domingo, 30 de agosto de 2015

Teatro Pedagógico: a poesia da sobrevivência

Parábolas de uma Professora



a poesia da sobrevivência


baitasar e paulo e marko



já se passaram seis horas de algumas tentativas solitárias e muitas frustrações. o sinal já espalhou de maneira impressionante sua voz estridente, desatou pequenos e alegres passos pelo portão, outros passantes se dirigem resignados à geladeira, cafeteira, lixeira, quadro de avisos. parecemos perdidos. olho o relógio pela quinta vez em trinta minutos. o tempo se arrasta ou é arrastado. a vida a reboque do portão para dentro. sinto-me insuportavelmente vazia. mais uma terça-feira. mais uma reunião me espera. antes, cafezinhos, chás, bolos e chimarrão. procuro o olhar que nasce deste mesmo parto de querer mudar. o olhar da esperança de fazer diferente em uma única vez. desaninhar da indiferença

passo pelo pequeno briquitar do corredor em cima da fórmica verde. o templo dos tamancos e bolsas. vou fumar. acendo um cigarro. dou uma espiada ao nada, apenas as fatias de interesses para muita conversa. as palavras doces e vazias pulam e repenicam, não se fazem na discussão, não se alimentam, não têm fome. futebol ou bonecas. sigo perdida entre a bola e o verniz. duas mortes. tragédia

continuo o que fui. não quero desistir, às vezes, penso em desistir

minha vontade é reencontrar o olhar que parece soltar um grito ferido, além do caminho coberto pelo apertado das compras, um lugar alheio às confidências perdidas, esforço estéril de falar e ninguém escutar além das queixas descontentes. conversamos sobre livros, trocamos ideias e olhares, as coisas da vida, os alunos. viajo em suas palavras tentando vislumbrar segredos, penetrar no seu mundo escondido, uma caverna de sonhos ou medos, quem sabe apesar dos pesares um buraco de paixões

não o encontro

termino meu cigarro e entro no abrigo. queixumes, silêncios, folhinhas (quase sempre as mesmas) bancárias. encontro o marko, sua voz vem de longe, envolve meus pensamentos, desacata certezas acomodadas. ele se lança pacientemente na tentativa de discutir o mundo. não consigo me colocar na discussão, fico alheia. tenho mais de vinte anos pensando educação a partir de diferentes espaços: sala de aula, sindicato, partido político, diretório acadêmico e dirigente institucional, certamente, poderia contribuir, como muitas vezes o faço, mas me sinto insuportavelmente vazia, insurgentemente trágica. pronto, repeti esse sentimento de tragédia

saio para refumar. novamente refumo

finalmente, o vejo. abraço seu sorriso, o repertório da sua ternura, suas reticências. o chamam um recluso casmurro. senta em uma pedra e me oferece um chimarrão, agradeço

A qual destino deveria me entregar, Anita?

não respondo, não quero responder, quero ser o alimento, a comida, a sede, bebida aos goles por essas mãos em minhas coxas lisas, me salvando de toda essa confusão que é viver consertando à vida. quero a recordação das mãos, boca, cheiro, tudo nosso

Minha tentação é fugir, escapar de fininho.

respondo que a fuga é uma chance fugaz, um apetite morno que é possível resistir. resisto ao desejo de ficar pendurada em seu pescoço. quero a infinitude do abraço manso e descansado. mudo o rumo da minha voz para impor silêncio, decretar uma distância razoável, depois pergunto

Como será que os alunos e alunas me veem? Patrão ou João? Senhoria ou Maria?

Com benevolência. me responde

outro sorriso, outro chimarrão

a benevolência, clemência e compaixão situam a nossa tristeza humana, mas não bastam. termino meu cigarro. não, ele é que termina comigo. censuro-me. cedo às obrigações do cotidiano que me abraça e sufoca. termino o chimarrão, Já volto.

e entro no abrigo. o confidente do chimarrão é o meu desejo da alma, a negação do meu estado de viver só, magoada por não viver inteira. precisei sair. ia não pedir para fugir dali. para sempre. um resto de vida inteira, agora

encontro a camilla, cabelos curtos e cacheados, ás vezes, loira, outras nem tanto, quando esquece a tintura e o branco na raiz aparece fingindo que é branco, o rosto magro, o olhar suave e alegre, a esperança conformada com o tempo que passa

Não concorda, Anita?

Com o quê?

Vivemos no país das bolsas e das cotas, fazem filhos e depois querem uma ajudinha. Não pensam, não se planejam, têm mais é que se danarem!

não tenho tempo para responder, mas a ofélia não se constrange de continuar com o tiroteio, atira em nossas caras

Os pais deveriam voltar a sofrer na fila das matrículas, as palavras brotam enérgicas da sua raiva, só assim para valorizarem a chance do filho estudar.

Ofélia, pensa assim: pelo menos na fila não estão fazendo filhos.

essa é acemira, mais conhecida entre os subalternos da corporação, como “bruxa, mas gostosa”. é desenhada na maioria das teias imaginárias, faz a personagem da mulher invisível e nua. não consegui abrir a boca, não quis. elas ficarão pelo caminho com sua sordidez e preconceitos. não desistiremos da luta pelo preconceito e dignidade humana

Acho que poderíamos fazer uma campanha séria sobre o tema: A Paternidade e a Maternidade com Responsabilidade, escutamos em silêncio, a camilla é do bem, mas não tem força, e o bem que não tem coragem fica apenas na teoria, olha em torno de si, tem a intenção, mas falha no entusiasmo para avançar sem a aprovação explícita do baixo clero, não luta de lança firme na mão

Não é mais fácil esterilizar?

a acemira consegue com poucas e más palavras provocar a ira e o sorriso, mas jamais a indiferença, Filha da puta! pelo silêncio no abrigo e os olhos fixados em mim, o pensamento saltou da garganta

Acemira, isso é a solução final. — a inócua camilla, abelha pequenina, permite que lhe tirem impunemente o mel, o cheiro fétido das fossas escondidas espalha-se, sufoca. peço socorro ao marko, o pai da educação socialista que não sabemos e nem temos, não está no abrigo, sinto falta da sua calma indestrutível

Querida, nascem nessas vilas de papelão e lata só para sobreviver... não tem solução amorosa. E o desfecho é o nosso colo, com café, almoço e muita bagunça. Isso aqui não é restaurante. A pobreza precisa controle, a imbecil da ofélia não quer respostas, tem a convicção do diagnóstico e a receita é servida com indiferença

Não acredito no que estou ouvindo, a embasbacada camilla balança a cabeça como se fosse preciso mostrar que não concorda, a única saída para os pobres é a morte?

Camilla, essa gentinha brota como musgo na pedra, a iníqua acemira continua batendo, a adversária cambaleia nas cordas, o nocaute está iminente. ela está pronta ter o seu braço erguido como a absoluta vitoriosa daquela discussão tola e cruel, mas que marca os espaços do imobilismo daquele cotidiano amarrado nos punhos e pés. sinto pena por reconhecer a minha indiferença como uma fuga amornada da vontade de brigar

Mas não são apenas as meninas pobres que estão engravidando...

isso foi dito por mim, mas acemira não se intimida

Tudo bem, mas essas meninas têm pais que dão um jeito.

Fazem a filha abortar?

a camilla voltou à discussão

Claro que não!

a doente de imbecilidade ofélia acredita que tem muito mais para dizer em nome de algum deus brigalhão, Criam todos juntos.

eu não consigo enxergar as coisas assim, como as ofélias. como se o destino das pessoas já estivesse traçado e não restasse outra coisa que vivê-lo

Pensar em esterilizar mulher pobre parece campanha do canil da cidade. Para vocês a pobreza atrapalha a escola, estorva as ruas, atravanca os cinemas, perturba a cama, restaurantes se desembaraçam dos restos e os lixos ficam revirados...

Qual a solução, pergunta a desafiadora acemira, ela deixa escapar um tênue sorriso, imperfeito, quase invisível, como uma cilada na espreita

Não tem uma solução apenas, mas uma delas passa aqui, por todos, a dormideira camilla avança, quer subir no cavalo encilhado, mas tem medo do bicho xucro, fica com as frases prontas da retórica sem veemência, panfletária, precisamos discutir o inchaço das cidades pela concentração da posse e uso das terras, por exemplo.

Isso é ingenuidade! todos se voltam para o samuel, O futuro na vida das pessoas é hoje, não se aposta no amanhã, não podemos, colhemos o que for possível pelo caminho sem freios ou arreios.

a poesia na vila, na beirada do córrego com os mosquitos, as moscas, doenças, cheiros do desamor, cedeu seu lugar à sobrevivência
 



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"... e se além de olhar de cima, a gente olhar de fora, não entende nada..."








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"Só o pobre que se organiza e tem consciência da sua opressão e busca a libertação se liberta, não recebe nem da igreja nem do estado."






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Capítulo 1



¿Encontraría a la Maga? Tantas veces me había bastado asomarme, viniendo por la rue de Seine, al arco que da al Quai de Conti, y apenas la luz de ceniza y olivo que flota sobre el río me dejaba distinguir las formas, ya su silueta delgada se inscribía en el Pont des Arts, a veces andando de un lado a otro, a veces detenida en el pretil de hierro, inclinada sobre el agua. Y era tan natural cruzar la calle, subir los peldaños del puente, entrar en su delgada cintura y acercarme a la Maga que sonreía sin sorpresa, convencida como yo de que un encuentro casual era lo menos casual en nuestras vidas, y que la gente que se da citas precisas es la misma que necesita papel rayado para escribirse o que aprieta desde abajo el tubo de dentífrico.

