quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Histórias de avoinha: A vida num termina. Nem a poesia


Ensaio 60B – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar



O sinhô Conde quer mais vinho?

E não acabou?

a siá cobra chamô o raposa e pediu mais do vinho. A casa tava um rebuliço, ninguém era de ninguém. Tinha os descuidado, os bêbado, os metido assanhado qui precisava se cuidado sem pestanejá. Com esses o raposa num tinha paciência. Tinha tumbém os qui acordava do desmaio melado sem sabê onde tava

Claro que não acabou, os dois riu alto em desatino, aquele riso seguia desatando os pano qui escondia a desvergonha. Umas qui otra num tinha delírio, muitas otra tinha; um qui otro tinha o brio da fidalguia, otros num tinha. A casa tava cheia com todo tipo de vida

o bode oiô pru conde com feitio de severidade e reclamô dos abuso, Não se pode ter tudo, conde. bobagem bobagem, essa asneira só pode nascer em cabeça de bode. o conde não controla tudo. o que é meu, eu controlo. e caso o conde chegue no humaitá. e daí? resolve fazer uma surpresa, chega de mansinho no quarto da negra rita. e daí? ela está na cama toda gemendo com o negro tamanco enfiado nas pernas. os dois apanham até o couro rasgar fundo; depois da salmora e da cura, cada um vai espiar os pecados no trabalho duro do campo. e, se o conde não vai no lugar de dormir da Rita, mas segue para o quarto do casal? cuidado bode, a imaginação pode fazer o amigo virar assombração. a sinhá casta está na cama sendo enfiada, vê o conde e grita por socorro. o desgraçado é um homem morto. é um negro. então, não é homem, mas vai precisar levar um corretivo mais sério que uma surra. dizem que o varão do negro têm mais força e melhor aparência que a varinha do conde. fantasia, bode. e a sinhá casta? o que tem ela? qual o castigo? nem o padre nem as rezas podem curar a sujeira feita. e se não é um negro? como assim, não estou entendendo. a sinhá casta está nos meus braços. o bode? sim, nos braços do bode. duvido. será que o conde trocaria a nossa amizade, por ela, que o conde já não quer? o bode que não se atreva. não se pode ter tudo em tudo, conde.

as mão do siô da hora brincava com munta travessura, o coração tava aos pulo, cada pouco mais impacientado. As vista ia e vinha nas menina. Num tava doente, mais fervia com o desassossego das vontade. A muié da casa grande havia de perdoá, mais tumbém, caso num perdoava, ele num queria e num tinha jeito de evitá os desatino da sem-vergonhice. A muié maria e a puta cobra pediu pru raposa tocá mais forte

Mais forte! Mais forte!

pulô no colo do bode e grudô a boca na boca do conde, O que o sinhô da Hora procura?

o conde agarrô as anca da cavalariça. As duas mão prendeu com força um lado e otro da cobra. Sentiu os dedo enfiado nas carne da muié cobra, carne de bicho pru caçadô arrancá a cabeça e comê. A glória e o fiasco. Todo caçadô pode num dizê, mais tem medo de mais do baruio do fracasso. O silêncio. Os bico rosado piquinino demorando pra endurecê. A carne como uma galinha-morta. A pelagem dos braço tumbém sem arrebitá. Ela oiô nas vista do bode, continuava na sela, tava rindo, O sinhô da Hora sabe quantas vezes agarraram o meu rabinho?

Não.

foi uma resposta seca e curta, num queria sabê, num era assunto daquela hora

Opa! Epa! Eia cavalinho, empina no meu rabinho. Assim. Mais forte!

cada fome tem o seu tamanho, cada encenação a sua plateia desanimada qui comprô os meió lugá pra tê as vista dilatada, os pensamento qui num aquieta, o corpo qui num controla as vontade, Hoje, acho que nem Maria Cobra me faz endurecer.

