisa Monte



Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

V - Memórias


 É isso, invasão de privacidade
Reunião
baitasar


O quarto da Cândida não é róseo, a cor lilás combina com os cartazes da princesa pop hollywoodiana Avril Lavigne e deixa tudo com perfume cor de rosa. Ela colou pelas paredes a biografia, discografia, videografia, notícias, fórum, turnês, galeria de fotos e curiosidades sobre a cantante canadense.
Como sei tanto do quarto da patricinha? É fácil. Basta um celular e alguém disposta em fazer a reportagem ou delação. É isso, invasão de privacidade, tenho uma espiã acomodada naquele ninho. Uma verdadeira correspondente-repórter vende a alma das outras por uma boa reportagem. No fundo ninguém é diferente de ninguém. O sucesso é o que conta no que fazemos. A barra do fracasso pesa e apavora.
Na porta do quarto, lê-se: A revolução chegou e tem nome Avril Lavigne. É a influência exercida pelas celebridades no mundo das pessoas comuns. Por que desejamos tanto quem não somos? A criatura insatisfeita com a fera que é? Somos bundas e músculos? Peitos e bíceps? Princesas ou bruxas? Não somos apenas uma coisa ou outra, um quadro, uma fotografia, um jeito moderno ou um jeito antigo, mocinho ou bandido; somos tudo isso e mais um tanto que nem imaginamos.
Em um dos cantos do quarto, um espelho de corpo inteiro mostra quem entra ou sai. A cama é alta e fica no meio do dormitório, toda recoberta em vários tons de rosa. Tudo está no lugar: os sapatos, os jeans, as bolsas e nas paredes do guarda-roupa branco tem colados dezenas de adesivo rosa brilhantes da Hello Kitty. O computador colocado embaixo da janela está ligado. Sempre no msn, no twitter, no facebook. Talvez, nunca tenha sido desligado duas ou três vezes, e claro, por motivo de força maior. Um raio durante um furacão ou susto durante um tremor de terra. No mais, está sempre ligado.
As meninas conversam animadas pelo sucesso que saboreiam na escola, nada parece que pode dar errado
(Como seu quarto é maaara!) (Adoreiii esse tom lilás.)
Outro sinal da campainha, Cândida espicha o olhar pela janela, lá para baixo, no hall de entrada
(Fiquem aí, vou buscar o resto do bando.)
Desce as escadas aos pulos, nada lhe dá mais satisfação que receber o seu bando em sua casa. Mostrar quanto é rica, gostosa e feliz lhe dá poder sobre aquelas tolas
(Oi, meninaaas, entrem.) (Estamos chegando cedo?) (São as últimas, subam, subam.)
Estão todas ali. Cândida, Leila, Pati, Shayane, Gracii, Gyaanara e Alinii. Todas combinando. Rosa, branco, lilás. Não saem sem telefonarem umas às outras e ajustar a roupa que o bando vai vestir
(Cândida, quando começamos?) (Já começou, Shayane.) (Então, o que a gente faz?) (Vamos fofocar!) (Legal!) (Precisamos organizar as coisas.) (Concordo, Leila. Pensei alguns venenos para facilitar nosso trabalho.) (O que você pensou, Cândiiiiii?) (Fofocas: da semana; caidinhas e loucas; paqueras e ficadas; namoro sério; fim de namoro; os eleitos da semana e as eleitas da semana.) (Gostei.) (Leila, que tal uma assim: Saiba qual a medida da sua afinidade com seu amor.) (É iiisso, somos óóótimas!) (Precisamos de um título pra nossas páginas.) (Hum... O que vocês acham: Antes, nós éramos convencidas... Hoje, nós somos perfeitas.) (Mara, muito mara!) (Tá, tá meninas, vamos dividir as tarefas.) (Esperem.) (O que foi Gracii?) (To sentindo falta de algo?) (O que, por exemplo?) (Sei lá, uma campanha de socorro!) (Hum... O que vocês acham, meninas?) (É legal.) (Leila, o que você, acha?) (Que tal isto: Adote um cachorrinho ou gatinho abandonado.) (É mesmo, vamos arrumar um lar pra esses bicinhos de rua.)
Desligo o celular. Não preciso ouvir mais. Sei o que vocês estão pensando, mas é isso mesmo, estou espionando. É tudo por minha conta e risco. Estou chegando à casa da Tamires, bastante atrasado. Ela me recebe sem maiores comentários