Pero ella no estaría ahora en el puente. Su fina cara de translúcida piel se asomaría a viejos portales en el ghetto del Marais, quizá estuviera charlando con una vendedora de papas fritas o comiendo una salchicha caliente en el boulevard de Sebastopol. De todas maneras subí hasta el puente, y la Maga no estaba. Ahora la Maga no estaba en mi camino, y aunque conocíamos nuestros domicilios, cada hueco de nuestras dos habitaciones de falsos estudiantes en París, cada tarjeta postal abriendo una ventanita Braque o Ghirlandaio o Max Ernst contra las molduras baratas y los papeles chillones, aun así no nos buscaríamos en nuestras casas. Preferíamos encontrarnos en el puente, en la terraza de un café, en un cine-club o agachados junto a un gato en cualquier patio del barrio latino. Andábamos sin buscarnos pero sabiendo que andábamos para encontrarnos. Oh Maga, en cada mujer parecida a vos se agolpaba como un silencio ensordecedor, una pausa filosa y cristalina que acababa por derrumbarse tristemente, como un paraguas mojado que se cierra. Justamente un paraguas, Maga, te acordarías quizá de aquel paraguas viejo que sacrificamos en un barranco del Parc Montsouris, un atardecer helado de marzo. Lo tiramos porque lo habías encontrado en la Place de la Concorde, ya un poco roto, y lo usaste muchísimo, sobre todo para meterlo en las costillas de la gente en el metro y en los autobuses, siempre torpe y distraída y pensando en pájaros pinto o en un dibujito que hacían dos moscas en el techo del coche, y aquella tarde cayó un chaparrón y vos quisiste abrir orgullosa tu paraguas cuando entrábamos en el parque, y en tu mano se armó una catástrofe de relámpagos y nubes negras, jirones de tela destrozada cayendo entre destellos de varillas desencajadas, y nos reíamos como locos mientras nos empapábamos, pensando que un paraguas encontrado en una plaza debía morir dignamente en un parque, no podía entrar en el ciclo innoble del tacho de basura o del cordón de la vereda; entonces yo lo arrollé lo mejor posible, lo llevamos hasta lo alto del parque, cerca del puentecito sobre el ferrocarril, y desde allá lo tiré con todas mis fuerzas al fondo de la barranca de césped mojado mientras vos proferías un grito donde vagamente creí reconocer una imprecación de walkiria. Y en el fondo del barranco se hundió como un barco que sucumbe al agua verde, al agua verde y procelosa, a la mer qui est plus félonesse en été qu'en hiver, a la ola pérfida, Maga, según enumeraciones que detallamos largo rato, enamorados de Joinville y del parque, abrazados y semejantes a árboles mojados o a actores de cine de alguna pésima película húngara. Y quedó entre el pasto, mínimo y negro, como un insecto pisoteado. Y no se movió, ninguno de sus resortes se estiraba como antes. Terminado. Se acabó. Oh Maga, y no estábamos contentos.

¿Qué venía yo a hacer al Pont des Arts? Me parece que ese jueves de diciembre tenía pensado cruzar a la villa derecha y beber vino en el cafecito de la rue des Lombards donde madame Leonie me mira la palma de la mano y me anuncia viajes y sorpresas. Nunca te llevé a que madame Leonie te mirara la palma de la mano, a lo mejor tuve miedo de que leyera en tu mano alguna verdad sobre mí, porque fuiste siempre un espejo terrible, una espantosa máquina de repeticiones, y lo que llamamos amarnos fue quizá que yo estaba de pie delante de vos, con una flor amarilla en la mano, y vos sostenías dos velas verdes y el tiempo soplaba contra nuestras caras una lenta lluvia de renuncias y despedidas y tickets de metro. De manera que nunca te llevé a que madame Leonie, Maga; y sí, porque me lo dijiste, que a vos no te gustaba que yo te viese entrar en la pequeña librería de la rue de Verneuil, donde un anciano agobiado haca miles de fichas y sabe todo lo que puede saberse sobre historiografía. Ibas allá a jugar con un gato, y el viejo te dejaba entrar y no te hacía preguntas, contento de que a veces le alcanzaras algún libro de los estantes más altos. Y te calentabas en su estufa de gran caño negro y no te gustaba que yo supiera que ibas a ponerte al lado de esa estufa. Pero todo esto había que decirlo en su momento, solo que era difícil precisar el momento de una cosa, y aun ahora, acodado en el puente, viendo pasar una pinaza color borra vino, hermosísima como una gran cucaracha reluciente de limpieza, con una mujer de delantal blanco que colgaba ropa en un alambre de la proa, mirando sus ventanillas pintadas de verde con cortinas Hansel y Gretel, aun ahora, Maga, me preguntaba si este rodeo tenía sentido, ya que para llegar a la rue des Lombards me hubiera convenido más cruzar el Pont Saint-Michel y el Pont au Change. Pero si hubieras estado ahí esa noche, como tantas otras veces, yo habría sabido que el rodeo tenía un sentido, y ahora en cambio envilecía mi fracaso llamándolo rodeo. Era cuestión, después de subirme el cuello de la canadiense, de seguir por los muelles hasta entrar en esa zona de grandes tiendas que se acaba en el Chatelet, pasar bajo la sombra violeta de la Tour Saint-Jacques y subir por mi calle pensando en que no te había encontrado y en madame Leonie.

Sé que un día llegué a París, sé que estuve un tiempo viviendo de prestado, haciendo lo que otros hacen y viendo lo que otros ven. Sé que salías de un café de la rue du Cherche-Midi y que nos hablamos. Esa tarde todo anduvo mal, porque mis costumbres argentinas me prohibían cruzar continuamente de una vereda a otra para mirar las cosas más insignificantes en las vitrinas apenas iluminadas de unas calles que ya no recuerdo. Entonces te seguía de mala gana, encontrándote petulante y malcriada, hasta que te cansaste de no estar cansada y nos metíamos en un café del Boul Mich y de golpe, entre dos medialunas, me contaste un gran pedazo de tu vida.

Cómo podía yo sospechar que aquello que parecía tan mentira era verdadero, un Figari con violetas de anochecer, con caras lívidas, con hambre y golpes en los rincones. Más tarde te creí, más tarde hubo razones, hubo madame Leonie que mirándome la mano que había dormido con tus senos me repitió casi tus mismas palabras. "Ella sufre en alguna parte. Siempre ha sufrido. Es muy alegre, adora el amarillo, su pájaro es el mirlo, su hora la noche, su puente el Pont des Arts." (Una pinaza color borra vino, Maga, y por qué no nos habremos ido en ella cuando todavía era tiempo.)

Y mirá que apenas nos conocíamos y ya la vida urdía lo necesario para desencontrarnos minuciosamente. Como no sabías disimular me di cuenta en seguida de que para verte como yo quería era necesario empezar por cerrar los ojos, y entonces primero cosas como estrellas amarillas (moviéndose en una jalea de terciopelo), luego saltos rojos del humor y de las horas, ingreso paulatino en un mundo - Maga que era la torpeza y la confusión pero también helechos con la firma de la arena Klee, el circo Miró, los espejos de ceniza Vieira da Silva, un mundo donde te movías como un caballo de ajedrez que se moviera como una torre que se moviera como un alfil. Y entonces en esos días íbamos a los cine-clubs a ver películas mudas, porque yo con mi cultura, no es cierto, y vos pobrecita no entendías absolutamente nada de esa estridencia amarilla convulsa previa a tu nacimiento, esa emulsión estriada donde corrían los muertos; pero de repente pasaba por ahí Harold Lloyd y entonces te sacudías el agua del sueño y al final te convencías de que todo había estado muy bien, y que Pabst y que Fritz Lang. Me hartabas un poco con tu manía de perfección, con tus zapatos rotos, con tu negativa a aceptar lo aceptable. Comíamos hamburgers en el Carrefour de l'Odeon, y nos íbamos en bicicleta a Montparnasse, a cualquier hotel a cualquier almohada. Pero otras veces seguíamos hasta la Porte d'Orleans, conocíamos cada vez mejor la zona de terrenos baldíos que hay más allá del Boulevard Jourdan, donde a veces a medianoche se reunían los del club de la Serpiente pare hablar con un vidente ciego, paradoja estimulante. Dejábamos las bicicletas en la calle y nos internábamos de a poco, parándonos a mirar el cielo porque esa es una de las pocas zonas de París donde el cielo vale más que la sierra. Sentados en un montón de basuras fumábamos un rato, y la Maga me acariciaba el pelo o canturreaba melodías ni siquiera inventadas, melopeyas absurdas cortadas por suspiros o recuerdos. Yo aprovechaba para pensar en cosas inútiles, método que había empezado a practicar años atrás en un hospital y que cada vez me parecía más fecundo y necesario. Con un enorme esfuerzo, reuniendo imágenes auxiliares, pensando en olores y caras, conseguía extraer de la nada un par de zapatos marrones que había usado en Olavarría en 1940. Tenían tacos de goma, suelas muy fines, y cuando llovía me entraba el agua hasta el alma. Con ese par de zapatos en la mano del recuerdo, el resto venía solo: la cara de doña Manuela, por ejemplo, o el poeta Ernesto Morroni. Pero los rechazaba porque el juego consistía en recobrar tan solo lo insignificante, lo in ostentoso, lo perecido. Temblando de no ser capaz de acordarme, atacado por la polilla que propone la prórroga, imbécil a fuerza de besar el tiempo, terminaba por ver al lado de los zapatos una latita de Té Sol que mi madre me había dado en Buenos Aires. Y la cucharita pare el té, cuchara-ratonera donde las lauchitas negras se quemaban vivas en la taza de agua lanzando burbujas chirriantes. Convencido de que el recuerdo lo guarda todo y no solamente a las Albertinas y a las grandes efemérides del corazón y los rincones, me obstinaba en reconstruir el contenido de mi mesa de trabajo en Floresta, la cara de una muchacha irrecordable llamada Gekrepten, la cantidad de plumas cucharita que había en mi caja de útiles de quinto grado, y acababa temblando de tal manera y desesperándome (porque nunca he podido acordarme de esas plumas cucharita, sé que estaban en la caja de útiles, en un compartimiento especial, pero no me acuerdo de cuántas eran ni puedo precisar el momento justo en que debieron ser dos o seis), hasta que la Maga, besándome y echándome en la cara el humo del cigarrillo y su aliento caliente, me recobraba y nos reíamos, empezábamos a andar de nuevo entre los montones de basura en busca de los del club. Ya para entonces me había dado cuenta de que buscar era mi signo, emblema de los que salen de noche sin propósito fijo, razón de los matadores de brújulas. Con la Maga hablábamos de pata física hasta cansarnos, porque a ella también le ocurría (y nuestro encuentro era eso, y tantas cosas oscuras como el fósforo) caer de continuo en las excepciones, verse metida en casillas que no eran las de la gente, y esto sin despreciar a nadie, sin creernos Maldorores en liquidación ni Melmoths privilegiadamente errantes. No me parece que la luciérnaga extraiga mayor suficiencia del hecho incontrovertible de que es una de las maravillas más fenomenales de este circo, y sin embargo baste suponerle una conciencia para comprender que cada vez que se le encandila la barriguita el bicho de luz debe sentir como una cosquilla de privilegio. De la misma manera a la Maga le encantaban los líos inverosímiles en que andaba metida siempre por causa del fracaso de las leyes en su vida. Era de las que rompen los puentes con solo cruzarlos, o se acuerdan llorando a gritos de haber visto en una vitrina el décimo de lotería que acaba de ganar cinco millones. Por mi parte ya me había acostumbrado a que me pasaran cosas modestamente excepcionales, y no encontraba demasiado horrible que al entrar en un cuarto a oscuras para recoger un álbum de discos, sintiera bullir en la palma de la mano el cuerpo vivo de un ciempiés gigante que había elegido dormir en el lomo del álbum. Eso, y encontrar grandes pelusas grises o verdes dentro de un paquete de cigarrillos, u oír el silbato de una locomotora exactamente en el momento y el tono necesarios pare incorporarse ex oficio a un pasaje de una sinfonía de Ludwig Van, o entrar a una pissottière de la rue de Medicis y ver a un hombre que orinaba aplicadamente hasta el momento en que, apartándose de su comportamiento, giraba hacia mí y me mostraba, sosteniéndolo en la palma de la mano como un objeto litúrgico y precioso, un miembro de dimensiones y colores increíbles, y en el mismo instante darme cuenta de que ese hombre era exactamente igual a otro (aunque no era el otro) que veinticuatro horas antes, en la Salle de Géographie, había disertado sobre tótems y tabúes, y había mostrado público, sosteniéndolos preciosamente en la palma de la mano, bastoncillos de marfil, plumas de pájaro lira, monedas rituales, fósiles mágicos, estrellas de mar, pescados secos, fotografías de concubinas reales, ofrendas de cazadores, enormes escarabajos embalsamados que hacían temblar de asustada delicia a las infaltables señoras.