Mas o sinhô da Hora não está atrás do meu rabinho, não é?

ele num respondeu, acho meió calculá as palavra qui devia soltá, Afinal, toda razão tem uma razão que vem antes. mas conde, mais dia menos dia, vai chegar o tempo de confessar as manchas do vinho. bode, confissão é para os fracos, feito é feito e feito vai ficar. o conde precisa desvendar um enigma. enigma? por que o conde precisa de tanta montaria vagabunda e vinho barato se tem uma sinhá tão nobre e respeitosa na humaitá? é coisa de homem, bode. aposto que a sinhá até chupa pelo canudinho. bode! é só ensinar, conde. bode, esse mundo é falso, nada fará diferença mesmo, eu não quero direitos, foda-se essa porra dos direitos! o que o conde quer, então? eu quero privilégios, seu idiota!

Não vi a neguinha Pardal nem a indiazinha Tico-tico. Eu suponho que estão nos seus afazeres na casa.

Não, sinhô da Hora.

Estão sangrando, é isso?

a camaleoa acariciava o rosto do conde com os bico piquinino desisnteressado, sentada no colo desinteressado do bode, Elas estão no resguardo.

Adoeceram?

as vista do siô da hora entristeceu, num era padecimento de invencionice. Ficô mais fraco. Oiava pras parede tão feia e véia, tão descolorida. Teve um causo de munta alegria com as duas moça. A garganta parece qui lhe secô. Gostô de fazê uso dos serviço qui a piquinina preta e a da cô de cuia sabia oferecê

Não!

a dona das minina bateu com os nó dos dedo na madêra e cuspiu no chão. Procurava fazê o espanto das palavra mau dita do siô da hora, fez força pra empurrá aquele desconjuro pras lonjura, Toc toc toc, esconjura Satanás!

fez o siná de cuiz e credo trêis veiz, pai fiô e santo, amém, pai fiô e santo, amém, pai fiô e santo, amém. O mau agôro num pode deixá de sê afastado pra num embaciá as coisa boa da casa. Vai jogado fora. Ela aprendeu qui num é bão desafiá só pra tê desafiado

Mas então, o que aconteceu?

o raposa parô a babação na gaita, a cadela poesia aquietô-se, dobrô a cabeça nas pata piquinina e acomodô a barriga no chão da terra. Arrastô as duas orêia inté a terra do chão. O rabo piquinino bailançando. Ali, na confraria das vagabunda, a ordem era num pará o bailado dos rabo. Os óio da poesia esbugaiado. Ela e o raposa num se metia nos assunto de apadrinhamento no céu ou no inferno. A loja tinha dona qui gostava de cuidá e mandá. Inté a poesia sabia qui bem meió fazia quando num se metia. Chegava abrí a boca e arreganhá os dente, mais era só fingimento de brabeza. Sabe-se lá ou cá se a poesia pensa. Num aparentá sê o causo de pensá com os dente arregaçado, mais se algum macho fortão encontrá no caminho a poesia com os dente afiado é bão tomá o cuidado de pensá, no causo do metido sabê pensá

tumbém acho, às veiz, é preciso recebê ajuda pra desmanchá os nó das viajada na vida, otras veiz, pode acontecê qui no lugá da ajuda ocê pode recebê atraso, mais num se aborreça com o estorvo, tudo se encontra no arremate dos caminho: as estrada e os caminhante. A poesia deve tê a sua razão quando arreganha os dente ou bailança o rabo. Num é vaidade, mais pode sê. Ela num tem juízo ou justiça, num pensa quando morde, só morde. Num é maldade, mais pode sê. O caminho acabado do andante, depois do último suspiro, no fim das conta feita, pode num tê a brilhatura esperada, mais se oiá a estrada caminhada vai vê qui tá justo as meia de lã, as mão no bolso, os passeio a esmo. Um pouco mais aqui, otro pouco menos ali, mais as conta feita da vida vivida, os passo dado, os riso, os choro, é a sua própria estrada inventada. Ela dá no qui dá pelo gosto do caminhante. Ou pode num dá

a poesia deitada parecia querê avisá qui a vida num fica velha nem dá pra tocá com o dedo, num tem cô e tá sempre manchada de vinho como um pé de vento, chuva e sol; a vida num termina, muda o caminhante

É coisa mais simples, sinhô Conde.

