No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Dois
baitasar
Memórias
quando o relógio
despertador destruía o encanto do adormecimento com seu canto de galo, não pensava
duas vezes, levava a mão ao lado e num só golpe apertava o pescoço do Alvorado
até se quebrar, ¡Ya
está! ¡Está
listo para ser asado y servido en la mesa del almuerzo!
o jogo de perguntas,
respostas e estalos estava começando, o casarão acordava e ordenava que dona
Manuela retomasse suas funções genéricas, ela é a dona-da-casa
revestir seu corpo
com a invariável e monótona vestimenta de esposa mãe dedicada e serva para o
uso do ferro de desamassar roupas esfregar o banheiro dos bons costumes varrer
casa lavar louças e panelas cozinhar as carnes para as carnes da sua carne,
tudo feito, sem ouvir, ¡Gracias, mamá!
assim era, de tal modo, gerações e gerações em sua família, não sentia ser legítimo reclamar deste personagem que faz tudo por amor,
suas vontades não tinham boca para reclamar
lhe foi dado o título honorífico de rainha do lar, uma
soberana serviçal da trupe de hóspedes, ela sempre esteve lá para eles, uma
presença constante em suas vidas, sempre pronta para atender seus pedidos,
responder suas perguntas, achar seus perdidos, mas nunca escutou um obrigado
real e amoroso em troca de tanto uso casual que faziam dela, recebendo
recebendo e recebendo, ela se oferecendo oferecendo oferecendo, não acho que dona Manuela pedia reconhecimento, mas às
vezes me perguntava se eles entendiam do esforço e dedicação que colocava de si mesma para cuidar deles
tudo isso, esse amor altruística e visceral, foi ensinado de mãe para filha, sob a vigilância da autoridade que tudo escuta e vê, uma
prisão hereditária e vitalícia da sublime tríade: pai, mãe e filha
na verdade, eu acho que dona Manuela sentia um orgulho
resignado do seu aprendizado, Se puede aprender a ser feliz, repetia
baixinho
esposo, filhos e filhas chegavam aos contornos da dona
Manuela em conta-gotas, no meio do dia, simplesmente esperavam que tudo estivesse pronto
os primeiros eram Anadyr e Calssado, os dois eram espantados
para o banho, ¡Por favor, quítate esse olor de vaca y leche del pelo, manos
y pies!
don Juan chegava abrindo panelas, experimentando os cheiros
¡Don Juan, vaya a lavarse!
os seis filhos saiam no atacado das manhãs e chegavam a
granel para o almoço, jeitos de cada um e cada uma, criaturas únicas para quem
aquela mulher vivia em devoção e permanente estado de alerta
cuidava e garantia a sobrevida das suas crias, era como esconder
nas próprias entranhas a tesoura e o corte do cordão umbilical, entre ela, os
filhos e as filhas, as ligações eram como os ventos do ar que não se pode ver,
mas se materializam no medo dos ventos fortes, no bem-estar das brisas amenas
do refrescamento
¡Niños, el almuerzo está en la mesa!
a primeira chamada, para acertarem os relógios desacertados,
reajustava os ponteiros a cada novo chamado à mesa
Anadyr, quase sempre, era a primeira a sentar-se à mesa,
depois se aproximavam Aryani e Angélyca
nada dos meninos
!Niños, la comida se esfría!
depois do segundo convite, don Juan fazia sua
convocação, Rapazes, desçam já!
sob o comando de quem tem o direito e o poder chegavam em
frenesi e colocavam-se em seus lugares
para don Juan e dona Manuela a organização da mesa
durante as refeições era muito especial
arrumar os lugares na mesa era como usar determinada louça
para certas comidas, seguir um protocolo específico de ordem e disposição das
coisas e personagens, Essas tradições ajudam a fortalecer os laços familiares e
criar momentos significativos durante nossas vidas, entenderam?
dona Manuela incluía receitas tradicionais da família nas
refeições, ensinava as receitas para suas filhas, esperava o tempo de ensinar e
encorajar suas filhas no uso do fogão
don Juan usava o tempo à mesa para contar e escutar histórias, memórias, usava
seus instintos para fortalecer os laços entre os filhos e filhas
não começavam as refeições até que todos estavam à mesa
sempre posta e preparada do mesmo modo
o chefe na cabeceira da mesa, os meninos sentados de um lado,
Calssado, Crespo e Chiado, as meninas sentadas do outro lado, Anadyr, Angélyca
e Aryani, na cabeceira oposta estava a dona da casa, e do seu jeito, deitada na
cesta de vime, estava Maryá, como boa menina, dormia indiferente às conversas
e revezamentos da família
eu, em pé, atrás da
dona Manuela, em prontidão para retirar ou levar à mesa
tudo pronto, a mesa
estava posta, todos nos seus lugares habituais, faltava agradecimento, Senhor Bom
Deus, cheio de misericórdia. Queremos agradecer o alimento desta família e pedir que a graça da sua bondade jamais nos abandone. Amém.
Amém!
respondia o coro
agradecido e faminto
ninguém contestava, apenas
Maryá virava e revirava a cabeça desassossegada, Tem paciência, hija mía... las
chicas gruñonas son infelices...
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Livro Um:
Memórias - 01: a lua cheia
Memórias - 35: não lembro das despedidas
Livro Dois:
Memórias - 01: Don Juan Pietro Gonçalves Lara
Memórias - 02: fatos e mentiras
Memórias - 03: siempre ha sido así
Memórias - 04: ¡Hijo-de-puta!
Memórias - 05: El hombre es así
Memórias - 06: rusgas e rezingas, rastros do aprendizado
Memórias - 07: minha querida amiga
Memórias - 08: a liberdade de não sentir medo
Memórias - 09: a lenda da fonte mágica
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