segunda-feira, 16 de maio de 2022

Poemança Africana: Álvaro Macieira (Angola)

Poemança Africana - 36


língua portuguesa



Nunca saí de lá,
onde nós temos o nosso cordão umbilical
é como raiz que coexiste com a planta
eu sou a planta e minha raiz tá lá
portanto, vagueio pelo mundo
mas estou sempre ligado a minha terra natal




Poema para as próximas gerações

(Homenagem a poeta Alda do Espírito Santo)



Viste a Torre de Belém,
Além                       antes de nós

Atravessaste o Portal sul da igreja dos Jerónimos
Por nós                              antes de nós

Viste a Arte Românica e compreendeste a Gótica:
Monumentos, esculturas e pinturas
e literatura       Por nós       antes de nós

Viste o poder cego de uns quantos contra nós
Que somos tantos                 antes de nós

E nós contigo na mesma luta contra a opressão
uma multidão perene e translúcida no tempo colono
Por nós                              antes de nós

Deste-nos amor e dignidade humana
Travessias e memórias palpáveis sonhos certezas
na Casa dos estudantes do império da nossa Lisboa.
E abalaste o próprio império nas suas entranhas
Com tuas palavras e poesia sabor de mel do suor das roças de cacau 
do café e cheiro a chão molhado.
Por nós                                  antes de nós

E nos músculos Angolares da tua inigualável e imensa força telúrica, chuva torrencial
Disseste
Não à exploração de homens por homens entre homens
Por nós                                                  antes de nós

Porque sabias que o mundo cruzava-se em ti mesma
forte vento equatorial, pilar de todos os edifícios
Hemisférios da tua sapiência amadurecida em S. Tomé e Príncipe o mundo: 
húmus da terra verde tão amada.
E pedaços de liberdade por reconstituir     Por nós
antes de nós. Nossa Musa para sempre.





Vozes mudas do prazer


Tanto medo
De te entregares
nua e pura.

Tanto medo de sustentarmos
Desejos
Mudos e cristalinos.

Temos medo de nós.
Dos olhares perplexos dos outros
A questionar nossa sorte.

Tanto desejo.

E porque não aceitar
(sem complexos de culpa)
A ereção de meu corpo.

O gingar violento de tuas ancas
Ritmadas
No orgasmo
In (contido)
De meu peito
Em teus seios.





Séculos de amor


Aquele dia
Queria que fosse alegre
Como o canto das cigarras
ao sol.

Escutar a suave melodia
de teus impulsos , tuas palavras
Doces, doces como teus abraços.

Estacionou em cada esquina
Na cidade.
Toda a mocidade para esperar
Envelheci com a própria noite
Buzinas tocaram alarmadas
Meu corpo caiu na escuridão
Da saudade.

Esta minha sorte, meu caminho
Quanto desejo me inspiras.

Sou rochedo
Aguardando séculos de amor
Mesmo que minhas propostas
Não tenham as respostas
desejadas. Tu desejas?






FAIR PLAY com pintor e escritor Álvaro Macieira







Álvaro Macieira expõe "África Yetu-Ngassakidila"





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Álvaro Macieira, jornalista, escritor, artista plástico, consultor cultural, nasceu a 13/5/ 1958 em Sanza-Pombo, (Pombo, Província do Uíge, Angola). Serviu às Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FPLA). Editou Cultura na Agência Angola Press. Começou no Jornal de Angola e no Correio da Semana. Colaborou para a Rádio Nacional de Angola, TPA – TV Pública e Tribuna Cultural da BBC de Londres. Foi assessor de Imprensa e Porta-voz em 1996 do Primeiro-ministro de Angola, Marcolino Moco. Membro da União dos Escritores Angolanos, publicou: Castro Soromenho: Cinco Depoimentos (1988),Cantos de Amor (1992), Séculos de Amor (2005, poesia) e Uanga ua Ngola – Subsídios para uma Biografia do escritor Órcar Ribas (no prelo). Preside o Conselho Fiscal da União dos Escritores Angolanos. Membro da União Nacional dos Artistas Plásticos. É um dos fundadores e ex-presidente da Associação dos Jornalistas Culturais de Angola. É membro honorário da Associação dos Jornalistas Económicos de Angola e um dos Vogais de Direção do Progresso Associação do Sambizanga, a única equipa de Futebol angolana que jogou no estádio do Maracaná (1980), Rio de Janeiro, Brasil. É Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Associação dos Naturais e Amigos do Município de Sanza-Pombo. Foi Consultor na sede da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa. Prêmio de Pintura EnsArte (2000). Em 2002 conquistou o Primeiro Prêmio de Pintura EnsArte, o maior das artes plásticas. Em 2002 recebeu o prêmio Melhor Pintor do Ano pela Revista Tropical e pela Televisão Pública de Angola. Fez 25 exposições individuais e participou em mais de 20 coletivas. Suas obras pictóricas estiveram em cidades como Paris, Abuja, Moscou, Washington, Berlim, Bona, Bremen e Hannover.

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