quinta-feira, 11 de abril de 2024

A Montanha Mágica - Análise

Thomas Mann


A Montanha Mágica 


Capítulo IV

Análise 

   Perto da porta havia, felizmente, uma vaga no último lugar de uma fila. Sentou-se discretamente e procurou fingir ter ocupado essa cadeira desde o princípio. O público, bebendo as palavras do Dr. Krokowski com a intensa atenção dos primeiros instantes, mal reparou no jovem; ainda bem, porque Hans Castorp oferecia um aspecto terrível. Seu rosto estava lívido como linho, e suas roupas, manchadas de sangue, de modo que ele parecia um assassino que acabara de cometer um crime. A senhora sentada à sua frente voltou, entretanto, a cabeça e examinou-o com uns olhos rasgados. Era Mme.. Chauchat, como Hans Castorp reconheceu com uma espécie de enfado. Com a breca! Não o podiam deixar em paz? Tencionara sentar-se sossegadamente, uma vez o objetivo alcançado, e refazer-se um pouquinho; e agora lhe acontecia estar face a face justamente com essa mulher. Tal casualidade, em outra ocasião, talvez lhe causasse satisfação; mas, exausto e derreado como se sentia, que lhe importava o fato, que apenas fazia novas exigências ao seu coração e o irritaria durante toda a conferência? E os olhos com que ela o olhara eram exatamente os de Pribislav; contemplara-lhe o rosto e as manchas de sangue no casaco, e fizera-o com uma insistência bastante indiscreta e petulante, que se harmonizava bem com as maneiras de uma pessoa que batia a porta com estrondo. Como era desajeitada a postura dela! Completamente diversa daquela que guardavam as senhoras da esfera familiar a Hans Castorp; estas se mantinham eretas na cadeira e dirigiam a cabeça para o vizinho de mesa, enquanto falavam com as pontas dos lábios. Mme.. Chauchat, porém, estava sentada numa atitude lassa, relaxada, com as costas redondas e os ombros caídos, e ainda pendia a cabeça para a frente, a ponto de deixar saliente a vértebra da nuca, por cima do decote da blusa branca. Também Pribislav mantinha a cabeça da mesma forma, mas ele era um aluno modelar que se conduzia com todas as honras – muito embora não fosse este o motivo por que Hans Castorp lhe pedira o lápis –, ao passo que era claro e evidente que a postura negligente de Mme.. Chauchat, o seu jeito de bater a porta e a indiscrição do seu olhar, tinham relação com a sua enfermidade; até mesmo se expressavam em tudo isso aquele desembaraço e aquelas vantagens, talvez pouco honrosas, mas deveras ilimitadas, de que se ufanara o jovem Sr. Albin...
   Perturbaram-se os pensamentos de Hans Castorp, enquanto fitava as costas indolentes de Mme.. Chauchat. Cessando de ser pensamentos, transformaram-se em devaneios, nos quais penetrava como de longe o barítono arrastado do Dr. Krokowski, com os “r” brandos, pronunciados em surdina. Mas o silêncio que reinava na sala, a profunda atenção que parecia enfeitiçar a todos em redor, exerceram seus efeitos sobre ele e como que o despertaram da sua modorra. Olhou em torno de si... A seu lado achava-se o pianista de cabelos ralos, com a cabeça inclinada para trás, escutando de boca entreaberta e de braços cruzados. A Srta. Engelhart, a professora, sentada a alguma distância, tinha nos olhos uma expressão de avidez, e em ambas as faces manchas avermelhadas – fenômeno que se repetia nos rostos das demais senhoras que Hans Castorp observou. Notou-o nos semblantes da Srª. Salomon, ali, ao lado do Sr. Albin, e da mulher do cervejeiro, Srª. Magnus, aquela que perdia proteínas. Sobre a fisionomia da Srª. Stöhr, um pouco mais para trás, refletia-se um êxtase tão cheio de ignorância que até causava dó, enquanto a Srta. Levi, a da pele de marfim, recostando-se no espaldar, com os olhos semicerrados e as mãos espalmadas no regaço, pareceria uma defunta, não fosse o movimento de vaivém, forte e rítmico, do seu peito, o que lembrava a Hans Castorp uma figura de cera que ele vira tempos atrás num museu, e que tinha um mecanismo interior. Alguns pensionistas punham a mão em concha contra o ouvido, ou, pelo menos, fingiam esse gesto, ficando com a destra erguida em sua direção, como se a atenção os tivesse paralisado no meio do movimento. O Sr. Paravant, promotor público, um homem trigueiro de aparência sumamente robusta, até coçou a orelha com o dedo indicador, para fazer com que ouvisse melhor, e logo voltou a submetê-la à verborreia do Dr. Krokowski.