En fin, no es fácil hablar de la Maga que a esta hora anda seguramente por Belleville o Pantin, mirando aplicadamente el suelo hasta encontrar un pedazo de género rojo. Si no lo encuentra seguirá así toda la noche, revolverá en los tachos de basura, los ojos vidriosos, convencida de que algo horrible le va a ocurrir si no encuentra esa prenda de rescate, la señal del perdón o del aplazamiento. Sé lo que es eso porque también obedezco a esas señales, también hay veces en que me toca encontrar trapo rojo. Desde la infancia apenas se me cae algo al suelo tengo que levantarlo, sea lo que sea, porque si no lo hago va a ocurrir una desgracia, no a mí sino a alguien a quien amo y cuyo nombre empieza con la inicial del objeto caído. Lo peor es que nada puede contenerme cuando algo se me cae al suelo, ni tampoco vale que lo levante otro porque el maleficio obraría igual. He pasado muchas veces por loco a causa de esto y la verdad es que estoy loco cuando lo hago, cuando me precipito a juntar un lápiz o un trocito de papel que se me han ido de la mano, como la noche del terrón de azúcar en el restaurante de la rue Scribe, un restaurante bacán con montones de gerentes, putas de zorros plateados y matrimonios bien organizados. Estábamos con Ronald y Etienne, y a mí se me cayó un terrón de azúcar que fue a parar abajo de una mesa bastante lejos de la nuestra. Lo primero que me llamó la atención fue la forma en que el terrón se había alejado, porque en general los terrones de azúcar se plantan apenas tocan el suelo por razones paralelepípedas evidentes. Pero este se conducía como si fuera una bola de naftalina, lo cual aumentó mi aprensión, y llegué a creer que realmente me lo habían arrancado de la mano. Ronald, que me conoce, miró hacia donde había ido a parar el terrón y se empezó a reír. Eso me dio todavía más miedo, mezclado con rabia. Un mozo se acercó pensando que se me había caído algo precioso, una Parker o una dentadura postiza, y en realidad lo único que hacía era molestarme, entonces sin pedir permiso me tiré al suelo y empecé a buscar el terrón entre los zapatos de la gente que estaba llena de curiosidad creyendo (y con razón) que se trataba de algo importante. En la mesa había una gorda pelirroja, otra menos gorda pero igualmente putona, y dos gerentes o algo así. Lo primero que hice fue darme cuenta de que el terrón no estaba a la vista y eso que lo había visto saltar hasta los zapatos (que se movían inquietos como gallinas). Para peor el piso tenía alfombra, y aunque estaba asquerosa de usada el terrón se había escondido entre los pelos y no podía encontrarlo. El mozo se tiró del otro lado de la mesa y ya éramos dos cuadrúpedos moviéndonos entre los zapatos-gallina que allá arriba empezaban a cacarear como locas. El mozo seguía convencido de la Parker o el Luis de oro, y cuando estábamos bien metidos debajo de la mesa, en una especie de gran intimidad y penumbra y él me preguntó y yo le dije, puso una cara que era como para pulverizarla con un fijador, pero yo no tenía ganas de reír, el miedo me hacía una doble llave en la boca del estómago y al final me dio una verdadera desesperación (el mozo se había levantado furioso) y empecé a agarrar los zapatos de las mujeres y a mirar si debajo del arco de la suela no estaría agazapado el azúcar, y las gallinas cacareaban, los gallos gerentes me picoteaban el lomo, oía las carcajadas de Ronald y de Etienne mientras me movía de una mesa a otra hasta encontrar el azúcar escondido detrás de una pata Segundo Imperio. Y todo el mundo enfurecido, hasta yo con el azúcar apretado en la palma de la mano y sintiendo como se mezclaba con el sudor de la piel, como asquerosamente se deshacía en una especie de venganza pegajosa, esa clase de episodios todos los días. 


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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Teatro Pedagógico: sementes germinantes II

Parábolas de uma Professora



sementes germinantes


baitasar e paulo e marko




II



Professor Aguinaldo, permita-me uma pequena observação.
O que foi Marko?

esse é o altíssimo, nosso diretor

O professor Paulo estava descrevendo a esperança e gostaria de ouví-lo concluir...

Paulo...

Obrigado, professor Aguinaldo. Caro Marko, a esperança no homem e na mulher, independentemente da maneira como se manifesta e se diz pertencente e querendo a humanidade que nos habita, é permanentemente mobilizada para recriar as condições humanas de ser mais. Esperar o que se deseja é o natural, a necessidade que transcende a biologia e vem se assentar em nossa condição humana, no desejo que existe na palavra e na reflexão que impregna nossa ação. E é esta palavra carregada com nossos desejos que aviva a práxis voltada para o humano que se quer sendo mais humana, recriadora das possibilidades e oportunidades que nos aproximam. Sonhar esperança é pensar a vida com um chá refrescante de hortelã, na xícara em nossas mãos. Quentinho e aconchegante. Tomado delicada e decisivamente sem esperar que amorne ou esfrie. A esperança do chá está na sua delicadeza e na sua maneira diferente de observar e influir na vida, na saúde da existência, na ausência de agressões e resultados inflamados por fármacos pedagógicos tirânicos e imediatistas. 

a pedagogia antibiótica se revela eficaz para acabar com o analfabetismo porque acaba com o analfabeto. antes dos conteúdos está o amor capaz de nos aliviar aos poucos um pouco mais, antes que o tempo veloz nos engula e nos impeça de estarmos juntos, descobrindo que o amor não é paz, mas a contradição do outro e da outra em mim mesmo. assim, a diversidade pode ajudar o mundo a mudar 

O Paulo é um obstinado no crédito que dá ao ser humano educador.

