quarta-feira, 27 de julho de 2022

D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L3 Capitulo XVI: Do que sucedeu ao engenhoso fidalgo na venda que ele imaginava ser castelo.

D. Quixote de la Mancha



Miguel de Cervantes

Vol 1



O Engenhoso Fidalgo 
D. Quixote de la Mancha 

Miguel de Cervantes



PRIMEIRA PARTE

LIVRO TERCEIRO

CAPÍTULO XVI


Do que sucedeu ao engenhoso fidalgo na venda que ele imaginava ser castelo.


O vendeiro, que viu D. Quixote atravessado no asno, perguntou a Sancho que mal trazia. Respondeu-lhe este que nada era, que tinha dado uma queda dum penedo abaixo, e que trazia algum tanto amolgadas as costelas.
Tinha o vendeiro por mulher uma, não da condição costumada nas de semelhante trato, porque naturalmente era caritativa, e se condoía das calamidades do próximo. Acudiu esta logo a curar a D. Quixote, e fez com que uma sua filha donzela, rapariga, e de bem bom parecer, a ajudasse a tratar do hóspede.
Servia também na venda uma moça asturiana, larga de cara, cabeça chata por detrás, nariz rombo, torta de um olho, e do outro pouco sã. Verdade é que a galhardia do corpo lhe descontava as outras faltas; não tinha sete palmos dos pés à cabeça; e os ombros, que algum tanto lhe cargavam, a faziam olhar para o chão mais do que ela quisera.
Esta gentil moça pois ajudou a donzela, e entre ambas engenharam uma cama suficientemente má para D. Quixote, num sótão, que dava visíveis mostras de ter noutro tempo servido de palheiro muitos anos, no qual se alojava também um arrieiro, que tinha a sua cama feita um pouco adiante da do nosso D. Quixote, e ainda que era das enxergas e mantas dos machos, levava ainda assim muita vantagem à do cavaleiro, que só se compunha de quatro tábuas mal acepilhadas, sobre dois bancos desiguais, e dum colchão que em delgado mais parecia colcha, recheado de godelhões, que, se não mostrassem por alguns buracos serem de lã, ao toque e pela dureza pareciam calhaus, dois lençóis como de couro de adarga, e um cobertor cujos fios se podiam contar sem escapar um único.
Nesta amaldiçoada cama se deitou D. Quixote, e logo a vendeira e sua filha o emplastraram de alto a baixo, alumiando-lhes Maritornes (que assim se chamava a asturiana); e vendo a vendeira o corpo de D. Quixote tão pisado em muitas partes, disse que mais pareciam aquilo pancadas, que só queda.

— Não foram pancadas — acudiu Sancho — é que o penedo tinha muitos bicos, e cada um deles lhe fez sua pisadura.

E ajuntou logo:

— Olhe, senhora, se faz isso de modo que sobejam algumas estopas, que não faltará quem delas precise, que também a mim me doem um pouco os lombos.

— Pelo que vejo — disse a vendeira — também vós caístes?

— Não caí — respondeu Sancho — mas do susto que tive de ver cair a meu amo de tal modo me dói o corpo, que é como se me tivessem dado mil bordoadas.

— Podia muito bem ser isso — disse a donzela — que a mim muitas vezes me tem acontecido sonhar que caía duma torre abaixo, e não acabava nunca de chegar ao chão; e quando despertava do sonho, achava-me tão moída e quebrantada, como se tivera caído deveras.

— Assim mesmo é que é, senhora — respondeu Sancho Pança; — também eu, sem sonhar nada, e estando mais acordado do que estou agora, acho-me com pouco menos pisaduras que meu amo o senhor D. Quixote.

— Como se chama este cavaleiro? — perguntou a asturiana Maritornes.

— D. Quixote de la Mancha — respondeu Sancho — é cavaleiro de aventuras, e dos melhores e mais fortes que de longo tempo para cá se tem visto neste mundo.

— Que vem a ser cavaleiro de aventuras? — replicou a serva.

— Tão novata sois no mundo, que o ignorais? — respondeu Sancho — pois sabei, irmã, que cavaleiro de aventuras vem a ser um sujeito que em duas palhetadas se vê desancado, e Imperador. Hoje está a mais desditada criatura do mundo, e a mais necessitada, e amanhã terá duas ou três coroas reais para as dar ao seu escudeiro.

— Então como é que vós, pertencendo a tão bom senhor — perguntou a vendeira — não tendes, ao que parece, pelo menos algum condado?