(O que te aconteceu?) (Uns probleminhas, mas já tá tudo resolvido. O que eu perdi?) (Tu fica com a crônica semanal.) (Tudo bem.) (Temos também que preencher a sessão com a entrevista nervosa, escolhendo o entrevistado e o entrevistador.) (Sugiro a gente entrevistar a irmã diretora.) (Ou um professor.) (Acho melhor entrevistar as meninas do voleibol.) (Legal, elas foram muito bem no ano passado.) (Quem faz a entrevista?) (Outra menina... a Tamires.) (Você aceita?) (Tá, eu topo. Mas precisam me ajudar com as perguntas.) (Tá.) (Outra coisa, Charles. Nós precisamos de alguém para escrever algumas ideias diferentes.) (Sobre o quê?) (Sei lá, sobre as coisas do espírito e da alma, usando o amor como assunto.)
A Júlia que estava em silêncio ergue a mão e aguarda. Eu vejo sua indecisão e peço que fale
(Júlia, você não precisa erguer a mão para falar.) (Ok. Sobre essas ideias estava pensando que, em vez da gente escrever, a gente podia pedir aos alunos, professores ou quem mais queira, para escrever sobre o que quiserem.) (E o título do espaço poderia ser: Julgamentos da Imaginação.) (Legal, legal)
Na minha avaliação, desta primeira edição, falta um pouco de poesia. Sugiro a criação de um espaço para a poesia
(Será?) (Poesia, palavras cruzadas.) (Tenho um nome. Uma poetisa.) (Quem?) (Não é da escola.) (Hihihihihi, não vai dar.) (Por que não? A gente dá pra eles o título de correspondentes estrangeiros.) (Eles?) (São dois.) (Quem são?) (A Nanii e o Lenon.)
Estou preparado para a próxima pergunta. Ela é inevitável. Venho descobrindo que existem coisas, lances e gente fixadas pela sina em nossas vidas. Estava escrito nas estrelas a vinda da Júlia. Ela teria que vir para nossa turma, só assim, podemos enxergar que ela é diferente do molde de gente da escola, e melhor, ela não é de gesso
(Qual a escola deles?) (Os dois estudam na escola da Júlia.) (É muito legal, eles são ótimos.) (Você os conhece, Júlia?) (E passa pelas patricinhas?) (São muito legais.) (Então, essa vai ser a tarefa do Charles e da Tamires, convencer as meninas que o nosso jornal pode ter a contribuição dos alunos de outra escola.) (Escola pública!) (Isso vai dar em merda.) (Sèzar?!)
Pedi desculpas pela mixaria das minhas palavras.
Continuamos a conversar sobre as coisas do jornal, os desafios deste ano. A ansiedade do final do ano. Tudo desemboca lá em dezembro. O resultado do esforço de todo ano vai ser explicado por duas palavras: aprovado ou reprovado. Seguir em frente ou repetir tudo. Mas se fosse somente este tempero para o nosso desespero as chances não seriam tão ruins, a verdade, é que logo na frente tem o vestibular. É um ano tenso por tantas coisas e mais esse tal de vestibular. A pressão ainda está levinha, mas vem jogo pesado por aqui. Lanço a ideia de uma matéria sobre está imensa tarefa que temos pela frente: vestibular de verão. Todos gostam e me deixam com o trabalho de fazer as entrevistas e o texto final. Minha boca é muito grande.
Terminamos a reunião e retornamos para nossas casas. É preciso dar conta de outras formas de estudo na escola. Os trabalhos de pesquisa, as aulas de laboratório em biologia, as provas que não têm data marcada. É uma roleta russa quando chegamos à escola jamais sabemos com antecedência se teremos alguma prova. Pressão durável. É a forma que encontraram de nos humanizar. Mas, na verdade, não reclamamos, bem lá no fundo, gostamos desse padrão de qualidade que nos é atribuído, treinamos desde cedo que não podemos gorar. A barra pesa pra que fica gelado, com medo de enfrentar desafios
(Os alunos da Imaculada Senhora estão mais bem preparados.)
Chego em casa, antes mesmo dos cumprimentos, me tranco em meu quarto. Tenho muitas ideias que preciso deixar escritas. Acionei a bombinha uma única vez, por todo o dia. Um pequeno sorriso aparece em meus lábios
(Nada melhor que estar fazendo aquilo que se gosta.)
Enquanto vou ligando o computador, reviso o dia em minha cabeça. Foi legal, muitas coisas para minhas anotações
(O que foi, mãe?) (Meu filho, já são duas horas da madrugada e você está dormindo com as roupas do dia e o seu computador continua ligado.) (Foi mal, mãe. Desculpa... vou desligar.) (Não demora, boa noite.) (Boa noite.)
Aperto o botão desligar.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