Querido Acácio, fico pensando naqueles e naquelas desesperançadas por pura teimosia, se negam existindo e fazendo o seu teatro histórico, têm medo de narrar e se negam registrar a sua biografia, não acreditam que podem formatar a sua própria fábula, se fogem da amorosidade. Não se acreditam e impedem aos seus alunos esperançados de se acreditarem, se jogam de cabeça no abismo da fatalidade e do destino, se proíbem de acreditar em si e nos outros e outras, se julgam menores ou maiores conforme o tamanho do interlocutor ou da entrevistadora, estão jogados nas águas oceânicas da vida e se deixam embalar até o naufrágio na primeira tempestade, que cedo ou tarde virá. Navegam na desesperança e na aposta imoral que os ventos não mudam, não circulam, não aumentam, os vagalhões não existem, são frutos da imaginação, e por isso, também, se impedem de imaginar e sonhar. Os desesperançados têm medo de encontrar a verdade nos pesadelos das suas fantasias e ilusões opressoras, teimam que a esperança não existe como um ato de mudança, como um fato do cotidiano, como uma xícara com chá de hortelã. 

o destino pode ser torcido e retorcido até a dor intensa da consciência ou ficar dominado moralmente pelos desatinos do medo. em verdade vos digo, se não acreditamos no que fazemos é porque acreditamos que o que fazemos não vai mudar nada do que sempre foi assim. não cremos que existe beleza no trabalho de educar com esperança na palavra do outro que nos educa, juramos jocosamente que não existe o outro que nos educa, quer gritar dentro de mim, a desesperança maliciosa e ordeira, mas a faço calar-se. mentira! grito para mim mesma, existimos nos educando juntos, nas histórias vividas ora com um, ora com outra, nada é igual o tempo todo, mas nem querem entender

Professor Paulo, ninguém aqui, ficaria surpreso ou atônita se lhes afirmasse que o coletivo de professores não existe com sentido pedagógico nas escolas, pelo menos, nas quais perambulei nestes trinta e tantos anos de reuniões, espantos, crises, bolos de aniversário, almoços, piadas, reclamações, licenças, abandonos. Nunca vi planejamento e sentido coletivo nas ações pedagógicas, escutei muitos sonhos, presenciei muitas discussões e tentativas, que não passaram de desejos de uns poucos e poucas. O que nos impede de existirmos como um coletivo de professores por certo não é a falta de espaço para discussões pedagógicas. Aqueles de nós que não têm espaço pedagógico de discussão em suas escolas poderão, justamente, dizer que não é verdade, a falta de espaços de discussão do pensar pedagógico nos leva ao isolamento no fazer educação. Mas o que dizer daquelas escolas que contemplam horários sistemáticos, semanais ou quinzenais, para reuniões pedagógicas e não conseguem um sentido coletivo. Aqui não estou me referindo ao senso corporativista, sentimento de classe, mas a um fazer e pensar educação coletivamente, incluindo, especialmente, pais e mães e alunos e alunas, que têm o direito de nos dizer qual a educação que desejam para si, para seus filhos e filhas. 

precisamos escutar o que esperam de nós, professores e professoras. oramos o discurso pedagógico do alto do púlpito catedrático, para mostrar-lhes que somente nós entendemos educação escolar. nada têm a nos dizer será? os gestores da escola, seus diretores e diretoras, desempenham seu papel de desvelar para a comunidade a necessidade de pais, mães, alunos e alunas críticos em relação ao desempenho dos educadores? ou será que temos gestores sem direção, apenas, corporativos, elevando-se no ar só por voar, sem sonhos, lhes basta acomodar os ventos e os desejos, perguntas, perguntas... corro atrás de uns goles de chá preto.

Querido Marko, invejo quem na sua esperança mobiliza a realidade a sua volta na busca da transformação, não sou queixoso, minha inveja não é invejosa, não é melancólica, é alegria. Precisamos pensar e atuar com esperança e não nos deixarmos invadir pela desesperança do mundo, do outro e a nossa própria, formatada nos momentos de desilusão com o cotidiano. Criemos com as nossas mãos e coração o mundo da esperança, da igualdade social, do pensamento livre e da voz que não se cala, mesmo quando tagarela ou aprisionada e submetida ao silêncio pelo poder de homens e mulheres sem afetividade na alma. Saudemos a escola que brilha por estar e se manter sempre atenta à diversidade, às diferenças, não para jogá-las em um gueto ou em uma estufa, em uma ação estulta, nem em uma sala de aula, mas para se aproximar do verdadeiro combate corpo a corpo, mantendo-se ética e verdadeira na sua luta contra um mundo excludente e falso, que valoriza o ter mais e esconde sob as mentiras das armas e da mídia a nossa necessidade ontológica de ser mais. Saudemos a escola que, antes de pensar o que vai ensinar a tantas pobres e ricas almas, não quer que desapareçam como almas do outro mundo, no cotidiano de avaliações e aprovações e reprovações cartesianas, mas discute com todos e todas o que existe e se transforma na fecundidade frágil entre o certo e o errado. 

É o destino?

Por certo, não é o destino, Acácio, mas os atos e omissões de homens e mulheres que acreditam em si, em vós e, também, em nós, como sujeitos e sujeitas deste fazer renovador e que pretendem incinerar a neutralidade estúpida porque curta de inteligência e orelhuda ou mal intencionada.

É indispensável à esperança o coletivo. Não sei, se a sociedade vê nos professores e professoras um exército de salvação que marcha, marcha e marcha até cair em um abismo; também não sei, se nos vemos soldados dessa massa de seguidores de tarefas, nem tampouco posso afirmar se individualmente somos convocados para integrar esse contingente salvacionista. Não tenho certeza da existência de um outro exército, o exército do extermínio. Mas afirmo que, se não nos constituímos no coletivo, somos facilmente cooptados e aliciadas pelo exército da desesperança, do desamor, do desânimo e das lamúrias. De modo caricatural se pode dizer que se criam as condições para uma grande escola de gritos e silêncios.

interfere o professor Adail, olhos arregalados parecendo assustado com a ousadia própria. começo a me sentir envolvida nesta conversa de esperança e de fazer, quero a possibilidade da esperança, preciso afastar este cansaço que imobiliza, arredar-me deste atribuir ao destino tudo o que acontece.

Professor Paulo, partindo desta visão de construção coletiva fica mais fácil entender o aprendizado por ciclos de formação, onde o todo interfere na construção do indivíduo, e este, por sua vez, sente-se parte integrante e necessária nestas construções coletivas, capaz de se construir, bem como, constituir o outro.

Bem como, o aprendizado nas totalidades da escola para jovens e adultos.

Como organizar um coletivo com visões de mundo tão diferentes?

Quanta conversa vazia! Ofélia, explica aos queridinhos da esperança que só produzimos na prática um imenso vácuo. Perco minutos, horas das minhas aulas discorrendo sobre as maneiras, ou melhor, as nenhumas maneiras que têm. Falo, falo, falo e nenhuma reação.

E eu só consigo atingir os limites do conselho: Quem não quer estudar fique em casa! Demarco com precisão, efetuando exercícios de tiro com canhões, torpedos ou outras armas: Não precisa vir! Olhem o exemplo, desta menina morta em assalto, morte de bandido!

nas cabaybas e ofélias, o fazer do mesmo jeito atravessa os séculos, é romano e uma doutrina filosófica, sua instituição clerical, os dogmas atravessadores da sua alma são universais, bancários e constituem sua força e resistência, faz de muito longe o tempo em que andava descalça. ninguém merece morrer, nem bandido feito bandido pra não comer lixo. esperar que o vazio venha a ser preenchido pela ingênua esperança que vem carregada pelos braços, suor e sangue dos outros é também querer ser virtuoso pela virtude do outro que tal. quando nos imaginamos em movimento, na verdade, estamos de braços cruzados. uns goles de chá de camomila por certo nos deixariam os sentidos mais tranquilos para acreditar, não apenas no que vemos, mas também naquilo que desconhecemos, que não está se enxergando. quem sabe uns goles de poesia nos devolvam sentidos adormecidos 

Professor Paulo, não nos basta falar da esperança, nós precisamos agir com a esperança dentro e em nosso entorno. O Marko nos fala de dois coletivos que são um só coletivo pedagógico e que precisam ser educados como um só. Como ter esperança na educação de um coletivo que não se enxerga opressor, opera o poder na escola e se diz vítima?

Adail, você precisa pegar uma turma de primeiro ciclo na obrigação de alfabetizar trinta pequenos demônios. Ficar um ano com esses tiranos e vir aqui discursar!

já não sabia se isso foi resmungo de indignação ou comentário de provocação. ninguém está a dizer que é fácil e que a um grito de, camaradas! todos pegaremos em armas contra o desumano e perverso, até deveríamos, mas isso não se dá... por enquanto

Querido Adail, é urgente lutar e lutar por nossos sonhos. Uma educação que educa para a ruptura dos paradigmas, que educa para decisões éticas por opção e não por imposição. Uma educação que educa com o coração e encara frente a frente o difícil e o fácil, sem medo de ser do lado dos oprimidos, dos feios e das feias, sem deixar de ser boa e gostosa para os meninos e meninas bonitas e ricas, perfumadas com talco importado, transformando em poesia as ilusões crescendo pela estrada que é andada. Cada dia, um novo dia com carinho, com alegria, com uma educação cada vez mais interessada e criativa, mas uma preocupação inventiva que não venha apenas da boca pra fora, metafórica, mas que precisa servir sem donos que preguem o medo, tremendo de cansaço com a vida e tristinhos de tamanha vontade de consolar. 

não conseguimos ir além de indicar uma outra educação e mais outra diferente, enquanto continuamos indo às compras, a guerra. devoramos até a destruição. precisamos fazer sobrevir ao desejo novas formas de educar nos enchendo do querer e do fazer, pendurar a preguiça no varal e abandoná-la ao sol para secar. tornar possível que as cacimbas do lençol de água transbordem até que o olho-d’água, nos fitando, diga-nos que podemos crescer assim, aos turbilhões, molhados de humanidade. mas a cacimba não se transborda por decisão histórica, julgamento do tempo, há de ser escavada até um lençol de água. necessitamos criar as condições para uma boa escavação ao escavar em baixadas úmidas ou no leito de um rio, na qual a água se acumula como num poço. chega de escavar na esterilidade seca e morta dos desertos, basta de falar sem ser ouvido ou entendido às almas murchas e secas, esvaziadas dos desejos de viver coletivamente. criemos com nossos alunos e alunas o encanto por este novo viver e educar. procuremos terras férteis para cavar e escavar até que se formem os poços de acolhimento e recolhimento às sementes germinantes do ser mais




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Parábolas de uma Professora


Toco tu boca

Julio Cortázar

Rayuela

Capítulo 7



Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.


Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.



Mario Benedetti (Uruguay)

Los Poetas del Amor (30)




Amor de Tarde


Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.












