domingo, 27 de novembro de 2011

"Atire a primeira pedra"

Mario Lago





Ai, Que Saudades da Amélia
Mário Lago


Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher


Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: "Meu filho, o que se há de fazer!"
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade




Atire a Primeira Pedra
Mário Lago


Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor
Eu sei que vão censurar meu proceder
Eu sei, mulher
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Maluco Beleza


Raul Seixas 






Maluco Beleza

Raul Seixas


Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...

Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza...

Composição: Cláudio Roberto / Raul Seixas

III – Mitologia dos Orixás - Ogum [31]

Ogum



Reginaldo Prandi

Ogum dá aos homens o segredo do ferro

Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade.
Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole.
Por isso o trabalho exigia grande esforço.
Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa.
Era necessário plantar uma área maior.
Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura.
Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno.
Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido.
Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.
Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então.
Quando todos os outros orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno.
Os orixás, admirados, perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão.
Ogum respondeu que era de ferro, um segredo recebido de Orunmilá.
Os orixás invejavam Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só na agricultura, como à caça e até mesmo à guerra.
Por muito tempo os orixás importunaram Ogum para saber o segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si.
Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente.
Ogum aceitou a proposta.
Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro.
Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador.
Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada.
Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho.
Os orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado.
Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado.
Ogum se decepcionou com os orixás, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora diziam que não era digno de governá-los.
Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu.
Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da árvore de acocô e lá permaneceu.
Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram.
Todo mês de dezembro, celebram a festa de Iudê-Ogum.
Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum.
Ogum é o senhor do ferro para sempre.
[31]


_____________
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.

Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

domingo, 20 de novembro de 2011

Samba de Verão

Caetano Veloso





Samba de Verão
Caetano Veloso


Você viu só que amor
Nunca vi coisa assim
E passou, nem parou
Mas olhou só pra mim...

Se voltar vou atrás
Vou pedir, vou falar
Vou dizer que o amor
Foi feitinho prá dar...

Olha, é como o verão
Quente o coração
Salta de repente
Para ver
A menina que vem...

Ela vem sempre tem
Esse mar no olhar
E vai ver, tem que ser
Nunca tem quem amar
Hoje sim, diz que sim
Já cansei de esperar
Nem parei, nem dormi
Só pensando em me dar...

Peço, mas você não vem
Bem!
Deixo então!
Falo só
Digo ao céu
Mas você vem...

Deixo então!
Falo só
Digo ao céu
Mas você vem...

Composição: Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle

II – Mitologia dos Orixás - Exu[1]


Exu — Legba — Eleguá — Bará
Reginaldo Prandi

Exu ganha o poder sobre as encruzilhadas

Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, Exu se distraía, vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam o velho orixá, apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu prestava atenção muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá fabricava as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens, as mãos, os pés, a boca, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo.
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa.
Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Oxalá.
Cada vez mais havia humanos para Oxalá fazer.
Oxalá não queria perder tempo.recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para as visitas.
Exu tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.
Exu coletava os ebós para Oxalá.
Exu recebia as oferendas e as entregava a Oxalá.
Exu fazia bem seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo.
Assim, quem viesse à casa de Oxalá teria que pagar também alguma coisa a Exu.
Quem estivesse voltando da casa de Oxalá também pagaria alguma coisa a Exu.
Exu mantinha-se sempre a postos guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ogó, poderoso porrete, afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância.
Exu trabalhava demais e fez ali sua casa, ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada sem pagar alguma coisa a Exu.
[1]
__________

Leia também:

I – Mitologia dos Orixás

III – Mitologia dos Orixás - Ogum [31]



Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.

Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginalso Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: companhia das Letras, 2001.


sábado, 19 de novembro de 2011

I – Mitologia dos Orixás


Prólogo
Reginaldo Prandi

Um dia, em terras africanas dos povos iorubas, um mensageiro chamado Exu andava de aldeia em aldeia à procura de solução para terríveis problemas que na ocasião afligiam a todos, tanto os homens como os orixás. Conta o mito que Exu foi aconselhado a ouvir do povo todas as histórias que falassem dos dramas vividos pelos seres humanos, pelas próprias divindades, assim como por animais e outros seres que dividem a Terra com o homem. Histórias que falassem da ventura e do sofrimento, das lutas vencidas e perdidas, das glórias alcançadas e dos insucessos sofridos, das dificuldades na luta pela manutenção da saúde contra os ataques da doença e da morte. Todas narrativas a respeito dos fatos do cotidiano, por menos importantes que pudessem parecer, tinham que ser devidamente consideradas. Exu deveria estar atento também aos relatos sobre as providências tomadas e as oferendas feitas aos deuses para se chegar a um final feliz em cada desafio enfrentado. Assim fez ele, reunindo 301 histórias, o que significa, de acordo com o sistema de numeração dos antigos iorubas, que Exu juntou um número incontável de histórias. Realizada essa pacientíssima missão, o orixá mensageiro tinha diante de si todo o conhecimento necessário para o desvendamento dos mistérios sobre a origem e o governo do mundo dos homens e da natureza, sobre o desenrolar do destino dos homens, mulheres e crianças e sobre os caminhos de cada um na luta cotidiana contra os infortúnios que a todo momento ameaçam cada um de nós, ou seja, a pobreza, a perda dos bens materiais e de posições sociais, a derrota em face do adversário traiçoeiro, a infertilidade, a doença, a morte.
Conta-se que todo esse saber foi dado a um adivinho d nome Orunmilá, também chamado Ifá, que o transmitiu aos seus seguidores, os sacerdotes do oráculo de Ifá, que são chamados babalaôs ou pais do segredo. Durante a iniciação a que é submetido para o exercício da atividade oracular, o babalaô aprende essas histórias primordiais que relatam fatos do passado que se repetem a cada dia na vida dos homens e mulheres. Para os iorubas antigos, nada é novidade, tudo o que acontece já teria acontecido antes. Identificar no passado mítico o acontecimento que ocorre no presente é a chave da decifração oracular. Os mitos dessa tradição oral estão organizados em dezesseis capítulos, cada um subdividido em dezesseis partes, tudo paciente e meticulosamente decorado, já que a escrita não fazia parte, até bem pouco tempo atrás, da cultura dos povos de língua ioruba. Acredita-se que um determinado segmento de um determinado capítulo mítico, que é chamado odu, contém a história capaz de identificar tanto o problema trazido pelo consulente como sua solução, seu remédio mágico, que envolve sempre a realização de algum sacrifício votivo aos deuses, os orixás. O babalaô precisa saber em qual dos capítulos e em que parte encontra-se a história que fala dos problemas do consulente. Ele acredita que as soluções estão lá e então joga os dezesseis búzios, ou outro instrumento de adivinhação, que lhe indica qual é o odu e, dentro deste, qual é o mito que procura. Acredita-se que Exu é o mensageiro responsável pela comunicação entre o adivinho e Orunmilá, o deus do oráculo, que é quem dá a resposta, e pelo transporte das oferendas ao mundo dos orixás.
Essa arte da adivinhação sobrevive na África, entre os iorubas seguidores da religião tradicional dos orixás, e na América, entre os participantes do candomblé brasileiro e da santeria cubana, principalmente. Na África e em Cuba, o oráculo é prerrogativa dos babalaôs, e, no Brasil, onde os babalaôs se extinguiram, dos pais e mães-de-santo. Aqui, pouco a pouco a adivinhação praticada no candomblé no jogo de búzios foi sendo simplificada e o corpo de mitos foi sendo desligado da prática divinatória, preservando-se, contudo, os nomes dos odus, as previsões e os ebós ou oferendas propiciatórias, além do nome dos orixás que eram os protagonistas das histórias originais de cada odu. O próprio orixá Orunmilá foi sendo esquecido, passando Exu a ocupar papel central na prática oracular do jogo de búzios. Os mitos, entretanto, continuaram presentes nas explicações da Criação, na composição dos atributos dos orixás, na justificativa religiosa dos tabus, que são muito presentes no cotidiano do candomblé, no sentido das danças rituais etc. Tudo porém muito difuso, embutido nos ritos, sem organização alguma.
A partir da década de 1960 conheceram significativo reavivamento religiões tradicionais, entre elas as religiões dos orixás constituídas na América, verificando-se grande expansão do candomblé, que da Bahia se alastrou por todo o território brasileiro, e da santeria cubana, agora também cultivada nos Estados Unidos, sobretudo entre os imigrantes hispano-americanos. Isso fez proliferar as publicações sobre as religiões dos orixás. Textos oraculares, coletâneas de mitos e de fórmulas rituais colhidos na África, em cuba e no Brasil têm sido publicados por pesquisadores e sacerdotes, geralmente de modo fragmentado e pouco sistematizado. Essas publicações, científicas ou religiosas, foram se tornando mais e mais procuradas, tanto pelos pesquisadores como pelos seguidores das religiões dos orixás, denominados entre nós de o povo-de-santo. A recente expansão do candomblé no Brasil envolveu forte adesão de segmentos diferentes daqueles em que se originou no Brasil a religião dos orixás, com a inclusão de adeptos não necessariamente de origem negra e que são provenientes de camadas sociais com maior escolaridade e habituadas à ideia da informação pelo livro. Esse novo segmento, que em geral associa culturalmente religião com a palavra escrita, encontrou nos mitos explicações e sentidos para práticas e concepções do candomblé, descobrindo que o mito está impregnado nos objetos rituais, nas cantigas, nas cores e desenhos das roupas e colares, nos rituais secretos da iniciação, nas danças e na própria arquitetura dos templos e, marcadamente, nos arquétipos ou modelos de comportamento do filho-de-santo, que recordam no cotidiano as características e aventuras míticas do orixá do qual se crê descender o filho humano. Isso reforçou o crescimento e a diversificação de um mercado livreiro sobre os orixás, de modo que a transmissão oral do conhecimento religioso, que caracteriza o candomblé, foi aos poucos incorporando o uso do texto escrito.
____________________
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.

Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginalso Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: companhia das Letras, 2001.




domingo, 13 de novembro de 2011

Vientos del Alma


Mercedes Sosa




Música folklórica de espíritu revolucionario. Mercedes Sosa una hija de América latina con sangre indígena lucha por siempre con la voz en alto sin callarse los pensamientos siempre dijo y defendio al hermano indígena, nuestra raíz de la raza roja...

Tlazocamati, Ometeotl Mercedes Sosa....

Yo soy la noche, la mañana
Yo soy el fuego, fuego en la oscuridad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad

Vientos del alma envueltos en llamas
Suenan las voces de la quebrada
Traigo la tierra en mil colores
Como un racimo lleno de flores
Traigo la luna con su rocío
Traigo palabras con el sonido y luz de tu destino

Yo soy la noche, la mañana
Yo soy el fuego, fuego en la oscuridad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad
Yo soy el cielo, la inmensidad
Yo soy la tierra, madre de la eternidad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad

Hoy vuelvo en coplas a tu camino
Juntando eco de torbellinos
Traigo las huellas de los amores
Antigua raza y rostro de cobre
Traigo la luna con su rocío
Traigo palabras con el sonido y luz de tu destino

Yo soy la noche, la mañana
Yo soy el fuego, fuego en la oscuridad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad
Yo soy el cielo, la inmensidad
Yo soy la tierra, madre de la eternidad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad

Yo soy la noche, la mañana
Yo soy el fuego, fuego en la oscuridad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad
Yo soy el cielo, la inmensidad
Yo soy la tierra, madre de la eternidad
Soy pachamama, soy tu verdad
Yo soy el canto, viento de la libertad