IV - Memórias


A turma dos músculos e batom rosa juntaram forças
O Jornal
baitasar
A professora Jaqueline é a editora sênior do jornal da nossa escola. É algo como o lápis vermelho que condena ou absolve as nossas matérias jornalísticas. O nosso aprendizado inclui descobrir as coisas que se publica e o que não temos permissão de investigar. Jornalismo investigativo é uma barra e não dá dinheiro, eu acho. Ela chamou a turma para nossa primeira reunião. Conversou sobre os objetivos do seu projeto e que a arrecadação da venda dos exemplares fica com a comissão da formatura. Tudo deverá ser gasto com a nossa graduação. O jornal da escola é feito pelos alunos do terceiro ano do médio.
Ela explicava como funciona um periódico semanal, quando foi interrompida pela Cândida
(Jaqueline.) (O que foi, Cândida?) (Podemos começar escolhendo um nome para o nosso jornal.) (Todos concordam?)
Nossa primeira tarefa.
Escolher um nome parecia simples, mas não foi. Tomar decisões não facilita a vida de ninguém, têm aqueles que nasceram pra fazer disso uma demonstração de força e estupidez. A turma dos músculos e batom rosa juntaram forças. Não houve disputa. Foi um massacre. A Cândida e seu bando tomaram tudo. É impressionante como são iguais. A Jaqueline bem que tentou intrometer-se, mas as meninas não queriam deixar por menos. O duelo foi desigual. Para essas meninas é tudo um jeito de mostrar que são populares. Claro, elas são lindas, muito gostosas, mas é tudo uma armadilha. O espelho que usam para se mostrarem não reflete as suas almas sem luz. São apenas aparências de bundas e bocas. Com elas o fotoshop funciona para apagar as linhas defeituosas da sua concepção moral: as aparências enganam
(Mas que bundas, hein?) (Dá um tempo, Charles.)
No final desta primeira batalha ficou decidido que as patricinhas dirigem o jornal até a metade do ano. Até pensei em fazer falação... foi melhor não. O momento vai chegar e ai eu falo tudo que ta engasgado. No segundo semestre faremos nova votação.
As meninas do batom rosa e do jeans básico se reúnem rapidamente, comemoram a vitória do seu modo de organização
(Aiiiii Cândiiiiii, viu que fofo o Gustaavo?) (Siiiiim, apoiou a gente o tempo todo.) (Ai, que bundinha, né?) (Hahahahahaha!) (Tá fluindo?) (Hei, meninas, não sou tão fácil assim! E tem maiis, eu não amo, sou amadaa. Não me achooo, sou procuradaaa.) (Somos irresistíveiiiis.) (É isso meeesmo, Leila.) (Te adolu muitoooo, você é a amizade que qualquer pessoa pediuuuuuuuuuu!)
Depois de decidirem o nome do jornal. Falando Baixinho. Formaram a diretoria do jornal, e claro, vocês já sabem: Cândida Ferraz Gomes Flack – Diretora Geral; Leila Silva Fontoura e Silva – Chefe de Redação. Tudo a ser publicado deve passar por essas duas. Aos mortais, como nós, restaram as funções de repórter, digitador, fotógrafo, revisor. É de chorar. Não que eu estivesse com apetite de mandar, mas ser censurado e corrigido por bundas e caretas
(Vamos reunir hoje, à tarde?)
A Cândida faz cara de nojo para a sugestão da Júlia