Lo que necesito de ti


No sabes como necesito tu voz;
necesito tus miradas
aquellas palabras que siempre me llenaban,
necesito tu paz interior;
necesito la luz de tus labios
!!! Ya no puedo... seguir así !!!
...Ya... No puedo
mi mente no quiere pensar
no puede pensar nada más que en ti.
Necesito la flor de tus manos
aquella paciencia de todos tus actos
con aquella justicia que me inspiras
para lo que siempre fue mi espina
mi fuente de vida se ha secado
con la fuerza del olvido...
me estoy quemando;
aquello que necesito ya lo he encontrado
pero aun !!!Te sigo extrañando!!!









quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Teatro Pedagógico: qual livro? o que quero ler na eternidade?

Parábolas de uma Professora


qual livro? o que quero ler na eternidade?


baitasar e paulo e marko



as palavras marcam as ideias das histórias feitas ou desfeitas com um timbre destacado ou irrelevante. eu continuava parada com a térmica na mão, no abrigo insignificante, calada, o palavrório ia e vinha, livre e desobediente, queria ouvir um desfecho com um final romântico. sou o meu espelho, a inflexão das minhas combinações acredita no desenlace poético, na virtude das palavras que revelam outras harmonias, arranjos com outras vontades. precisava ficar. sair seria deserção, Contraponha Cabayba, qual a utilidade do nosso trabalho?

queria possuir essa insistência suave e decidida da camila, ser assim, resistente ao ódio e a raiva das caras feias, vozes aterradoras anunciando o fim do mundo. pessoas derrotas pelo ódio e a impaciência. não me assustam, mas me causam uma profunda tristeza. não tenho medo do fim do meu corpo nem da indisciplina dele, como não me assustam as poesias e os romances, necessito a poesia e os romances

o marko, o paulo, a camila não buscam desacreditar qualquer reflexão, repetem que precisamos olhar de frente a cruz, enfrentar o sorriso fabricado, têxtil, o elogio hipócrita, afrontar a desumanidade de maneira radical, sem concessões, Ajudar essa gente se tornar gente.

a cabayba não parecia querer sair do seu cinismo e torpor natural. a zombaria e a indiferença marcavam suas ideias, tramavam suas palavras com um pequeno sorriso, disfarçado pelo rumorejo rouco da voz carcomida

Entendi. Estamos obrigados a educar o cidadão que a nossa sociedade precisa. E o que a sociedade necessita?

virou-se para mim. continuei calada, nos olhamos, recebi um sorriso afetuoso de acolhimento, a camila ao meu lado continuou

Precisamos médicos, engenheiros, advogados, professores, mas...

o marko sentou ao nosso lado, escutava camila, atento a cada palavra e inflexão da voz

Com licença, Camila...

essa voz reconheceria em qualquer lugar: abigail

... médicos, engenheiros, no meio dessa gente, feia, pobre, se não é impossível, é muito pouco provável.

não podemos negar nosso dna, podemos lutar, mas no primeiro descuido ele se manifesta firme e forte

Abigail, só um instante. Entendo o Camila, mas a questão é que já temos muitos médicos, engenheiros, advogados, veterinários, etc etc etc, essa gente precisa parar de fazer filhos. Pobre e a filharada só cria mais pobreza.

Não é verdade, Cabayba.

somente o marko para denunciar um pedacinho dessa história mal contada, No mundo dos pobres não têm médicos... ah, faltam condições de trabalho para os médicos, parte da verdade, Cabayba, precisamos de médicos que antes de entender de exames, entendam de gente... ah, mas existem médicos maravilhosos, parte da verdade, Cabayba, não há tantos médicos maravilhosos quanto necessitam os que não podem pagar. Essa é a questão, quais as características, conduta e qualidade de personalidade dessa mão de obra qualificada? O projeto da personalidade como produto da educação deve estar baseado nas exigências da procura da sociedade.

eu não sei das outras, mas eu gostaria de ficar escutando o marko, a reunião que precisamos é essa, o amálgama das ideias é a discussão das ideias, a prática e a discussão da prática, o que deu certo, o que não deu certo, o que precisamos mudar, buscar nas ideias as revoluções da prática. eu continuo fixada no mesmo lugar, ao lado do fogão, a térmica na mão

a cabayba levanta, deixa seu copo de iogurte vazio sobre a mesa, caminha até a porta do abrigo, faz uma careta, depois outra, mais uma das suas máscaras

Marko, educar quem não escuta e não quer ouvir? Brigam, xingam, gozam em nossa cara, levantam, saem, os palavrões, os xingamentos, o descontrole... não resisto mais, para mim, essa história acabou! E não tem final feliz para os miseráveis!

antes que a ofélia pudesse sair, o marko perguntou suave e direto

E o que lhes mostramos? Um copo de iogurte na mesa? Muitos crimes passionais seriam evitados se pudéssemos vigiar a solidão do próprio egoísmo.

a ofélia não respondeu, saiu sorrindo. fico para trás, desenterrando os meus sonhos da realidade sempre inacabada, incessantemente inconclusa. queria ter sido fecundada com a vida de uma filha, não sei por que não me dei esta vida, sou uma mulher frágil, oculta pela altura das árvores que plantei. não sou boazinha nem bruxinha. estou assustada com o último cigarro que fumei. venho decidindo parar, mas não será hoje. a práxis que poderá me fecundar, outra filha, outra mulher. sinto que não quero morrer, quero te amar. nossa pele macia sem as rugas que chegam mais tarde. as lambidas da tua língua molhada e quente. os avisos para ter cautela. o teu corpo aprendendo o meu, sumindo no meu. amo muito, tudo isso. delícia. adoro a sinfonia dos teus amares em mim. a tua boca me faz querer os teus beijos. necessito teu colo, mas há horas que, todavia, mais indigente e miserável me sinto. quando de pertinho, fico olhando tua boca e sinto crescendo aquela vontade de te devorar, mas se te procuro na aurora só vou te encontrar no crepúsculo, o apaixonamento do reencontro. queria que o amor fosse a obra-prima da minha vida

As ações na escola, Camila, não têm esse alcance histórico...

pronto, perdi alguma coisa, mas continuo em pé, a garrafa térmica na outra mão

... senão estaríamos formando jovens sem iniciativa crítica, criativa e humana, mas grandes ecos de declinações, códigos gramaticais, fórmulas matemáticas. Por graças, sabe-se lá do que, conseguimos sobreviver às inquietações críticas do cotidiano.

a cabayba retorna ao abrigo, pega o copo vazio e coloca na lixeira. agora, enfrenta o discurso do marko, em silêncio

A realidade é maior que a escola.

É isso, Samuel, caminhamos a reboque. Fazemos história contando as histórias.

A escola somos todos, precisamos reconhecer o que é necessário ensinar e educar.

Que grande novidade, Camila!

As duas têm razão, uma banalidade que não fazemos não é modernidade, a inovação seria escutar o aluno, indo além de pegar em sua mão.

continuo escutando, não quero atrapalhar, sei que é besteira, poderia contribuir, mas continuo na minha preguiça. o marko, físico esbelto, cabelos curtos, óculos sobre o nariz, estatura mediana, impõem-se nos gestos exatos. a voz perfeitamente modulada, cordial, sem nenhuma vaidade, sorriso bondoso. a energia da vida está mergulhada em seus sonhos que iluminam e incendeiam a sua volta. sinto que terei saudades do tempo em que conversamos sobre essa confusão que é viver

Marko, você acredita que a nossa vida social está se desenvolvendo e aperfeiçoando? E os nossos jovens?

a cabayba é um desafio constante, mas é preciso escutá-la, assim, podem-se confrontar ideias, concepções e práticas, penoso é acarear o silêncio que só espera o momento do bote, não se arrisca, quando muito mexerica

o marko se mantém serenamente firme e disposto no embate. os meus pensamentos se transportam das suas palavras. recordo acusações que a educação socialista tornaria a escola sem gosto, sem cores democráticas. vejo a mim e meus colegas, todos crescidos e educados nos preceitos mais significativos da academia: severos, conservadores e preconceituosos. afinal, quem uniformiza quem? desde quando decorar é ser feliz? quem deforma quem?

não tenho medo da morte, não quero ficar pelos cantos, tortinha. peço que me acabem num gesto de humanidade, libertem as dores da minha alma solidária. enterrem meu corpo balzaquiano com alguma novela balzaquiana. a leitura não será só um passatempo, me fará ver o que sou, escutar o que não sei, o que não quero ou necessito, o amor na plenitude, dona de mim

qual livro? o que quero ler na eternidade?
 



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Teatro Pedagógico: sementes germinantes I
Parábolas de uma Professora

sábado, 22 de agosto de 2015

Cadeira Vazia

Lupicínio Rodrigues



Cadeira Vazia

Entra, meu amor, fica à vontade
E diz com sinceridade o que desejas de mim
Entra, podes entrar, a casa é tua
Já te cansastes de viver na rua
E os teus sonhos chegaram ao fim

Eu sofri demais quando partiste
Passei tantas horas triste
Que nem quero lembrar esse dia
Mas de uma coisa podes ter certeza
O teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia 


Tu és a filha pródiga que volta
Procurando em minha porta
O que o mundo não te deu
E faz de conta que sou teu paizinho
Que há tanto tempo aqui ficou sozinho
A esperar por um carinho teu


Voltaste, estás bem, fico contente
Mas me encontraste muito diferente
Vou te falar de todo coração
Eu não te darei carinho nem afeto
Mas pra te abrigar podes ocupar meu teto
Pra te alimentar podes comer meu pão




Composição: Lupicínio Rodrigues / Alcides Gonçalves


Elis Regina






Elza Soares





Marisa Gata Mansa





Nelson Goncalves





Jamelão




Fadista Mariza




Lupicínio Rodrigues











sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Teatro Pedagógico: sementes germinantes I

Parábolas de uma Professora



sementes germinantes


baitasar e paulo e marko



I



uma tarde perfeita, viver uma vida perfeita, outra quinta-feira, mas em outro lugar, Com licença, peço desculpas pelo atraso. é o paulo que se anuncia num atraso, interrompendo a reunião, Estava fazendo a releitura de um texto com alguns alunos, o tempo foi passando na sua medida, mas enfim, cheguei atrasado para a reunião.