Pois fale, mulher de Deus!

antes da resposta, cuspiu no chão otra veiz. Desceu as mão inté a cintura do cinto. Soltô o aperto do cercado. O rêio caiu no chão. E ali, ficô. Num tinha precisão do uso de ataque ou defesa. Com a força dos dedo piquinino fez o siô da hora deitá as costa no chão. Depois voltô atenção nas calça. Tirô os botão das casa qui deu pra tirá, os qui num deu ela arrancô. Tudo feito sem tirá as vista do bode assustado, O sinhô Conde está me escutando?

Claro claro, continue. Não pare, por favor.

Quando entrou na casa o noticiário que o sinhô da Hora, Conde Humaitá, foi visto nas esquinas da Villa, chamei as duas meninas e recomendei resguardo. Deveriam esperar a visita do altíssimo.

E se eu não venho?

ela encoieu os ombro. Num era desdém nem desfeita. Fechô as vista. Bebeu a água com gosto de vinho. As mão num parava de apertá e soltá, subí e descê. Largava e agarrava o quarto todo, a respiração acelerada, as carne do conde continuava morta, Paciência e fé em Deus, sinhô da Hora, é tudo que precisamos ter na vida.

pra quase tudo, latiu a poesia; pra quase nada, gemeu a gaita do raposa

o conde mais o bode abriu junto o riso da satisfação, Entendeu, bode? o que tem para entender, conde? o bode é muito simplório. por que? isso isso é um privilégio! Tava escancarado na cara do bode, no rosto do conde, o espanto de um e o contentamento dotro, mais os dois com os cuidado de atenção. Os privilégio. Os pensamento encontraram o espasmo amendrontado da carne, Bode, quem será que discursará no meu enterro? não sei, conde. o seu será um soterramento silencioso. quem pode saber? quero o andar de cima. não tem diferença, conde. seu idiota, você é que não faz diferença na Villa, nenhuma, daqui cem anos quando contarem essa história, se é que irão contar, você e a bosta da gosma desta barata se arrastando pelo chão não terão feito nenhuma diferença.

o conde parô sua falação, o bode num quis retrucá a retrucação deseducada e odienta do conde. Achô qui num devia fazê mais ódio, num queria fazê do mesmo jeito pra sê da superioridade. Ele qui ficasse com seu caixão no andá de cima, Sem problemas, conde. o que foi, agora? fique com a parte de cima, a carne morta é comida tanto lá como aqui. suma daqui, sua gosma de barata, vá aprender tirar proveito da boa vontade das meninas!

um já esperava tanta consideração, o otro nunca teve mais atenção qui o oiá qui qué passá, e depois qui passa nem obrigado dá, Essa decisão cuidadora da sinhá Maria merece uma recompensa, conde. eu concordo, bode. o cuidado das moça foi comovente. o que o bode sugere? moedas o conde já deu. é tudo muito bem pago. precisa ser um conforto diferente e com distinção de incomum. não consigo pensar em nada.

o amô do siô da hora num se derramava em verso nem abria as vista do sono pru sonho, gostava de dizê qui carregava o amô nos bolso, Então, bode? não me ocorre nada. por mim, usava e mais nada. um passeio? não acho prudente. um almoço em um dos salões da Villa? nem pensar, bode! Depois de cismá uma suposição atrás da otra, as tolerante e as vexativa, o siô da hora sorriu pra muié das mão mandingada, primêro anunciô qui ficô encantado com a paciência e a fé qui as muié da casa colocô nele, depois proclamô, Amanhã, ordeno que o escravo Josino traga algumas estampas de tecido fino para as meninas e para sinhâ Maria Cobra, escolham no seu gosto.

O sinhô Conde é um homem respeitador, um homem com letra versal. Dá gosto acudir homem de tanta bondade.