(Nem pensar, eu tenho academia.) (Mas tem muita coisa pra resolver.) (Tem tempo.) (Então a gente se reúne e depois passa as coisas pra vocês.) (Nem pensar, Charles.) (Ainda não decidimos as partes do jornal.) (Tamires, isso é fácil! Alguém anota, enquanto vamos dizendo. Quem começa? Pode ser eu? Acho que não podemos deixar de criar a página das fofocas.) (Isso! Os tumultos da semana.) (Gustavo, a gente pode criar subseções, tipo as fofocas da semana, caidinhas e loucas, paqueras e ficadas, namoro sério, fim de namoro, os eleitos e as eleitas da semana.)
O Gustavo dá um tapa na perna do Dalton
(Essa mina é gênio.)
Gênio do mal, talvez
(Eu não saio por aí, atrás de diz-que-diz-que.) (Eu estou com a Tamires.)
A Leila ergue a mão
(Fala, queridinha.) (Cândida, essa parte deixa com a gente. É fácil.) (Alguém contra.)
Silêncio
(Aprovado.) (Cândida, a gente tá pensando em criar sessões de reflexões, uma página com uma entrevista nervosa.)
A Cândida não parece muito alegrinha com essa ideia de reflexões. Tem certeza que a gurizada não quer saber disso,
(Júlia, o que é isso de entrevista nervosa.) (Escolhemos uma pessoa popular da escola e fazemos perguntas rápidas e indigestas. Para serem respondidas bem ligeiro.) (Tá, tá, podem fazer. Mais alguma coisa?)
Antes de qualquer resposta a professora Jaqueline retorna a reunião. Disse que a sua supervisão procurava não intervir em nossas decisões, blablablá...
(E aí, tudo resolvido?) (Aos poucos, aos poucos.) (Já acabamos Jaqueline.) (Ah! E quando é a próxima reunião?) (Semana que vem.)
Todos levantam e saem. As tarefas estão definidas. Será uma longa semana. As meninas cor-de-rosa perfeitas estão convencidas que a tarefa mais importante do jornal será a produção das fofocas. Os esportes e academias ficaram com a turma do Gustavo. Fala sério, isso não é coisa séria.  E a parte grave e sisuda com o restante da turma.
Depois que todos saem e as vaidosas ficam a sós com seus espelhos, começam os gritinhos
(Meninasss.) (A gente já foi convencida, não é mesmo?) (Siiim!) (Ainda somos vaidosas?) (Não precisamos, né?) (Por queeeeeeeeee?) (Somos perfeeiiitas!)
Somando e diminuindo tudo, foi legal. Todos têm as suas tarefas. Fiquei com a empreitada de escrever pequenas crônicas do dia-a-dia na escola. Acho que uma por semana eu consigo. Já tenho o assunto e começo a rascunhar alguma coisa. Não precisa ser preciso e exato. As primeiras ideias vão se deixando aparecer no bloco. Tenho sempre ele ao meu alcance. Pintou uma ideia e vai pro caderno. Não confio na memória. E acho que precisamos exercitar escrever como a turma do Gustavo exercita os músculos na academia.
O último período de aula daquela manhã não rendeu. As gurias das fofocas passavam recadinhos rosinhas e amarelinhos e verdinhos. Combinam de se encontrarem no quarto da Cândida. Imagino aquele quarto todo rosáceo, com dezenas de cartazes, Kelly Key, Jeito Moleque, Britney, KLB, Pitty, Avril. Escolham. E a discussão sobre quem iriam detonar. Claro, estavam com as fofocas na mão. Nenhuma precisa ser verdadeira. Todos sabem disso. Essas meninas têm atitude e uma couraça de coisas tolas. As fofocas que fazem se escondem. Elas ficam badaladas, mas o que elas dizem se oculta na falação dos cochichos. Agora, elas terão que mexericar diferente, o dito será escrito e permanece. Terá assinatura de autoria. Acho que ainda não pensaram nisso.
Precisam pôr a bunda na janela...