o professor paulo tem um carisma muito grande, entre todos que de alguma maneira ou por alguma razão privam da sua palavra e suas reflexões sobre educação. começa por ser um velhinho de cabelos brancos e longos, um andar calmo e curtinho como se não tivesse pressa em chegar, o que parece lhe interessar é o percurso e o caminho percorrido. sua voz é tranquila e clara, não deixa dúvidas sobre a sua intenção ao falar, seus olhinhos parecem sempre em busca de tudo que possa ser visto e aprendido na intenção de unir a ação com o pensamento



Parabéns, professor! Já é muito difícil uma leitura de frases com estes alunos, imagine uma releitura, chamo isto de magia, o máximo da bruxaria nos dias de hoje. Enfim, temos o nosso mago!

observo a enferma ofélia, não é possível que eu fique calada frente a tamanho disparate! busco com o olhar o professor do corredor. não está! como o necessito. deus havia sido a minha mais importante carência, mas a ele necessito mais que a deus. não é possível que fique calada, sempre acreditei na possibilidade da construção de uma escola diferente, voltada para as práticas da conscientização, da inclusão, da autonomia, da participação, da auto-organização, da libertação, da alegria, da cidadania. enfim, a construção de uma escola verdadeiramente democrática. deixo paulo e marko sozinhos... calei e não encontro resposta, Professora ofélia, então é verdadeira a lenda que comenta ser uma escola vazia, sem suas crianças, um imenso casarão mal-assombrado. Só ficam as bruxas!

eis uma reunião que promete, a lia mostra sua capacidade de combate na ironia que brinca com o deboche, tudo é dito sem ingenuidade. eis as manobras das forças reacionárias e progressistas durante o combate ou na iminência dele, se posicionam, medem as forças, granjeiam aliados, agrupam-se. não existe lirismo neste combater nem sangramentos aparentes, as conseqüências estão depositadas no fazer ou deixar de fazer nas aulas, os seus efeitos se concretizam nas maneiras de ensinar arrogante para alguém ou nos desejos humildes de aprender junto

Querida professora, a mim parece importante chamar a atenção para quantas e tantas vezes sucumbimos frente às falas destrutivas e desesperançadas, que nos fragmentam e nos implodem em pequeninos pedaços voadores, transformando em poeira nossas tentativas íntimas. Nas muitas e mais tantas oportunidades em que isto acontece, não o sabemos se ocorre por intenção deliberada ou por não sabermos pensar e sentir diferente. guardamos silêncio para o enfrentamento final quando o bem vencerá definitivamente o mal. Eis o imobilismo na crença que haverá somente um embate e que todos os desgastes dos afrontamentos anteriores se dão sem razão. Ao assumir uma posição critica e não lírica deixamos de assumir os defeitos e dificuldades dos outros para estabelecer parcerias razoáveis de comprometimento com a esperança, dentro de uma práxis libertadora do outro em mim que retorna ao outro que está fora de mim.

é isso, concordo com o paulo, mas continuo calada, não há fadas ou benfeitores, todos e todas precisamos caminhar com as próprias pernas, errando ou acertando, mas nos basta o movimento para começar. parando vez que outra para estabelecer diálogos íntimos, produzindo alguns enfrentamentos pessoais, fixando regras de ação e deixando o coração livre para voar os maiores e melhores sentimentos da esperança, não se deixar vencer pela insônia do medo e ficar escondido. levantar da cômoda cadeira e retirar o disco do toca-disco, virar o vinil e tocar o lado b, movimento e reflexão, quanta sonoridade no vinil, nem tudo que é novo supera em qualidade o antigo, Não se opta pelo novo apenas como conseqüência da novidade, decide-se pelo novo através da reflexão que temos do velho e do desejo de fazer nascer diferente do antigo.

Concordo com você, lia. o professor paulo está solto e falante, não se preocupa com os olhares azedos ou vazios, Aquilo que é novo, a notícia ou a colheita, não nos embaraça tanto, quanto o novo que chega pelas idéias de fazer diferente. Não se diz querer o novo das ideias por astúcia ou ingenuidade, pois tanto uma como a outra farão da novidade mentiras diárias. Cresceremos com as ideias do novo fazer e pensar, na discussão permanente entre mim e o eu, entre o eu e o nós, entre o nós e o todo, entre o todo e o que repito que é meu, pois sempre retorno ao início que sou eu. Minha dor não é nova, mas meu sorriso está diferente. Estou refletido em mim mesmo, clareando e esclarecendo minhas próprias perguntas. Sou astuto, ingênuo ou progressista? Por ora, já me basta estar permanentemente atento, mesmo que sofrendo muito com o esforço, mas em movimento.

fico animada e penso que precisamos superar estes papéis mágicos e autoritários. precisamos de novos olhares sobre o nosso quê fazer na escola, sacudindo a poeira do tempo e descobrindo aos poucos um novo eu que já existia, permanecia escondido pela poeira da imperturbabilidade ingênua ou solércia medrosa, Professor paulo, por favor, sente-se. Vamos continuar. esse é o altíssimo, nosso diretor organizador

ele senta-se calmamente na fórmica verde e menos dura e menos fria e menos pedagógica, Se eu pudesse acabaria com a pedagogia. Pior que a possibilidade de matar as pessoas, é a maneira como transforma todos em bonecos de pau! a sala fica em silêncio, penso comigo mesma, chateada com meu descontrole, Calma, anita... sua idiota, isso é apenas parte da contenda. Não é uma traição. sinceramente, quero ficar quieta em meu cantinho. não sei se a pedagogia é uma traição - ou seu uso ou desuso. acredito que sua intencionalidade desvela as diferentes concepções de mundo que cada pedagogo carrega consigo... Anita, somos pedagogos do acaso?

não identifico quem me fez a pergunta, mas não posso voltar atrás em meu silêncio, Por acaso ou por intenção? O que é ser um pedagogo? Qual seu objeto de estudo? O que é afinal a pedagogia? Uma ciência pensada para dar conta de muitas ciências dentro de uma instituição chamada escola? paro para tomar fôlego, apenas isso, meu rumo já está tomado, Aí começa o emaranhado, o lio. Como podemos dar conta de todo o saber científico para ensiná-lo na escola? Criamos os programas, os conteúdos, os métodos, as estratégias... eis o começo da traição aos miseráveis. olho para o professor paulo. ele me sorri e enfia os dedos em sua barba branca. queria aquela paz. seus olhos me conduzem a continuar

Sei, através dos tempos, de acordo com os diferentes momentos históricos, tivemos construções importantes no campo da pedagogia no sentido de transformar as práticas coercitivas, disciplinadoras e autoritárias. Lembro de citar gramsci com sua pedagogia crítica, frenet com a escola nova, makarenko com a pedagogia socialista, paulo freire com a pedagogia libertadora. Outros de agora, outros que virão. Mas me interessa perguntar se eles foram traidores...

Foram traídos... me responde o professor do corredor


o meu coração se aperta e corre maluco, minhas palavras voam em sua direção, O que pensas deles? pergunto com os olhos brilhando, quero envolvê-lo em meus braços, mas preciso me contentar com essa pequena peça de oratória

Todos eles pensaram uma nova escola a partir da utopia da construção de uma sociedade baseada em princípios solidários, onde a pedagogia estaria a serviço da construção desse ideário. 


minha provocação foi aceita, O que deu errado?

Olhamos para o mundo, mas basta olhar para a áfrica e américa latina, veremos a fome, as favelas, as desigualdades extremas e, talvez, tenhamos alguma resposta. As pessoas não estão preocupadas com justiça social, estão treinando recursos humanos para as grandes corporações, amestradores de mentes e adestradoras de corações. Essas pessoas não estão interessadas em direitos e deveres buscam privilégios.

Mas que feio professor... generalizar tanto assim. a ofélia não vai nos afastar da discussão com suas provocações. não deixo que ele se aparte da discussão

O que não deu certo?

o professor do corredor para e responde com outra pergunta, O que poderá dar certo? Uma pedagogia da esperança? Uma pedagogia do possível? O que é possível fazer em uma sociedade onde se duvida da possibilidade de pensar em solidariedade e, principalmente, como construir os conceitos de justiça e ética nesta sociedade dominada pelo consumismo e individualismo? Não queremos melhorar como pessoas, queremos ter mais qualquer coisa.

Concordo, mas não basta fazermos a leitura da realidade e dos saberes existentes em determinada comunidade. Até onde precisamos ir?

Ao céu e ao inferno, precisamos compreender como quem interpreta a sua própria realidade. Não há outra saída que não seja estar junto das pessoas mais humildes. Falar, escutar, dialogar, aceitar, meter a colher, mudar nosso modo de vê-los, deixar que nos ensinem e nos toquem. Fazer diferente. Não para teorizar em relatos de seminários, mas para mudar a nossa vida. Pensando assim, a pedagogia não é uma traição, é uma ferramenta de mudança. Desde que assim o façamos, ou melhor, desde que assim a entendemos, mas tudo isso exige disciplina e método dialético, com toda certeza.

O abismo nos espera, professor?

E nós, a quem esperamos? Um cavaleiro inexistente, o último voo do flamingo? Por quanto tempo iremos resistir partidos ao meio?

Quem sabe...

paro meus devaneios
 




quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Histórias de avoinha: A vida num termina. Nem a poesia


Ensaio 60B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



O sinhô Conde quer mais vinho?