   De que falava, afinal, o Dr. Krokowski? Que tema estava desenvolvendo? Hans Castorp procurou concentrar seu espírito, a fim de apanhar o fio da palestra, porém não o conseguiu imediatamente, visto não ter ouvido o princípio e ter perdido ainda outras passagens, depois, ao refletir acerca das costas lassas de Mme.. Chauchat. Tratava-se de uma potência... daquela potência... Numa palavra, tratava-se da potência do amor, “Liebe”. Claro! O assunto estava indicado pelo título geral do ciclo de conferências, e de que mais poderia falar o Dr. Krokowski, desde que esta era a sua especialidade? Verdade é que parecia um tanto estranho a Hans Castorp assistir, assim subitamente, a uma preleção sobre o amor, já que os cursos que ele seguira antes haviam-se ocupado apenas de assuntos como a transmissão de rodas denteadas nas construções náuticas. Como se arranjava o conferencista para expor em pleno dia, a um público de cavalheiros e senhoras, um assunto de natureza tão confidencial e espinhosa? O Dr. Krokowski expunha-o num linguajar misto, entre poético e erudito, rigorosamente científico e, ao mesmo tempo, vibrante como um hino. Esse tom despertava no jovem Hans Castorp a impressão de uma certa falta de ordem, mas talvez fosse justamente ele o que esquentava as faces das damas e fazia os senhores cocarem as orelhas. Em particular, o orador empregava o termo “Liebe” num sentido levemente ambíguo, de modo que nunca ficava claro o que se devia pensar das suas palavras, nem se elas se referiam a um sentimento piedoso ou a uma paixão carnal; vacilação que produzia uma espécie de enjôo. Nunca na vida ouvira Hans Castorp pronunciar esse vocábulo tantas vezes seguidas como nessa hora e nesse lugar, e ao refletir sobre esse fato, até achava que ele próprio jamais se servira dessa palavra e nem a ouvira de boca estranha. Talvez estivesse errado, mas, em todo caso, não lhe parecia que o vocábulo “Liebe” ganhasse com tanta repetição. Pelo contrário, essa sílaba e meia, já em si um tanto escabrosa, com as consoantes lingual e labial, e com a vogal balante no meio, acabou por se lhe tornar bastante repelente. Ligava-se a ela uma representação parecida com leite aguado, qualquer coisa entre branco e azulado, tanto mais insípida em comparação com todas as idéias vigorosas que o Dr. Krokowski estava apresentando a seu respeito. Pois era evidente que, na forma que ele usava, podiam-se dizer coisas bem fortes sem que o público saísse da sala. Absolutamente não se limitava a discutir, com uma espécie de tato inebriante, assuntos comumente conhecidos, mas nos quais a maioria das pessoas prefere não tocar. Destruía ilusões; implacavelmente fazia prevalecer o conhecimento; não deixava espaço para a fé sentimental na dignidade dos cabelos prateados ou na pureza angélica da criança tenra. Trazia, aliás, com a sobrecasaca, o mesmo tipo de colarinho amplo e as sandálias por cima das meias cinzentas, o que dava uma impressão de idealismo e princípios firmes, se bem que Hans Castorp se assustasse um pouco com esse aspecto. Valendo-se de livros e folhas soltas, espalhadas sobre a mesa, documentava o Dr. Krokowski as suas exposições por meio de toda espécie de paradigmas e anedotas, chegando até, às vezes, a recitar versos. Discursava acerca das formas tenebrosas do amor e das variedades excêntricas, dolorosas e sinistras, da sua índole e da sua