sábado, 24 de setembro de 2011

Poema do menino Jesus

Maria Bethânia e O doce mistério da vida





Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão 
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

                          Alberto Caeiro 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

II - Contos Africanos


As mãos dos pretos

Luís Bernardo Honwana


Já não sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo.

Lembrei-me disso quando o Senhor Padre, depois, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os pretos eram melhores do que nós, voltou a falar nisso de as mãos deles serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles, às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar.

Eu achei um piadão tal a essa coisa de as mãos dos pretos serem mais claras que agora é ver-me a não largar seja quem for enquanto não me disse por que os pretos têm as palmas das mãos assim claras. A dona Dores, por exemplo, disse-me que Deus fez-lhes as mãos assim mais claras para não sujarem a comida que fazem para os seus patrões ou qualquer outra coisa que lhes mandem fazer e que não deva ficar senão limpa.

O Senhor Antunes da Coca-Cola, que só aparece na vila de vez em quando, quando as coca-colas das cantinas já tenham sido todas vendidas, disse que tudo o que me tinham contado era aldrabice[1]. Claro que não sei se realmente era, mas ele garantiu-me que era. Depois de eu lhe dizer que sim, que era aldrabice, ele contou então o que sabia desta coisa das mãos dos pretos. Assim:

“Antigamente, há muitos anos, Deus Nosso Senhor, Jesus Cristo, Virgem Maria, São Pedro, muitos outros Santos, todos os anjos que nessa altura estavam nos céu e algumas pessoas que tinham morrido e ido para o céu, fizeram um reunião e resolveram fazer pretos. Sabes como? Pegaram em barro, enfiaram-no em moldes usados e para cozer o barro das criaturas levaram-nas para os fornos celestes; como tinham pressa e não houvesse lugar nenhum, ao pé do brasido, penduraram-nas nas chaminés. Fumo, fumo, fumo e aí os tens escurinhos como carvões. E tu agora queres saber por que é que as mãos deles ficaram brancas? Pois então se eles tiveram de se agarrar agarrar enquanto o barro deles cozia?!...”

Depois de contar isto, o senhor Antunes e os outros Senhores que estavam à minha volta, desataram a rir, todos satisfeitos.

Nesse mesmo dia, o Senhor Frias chamou-me, depois de o Senhor Antunes ter ido embora, e disse-me que tudo o que eu tinha estado para ali a ouvir de boca aberta era uma grandissíssima peta[2]. Coisa certa e certinha sobre isso das mãos dos pretos era o que ele sabia: que Deus acabava de fazer os homens e mandava-os logo tomar banho num lago lá do céu. Depois do banho as pessoas estavam branquinhas. Os pretos, como foram feitos de madrugada e à essa hora a água do lago estivesse muito fria, só tinham molhado as palmas das mãos e as plantas dos pés, antes de se vestirem e virem para o mundo.

Mas eu li num livro que por acaso falava nisso, que os pretos têm as mãos assim mais claras por viverem encurvados, sempre a apanhar o algodão branco de Virgínia e de mais não sei onde. Já se vê que a Dona Estefânia não concordou quando lhe disse isso. Para ela é só por as mãos deles desbotarem à força de tão lavadas.

Bem, eu não sei o que vá pensar disso tudo, mas a verdade é que ainda que caloas e gretadas, as mãos dum preto são sempre mais claras que todo o resto dele. Essa é que é essa!

A minha mãe é a única que deve ter razão sobre essa questão de as mãos de um preto serem mais claras do que todo o resto do corpo. No dia em que falávamos nisso, eu e ela, estava-lhe eu ainda a contar o que já sabia dessa questão e ela já estava farta de se rir. O que achei esquisito foi que ela não me dissesse logo o que pensava disso tudo, quando eu quis saber, e só tivesse respondido depois de se fartar de ver que eu não me cansava de insistir sobre a coisa, e mesmo assim a chorar, agarrada à barriga como quem não pode mais de tanto rir. O que ela disse foi mais ou menos isto:

“Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho. Ele pensou que realmente tinha de os haver... Depois arrependeu-se de os ter feito porque os outros homens se riam deles e levavam-nos para as casas deles para os pôr a servir como escravos ou puco mais. Mas como Ele já os não pudesse fazer ficar todos brancos porque os que já se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez com que as palmas das mãos deles ficassem exatamente com as palmas dos outros homens. E sabes por que é que foi? Claro que não sabes e não admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem, é apenas obra de homens... Que o que os homens fazem, é feito por mãos iguais, mãos de pessoas que, se tiverem juízo, sabem que antes de serem qualquer outra coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem pretos.”

Depois de dizer isso tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.

Quando fugi para o quintal, para jogar à bola, ia a pensar que nunca tinha visto uma pessoa a chorar tanto sem que ninguém lhe tivesse batido.



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Luís Bernardo Honwana nasceu em 1942, em Lourenço Marques (hoje Maputo), Moçambique. Já aos 22 anos, publicou Nós matamos o Cão Tinhoso, livro que o consagrou como um dos mais importantes escritores de seu país. O engajamento na luta pela independência de Moçambique o levou à prisão nos anos de 1960. Quase trinta anos depois, em 1990, então como ministro da Cultura, Honwana foi um dos signatários do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Contos africanos dos países de língua portuguesa / Albertino Bragança...[et al.]; organizadora Rita Chaves; ilustrador Apo Fousek – 1ª ed – São Paulo: Ática. 2009. il. – (Para gostar de ler: 44)


[1] Trapaça. (N.E.)
[2] Mentira. (N.E.)