VI - Contos Africanos


João-de-barro

Valdomiro Martins

João-Capataz ferrava o cavalo mouro. Os olhos grandes do animal espelhavam a bela tarde de verão. Fora difícil domá-lo e as ferraduras colocadas nas patas eram coroas de uma importante conquista. “Cavalo bom é cavalo brabo” dizia João. Homem forte, filho de escravos e vida de capataz. Depois da família Saraiva Andrade, sua palavra era ordem. O elo entre João-Capataz e o coronel Aureliano Saraiva Andrade era de extrema confiança. Colocavam a última ferradura. João-Capataz mostrava os dentes por entre os pelos do bigode num sorriso largado.
— Seu João — disse o negrinho que acabara de chegar. Ofegava muito. — A Dolores foi levada para a senzala menor!
— Mas que tal! — respondeu João-Capataz ainda agachado. Segurava ainda a pata do animal. — Outra cria buena vai nascer! — e levantou-se. Os dois peões se olharam.
João-Capataz, na sua típica agilidade, montou no gateado que pastoreava preso ao moirão, sem usar o estribo de prata. Deu de relho na garupa do animal e galopeou sobre a coxilha na direção da estância.
Os dois peões terminaram o serviço, deixaram que o cavalo, recém ferrado, ficasse livre. Um dos homens disse:
— Lá vai o velho João-de-barro, mais um chupim vai nascer.
Entardecia. A lua cheia surgia atrás da coxilha e provava aos ignorantes a existência de Deus. João-Capataz entrava na senzala menor, onde Dolores encontrava-se em trabalho de parto. As escravas suavam muito. João-Capataz deslocou-se até o canto da parede, onde havia uma cadeira improvisada, e sentou-se. Todas as espécies de gemidos, múltiplos apelos e rezas não foram capazes de arrancar uma atitude nervosa de sua face. O homem fumava o seu cachimbo como se estivesse no mais íntimo momento de prazer. Quando acabou o fumo, tirou do bolso um pequenino espelho e alisou o bigode numa carícia felina.
O choro do bebê foi o único som capaz de fazer João-Capataz se levantar. Num movimento impulsivo perguntou à parteira Maria de que se tratava.
— Vosmecê vem ver — respondeu a velha. — Meu serviço eu já fiz, agora, vosmecê faça o seu.
Velha maldita! Pensou João-Capataz, como pode falar asneira. Se fosse uma das outras mulheres, ainda na idade de trabalho e surra, bem que lhe daria uma lição ou levaria para sua peça e mostraria sua macheza. Entretanto, era uma mulher, mais próxima da morte que todos ali presentes. Se bem que fizera seu trabalho e, a ele, restava mesmo ver o que era e terminar o serviço.
João_Capataz aproximou-se de onde estavam as mulheres. Franziu a testa, apertou os olhos, fez a cara mais feia que pode para deixar claro à parteira e demais mulheres que não gostara daquelas palavras que ouvira.
— Levante! Quero ver! — João pediu a uma das mulheres. Olhou como alguém que verifica a validade de um dinheiro e liberou o discreto sorriso. Deu as costas e saiu.
As mulheres trataram de cuidar da mãe e da criança. Uma das mulheres, enquanto enrolava o recém nascido, comentou:
— O João-de-barro não perde tempo. Vai logo preparar o ninho.
As estrelas estavam todas visíveis quando João-Capataz bateu à porta da cozinha. Queria falar com o coronel, disse à cozinheira que lhe atendeu. Era assunto sério, importante. A mulher lhe informou que o patrão estava com visita, pela cor, bigode e roupa, gente importante. Ele, ainda com a mulher à frente, colocou fumo no cachimbo, acendeu e tragou. Soltou a longa e fantasmagórica serpente de fumaça e disse:
— Pois bem, velha. Não lhe peço, mando. Com o patrão eu me entendo. Agora, vosmecê se entende comigo.
A mulher teve o gosto da submissão arranhando-lhe a garganta. Pediu licença e saiu.
O cachimbo havia queimado o fumo quando a mulher apareceu à porta.
— O coronel já vem — e ficou parada.
— Entonces, vosmecê pode ir cuidar do que lhe interessa — João-Capataz dava um rumo ao destino da mulher.
João_Capataz tragava outro fumo quando o coronel apareceu à porta da cozinha.
— O que foi João? — o coronel, com um guardanapo à mão, pedia pressa. — Vamos, diga! — e pôs os olhos no cachimbo. — Bem na hora! Me dá logo, rápido, o deputado diz que não fuma. Maricas!
Os dois homens foram para as proximidades de um celeiro. Havia uma intensa escuridão onde os dois desapareceram. Apenas vozes perdidas sob a noite quente. João dera-lhe a notícia de que tudo fora bem.
— E a Dolores, como está? — perguntou o coronel.
João-Capataz tomou o cachimbo da mão do patrão, tragou e disse:
— boa parideira, coronel, boa parideira!
O coronel lembrou-se de seu tempo breve, deveria voltar antes que sua esposa viesse chamá-lo. Logo, não soubera o sexo e perguntou o que nascera.
— Macho do pé grande, coronel — respondeu João-Capataz.
O coronel sorriu. Tirou o cachimbo das mãos de João-Capataz e deu mais uma tragada. Devolveu. Despediu-se e saiu. Quando colocava a mão na porta da cozinha, parou. Virou-se e disse ao homem que continuava parado:
— Não se esqueça João, vosmecê é o pai!
— Qual o nome do guri, coronel?
O coronel entrou e fechou a porta sem responder a pergunta. João-Capatazainda colocou mais um pouco de fumo no cachimbo e acendeu. Caminhou sem pressa enquanto a lua reinava sublime no céu.
 _________________________