E não acabou?

a siá cobra chamô o raposa e pediu mais do vinho. A casa tava um rebuliço, ninguém era de ninguém. Tinha os descuidado, os bêbado, os metido assanhado qui precisava se cuidado sem pestanejá. Com esses o raposa num tinha paciência. Tinha tumbém os qui acordava do desmaio melado sem sabê onde tava

Claro que não acabou, os dois riu alto em desatino, aquele riso seguia desatando os pano qui escondia a desvergonha. Umas qui otra num tinha delírio, muitas otra tinha; um qui otro tinha o brio da fidalguia, otros num tinha. A casa tava cheia com todo tipo de vida

o bode oiô pru conde com feitio de severidade e reclamô dos abuso, Não se pode ter tudo, conde. bobagem bobagem, essa asneira só pode nascer em cabeça de bode. o conde não controla tudo. o que é meu, eu controlo. e caso o conde chegue no humaitá. e daí? resolve fazer uma surpresa, chega de mansinho no quarto da negra rita. e daí? ela está na cama toda gemendo com o negro tamanco enfiado nas pernas. os dois apanham até o couro rasgar fundo; depois da salmora e da cura, cada um vai espiar os pecados no trabalho duro do campo. e, se o conde não vai no lugar de dormir da Rita, mas segue para o quarto do casal? cuidado bode, a imaginação pode fazer o amigo virar assombração. a sinhá casta está na cama sendo enfiada, vê o conde e grita por socorro. o desgraçado é um homem morto. é um negro. então, não é homem, mas vai precisar levar um corretivo mais sério que uma surra. dizem que o varão do negro têm mais força e melhor aparência que a varinha do conde. fantasia, bode. e a sinhá casta? o que tem ela? qual o castigo? nem o padre nem as rezas podem curar a sujeira feita. e se não é um negro? como assim, não estou entendendo. a sinhá casta está nos meus braços. o bode? sim, nos braços do bode. duvido. será que o conde trocaria a nossa amizade, por ela, que o conde já não quer? o bode que não se atreva. não se pode ter tudo em tudo, conde.

as mão do siô da hora brincava com munta travessura, o coração tava aos pulo, cada pouco mais impacientado. As vista ia e vinha nas menina. Num tava doente, mais fervia com o desassossego das vontade. A muié da casa grande havia de perdoá, mais tumbém, caso num perdoava, ele num queria e num tinha jeito de evitá os desatino da sem-vergonhice. A muié maria e a puta cobra pediu pru raposa tocá mais forte

Mais forte! Mais forte!

pulô no colo do bode e grudô a boca na boca do conde, O que o sinhô da Hora procura?

o conde agarrô as anca da cavalariça. As duas mão prendeu com força um lado e otro da cobra. Sentiu os dedo enfiado nas carne da muié cobra, carne de bicho pru caçadô arrancá a cabeça e comê. A glória e o fiasco. Todo caçadô pode num dizê, mais tem medo de mais do baruio do fracasso. O silêncio. Os bico rosado piquinino demorando pra endurecê. A carne como uma galinha-morta. A pelagem dos braço tumbém sem arrebitá. Ela oiô nas vista do bode, continuava na sela, tava rindo, O sinhô da Hora sabe quantas vezes agarraram o meu rabinho?

Não.

foi uma resposta seca e curta, num queria sabê, num era assunto daquela hora

Opa! Epa! Eia cavalinho, empina no meu rabinho. Assim. Mais forte!

cada fome tem o seu tamanho, cada encenação a sua plateia desanimada qui comprô os meió lugá pra tê as vista dilatada, os pensamento qui num aquieta, o corpo qui num controla as vontade, Hoje, acho que nem Maria Cobra me faz endurecer.

Mas o sinhô da Hora não está atrás do meu rabinho, não é?

ele num respondeu, acho meió calculá as palavra qui devia soltá, Afinal, toda razão tem uma razão que vem antes. mas conde, mais dia menos dia, vai chegar o tempo de confessar as manchas do vinho. bode, confissão é para os fracos, feito é feito e feito vai ficar. o conde precisa desvendar um enigma. enigma? por que o conde precisa de tanta montaria vagabunda e vinho barato se tem uma sinhá tão nobre e respeitosa na humaitá? é coisa de homem, bode. aposto que a sinhá até chupa pelo canudinho. bode! é só ensinar, conde. bode, esse mundo é falso, nada fará diferença mesmo, eu não quero direitos, foda-se essa porra dos direitos! o que o conde quer, então? eu quero privilégios, seu idiota!

Não vi a neguinha Pardal nem a indiazinha Tico-tico. Eu suponho que estão nos seus afazeres na casa.

Não, sinhô da Hora.

Estão sangrando, é isso?

a camaleoa acariciava o rosto do conde com os bico piquinino desisnteressado, sentada no colo desinteressado do bode, Elas estão no resguardo.

Adoeceram?

as vista do siô da hora entristeceu, num era padecimento de invencionice. Ficô mais fraco. Oiava pras parede tão feia e véia, tão descolorida. Teve um causo de munta alegria com as duas moça. A garganta parece qui lhe secô. Gostô de fazê uso dos serviço qui a piquinina preta e a da cô de cuia sabia oferecê

Não!

a dona das minina bateu com os nó dos dedo na madêra e cuspiu no chão. Procurava fazê o espanto das palavra mau dita do siô da hora, fez força pra empurrá aquele desconjuro pras lonjura, Toc toc toc, esconjura Satanás!

fez o siná de cuiz e credo trêis veiz, pai fiô e santo, amém, pai fiô e santo, amém, pai fiô e santo, amém. O mau agôro num pode deixá de sê afastado pra num embaciá as coisa boa da casa. Vai jogado fora. Ela aprendeu qui num é bão desafiá só pra tê desafiado

Mas então, o que aconteceu?

o raposa parô a babação na gaita, a cadela poesia aquietô-se, dobrô a cabeça nas pata piquinina e acomodô a barriga no chão da terra. Arrastô as duas orêia inté a terra do chão. O rabo piquinino bailançando. Ali, na confraria das vagabunda, a ordem era num pará o bailado dos rabo. Os óio da poesia esbugaiado. Ela e o raposa num se metia nos assunto de apadrinhamento no céu ou no inferno. A loja tinha dona qui gostava de cuidá e mandá. Inté a poesia sabia qui bem meió fazia quando num se metia. Chegava abrí a boca e arreganhá os dente, mais era só fingimento de brabeza. Sabe-se lá ou cá se a poesia pensa. Num aparentá sê o causo de pensá com os dente arregaçado, mais se algum macho fortão encontrá no caminho a poesia com os dente afiado é bão tomá o cuidado de pensá, no causo do metido sabê pensá

tumbém acho, às veiz, é preciso recebê ajuda pra desmanchá os nó das viajada na vida, otras veiz, pode acontecê qui no lugá da ajuda ocê pode recebê atraso, mais num se aborreça com o estorvo, tudo se encontra no arremate dos caminho: as estrada e os caminhante. A poesia deve tê a sua razão quando arreganha os dente ou bailança o rabo. Num é vaidade, mais pode sê. Ela num tem juízo ou justiça, num pensa quando morde, só morde. Num é maldade, mais pode sê. O caminho acabado do andante, depois do último suspiro, no fim das conta feita, pode num tê a brilhatura esperada, mais se oiá a estrada caminhada vai vê qui tá justo as meia de lã, as mão no bolso, os passeio a esmo. Um pouco mais aqui, otro pouco menos ali, mais as conta feita da vida vivida, os passo dado, os riso, os choro, é a sua própria estrada inventada. Ela dá no qui dá pelo gosto do caminhante. Ou pode num dá

a poesia deitada parecia querê avisá qui a vida num fica velha nem dá pra tocá com o dedo, num tem cô e tá sempre manchada de vinho como um pé de vento, chuva e sol; a vida num termina, muda o caminhante

É coisa mais simples, sinhô Conde.

Pois fale, mulher de Deus!

antes da resposta, cuspiu no chão otra veiz. Desceu as mão inté a cintura do cinto. Soltô o aperto do cercado. O rêio caiu no chão. E ali, ficô. Num tinha precisão do uso de ataque ou defesa. Com a força dos dedo piquinino fez o siô da hora deitá as costa no chão. Depois voltô atenção nas calça. Tirô os botão das casa qui deu pra tirá, os qui num deu ela arrancô. Tudo feito sem tirá as vista do bode assustado, O sinhô Conde está me escutando?

Claro claro, continue. Não pare, por favor.

Quando entrou na casa o noticiário que o sinhô da Hora, Conde Humaitá, foi visto nas esquinas da Villa, chamei as duas meninas e recomendei resguardo. Deveriam esperar a visita do altíssimo.

E se eu não venho?

ela encoieu os ombro. Num era desdém nem desfeita. Fechô as vista. Bebeu a água com gosto de vinho. As mão num parava de apertá e soltá, subí e descê. Largava e agarrava o quarto todo, a respiração acelerada, as carne do conde continuava morta, Paciência e fé em Deus, sinhô da Hora, é tudo que precisamos ter na vida.

pra quase tudo, latiu a poesia; pra quase nada, gemeu a gaita do raposa

o conde mais o bode abriu junto o riso da satisfação, Entendeu, bode? o que tem para entender, conde? o bode é muito simplório. por que? isso isso é um privilégio! Tava escancarado na cara do bode, no rosto do conde, o espanto de um e o contentamento dotro, mais os dois com os cuidado de atenção. Os privilégio. Os pensamento encontraram o espasmo amendrontado da carne, Bode, quem será que discursará no meu enterro? não sei, conde. o seu será um soterramento silencioso. quem pode saber? quero o andar de cima. não tem diferença, conde. seu idiota, você é que não faz diferença na Villa, nenhuma, daqui cem anos quando contarem essa história, se é que irão contar, você e a bosta da gosma desta barata se arrastando pelo chão não terão feito nenhuma diferença.

o conde parô sua falação, o bode num quis retrucá a retrucação deseducada e odienta do conde. Achô qui num devia fazê mais ódio, num queria fazê do mesmo jeito pra sê da superioridade. Ele qui ficasse com seu caixão no andá de cima, Sem problemas, conde. o que foi, agora? fique com a parte de cima, a carne morta é comida tanto lá como aqui. suma daqui, sua gosma de barata, vá aprender tirar proveito da boa vontade das meninas!

um já esperava tanta consideração, o otro nunca teve mais atenção qui o oiá qui qué passá, e depois qui passa nem obrigado dá, Essa decisão cuidadora da sinhá Maria merece uma recompensa, conde. eu concordo, bode. o cuidado das moça foi comovente. o que o bode sugere? moedas o conde já deu. é tudo muito bem pago. precisa ser um conforto diferente e com distinção de incomum. não consigo pensar em nada.

o amô do siô da hora num se derramava em verso nem abria as vista do sono pru sonho, gostava de dizê qui carregava o amô nos bolso, Então, bode? não me ocorre nada. por mim, usava e mais nada. um passeio? não acho prudente. um almoço em um dos salões da Villa? nem pensar, bode! Depois de cismá uma suposição atrás da otra, as tolerante e as vexativa, o siô da hora sorriu pra muié das mão mandingada, primêro anunciô qui ficô encantado com a paciência e a fé qui as muié da casa colocô nele, depois proclamô, Amanhã, ordeno que o escravo Josino traga algumas estampas de tecido fino para as meninas e para sinhâ Maria Cobra, escolham no seu gosto.