— Ainda é cedo — respondeu Sancho — porque não há senão um mês que andamos buscando as aventuras, e por enquanto ainda não topamos com alguma que o fosse em bem; muitas vezes se busca uma coisa, e se acha outra. Verdade é que se o meu amo o senhor D. Quixote sara desta queda ou destas feridas, e eu não ficar estropiado, não troco as minhas esperanças pelo melhor título de Espanha.

Todas estas práticas estava D. Quixote escutando muito atento; e, sentando-se na cama conforme pôde, pegando na mão da vendeira, lhe disse:

— Crede, formosa senhora, que vos podeis chamar feliz por terdes albergado neste vosso castelo a minha pessoa, que é tal, que, se eu a não louvo, é pelo que se costuma dizer que o louvor em boca própria é vitupério; porém o meu escudeiro vos dirá quem sou. Só vos digo que hei-de conservar eternamente na memória o serviço que me haveis feito para o agradecer enquanto a vida me durar; e prouvera aos céus que o amor me não tivesse tão rendido e sujeito às suas leis, e aos olhos daquela formosa ingrata, que digo pela boca pequena que os desta formosa senhora se tornariam senhores do meu alvedrio.

Confusas estavam a bodegueira, a filha e a boa de Maritornes, ouvindo os ditos do cavaleiro andante, que elas entendiam como se fossem em grego, ainda que bem percebiam endereçarem-se todos a oferecimentos e requebros; e, por não acostumadas com semelhante linguagem, olhavam para ele, e admiravam-se, parecendo-lhes não ser homem como os outros; e, agradecendo-lhe em estilo tabernático, o deixaram. A asturiana Maritornes curou a Sancho, que o não precisava menos que o amo.
Tinha o arrieiro conchavado com ela que naquela noite se haviam de refocilar juntos, dando-lhe ela a sua palavra de que, em estando sossegados os hóspedes, e os amos adormecidos, iria ter com ele, e satisfazer-lhe o gosto enquanto mandasse.
Conta-se desta moça que nunca jamais promessas daquela casta as deixava por cumprir, ainda que as desse num monte e sem testemunhas, pois timbrava muito de fidalga, e não tinha por afronta estar naquele serviço de moça de locanda, porque dizia ela que desgraças e maus sucessos a haviam reduzido a tal estado.
O duro, estreito, apoucado, e fingido leito de D. Quixote ficava logo à entrada daquele estrelado sótão; e ao pé tinha Sancho arranjado a sua jazida, que só constava duma esteira de junco e duma manta, que mais parecia de estopa tosada, que de lã.
A estes dois leitos seguia-se o do arrieiro, engenhado, como dito fica, das enxergas e mais composturas dos dois melhores machos que trazia, os quais ao todo eram doze, luzidios, anafados e famosos, porque era um dos arrieiros ricos de Arevalo, segundo diz o autor desta história, que dele faz particular menção, pelo ter mui bem conhecido; e até querem dizer que era algum tanto seu parente; além do que Cid Hamete Benengeli foi historiador muito curioso e muito pontual em todas as coisas; e bem se vê que sim, pois nas que ficam referidas (com serem mínimas e rasteiras) não as quis deixar no escuro; de que poderão tomar exemplo os historiadores graves, que nos contam as ações tão acanhadas e sucintamente, que mal se lhes toma o gosto, deixando no tinteiro por descuido, malícia, ou ignorância, o mais substancial. Bem haja mil vezes o autor de Tablante de Ricamonte e o do outro livro, onde se contam os feitos do Conde de Tomilhas; e com que pontualidade se descreve tudo!
Digo pois, que, tanto como o arrieiro visitou a sua récova, e lhe deu a segunda ração, se estendeu nas enxergas, e ficou à espera da sua pontualíssima Maritornes.
Já estava Sancho emplastrado e deitado; e, ainda que procurava dormir, não lho consentia a dor das costelas; e D. Quixote, com o dolorido das suas, tinha os olhos abertos, que nem lebre.
Toda a venda era em silêncio, não havendo em toda ela outra luz senão a de uma lanterna pendurada ao meio do portal.
Esta maravilhosa quietação, e os pensamentos que o nosso cavaleiro sempre trazia dos sucessos que a cada passo se contam nos livros ocasionadores de sua desgraça, trouxe-lhe à imaginação uma das estranhas loucuras que bem se podem figurar, e foi julgar-se ele chegado a um famoso castelo (que, segundo já dissemos, castelos eram em seu entender todas as vendas em que pernoitava), e que a filha do vendeiro era a filha do castelão, a qual, vencida da sua gentileza, se havia dele enamorado, prometendo-lhe que naquela noite, às escondidas dos pais, havia de vir passar com ele um bom pedaço; e tendo por firme e verdadeira toda esta quimera por ele próprio fabricada, entrou a afligir-se e a pensar no perigoso transe em que a sua honestidade se ia ver; propondo porém em seu coração não cometer falsidade à sua senhora Dulcinéia del Toboso, ainda que diante se lhe pusesse a Rainha Ginevra com a sua camareira Quintanhona.
Pensando pois nestes disparates, chegou o tempo e a hora (que para ele foi minguada) de vir a asturiana, a qual em camisa e descalça, com os cabelos metidos numa coifa de algodão, a passo atento e sutil entrou à procura do arrieiro no aposento onde os três jaziam.
Mal era chegada à porta, quando D. Quixote a sentiu; e sentando-se na cama, apesar dos emplastros, e com dores das costelas, estendeu os braços para receber a sua formosa donzela, a asturiana, que toda encolhida e calada ia com as mãos adiante procurando o seu querido. Topou ela com os braços de D. Quixote, o qual lhe travou rijamente da mão, e puxando-a para si, sem que ela ousasse proferir palavra, a fez sentar-se sobre a cama.
Apalpou-lhe logo a camisa; e ainda que ela era de serapilheira, a ele lhe pareceu de delgado e finíssimo bragal. Trazia a moça nos pulsos umas contas de vidro, que a ele se representavam preciosas pérolas orientais. Os cabelos, que algum tanto atiravam para crinas, pareciam-lhe fios de luzentíssimo ouro da Arábia, cujo esplendor ao do próprio sol escurecia; e o bafo, que sem dúvida alguma cheirava a alguns restos de carne da véspera, representou-se-lhe um hálito suave e aromático. Finalmente, na fantasia a ideou tal qual como tinha lido em seus livros acerca da outra Princesa, que veio ver o mal ferido cavaleiro, vencido dos seus amores, com todos os adornos que se aqui declaram.
Tamanha era a cegueira do pobre fidalgo, que nem o tato, nem o cheiro, nem outras coisas, que em si trazia a boa donzela, o desenganavam, com serem tais, que fariam vomitar a quem quer que não fosse arrieiro; antes lhe parecia que tinha nos braços a deusa da formosura. Estreitando-a neles, com voz amorosa e baixa lhe disse:

— Quisera achar-me em termos, formosa e alta senhora, de poder pagar tamanha mercê como esta que me haveis feito com a vista da vossa grande formosura. Porém a fortuna, que se não cansa de perseguir aos bons, quis prostrar-me neste leito, onde me acho tão moído e quebrantado, que, por maior vontade que eu tivesse de vos satisfazer, de modo nenhum o poderia. A esta impossibilidade acresce outra maior; e é a fé que tenho prometido guardar à sem igual Dulcinéia del Toboso, única senhora dos meus mais ocultos pensamentos. A não se me pôr isto diante, não seria eu cavaleiro tão sandeu, que deixasse fugir a venturosa ocasião que a vossa grande bondade me faculta.

Maritornes estava aflitíssima, e tressuando de ver-se tão apertada por D. Quixote, e sem perceber nem atender ao que ele dizia, procurava, sem dizer chus nem bus, desenlear-se da prisão. O bom do arrieiro, que estava bem desperto com os seus danados desejos, desde o instante em que a moça entrou a porta a sentiu, e esteve atentamente escutando quanto D. Quixote dizia; e cioso de que a asturiana o tivesse com outro falseado, foi-se achegando mais à cama de D. Quixote, e esteve muito quedo à espera de ver em que parariam aqueles palavreados que ele não podia entender; porém como viu que a moça forcejava para se ver solta, e D. Quixote trabalhava para a reter, pareceu-lhe mal a história, levantou o braço ao alto, e desfechou tão terrível murro nos estreitos queixos do enamorado cavaleiro, que lhe deixou a boca toda a escorrer em sangue; e não contente com isto, saltou-lhe sobre as costelas, e com os pés as palmilhou à sua vontade, e mais que a trote. O leito, que era um pouco fraco, e de fundamentos mal seguros, não podendo sofrer o contrapeso do arrieiro, deu consigo em terra.
Àquele ruído despertou o vendeiro, e logo imaginou que haviam de ser pendências de Maritornes, porque, tendo bradado por ela, não lhe respondia. Com esta suspeita ergueu-se, e acendendo uma candeia, se foi para onde tinha sentido a balbúrdia.
A moça, vendo que o amo vinha, e que não era homem para graças, toda medrosa e alvorotada, fugiu para a cama de Sancho Pança, que estava afinal adormecido, e ali se encolheu novelando-se toda.
O vendeiro entrou dizendo:

— Onde estás, traste? isto são por força coisas tuas.