onipotência. Entre todos os instintos existentes na natureza – disse ele – era o amor o mais vacilante e o mais ameaçado, fundamentalmente propenso à aberração e à perversão fatal. Nesse fato não havia nada de surpreendente, uma vez que esse impulso poderoso não era uma coisa simples, senão que infinitamente composta por natureza. Por mais legítimo que ele parecesse no seu conjunto, o que o compunha era justamente uma série de perversões. Mas, desde que acertadamente – assim continuou o conferencista –, desde que com muita razão se negava que do absurdo das partes fosse deduzido o absurdo do todo, era inevitável a conclusão que atribuía parte daquela legitimidade do todo, senão toda ela, também à perversão que compunha esse todo. Era isso uma exigência da lógica, da qual, segundo o orador, os ouvintes deviam compenetrar-se. Havia resistências íntimas e corretivos psíquicos, instintos decentes e coordenadores, de um caráter que o Dr. Krokowski quase se sentia tentado a qualificar de burguês, e sob o efeito compensador e restritivo desses instintos as partes perversas eram fundidas num todo útil e irrepreensível; processo freqüente e simpático, cujo resultado, porém (como o orador acrescentou com certo desdém), não tinha nenhuma importância para o médico e o filósofo. Em outros casos, entretanto, malograva o referido processo; não havia jeito de levá-lo a bom termo. E quem – assim perguntou o Dr. Krokowski -seria capaz de dizer se esses últimos casos não eram os mais nobres, os psicologicamente mais valiosos? Existia então uma tensão extraordinária, uma paixão que ultrapassava as medidas habituais, burguesas, e essa tensão se fazia sentir entre os dois grupos de forças que eram a necessidade de amor e os impulsos contrários, dentre os quais cumpria mencionar a vergonha e o asco. Travada nos abismos da alma, essa luta impedia, nos ditos casos, que os instintos extraviados chegassem a ser abrigados, protegidos e moralizados, daquele modo que conduzia à harmonia usual e à vida erótica regular. E como terminava esse combate – pois tratava-se de um combate – entre as potências da castidade e do amor? Terminava, aparentemente, com a vitória da castidade. O medo, as conveniências, a repugnância pudica, o trêmulo desejo de pureza – todos eles oprimiam o amor, mantinham-no agriIhoado, nas trevas, davam acesso à consciência e à atividade, quando muito a uma parte, jamais, porém, ao todo múltiplo e vigoroso das suas reivindicações confusas. No entanto, essa vitória da castidade não era mais que aparente, não passava de uma vitória de Pirro, pois a potência do amor não se deixava reprimir nem violentar, o amor oprimido não estava morto, não; vivia, continuava, nas trevas, no mais profundo segredo, a almejar a sua realização, rompia o círculo mágico da castidade e ressurgia, ainda que sob forma metamorfoseada, dificílima de reconhecer... E qual era, afinal, a forma e a máscara que usava o amor vedado e oprimido na sua reaparição? Assim perguntou o Dr. Krokowski, e deixou o seu olhar passar ao longo das filas, como se esperasse seriamente uma resposta dos seus ouvintes. Ora, essa resposta teria de ser dada por ele mesmo, que já dissera tantas outras coisas. Ninguém, exceto ele, sabia-a; mas ele não falharia, isso se notava na sua expressão. Com os seus olhos ardentes, sua palidez de cera, sua barba negra, e as sandálias de monge por cima das meias de lã cinzenta, parecia simbolizar, na sua própria pessoa, aquela luta entre a castidade e a paixão de que acabava de falar. Ao menos era essa a impressão de Hans Castorp, enquanto, como todos os demais, esperava com suma curiosidade ficar sabendo sob que forma voltava o amor rechaçado. As mulheres mal se atreviam a respirar. O Promotor Paravant mais uma vez cocou a orelha, para que, no instante decisivo, ela se tornasse aberta e acolhedora. Eis o que disse o Dr. Krokowski:

– Sob a forma de doença. O sintoma da doença nada é senão a manifestação disfarçada da potência do amor; e toda doença é apenas amor transformado.

   Agora sabiam o segredo, se bem que nem todos fossem capazes de apreciá-lo devidamente. Um suspiro percorreu a sala, e o Promotor Paravant meneou a cabeça num gesto significativo de aprovação, enquanto o Dr. Krokowski prosseguia desenvolvendo a sua tese. Hans Castorp, por sua vez, baixou a cabeça, a fim de refletir sobre o que ouvira e de perguntar-se a si próprio se compreendera. Mas ele tinha pouca prática nesse tipo de exercícios mentais e, além disso, pouca presença de espírito, devido àquele passeio infeliz. Assim, sua atenção distraía-se facilmente, e de fato se concentrou logo nas costas de Mme.. Chauchat, que ele via à sua frente, bem como no braço que se elevava e inclinava para trás, para que a mão, diante dos olhos de Hans Castorp, sustentasse, de baixo, os cabelos em trança. 
   Era angustiante ter essa mão tão perto dos olhos. Quisesse ele ou não, tinha de olhá-la, estudá-la com todos os defeitos e particularidades humanas que lhe eram inerentes, como se ela estivesse sob uma lente. Não, não havia nada de aristocrático nessa curta mão de colegial, com as unhas aparadas de qualquer jeito. Nem sequer se tinha certeza de que estivesse perfeitamente limpa nos nós dos dedos, e a pele ao lado das unhas estava roída – a esse respeito não existia a menor dúvida. Hans Castorp fez uma careta, e todavia os seus olhos continuaram fixos na mão de Mme.. Chauchat. Passou-lhe pelo cérebro uma vaga e incompleta lembrança daquilo que dissera o Dr. Krokowski sobre as resistências burguesas que se opunham ao amor... O braço era mais belo, esse braço suavemente dobrado atrás da cabeça, e quase desnudo, já que a fazenda das mangas, uma levíssima cambraia, era mais fina do que a da blusa, de maneira que apenas propiciava uma espécie de vaporosa auréola ao braço, que sem ela talvez fosse menos gracioso. Era ele ao mesmo tempo delicado, gordo e -segundo todas as probabilidades – frio ao tato. No que lhe dizia respeito, absolutamente não entravam em ação as referidas resistências burguesas. 
   Hans Castorp sonhava, os olhos fitos no braço de Mme.. Chauchat. Como se vestiam essas mulheres! Mostravam isso e aquilo da nuca e do peito; glorificavam os braços por meio de gaze transparente... Agiam assim em todo o mundo para excitar o desejo ansioso dos homens. Deus do Céu, que bela era a vida! Era bela justamente pela naturalidade com que as mulheres se vestiam de um modo tão sedutor; pois isso era mesmo natural e de tal forma comum, tão geralmente admitido, que a gente mal o notava e o tolerava inconscientemente, sem fazer grande caso. Mas cumpria pensar nisso – ponderou Hans Castorp – para encontrar um genuíno prazer na vida e não se esquecer que tal modo de trajar era uma instituição deliciosa e, no fundo, quase feérica. Claro que havia uma finalidade definida no fato de as mulheres terem o direito de se vestir dessa forma maravilhosa e mágica, sem que, com isso, infringissem as regras da decência: tratava-se da próxima geração, da procriação da raça humana; sim, senhor! Mas quando a mulher estava interiormente enferma, quando não era, de maneira alguma, apta para a maternidade – que dizer então? Haveria ainda algum sentido no uso de mangas de gaze que despertassem a curiosidade dos homens quanto a um corpo interiormente carcomido? Era evidente que isso era absurdo e deveria ser considerado pouco correto e até mesmo proibido. Pois no interesse de um homem por uma mulher enferma havia tão pouco sentido quanto... bem, quanto