Valdomiro Martins nasceu em Bagé, município gaúcho que faz fronteira com o Uruguai, em 01 de julho de 1978. É funcionário público e formado em letras pela Universidade da Região da Campanha — URCAMP, onde estreitou seus laços com a literatura. Atualmente, faz especialização em Língua Portuguesa e leciona Literatura em curso pré-vestibular.

Guerrilha e solidão / Valdomiro Santos Martins. – Porto Alegre: Literalis, 2008. 88p.



sábado, 12 de novembro de 2011

Estranha Loucura

Alcione




Estranha Loucura
Alcione


Minha estranha loucura
é tentar te entender e não ser entendida
É ficar com você
Procurando fazer parte da tua vida
Minha estranha loucura
É tentar desculpar o que não tem desculpa
É fazer dos teus erros
Num motivo qualquer a razão da minha culpa
Minha estranha loucura
É correr pros teus braços quando acaba uma briga
Te dar sempre razão
E assumir o papel de culpado bandido
Ver você me humilhar
E eu num canto qualquer dependente total do teu jeito de ser
Minha estranha loucura
É tentar descobrir que o melhor é você

Eu acho que paguei o preço por te amar demais
Enquanto pra você foi tanto fez ou tanto faz
Magoando pouco a pouco me perdendo sem saber
E quando eu for embora o que será que vai fazer?

Vai sentir falta de mim
Sentir falta de mim
Vai tentar se esconder coração vai doer
Sentir falta de mim

Minha estranha loucura
É correr pros teus braços quando acaba uma briga
Te dar sempre razão
E assumir o papel de culpado bandido
Ver você me humilhar
E eu num canto qualquer dependente total do teu jeito de ser
Minha estranha loucura
É tentar descobrir que o melhor é você

Eu acho que paguei o preço por te amar demais
Enquanto pra você foi tanto fez ou tanto faz
Magoando pouco a pouco me perdendo sem saber
E quando eu for embora o que será que vai fazer?

Vai sentir falta de mim
Sentir falta de mim
Vai tentar se esconder coração vai doer
Sentir falta de mim...


Composição: Michael Sullivan / Paulo Massadas

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eta Povo Pra Lutar

Zeca Pagodinho





Eta Povo Pra Lutar

Zeca Pagodinho


Eta povo pra lutar, vai gostar de trabalhar
Nunca vi tão disposto, nunca está de cara feia
Sempre traz escancarao
Um franco sorriso no rosto
Se rola uma "intera"
É o primeiro a pôr a mão no bolso
Se um vizinho ao lado está passando
Por má situação
Ele faz um mutirão e ajeita a situação


Então, por que que essa gente que tem
Não aprende a lição
Com esse povo que nada tem
Mas tem bom coração


Eta povo pra lutar...


Já com a face enrugada e a mão calejada
Lá vai ele pra batalha, e a Deus
pede saúde
Vive no fio da navalha


Então, por que que essa gente que tem...


(improvisos)
Eta povo guerreiro, faça chuva, faça sol
Esse povo tá sempre na luta
E a divisão é o lema desse povo
Salve o povo brasileiro!
Eta povo! Eta povo pra lutar!