sábado, 6 de abril de 2024

Memórias - 13: filhos são visitas

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Dois

baitasar

Memórias

13 – filhos são visitas

as curvas do tempo, na metade do dia, eram as mesmas faces tecidas dia após dia, naquela tapeçaria de costumes e tradição

Como foi sua manhã, querida?, ¡Mamá! A comida está pronta?, Sempre a mesma comida, mamá...

ela faz de conta que não ouve

tem as respostas decoradas, mas se nega a ficar refém daquela rotina que enfeita cortinas, mesas e cadeiras, o lugar das visitas, filhos são visitas

querem a casa impecavelmente arrumada com cheiro tentador da comida pairando no ar, os passos da entrada trazem consigo uma energia contagiante e sorrisos, é verdade

a casa se enche com vida, risadas ecoam pelos corredores, histórias e memórias são compartilhadas, fotografias nas paredes parecem paralisar o tempo, trazem agitação e juventude, promessas de novas aventuras

lembranças preciosas do futuro

a mesa posta é um convite à partilha daqueles laços intrincados e indecifráveis, encontros preciosos com abraços de afeto e prometimentos, um cotidiano para celebrar aquela chama

pequenas coisas que se repetiam todos os dias, enfiavam suas raízes devoradoras nas suas carnes, mesmo quando essas pequenas coisas não eram reconhecidas não retiravam seu prazer, a emoção de se surpreender com seu orgulho de mãe e esposa, a dimensão da maternidade

no entanto, passa se vendo sem conseguir enxergar além da negação do que ela mesma estava se fazendo, encoberta pela submissão, insatisfação e os truques dos pequenos silêncios, dores apertadas e miúdas, humores e sorrisos moldados em gesso branco e higiene

Misma... sin noticias..., respondia sem excitação, nada claramente identificável da mulher dentro dela mesma, parecia querer esconder que eles a interessavam, mas deveriam notar sua importância em suas vidas, uma exibição dramática sem novidades, muito menos, resultados práticos

hábitos são costumes que na presença do tempo se transformam em necessidades que o corpo se nega a abandonar, deixar de lado e seguir em frente

são carcaças de ataque e defesa, subterfúgios da sobrevivência, Siempre há sido así...

sentia o conforto adaptado nesse papel que lhe foi desenhado desde antes de ser concebida, a submissão consentida não está perdida

uma mulher retalhada por pequenas proibições só mostra o que é sensato, decente, cômodo e tolerado, sente-se mal quando não cumpre com suas obrigações daquele cotidiano não desejado espontaneamente

aos poucos murchando sem se perceber murchando, apesar dos sorrisos e promessas

conto à dona Manuela que existe uma mulher corajosa chamada La Leporina, ela vive en un pequeño pueblo de la Montaña de maíz y plátanos

um lugar onde as mulheres eram ensinadas desde cedo a serem submissas e obedientes aos homens

la Leporina, no entanto, sempre questionou essa tradição, ela sonhava e lutava para viver em um mundo onde as mulheres são livres e respeitadas

um dia, o líder da vila decidiu impor a prática da mutilação da submissão, onde as mulheres seriam forçadas a passar por um ritual doloroso para mostrar que estavam dispostas a obedecer cegamente aos homens

la Leporina se recusou aceitar isso, determinada a encontrar um jeito de se libertar dessa submissão até então, um destino cruel

conheceu outras mulheres corajosas, e juntas compartilharam suas histórias, decidiram que era hora de tomar uma atitude

la Leporina liderou essas mulheres em uma jornada para desafiar aquelas crenças opressivas, se tornou uma líder de um exército de mulheres

viajaram de aldeia em aldeia, contando suas histórias, ensinando as mulheres a se defenderem, elas mostraram que a verdadeira força não vinha da submissão, mas sim da coragem e da união

com o tempo, a mensagem delas começou a se espalhar, e as mulheres em todas as aldeias se uniram para desafiar as normas que não respeitam as mulheres

finalmente, a pressão foi tanta que o líder da aldeia revogou a prática da mutilação da submissão, e as mulheres foram libertadas daquela imposição terrível

aquelas mulheres provaram que juntas podiam superar qualquer obstáculo e mudar o curso das suas vidas, inspirando outras mulheres a se levantarem contra a opressão dos homens

¡No existe tal mundo, jovencita! No podemos escapar de la realidad, vivimos en una cueva desde que nacemos, encadenadas, de cara a las paredes sin poder movernos, sin poder ver la luz del sol. Este es el único mundo que conocemos, un mundo de sombras y fuegos.

acredito que o início desta invencionice da submissão das mulheres vem com a  fantasia da mulher pensada a partir de uma adão qualquer, tudo merda, tudo prisão, um pesadelo de dor e morte

Mas, dona Manuela...

¡Basta de historias!

Dona Manuela, la Leporina diz que não somos uma cópia imperfeita dos homens, não somos cópia de ninguém, essa ignorância é o engano que nos aprisiona e submete...

dona Manuela ergueu a mão para me interromper

¡Cállate, jovencita! O tendré que echarte de esta casa...

somos do mesmo barro, mas modeladas à gosto dos homens pela exaustão do tempo, costumes e tradições, com milhares de amostras deixadas pelo caminho, educadas para acreditar em uma versão limitada e distorcida da realidade, vivendo sem questionar ideias parciais que favorecem somente uma narrativa: o homem é mais forte, mais inteligente e protetor

assim, aos poucos, murchamos sem nos perceber murchando

é só procurar bem, iremos encontrar essas molduras entalhadas nas pedras, nossa evolução é um jogo de tentativas, muitos erros, desaparecimentos e mortas pelo ódio dos homens

não fomos baldadas de olhos fechados, numa adivinhação de cabra-cega em sete dias, esse discurso da costela do tal adão deu muito certo para os homens, perceberam o paraíso que se escondia atrás do jogo da argila, costela e maçã

um mundo que não existe nos a pressionar num mundo que existe

e claro, minha querida amiga, isso é parte da mentira que ao homem foi assoprada: a dica de correr, à mulher que não foi avisada restou ser comida

desde então, estamos emprenhando enquanto o homem faz de conta que não é com ele as providências sensíveis da vida

garimpamos as ambições dos filhos e abastecemos as vontades de atenção das filhas, mas não temos as respostas, ¿Soy feliz?, ¿y cómo sabemos cuándo somos felices?, ¿quién sabe?, ¿el reloj despertador?, ¿la felicidad es una buena comida?

as perguntas que nos fazemos terminam com a determinação de aprontar camas e agarrar roupas espalhadas pelo chão, Haga que su servício...

despia o uniforme da sobrevivência e ficava nua das fortes vontades, ela se sentia espalhada por todos os cantos e esquinas da casa

derramada entre frestas e arestas

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