houvera naquele interesse silencioso que Hans Castorp sentira por Pribislav Hippe. Essa comparação não deixava de ser estúpida, e a reminiscência, um tanto penosa. Mas elas se haviam apresentado espontaneamente, sem que ninguém as chamasse. De resto, os seus sonhos foram interrompidos nesse ponto, sobretudo porque a sua atenção se sentiu novamente atraída pelo Dr. Krokowski, cuja voz se elevara de forma impressionante. Realmente, lá atrás da mesinha estava ele, com os braços abertos e a cabeça obliquamente inclinada, e apesar da sobrecasaca parecia-se com um Cristo na cruz! 
   Patenteou-se que o Dr. Krokowski, pelo fim da sua conferência, fazia intensa propaganda a favor da dissecação das almas, e com os braços abertos convidava todo mundo para vir a ele. Vinde a mim todos os que estão aflitos e carregados de culpa, disse o orador, embora com outras palavras. E não deixou nenhuma dúvida quanto à sua convicção conforme a qual todos, sem exceção, estavam nessas condições. Falou ainda do sofrimento oculto, do pudor e da mágoa, e dos efeitos benfazejos da análise; celebrou a iluminação do inconsciente, preconizou a reconversão da doença em um sentimento consciente, exortou à confiança e prometeu a cura. A seguir deixou cair os braços, ergueu a cabeça, juntou a papelada de que se servira durante a conferência, apanhou a pilha com a mão esquerda, e apertando-a ao ombro direito, com um gesto tipicamente professoral, afastou-se pelo corredor. 
   Todos se levantaram, empurrando as cadeiras para trás, e começaram a dirigir-se lentamente para a mesma saída pela qual o doutor abandonara a sala. Era como se todos, num movimento concêntrico, convergissem para ele, de todos os lados, hesitantes, involuntariamente, e todavia numa unanimidade surda, como a multidão que seguia atrás do flautista de Hamelin. Hans Castorp permaneceu parado no meio da torrente, agarrando com a mão o espaldar da sua cadeira. “Estou aqui só de visita”, pensou. “Ando bem de saúde e, graças a Deus, essas coisas não me dizem respeito. Quando se realizar a próxima conferência, já não estarei aqui...” Viu como Mme.. Chauchat saía a passo arrastado, com a cabeça caída para a frente. “Será que ela também se submete ao bisturi do analista?”, pensou, enquanto o seu coração se punha a martelar... Com isso, nem notou que Joachim se aproximava dele através das cadeiras, de modo que estremeceu nervosamente quando o primo lhe dirigiu a palavra. 

– Você chegou no último instante – disse Joachim. – Foi muito longe? Que tal o passeio?

– Oh, bonzinho – respondeu Hans Castorp. – Caminhei bastante longe, sim senhor! Mas devo confessar que o passeio me trouxe menos do que eu esperava. Talvez fosse prematuro ou até prejudicial para mim. Por enquanto não farei outro. 

   Joachim não perguntou se a conferência lhe agradara ou não. Hans Castorp também não emitiu a sua opinião sobre esse ponto. Como por acordo tácito, nem então nem depois aludiram à conferência.  

continua pág 085...
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Leia também:

Capítulo I
A Chegada
Capítulo III
Capítulo IV
Análise
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A Montanha Mágica (Der Zauberberg, no original alemão) é um romance de Thomas Mann que foi publicado em 1924. É considerado o romance mais importante de seu autor e um clássico da literatura de língua alemã do século XX que foi traduzido para inúmeros idiomas, sendo de domínio público em países como Estados Unidos, Espanha, Brasil, entre outros.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.

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