E as meninas? Não virão?

a voz lhe saiu como uma cantoria qui fez o corpo se balançá degenerado, manho, sutil e silencioso, Claro que sim, já lhe servimos o prato principal, antes... um tira-gosto, dançava no conde, esfregava no bode, procurava o feitio do corpo a corpo, uma das mão no varão, Mas espere enquanto arranco mais um gosto doce, tava tentada em fazê ele esperá

o bode num lhe deixô continuá, fez movimento de levantá. Tava assustado. Aquilo era pecado. O conde deu uma sacudidura no galinha-morta. O bode num esperava. O conde fez o bode engolí as palavra qui ia sê dita. Beijô a cobra com toda língua qui podia tê. Parecia querê afogá as duas, a maria e a cobra

Ei! Calma, sinhô da Hora!

empurrô a língua de fogo do conde e lhe apertô, ele fez cara de sofrimento, sorriu, entre um espasmo e otro. Num queria gemê nem suspirá, seria um siná de inferioridade, resolveu usá o entretetimento das palavra, É para isso que servem as putas, meu bem...

ela apertô as mão e soltô, E qual é essa serventia, Conde Humaitá?

Servir o que as esposas não devem aceitar.

o conde humaitá passô as mão na barriga da muié bailante, subiu inté os dois pontinho róseo e apertô as ponta piquinina, Ai. Mordeu, Ai. Lambeu, Ai. Babô-se. A otra mão tava enfiada nos pelo. Puxava, Ai. Enrolava, Ai. Desenrolava. Deitô na cama do quarto. O conde oiô o bode qui oiô de volta, nem um nem o otro sabia dizê como foi qui eles chegô inté ali

O que foi meu amigo?

ele respondeu do jeito mais doce qui num tinha o costume de falá, A sinhá Maria Cobra não perdeu o encantamento.

ela fungô fundo, ajustô a respiração e separô as palavra uma das otra, elas parecia tá grudando no céu da boca, Ser cuidada é muito gostoso e tentador, mas eu tenho um negócio para cuidar, fechô as vista pra sentí o calô do quarto, o chêro de ranço, passô as mão na capa da cobertura da cama. Tudo desarrumado. Aquele hôme desarranjava seu dia e noite. A tempestade no corpo, as carga e descarga, os relâmpago, o conde, o bode, as dúvida. O gosto pelo bão acolhimento tinha o seu preço. Gosto e desgosto andava junto. A vida e a morte tricotando as trama da Villa. A fome do hôme é enfiá o seu jeito de sê hôme nas maria, comê as cobra sem cuidá do paladá nem do olfato, num tem nada apurado em sê hôme, Vou lhe mandá as meninas.

A Maria Cobra é que sabe o melhor para os seus negócios, aceitô a desistência daquela muié qui enfezava as suas vontade, mais num tirô o brinquedo das mão da cobra. A muié faz tudo. Ela largô. E levantô. Num era a mercadoria, num era a afeição. O siô da hora lhe segurô o braço, A vontade com as meninas passô, quero uma mulher.

ela num saiu nem desistiu de saí, ele continuô segurando o braço da maria cobra. As vista do conde comendo as vista da maria, inté qui a cobra deitô na capa desarrumada da cama, mais lhe avisô, Isso vai lhe custá mais que o Conde Humaitá costuma carregá nos bolsos.

o conde num pareceu dá importância, pagava o preço qui fô pra sentí as carne viva. Avançô a boca inté a boca da cobra, as mão do bode subia e descia as curva da maria. Um desvincava a forma dos fio da indecência, o otro alisava. A muié parecia um arco de dô com o ventre erguido. O conde sorriu. O bode gemeu. Era o lugá e o tempo certo, O sinhô é muito guloso.

a poesia tava jogada na terra, recostada. Num durumia. Num podia, queria tocá na vida. Queria prová o gosto e sentí o chêro. Queria tomá do vinho, num podia. A vida num tem sono, num tem gosto, num tem carne, num tem chêro. A vida num termina nem a poesia




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