O sinhô Conde é um homem respeitador, um homem com letra versal. Dá gosto acudir homem de tanta bondade.

E as meninas? Não virão?

a voz lhe saiu como uma cantoria qui fez o corpo se balançá degenerado, manho, sutil e silencioso, Claro que sim, já lhe servimos o prato principal, antes... um tira-gosto, dançava no conde, esfregava no bode, procurava o feitio do corpo a corpo, uma das mão no varão, Mas espere enquanto arranco mais um gosto doce, tava tentada em fazê ele esperá

o bode num lhe deixô continuá, fez movimento de levantá. Tava assustado. Aquilo era pecado. O conde deu uma sacudidura no galinha-morta. O bode num esperava. O conde fez o bode engolí as palavra qui ia sê dita. Beijô a cobra com toda língua qui podia tê. Parecia querê afogá as duas, a maria e a cobra

Ei! Calma, sinhô da Hora!

empurrô a língua de fogo do conde e lhe apertô, ele fez cara de sofrimento, sorriu, entre um espasmo e otro. Num queria gemê nem suspirá, seria um siná de inferioridade, resolveu usá o entretetimento das palavra, É para isso que servem as putas, meu bem...

ela apertô as mão e soltô, E qual é essa serventia, Conde Humaitá?

Servir o que as esposas não devem aceitar.

o conde humaitá passô as mão na barriga da muié bailante, subiu inté os dois pontinho róseo e apertô as ponta piquinina, Ai. Mordeu, Ai. Lambeu, Ai. Babô-se. A otra mão tava enfiada nos pelo. Puxava, Ai. Enrolava, Ai. Desenrolava. Deitô na cama do quarto. O conde oiô o bode qui oiô de volta, nem um nem o otro sabia dizê como foi qui eles chegô inté ali

O que foi meu amigo?

ele respondeu do jeito mais doce qui num tinha o costume de falá, A sinhá Maria Cobra não perdeu o encantamento.

ela fungô fundo, ajustô a respiração e separô as palavra uma das otra, elas parecia tá grudando no céu da boca, Ser cuidada é muito gostoso e tentador, mas eu tenho um negócio para cuidar, fechô as vista pra sentí o calô do quarto, o chêro de ranço, passô as mão na capa da cobertura da cama. Tudo desarrumado. Aquele hôme desarranjava seu dia e noite. A tempestade no corpo, as carga e descarga, os relâmpago, o conde, o bode, as dúvida. O gosto pelo bão acolhimento tinha o seu preço. Gosto e desgosto andava junto. A vida e a morte tricotando as trama da Villa. A fome do hôme é enfiá o seu jeito de sê hôme nas maria, comê as cobra sem cuidá do paladá nem do olfato, num tem nada apurado em sê hôme, Vou lhe mandá as meninas.

A Maria Cobra é que sabe o melhor para os seus negócios, aceitô a desistência daquela muié qui enfezava as suas vontade, mais num tirô o brinquedo das mão da cobra. A muié faz tudo. Ela largô. E levantô. Num era a mercadoria, num era a afeição. O siô da hora lhe segurô o braço, A vontade com as meninas passô, quero uma mulher.

ela num saiu nem desistiu de saí, ele continuô segurando o braço da maria cobra. As vista do conde comendo as vista da maria, inté qui a cobra deitô na capa desarrumada da cama, mais lhe avisô, Isso vai lhe custá mais que o Conde Humaitá costuma carregá nos bolsos.

o conde num pareceu dá importância, pagava o preço qui fô pra sentí as carne viva. Avançô a boca inté a boca da cobra, as mão do bode subia e descia as curva da maria. Um desvincava a forma dos fio da indecência, o otro alisava. A muié parecia um arco de dô com o ventre erguido. O conde sorriu. O bode gemeu. Era o lugá e o tempo certo, O sinhô é muito guloso.

a poesia tava jogada na terra, recostada. Num durumia. Num podia, queria tocá na vida. Queria prová o gosto e sentí o chêro. Queria tomá do vinho, num podia. A vida num tem sono, num tem gosto, num tem carne, num tem chêro. A vida num termina nem a poesia




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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Poemas del Alma

Federico García Lorca




Si mis manos pudieran deshojar


Yo pronuncio tu nombre
En las noches oscuras
Cuando vienen los astros
A beber en la luna
Y duermen los ramajes
De las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
De pasión y de música.
Loco reloj que canta
Muertas horas antiguas.

Yo pronuncio tu nombre,
En esta noche oscura,
Y tu nombre me suena
Más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
Y más doliente que la mansa lluvia.

¿Te querré como entonces
Alguna vez? ¿Qué culpa
Tiene mi corazón?
Si la niebla se esfuma
¿Qué otra pasión me espera?
¿Será tranquila y pura?
¡¡Si mis dedos pudieran
Deshojar a la luna!!





El silencio


Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio,
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.






Pueblo


Sobre el monte pelado
un calvario.
Agua clara
y olivos centenarios.
Por las callejas
hombres embozados,
y en las torres
veletas girando.
Eternamente
girando.
¡Oh pueblo perdido,
en la Andalucía del llanto!





Romance de la luna


La luna vino a la fragua
con su polisón de nardos.
El niño la mira mira.
El niño la está mirando.

En el aire conmovido
mueve la luna sus brazos
y enseña, lúbrica y pura,
sus senos de duro estaño.

Huye luna, luna, luna.
Si vinieran los gitanos,
harían con tu corazón
collares y anillos blancos.

Niño déjame que baile.
Cuando vengan los gitanos,
te encontrarán sobre el yunque
con los ojillos cerrados.

Huye luna, luna, luna,
que ya siento sus caballos.
Niño déjame, no pises,
mi blancor almidonado.

El jinete se acercaba
tocando el tambor del llano.
Dentro de la fragua el niño,
tiene los ojos cerrados.

Por el olivar venían,
bronce y sueño, los gitanos.
Las cabezas levantadas
y los ojos entornados.

¡Cómo canta la zumaya,
ay como canta en el árbol!
Por el cielo va la luna
con el niño de la mano.

Dentro de la fragua lloran,
dando gritos, los gitanos.
El aire la vela, vela.
el aire la está velando.




Cuerpo presente


La piedra es una frente donde los sueños gimen
sin tener agua curva ni cipreses helados,
La piedra es una espalda para llevar al tiempo
con árboles de lágrimas y cintas y planetas.

Yo he visto lluvias grises hacia las olas
levantando sus tiernos brazos acribillados,
para no ser cazadas por la piedra tendida
que desata sus miembros sin empapar la sangre.

Porque la piedra coge simientes y nublados,
esqueletos de alondras y lobos de penumbra;
pero no da sonidos, ni cristales, ni fuego,
sino plazas y plazas y otras plazas sin muros.

Ya está sobre la piedra Ignacio el bien nacido.
Ya se acabó; ¿que pasa? Contemplad su figura:
la muerte le ha cubierto de pálidos azufres
y le ha puesto cabeza de oscuro minotauro.

Ya se acabó. La lluvia penetra por su boca.
El aire como loco deja su pecho hundido,
y el Amor, empapado con lágrimas de nieve,
se calienta en la cumbre de las ganaderías.

¿Qué dicen? Un silencio con hedores reposa.
Estamos con un cuerpo presente que se esfuma,
con una forma clara que tuvo ruiseñores
y la vemos llenarse de agujeros sin fondo.

¿Quién arruga el sudario? ¡No es verdad lo que dice!
Aquí no canta nadie, ni llora en el rincón,
ni pica las espuelas, ni espanta la serpiente:
aquí no quiero más que los ojos redondos
para ver ese cuerpo sin posible descanso.

Yo quiero ver aquí los hombres de voz dura.
Los que doman caballos y dominan los ríos:
los hombres que les suena el esqueleto y cantan
con una boca llena de sol y pedernales.

Aquí quiero yo verlos. Delante de la piedra.
Delante de este cuerpo con las riendas quebradas.
Yo quiero que me enseñen donde está la salida
para este capitán atado por la muerte.

Yo quiero que me enseñen un llanto como un río
que tenga dulces nieblas y profundas orillas,
para llevar el cuerpo de Ignacio y que se pierda
sin escuchar el doble resuello de los toros.

Que se pierda en la plaza redonda de la luna
que finge cuando niña doliente res inmóvil;
que se pierda en la noche sin canto de los peces
y en la maleza blanca del humo congelado.

No quiero que le tapen la cara con pañuelos
para que se acostumbre con la muerte que lleva.
Vete Ignacio: No sientas el caliente bramido.
Duerme, vuela, reposa: ¡También se muere el mar!