domingo, 18 de julho de 2021

MPB - Cálice, Onde você estava em 1973?...

 de que me vale ser filho da santa...

Cálice



Arrisquei muita braçada 
na esperança de outro mar, 
hoje sou carta marcada, 
hoje sou jogo de azar

Talvez o mundo não seja pequeno (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!)





Chico Buarque & Milton Nascimento





"Cálice"

Chico Buarque e Gilberto Gil

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (Cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça (Cale-se!)





Gilberto Gil explica a música "Cálice"






Cálice (censurado) - Chico Buarque e Gilberto Gil




"Essa música foi composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, no clima pesado de uma Sexta-Feira Santa/Sábado de Aleluia, para o show Phono 73, que a gravadora Phonogram (ex-Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973. Como a Censura havia proibido a letra, os dois autores decidiram cantar apenas a melodia, pontuando-a com a palavra 'cálice' - mas nem mesmo isso foi possível. Segundo relato do Jornal da Tarde, 'a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones de Chico, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada'." - Livro "Tantas Palavras", de Humberto Werneck, págs. 79 e 80.


Em "Cálice", Chico Buarque canta com Gilberto Gil, de forma desesperada, devido à censura abrupta da música. "Cotidiano" recebeu um arranjo novo em 1973. No final de "Baioque", quando o MPB-4 está fazendo uma verdadeira orquestração, a fala de Chico não é captada pelo microfone, mas dá percebe-se que ele fala "Censura filha da p*** " ou algo similar.



um artista coerente 



Ana de Amsterdam - Chico Buarque





Sou Ana do dique e das docas 
Da compra, da venda, das trocas de pernas 
Dos braços, das bocas, do lixo, dos bichos, das fichas 
Sou Ana das loucas 
Até amanhã 
Sou Ana 
Da cama, da cana, fulana, sacana

Sou Ana de Amsterdam

Eu cruzei um oceano 
Na esperança de casar 
Fiz mil bocas pra Solano 
Fui beijada por Gaspar
Sou Ana de cabo a tenente 
Sou Ana de toda patente, das Índias 
Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada 
Sou Ana, obrigada 
Até amanhã, sou Ana 
Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos 

Sou Ana de Amsterdam

Arrisquei muita braçada 
Na esperança de outro mar 
Hoje sou carta marcada 
Hoje sou jogo de azar
Sou Ana de vinte minutos 
Sou Ana da brasa dos brutos na coxa 
Que apaga charutos 
Sou Ana dos dentes rangendo 
E dos olhos enxutos 
Até amanhã, sou Ana 
Das marcas, das macas, da vacas, das pratas 

Sou Ana de Amsterdam





Onde você estava em 1973?


Eu estava no 1º ano científico no Colégio Dr. Carlos Chagas, Canoas/RS.

Naqueles dias, tínhamos o primário, depois o exame de admissão para entrar no ginasial. Acabado o ginasial podíamos ingressar no científico, na sequência o vestibular para as portas da universidade se abrirem... Na reforma do ensino pelo Ditadura Militar... o primário e o ginasial foram abduzidos no 1º grau e o científico virou 2º grau. Anos depois, isso tudo virou Ensino Fundamental e Ensino Médio. Agora, parece que tudo isso está virando Português e Matemática e Marcha Soldado!





Cálice | Roberto Leão, Renato Braz, Breno Ruiz e Mario Gil





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