Despertou Sancho; e sentindo aquele vulto quase em cima de si, pensou estar com um pesadelo, e começou a atirar punhadas para uma e outra banda, apanhando não sei quantas a Maritornes. Ela, com a dor, embaraçando-se pouco de decências, retribuiu a Sancho com tantas, que sem vontade lhe espantaram de todo o sono. Vendo-se tratado daquele feitio, e sem saber por quem, levantou-se como pôde, abraçou-se com a rapariga, e entre os dois se travou a mais renhida e engraçada escaramuça do mundo.
O arrieiro, reconhecendo à luz da candeia do bodegão como a sua dama andava, largou a D. Quixote para acudir por ela. Outro tanto fez o dono da casa, mas com propósito diferente, porque o seu foi de castigar a moça, por crer sem dúvida que ela só era a ocasionadora de todo aquele concerto; e assim como se costuma dizer: o gato ao rato, o rato à corda, a corda ao pau, o arrieiro dava em Sancho, Sancho na moça, a moça em Sancho, o vendeiro na moça; e todos com tamanha azáfama, que nem fôlego tomavam.
O bonito foi quando a candeia se apagou. Na escuridão batiam tão sem dó todos para o monte, que onde quer que acertavam a mão não deixavam coisa sã.
Jazia acaso na venda aquela noite um quadrilheiro, dos que chamam da Santa Irmandade velha de Toledo, o qual, ouvindo o desconforme barulho da peleja, agarrou da sua varinha, e da caixa de lata dos seus títulos, e entrou às escuras no aposento, bradando:

— Parem da parte da Justiça! parem da parte da Santa Irmandade!

O primeiro com quem topou foi o esmurrado de D. Quixote que estava no seu leito derribado, de boca para o ar e sem sentidos; e, lançando-lhe às apalpadelas a mão às barbas, não cessava de clamar:

— Acudam à Justiça!

Vendo porém que o vulto se não bolia, supôs que estava morto, e que os mais que na casa eram deviam ser os matadores. Com esta suspeita reforçou a voz, dizendo:

— Feche-se a porta da venda. Sentido que não saia viva alma, que mataram aqui um homem.

Este brado sobressaltou a todos, e cada um deixou a desavença instantaneamente. Retirou-se o vendeiro para o seu quarto, o arrieiro para as suas enxergas, e a moça para o seu rancho. Só os mal-aventurados D. Quixote e Sancho é que se não puderam mover donde jaziam.
Largou então o quadrilheiro a barba de D. Quixote, e saiu a buscar luz, para ver e prender os delinquentes; mas não a achou, porque o vendeiro de propósito havia apagado a lâmpada, quando se retirou para o seu cubículo, e foi-lhe forçoso recorrer à chaminé, onde, com muito trabalho e tempo, o quadrilheiro acendeu outra luz.


continua página 92...

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D. Quixote - Cervantes Vol 1 - Ao Livro de D. Quixote de la Mancha
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo I
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D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo III
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo IV
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo V
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo VI
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo VII
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D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo VIII
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L2 Capitulo IX
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L2 Capitulo X
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L2 Capitulo XI
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L2 Capitulo XII

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D. QUIXOTE 
VOL. I 
Cervantes 
D. Quixote de La Mancha — Primeira Parte 
(1605) 
Miguel de Cervantes [Saavedra] 
(1547-1616)
Tradução: 
Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho (1809- 1876) Conde de Azevedo 
Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875) 
Visconde de Castilho


Edição 
eBooksBrasil www.ebooksbrasil.com 
Versão para eBook 
eBooksBrasil.com 

Fonte Digital 
Digitalização da edição em papel de Clássicos Jackson, Vol. VIII Inclusões das partes faltantes confrontadas com a edição em espanhol da eBooksBrasil.com 
(1999, 2005)
Copyright 
Autor: 1605, 2005 Miguel de Cervantes 
Tradução Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho 
António Feliciano de Castilho 
Capa: Honoré-Victorin Daumier (1808-1879) 
Retrato de Cervantes: Eduardo Balaca (1840-1914) 
Edição: 2005 eBooksBrasil.com


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