(III) o descolocado
27bs – Vamos comer?
baitasar
naquele aperto de mãos ela se derrama com força e abundância, sente o estremecimento das coxas e a soltura do coração, a profundeza do ferro, do mar e da terra, entreouve a ventania do sopro descontrolado do atrevimento, a natureza desobediente, selvagem, quase um desfalecimento das vontades puras, não era engano ou contemplação, era apetite – duvidava dela mesma, não era vulgar nem teimosa –, esse era um outro gosto, uma vontade cega que não houve até agora, estava pasma com ela mesma, Querida mãe Obà, afaste de nós pensamentos desvirtuados, os joelhos se dobram levemente, ninguém percebe, escute, ó querida e piedosa mãe, essas mãos podem fazer da mulher ilé olè engaiolada uma preta desmiolada pelos os abusos das carnes, sente que precisa rezar e pedir mais e mais perdão
Sejam bem-vindos! Virgílio ao seu dispor, fora socorrida pelo aplicado e produtivo sinhô da serra de ferro, o destino sempre nos deixa a escolha própria ou alheia, a liberdade da vontade tem seu preço
Muita gentileza vocês nos receberem.
memória não desviava o olhar, não queria, não ia durar o bastante, agradeceu por estar viva e em pé, contrariando a natureza, mas estava em uma encruzilhada, corria o risco de ser malcriada, sentia-se empurrada ao seu alvo, parecia zombaria de alguém, não sabia quem – ela mesma, talvez
Fiquem à vontade... entrem... entrem, por favor, seguia seus instintos, satisfeita consigo mesma
a vontade sempre encontra um jeito para consolar ilusões comuns destinadas ao peso da existência fingida
Vamos para o terreiro da feijoada, sugere a hospedeira da comida feita
todos por um motivo ou outro estavam agradados, estavam destinados a essa colaboração, memória apenas desencantou essa tarefa, as pessoas precisam completar a sua obra, é como viver esse dever sem saber enquanto o espírito do tempo come o mingau da vida pelas beiradas, às vezes sem pressa – outras, se apresenta insaciável e esfomeado
Vamos para o terreiro da feijoada, sugere a hospedeira da comida feita
todos por um motivo ou outro estavam agradados, estavam destinados a essa colaboração, memória apenas desencantou essa tarefa, as pessoas precisam completar a sua obra, é como viver esse dever sem saber enquanto o espírito do tempo come o mingau da vida pelas beiradas, às vezes sem pressa – outras, se apresenta insaciável e esfomeado
Dona Ana...
existem pessoas que não correm o risco de destruírem a si mesmas, apesar de tratadas com indiferença pelos negociantes da vida alheia que jogam para favorecerem seus privilégios
Sim, vizinho...
a vizinha do amuleto não parece ser destas pessoas que se veem pelas opiniões dos outros quer estejam afastadas ou próximas de si
Obrigado pela serrinha.
uma pessoa hipócrita apequena a sua tarefa, não é nenhuma liberdade ou ganha-pão, é o medo de servir-se ou servir a verdade à mesa das comidas
Ah, sim... não lembrava.
quem entende sua vida de fantoche se oferece a quem? ao desprezo que ri da esperança? a contemplação da infelicidade com um sorriso de escárnio? acorda para adormecer o outro para o seu próprio bem
Foi muito útil.
quando a verdade não é servida quem a adivinha sofre as consequências
Fico feliz.
Não me deixe esquecer de devolver.
Imagine... caso ainda precise pode ficar.
Obrigado, mais uma vez.
Muita gentileza vocês nos receberem.
Bem capaz... a Maria estava louca para conhecê-los. Ela está satisfeita consigo mesma, a vontade sempre encontra um jeito para consolar ilusões comuns destinadas ao peso da existência forçada, me comentou esses tempos que pelo silêncio não tinha criança na casa, o silêncio achatado está refeito
maria segue olhando tudo e guardando na memória, depois espalharia os boatos e a narrativa da feijoada pelas vizinhas que estivessem na sua sintonia com outros rádios velhos ou novos, mas desconfortáveis com a vida no beco
Alguém poderia ligar o rádio, sugere memória, precisa refazer a conversação
O que vocês querem escutar, pergunta virgílio, o mais perfeito anfitrião
Pode ser Cartola, Ataulfo Alves, sugere a mulher do amuleto, já mais relaxada, mas ainda com a mão no peito
Não sei, não, dona Ana...
Por quê, vizinho?
Por esses tempos só tocam esses cabeludos.
Gente o que são esses cabeludos? Vocês já ouviram essa... Quero que vá tudo pro inferno?
Achei!
gritou lamparino
Achou o quê, miúdo?
As rosas não falam.
Linda.
a ana do amuleto soltou a cantoria
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
Vamos comer?
todos aceitam o convite da ansiosa dona da casa, o serviço da mesa é um lugar de confortos e certezas, Que nunca nos falte o conforto da comida!
Amém!
na cama, vez ou outra, presta serviços de utilidade ao virgílio e a ela mesma, mas isso de cozinhar e servir é a masmorra da mulher ilié, foi a vez do virgílio prestar serviço de utilidade
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